quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A SITUAÇÃO EM HONDURAS E A ESTRANHA VOCAÇÃO DOS "DEMOCRATAS" E "LIBERAIS' BRASILEIROS

Quase três meses depois do golpe que derrubou Zelaya em Honduras, um verdadeiro atentado à democracia - como as nossas Américas cansaram de assistir nas décadas de 60 e 70 do Século passado -, Lula, Barack Obama, Cristina Kirchner, Rafael Correa, a OEA, e diversos chefes de estado, entre direitistas, moderados e esquerdistas, se posicionaram contra o golpe e em favor do respeito à constituição hondurenha.
Estranhamente, porém, não se ouviu nada do pessoal do PSDB e nem do DEM, nada dos opositores de Lula, de Chávez, de Fidel... - todos eles midiáticos, barulhentos e escandalosos quando na defesa do que entendem como “democrático”; como se o ato perpetrado em Honduras não fosse autoritário, não fosse inconstitucional, não fosse golpe.
Ficaram quietos os “democratas” e os “liberais” brasileiros, assim como a grande mídia local que não critica o golpe e não se manifesta em favor da democracia.
E agora, quando a Embaixada Brasileira em Honduras recebe e Presidente deposto (e sofre ameaça de invasão, por isso), criticam o ato de abrigo do governo brasileiro e permanecem sem qualquer manifestação contra o governo golpista.
Que vocação, hein!!!

6 comentários:

Ricardo Souza disse...

Pedro, me perdoa, mas não posso deixar de criticar este post, pois o considero equivocado e distante da verdade dos fatos. Não houve golpe de estado na Nicarágua, mas sim o afastamento de um presidente que tentava burlar a constituição do Pais ao forçar um plesbiscito ilegal para lhe garantir reeleições indefinidas. Golpista é o ex-presidente Zelaya, que foi derrubado por seus próprios atos, em processo regular e obediente às leis vigentes naquele País, que diga-se de passagem, é o único que teve coragem de enxotar o bolivarianismo que ameaça lançar toda a América Latina nas trevas da época do comunismo. Agora, a atitude do Presidente Lula em apoiar um golpista nos enche de vergonha, ainda mais quando está claro que vem sendo tele-guiado pelo Chaves da Venezuela, numa situação que a história julgará como uma inaceitável intromissão nas questões internas de outro País. Mas, que fazer, quando nosso Presidente anda de braços dados com o facinoroso presidente do Iran, aquele antisemida do Ahmadnejad e apóia o ditador Kadafi da Líbia.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Carlos, com todo o respeito e consideração que me mereces, penso que o teu comentário é quase que "irrespondível", já que parte de certas premissas que não deveriam ser consideradas, especialmente neste caso.
Dizer que o Zelaya - que foi retirado de pijama de casa, de madrugada, com um fuzil na cabeça e expulso a força de Honduras - foi derrubado "em processo regular e obediente às leis vigentes naquele país", é, no mínimo, uma heresia jurídica, surpreendente, aliás, quando vinda de um (ótimo) operador do Direito, como é o teu caso.
Quanto a tentativa de plebiscito proposta pelo Zelaya (e que motivou, ou justificou o golpe), é simples: poderia ser derrubada nas urnas, ou mesmo pela Suprema Corte, mas nunca servir de pretexto para a retirada, à força, de um Presidente eleito pelo povo, por um grupo golpista, o que considero inaceitável, sob qualquer ângulo.
Já quanto a Lula - que já me envergonhou tantas vezes - não está neste caso (e em nenhum outro, que eu saiba), "apoiando o golpista", como dizes, mas sim o golpeado, já que Micheleti, que ocupa indevidamente a Presidência, NÃO foi eleito pelo povo de Honduras, ao contrário de Zelaya, escolhido livremente pelo voto popular.
Se Zelaya é "bom" ou "ruim", se "presta" ou se "não presta" não me cabe julgar (isso cabe ao povo de Honduras, votando ou não votando nele), considero apenas que ele é o Presidente CONSTITUCIONAL daquele País; já o outro (Micheleti) é golpista, assim como são golpistas os que o apóiam e os que estão do seu lado, gostem ou não os opositores de Lula, de Chavéz, da Amadinejah, de Kadaffi, elementos esses, aliás, com quem, na sua maioria, eu também não simpatizo, mas que não estão em julgamento aqui.
O que se julga, aqui, é o respeito ao resultado da eleição livre e popular ou não,
é a observância das regras da democracia ou não, é o direito de se conceder abrigo nas embaixadas ou não;
o que está em jogo, aqui, é a condenação aos golpes (civis ou militares) e aos golpistas (de direita ou de esquerda) ou não, é o repúdio à usurpação de cargos de dirigentes escolhidos livremente pelo povo ou não, é a instalação de regimes ditatoriais (porque baseados em princípios não democráticos) ou não, e etc, etc...
Em última análise, o que parece estar em julgamento, no caso de Honduras, são a legitimidade e a democracia contra o golpismo e a arbitrariedade.
Eu, Lula, Cristina Kirchner, Barack Obama, Zapátero, a OEA e outros (inclusive quem não presta), estamos no primeiro caso e apoiamos o Presidente constitucional Zelaya;
o PSDB, o DEM, a Rede Globo, os golpistas de Honduras e outros (inclusive quem presta) estão no segundo caso.
A democracia é assim: permite que cada um escolha o que e a quem apoiar, de preferência sem um fuzil na cabeça!
Um abraço.

