sábado, 29 de novembro de 2008

DRAMAS

A tragédia que vem se abatendo sobre o vizinho Estado de Santa Catarina assusta pela grandiosidade, pois acaba de deixar, em menos de uma semana, uma centena de mortos, grande número de feridos e milhares de desabrigados, vítimas do excesso de chuvas.
O Estado tem regiões praticamente isoladas – como no Vale do Itajaí, a zona mais atingida, onde choveu em uma semana o equivalente a quatro meses para aquela região - com estradas cortadas e lugares sem qualquer comunicação, somente com acesso por helicóptero.
Santa Catarina acaba sendo vítima de sua belíssima formação - de um lado o mar, do outro as montanhas, entre os dois muitos arroios e rios, e, por conseqüência, um solo extremamente frágil que não suporta a pressão dos morros que, pelo excesso de água, acabam desabando, soterrando casas e vitimando pessoas.
É uma catástrofe de origem natural, onde o homem tem muito pouco a fazer preventivamente, restando à mobilização, o auxílio e a solidariedade.
Pois o nosso Estado vive um outro drama que não tem causas naturais, mas que também choca, pois igualmente está maltratando pessoas e vitimando a sociedade.
Refiro-me a decisão do Governo Yeda de não pagar os Professores que aderiram à justíssima Greve do Magistério Estadual, fazendo com que muitos profissionais da Educação, que já ganham um salário minúsculo, venham receber neste mês - às vésperas do fim de ano - em torno de cem, duzentos reais, por aí.
É uma decisão extremamente autoritária, que atropela o diálogo, fere o bom senso e põe em risco a própria subsistência de toda uma categoria de servidores.
Todo mundo sabe que, no Estado Democrático, as questões secundárias da greve – dias parados, aulas perdidas, recuperação de conteúdos... – acabam sendo resolvidas depois de solucionada a questão central, no caso a adoção do piso nacional para os professores, uma prioridade para quem se dedica a formar cidadãos, mas é tratado fora dos mais elementares princípios da cidadania.
A Greve, aliás, é o último recurso, quase um grito de desespero, para quem é levado pouco a pouco rumo à indignidade, como se ensinar fosse “bico”, escolha de menor importância.
Pois desta vez, a Governadora Yeda, ameaçadora e intimidativa, resolveu agir antes, decidindo cortar o salário da já combalida classe dos Professores, visando constrangê-los a por fim a greve, o que com certeza vai acabar conseguindo, nem que seja por inanição.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, dois dramas com difícil solução. No primeiro, talvez a mão de Deus venha a dar um fim à tragédia vivida pelos vizinhos catarinenses; já no segundo caso, parece que nem Deus vai se atrever a colocar a mão, pois diante de uma Governadora que corta o diálogo, corta direitos, corta ponto, corta salário... – até para o Todo Poderoso convém não facilitar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

SETE FRASES DO ARROIO GRANDE








Em razão da crônica anterior, repleta de referências a expressões que fizeram à fama dos personagens de Garcia Márquez, acabei por lembrar de certas frases daqui mesmo do Arroio Grande que ficaram conhecidas pela sua originalidade, o que fez “daquela” uma expressão diferente das demais, mesmo as semelhantes, parecidas, mas não iguais.
De tudo o que já escutei, destaco algumas frases, possivelmente até distorcidas por eventuais descuidos da memória:
- Do Edu Damatta - o Caboclo - sempre que a gente comenta como é difícil construir alguma coisa por aqui, quando aparecem poucos para ajudar e muitos para “trabalhar” contra:
“É... Arroio Grande é Arroio Grande, não é Jaguarão e nem Pedro Osório...”.
- Do Dr. Antônio Siedler, numa ocasião, no início dos anos 90, quando fomos procurá-lo pedindo que ele fosse o nosso candidato - da oposição - a Prefeito do Arroio Grande, em nome do sonho de “mudança” que já durava quase 20 anos:
“O problema é que depois de uma certa idade a gente já não tem mais sonhos, tem fantasias...”
- Do Dr. Nilo Conceição, indignado com a liberalidade da TV que mostrava “A Vida como ela é”, de Nélson Rodrigues, recheada de cenas fortes, em pleno horário nobre de domingo, nos anos 80:
“A televisão não tem que mostrar a vida como ela é, tem que mostrar a vida como ela deve ser.”
- Do Dr. Paulo Carriconde, diante de um pequeno incidente doméstico, ocorrido já há alguns anos, quando a família ficou por breves instantes sem se comunicar com ele:
“Se ainda fosse um silêncio fraterno...”.
Do Pedro Bittencourt, num comício no fim dos anos 60, quando “baixava a lenha” nos prepostos da ditadura, ao perceber que um “da Arena” saía de fininho do local, fingindo que não era com ele:
“É contigo mesmo, calça floreada!”.
- Do João Walter Ribeiro, não se contendo diante do depoimento de um ex-empregado, que, para valorizar algumas horas extras no período da aguação, exagerava dizendo almoçar na lavoura, jantar na lavoura, dormir na lavoura...:
“Mas esse homem é um sapo!”.
E, por último, do Kiko da Candinha, justificando que mesmo que a gente deva resistir à sordidez humana – não matar, não roubar, não mentir... –, na vida tudo é permitido:
“Só não vale é gelá a testa”.
Realmente, neste “vale de lágrimas”, onde a torpeza se encontra cada vez mais banalizada, quase tudo acaba se justificando, menos a ida para o “outro lado”, que, ao menos até agora, não se tem notícia de que tenha valido a pena para ninguém.
Já o resto vale; de preferência sem sordidez.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

SOBRE SAPOS E CALÇAS FLOREADAS...


Não só Macondo, ou Aracataca, ou Cartagena das Indias - os povoados do universo literário e real de Garcia Márquez.
Arroio Grande também possui as suas frases antológicas (quem não as têm?), tiradas de personagens conhecidos por todos nós, convivas da paróquia.
As minhas preferidas?
Pois estarão no próximo fim-de-semana, na página três de “A Evolução” e aqui no blog, na crônica “Sete frases do Arroio Grande”.
É claro que existem outras; na verdade muitas mais. Esperem publicar o texto, comentem e mandem novas frases com a marca da terra, pra gente comparar.
Mas, já aviso: vão se preparando desde agora. As minhas são uma seleção, mas uma seleção... de respeito, mesmo.
É esperar para crer.

sábado, 15 de novembro de 2008

GARCIA MÁRQUEZ E OS DIÁLOGOS

Gabriel Garcia Márquez, seguramente o escritor que melhor descreve a difícil situação enfrentada pelos povos da América Latina através dos séculos, tem revelado a sua imensa capacidade como criador também na elaboração dos diálogos dos seus personagens, que reproduzem frases que a gente já ouviu, que já disse ou que ainda vai dizer, ainda que sem a mesma habilidade do mestre colombiano.
São preciosidades da obra de Garcia Márquez as expressões:
“Uma manhã assim dá vontade de tirar retrato”.
(do veterano Coronel, que passou vinte anos esperando uma correspondência que nunca chegava, numa manhã de sol radiante - no livro “Ninguém escreve ao Coronel”).
“Os homens só acreditam no que vêem nos lençóis”.
(de algumas cumadres, ensinando a artimanha do mercúrio para a noite de núpcias de Ângela Vicário, que não era mais virgem, antes de casar com Bayardo San Román – em “Crônica de uma morte anunciada”).
“Nunca compartilhei segredos nem contei uma só aventura do corpo ou da alma, pois desde jovem me dei conta de que nenhuma é impune”.
(do ancião nonagenário, protagonista de “Memória de minhas putas tristes”).
“O diabo da experiência é que ela nos chega quando já não serve mais para nada”
(do Doutor Juvenal Urbino, no livro “O Amor nos tempos do cólera”).
“Aproveite pra sofrer por amor enquanto ainda é jovem, meu filho, você vai ter muito pouco tempo pra isto mais tarde”.
(de Trânsito Ariza, para seu filho Florentino, que chafurdava pelo amor proibido de Fermina Daza - em “O Amor nos tempos do cólera”).
É melhor brigar por orgulho do que não saber por que se briga”.
(do Coronel Aureliano Buendía, no épico Cem Anos de Solidão, a novela mãe do realismo fantástico).
“O dinheiro é o cagalhão do diabo”.
(de Tranquilina Iguarán, avó materna de Garcia Márquez – no livro de memórias “Viver para Contar”, em resposta ao seu marido Coronel Nicolas Márquez, que conseguiu convencê-la a mudarem para Aracataca, onde, segundo ele, o dinheiro ‘corria pelas ruas’, no auge da exploração bananeira na região).
“Dá no mesmo”.
(do Alcaide [Prefeito] da cidade, ao ser perguntado pelo dentista Aurélio Escovar, depois da extração de um molar, para quem deveria mandar a conta, se para o cliente ou para a Prefeitura – no livro “Os funerais de Mamãe Grande”)
E, por fim, a epígrafe do “Viver para Contar”, do próprio Garcia Márquez:
A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”.
A gente pode até não ter a capacidade e nem a criatividade de um Garcia Márquez, mas a verdade é que passamos a vida inteira pensando em dizer algo parecido. Ou não?