Ricardo Souza disse...

Pedro, novamente me permita discordar de ti, democraticamente, é claro. Como operador do direito, tenho de analisar as coisas por essa ótica. É que quando me deparo com uma cláusula pétrea da Constituição hondurenha que proíbe a reeleição de qualquer presidente, isto há mais de quarenta anos, responsável pela manutenção da democracia naquele País, após décadas de golpes e contra-golpes e, ao mesmo tempo, um presidente apesar de eleito democraticamente tentar, via plebiscito, derrubar essa norma, não posso deixar de concordar com o Legislativo e a Suprema Corte que o destituiu exatamente por confrontar essa mesma Constituição. O ex-presidente Zelaya foi avisado várias vezes para não insistir com essa manobra, aliás copiada do "democrata" Hugo Chaves, dando de ombros às instituições de seu País, não deixando alternativa senão aplicar-lhe a lei que estava sendo desrespeitada. Lamento somente o erro político das forças vivas de Honduras que ao invés de expulsá-lo tinham era que prendê-lo e levá-lo a julgamento como criminoso político que é.
Mas, proponho, agora, um basta em nossa discussão, pois certamente não vamos modificar a situação. Devemos voltar a discutir as coisas de nossa Terrinha, que nos são bem mais caras. Um abraço.

Ricardo Petrucci disse...

Olá, amigos

O plebiscito proposto pelo presidente Zelaya visava à convocação de uma assembléia nacional constituinte.

Em um país democrático o poder constituinte originário pertence ao povo que, portanto, pode reescrever sua Constituição, prevendo (como na maioria dos países) ou não a possibilidade de reeleição do presidente.

Ou seja, quem detém a soberania é o povo e não o texto constitucional.

O que me parece inadmissível é que um país fique eternamente atrelado a um texto constitucional.

Portanto, não tenho dúvida de que o que houve em Honduras foi um golpe de estado, perpetrado pela elite entreguista, contra o presidente, pertencente à elite nacionalista, democraticamente eleito.

A desculpa foi a mesma utilizada para derrubar Jango: aquilo que Zelaya, segundo os golpistas, "queria fazer" e não o que efetivamente fez. Nada mais anacrônico, inquisitorial e kafkiniano!

O episódio de Honduras, por outro lado, confirma quão canalha é a grande imprensa sul-americana. Os entreguistas (FHC, Uribe etc.) podem postular quantas reeleições quiserem, já os nacionalistas não podem nem pensar nisso.

Saudações democráticas

Petrucci

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

É o que o blog também pensa, Petrucci, é o que se pensa...
Ainda que respeitoso à opiniões divergentes, mas delas discordando, democraticamente;
o teu comentário espelha rigorosamente o pensamento desta página (e de milhões, pelas Américas e pelo mundo...).
"Gracias" pela participação, e (tanto quanto o teu 'meio xará' Carlos Ricardo) vê se aparece mais seguido por aqui.
A página é de vocês!
Grande abraço.

Carlos Ricardo Souza disse...

Pedro, mais uma vez, democraticamente discordo de tuas idéias quanto ao caso Zelaya, mas, ao mesmo tempo, saúdo a chegada do nosso amigo e colega Petrucci e faço meu teu convite para que ele nos enriqueça com seus pertinentes e inteligentes comentários.