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"UMA MANHÃ ASSIM DÁ VONTADE DE TIRAR RETRATO"







A frase é do veterano Coronel, que passou 20 anos esperando por uma correspondência que nunca chegava; dita uma manhã de sol radiante - na obra Ninguém escreve ao Coronel.
Essa imensa capacidade de Garcia Marquez de colocar expressões grandiosas nas falas dos seus personagens, será objeto da crônica "Garcia Marquez e os diálogos". No fim-de-semana, no jornal "A Evolução" e aqui na página.
Por falar nisso, alguém lembra - em "Os funerais de Mamãe Grande" - o que teria dito o Prefeito da cidade quando, depois da extração de um molar, foi perguntado pelo dentista para quem deveria ser enviada a conta, se para o cliente ou para a Prefeitura?
Pois essa conversa também estará em Garcia Marquez e os Diálogos, em seguida, aqui na página.

sábado, 8 de novembro de 2008

DR MONTEIRO





Nem Manoel Jerônimo de Souza, nem José Baptista de Carvalho – os nossos primeiros povoadores -, nem Souza Gusmão e nem D. Maria Pereira das Neves, eles que doaram o terreno em torno do qual se ergueria à Vila; chama a atenção que o nome da principal rua do Arroio Grande, da nossa rua mais central, tenha sido dado em homenagem a um forasteiro, um homem que habitou a cidade por menos de uma década, e que aqui morreu muito cedo, com apenas 32 anos de idade.
Antônio Monteiro Alves, o Dr. Monteiro, nasceu no Estado da Bahia, em 1847 ou 1848. Estudante da tradicional Escola de Medicina da Bahia, fundada em 1808, Antônio formou-se no ano de 1871, defendendo a Tese “Febre Amarella”, o que viria a render-lhe o título de “Doutor” em Medicina.
Não existem dados sobre a vinda do Dr. Monteiro para o Arroio Grande, mas tudo leva a crer que isso tenha ocorrido logo no ano seguinte à sua formatura, pois documentos que fazem referência à sua morte dão conta de que o Médico prestou “incontáveis serviços” à nossa população por cerca de oito anos, até vir a falecer em 25 de março de 1880.
A morte ocorreu por tuberculose pulmonar, quando o Dr. Monteiro contava com 32 anos de idade, deixando três filhos menores - Francisco, Maria Cândida e Henrique – e a viúva Augusta da Silveira Alves, também baiana, e que, presumivelmente, retornou à sua terra natal logo após a morte do marido.
O documento mais interessante a respeito da vida do Dr. Monteiro por aqui é a Acta n° 160, do Legislativo Municipal, lavrada a 12 de junho de 1880, menos de três meses depois da morte do médico. Por aquela Ata, o parlamento de Arroio Grande decide trocar o nome da rua mais central da cidade – então chamada “Rua do Commercio” – para homenagear o “Médico Humanitário”, precocemente retirado do convívio dos arroio-grandenses.
A Ata, aliás, registra uma passagem belíssima, onde o proponente da homenagem, Dutra da Silveira, depois de ver aprovada a troca do nome da rua – de Rua do Commercio para “Rua do Doutor Monteiro” -, assim se manifesta: “Aceitem os Athenienses Bahianos essa prova de amizade e consideração que um punhado de Espartanos Rio-Grandenses agradecidos exibem pelos relevantes serviços recebidos de um seu irmão...” (Sala de Sessões da Câmara Municipal, doze de julho de mil oitocentos e oitenta).
Por “athenienses bahianos” parece que o orador quis fazer referência à Educação que àquela época destacava o Estado da Bahia, enquanto que “espartanos rio-grandenses” seria revelador do espírito de luta do povo gaúcho, historicamente acostumado a longas quizílias em defesa dos seus ideais.

É interessante saber que, ainda hoje, a rua da Praça Central, a rua dos Bancos, do Café, das lancherias; a rua dos passeios de carro, do desfile dos jovens, dos namoros; a rua por onde todo mundo passa, conserva o nome de um camarada de quem pouco se sabe, mas que há 128 anos vem marcando a vida dos habitantes do Arroio Grande. Afinal, desde 1880 toda a cidade se encontra mesmo é na Rua do Doutor Monteiro.


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CRÔNICA PARA UM DESCONHECIDO ILUSTRE...
















O Doutor Monteiro (Antônio Monteiro Alves), que deu nome à rua da foto aí de baixo, nasceu no Estado da Bahia (não se sabe em que cidade), em 1847 ou 1848, onde formou-se em Medicina no ano de 1871. Morreu aqui em Arroio Grande, no dia 25 de março de 1880, aos 32 anos de idade, de tuberculose pulmonar (conforme atestado de óbito, pesquisado no Registro Civil da Comarca).
A foto aí de cima é do túmulo do Dr. Monteiro, que foi deslocado do antigo cemitério (localizado onde fica hoje a Pracinha de Esportes) para o atual, situado lá no fim da Avenida da Saudade.
No sábado, uma crônica com mais dados sobre o Dr. Monteiro – um quase desconhecido imortalizado como nome da principal rua da nossa cidade -, nas páginas de “A Evolução” e aqui no blog.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

AS RUAS DA MINHA CIDADE (VII)













Rua Dr. Monteiro - Centro (clique na imagem para ampliar)
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A Rua Dr. Monteiro é a principal rua do Arroio Grande, sendo cercada pela Praça Central, pela Prefeitura Municipal, pela Câmara de Vereadores, por Bancos, lancherias, bares, etc.
É a rua onde ficavam localizados o antigo cinema (Cine Marabá), o antigo Café Central; é a rua que há cem anos levava para o antigo Cemitério, situado onde é hoje a Pracinha de Esportes, que fica em frente ao atual Centro de Cultura Basílio Conceição.
É a rua dos passeios de carro, do chimarrão à tardinha, das conversas de esquina, dos namoros; é a rua dos desfiles escolares, dos desfiles tradicionalistas, é a rua dos desfiles das Escolas de Samba, a rua do Carnaval.
A rua tem esse nome em homenagem a Antônio Monteiro Alves, médico baiano que aqui veio a residir e clinicar, e que faleceu precocemente em 1880, com apenas 32 anos de idade.
Até então, a rua se chamava Rua do Commercio, mas apenas três meses depois da morte do médico Antônio Monteiro foi transformada, por iniciativa do parlamento municipal, em Rua do Doutor Monteiro, denominação que pesiste até hoje, 128 anos depois.
Sobre o Dr. Monteiro existem alguns (poucos) dados interessantes, que deixamos de transcrever aqui, pois o Médico será objeto da nossa crônica de fim-de-semana, a ser publicada no Jornal "A Evolução" e aqui mesmo na página.
De qualquer forma, a nossa Rua Principal, a nossa rua mais central é mesmo a rua mais marcante da cidade. Por ela passam os nossos sonhos e aspirações, os nossos desejos e fantasias, a nossa expectativa e a nossa esperança.
Pela rua Dr. Monteiro passa, enfim, toda a existência de uma cidade, toda a vida do Arroio Grande, a vida de cada um de nós que amamos cada rua, cada canto, cada lugar por onde circularam e circulam todos os personagens desta terra...