segunda-feira, 25 de junho de 2012

6º AIMONE EM CANTO


No último final de semana participei auxilando na organização – como pré-selecionador, coordenador de ensaio e, finalmente, como membro da Comissão Julgadora (aqui junto com o Jélson Domingues e a Giovana Camisa) – do 6º Aimone em Canto, ótimo festival de música estudantil do Arroio Grande, que vem se firmando a cada ano como parte das comemorações do aniversário da Escola.
Com o pulso firme do Diretor Paulista, o trabalho e a correria da Verônica, da Jussara Pereira, da Elenise e das demais professoras e membros do Aimone, o evento acabou se tornando um dos maiores acontecimentos de arte da cidade, especialmente pelo pluralismo das músicas participantes, que vão desde o rock pauleira até o nativismo, do pagode a canções românticas, passando pelo gospel e por baladas, abrigando, enfim todo os tipos de música.
Dividido este ano em duas categorias – a estudantil propriamente dita e a categoria livre – o festival chegou a uma das suas maiores edições, proporcionando o grande encontro dos artistas locais.
Na foto aí de cima aparecem o compositor e músico Sidney Bretanha, o letrista João Vicente Salles, os intérpretes Marcelo Frós, Marina Vidal e Letícia Christ, os músicos Márcio Moncks, Matheus e Miguel Vidal, entre outros.
Das grandes canções do festival, destaques para O Inverno no Sul é assim, do Sidney Bretanha, interpretada pela Letícia Christ (música mais popular do festival e melhor letra – “O inverno no Sul é assim/a gente é que faz o calor/Cortando a geada, sem nada/Do jeito que for”), Não volta mais, do Marcelo Fróz e outros (1º lugar, categoria estudante, e melhor intérprete para o Marcelo – “Feche a porta/Não deixe a luz entrar/Porque eu quero lembrar/Do seu rosto.../Porque a vida não volta mais, não volta mais...”), e Velha Novidade (1º lugar, categoria livre – “Eu não tenho ainda um grande amor.../Que me leve pra bem longe da cidade/Que apareça feito velha novidade/Revelando quem sou eu/Pra viver o que tanta gente já viveu”), também do Sidney, interpretada pela Marina Vidal, todas criações interessantes dos nossos artistas, e que passam a fazer parte agora do acervo musical da cidade*, por obra da expressão do Aimone em Canto, evento que a cada ano ganha mais força por aqui.
O festival é uma grande e saudável festa, uma mostra do vigor e da capacidade dos nossos artistas; que venham mais edições então, pois talentos a gente têm de sobra em Arroio Grande, o que falta (como sempre, como em tudo...) é um bom espaço para mostrar a arte de cada um e, principalmente, de todos.
* Foram premiados ainda a Banda Progressão Parcial, João Manoel Machado e a Banda Toca do Bandido, entre outros participantes.

sábado, 23 de junho de 2012

CARLOS FRANCISCO (CIZICO)

Nesses anos todos, sempre que eu me afastei por um tempo um pouco maior de Arroio Grande, coisa de duas, três semanas, um mês no máximo, a primeira pessoa que eu pensava encontrar quando dos meus retornos à cidade, era o Carlos Francisco Caetano, o popular Cizico.
O Cizico foi um símbolo do Arroio Grande. Um cara popular, conhecido e conhecedor de todos, o Cizico foi um personagem da cidade.
Um sujeito simples, alegre e conversador, e sempre, desde muito cedo, com inúmeras histórias para contar.
Guri de mandalete, estafeta, secretário, auxilar de pedreiro, desportista, anotador de jogo de azar, inspetor de disciplina, o Cizico fez de tudo um pouco na vida, e conquistou a amizade e a admiração de todos, convivendo com os diversos grupos sociais do Arroio Grande.
Folclórico, criou a fama de “pé frio”, o que eu mesmo desmenti num texto que já devo ter publicado aqui na página. Para os que não leram a crônica, esclareço: foi com ele, e somente com ele, que, há mais de 20 anos, eu consegui ganhar uma única vez no “jogo do bicho” em toda a minha vida. E acertando na “cabeça”, para não deixar dúvidas.
Ganhei num sábado, na centena do 1º prêmio da Loteria Federal. Depois, na segunda-feira, já não havia dinheiro algum, tinha sido todo ele gasto na própria comemoração, nos bares e nos cabarés da cidade, em bebidas, cigarros e presentes para as “chinas”, numa festa interminável, com a participação dos melhores amigos e com o Cizico junto, é claro.
Tinha me dado sorte o “Negrinho”, assim como sempre deu sorte ao Grêmio e ao Caturrita, os seus times de coração. Ou não foi com o Cizico assistindo os jogos desses clubes que eles conseguiram as suas maiores conquistas? Não foi com ele torcendo junto – no estádio, ou pelo rádio ou pela televisão – que o Renato Portallupi, seu grande ídolo, se tornou o maior jogador da história do Grêmio?
E na política, então? Quem não lembra do Cizico ajudando a eleger o Ermínio prefeito em 96? E fazendo da “mana” Silvana vereadora, e elegendo deputados e senadores... Distribuindo “santinho”, correndo atrás dos votos e ganhando inúmeras eleições. Isso é ser “pé frio”? Não, claro que não, o Cizico era pé quente e a nossa maior sorte foi ter convivido com ele, foi ter privado da sua amizade.
Por isso, quando recebi a notícia da sua morte, na madrugada chuvosa de domingo para segunda-feira, apesar da tristeza, apesar da dor dos seus amigos e familiares, fiquei pensando que o Cizico cumpriu, e bem, o seu ciclo por aqui. Deixou muitas histórias e uma boa lembrança para todos nós.
Por compromissos profissionais inadiáveis, não pude ir ao enterro e sequer ao velório do meu amigo Carlos Francisco. Mas também, o que isso importa? Afinal, quando dos meus retornos ao Arroio Grande, sejam eles quantos forem, eu deverei me encontrar primeiro e antes de mais nada com o Cizico, pois bastará entrar na cidade e o personagem que ele foi estará me acompanhando – da Visconde de Mauá a Dr. Monteiro, do Promorar ao Gitão, pela cidade toda, pela vida inteira, sempre.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

CESARE BATTISTI

Estive com o italiano Cesare Battisti.
Ele veio até Pelotas para lançar o seu último livro – “Ao pé do muro” – nas dependências da Câmara Municipal.
Depois fomos jantar, um pequeno grupo, na casa de um amigo.
Battisti é escritor, possui mais de vinte livros publicados, na sua maioria romances policiais, do gênero noir, que escreveu principalmente na França, quando lá viveu por cerca de uma década, entre os anos 1990 e 2000.
Mas sempre, invariavelmente, quando é apresentado ao público, diz-se dele que “é Cesare Battisti, aquele...”.
As acusações de quatro assassinatos na Itália e a condenação à prisão perpétua pelos crimes que nunca admitiu (fugado, foi julgado a revelia) vão acompanhar Battisti para o resto da vida. É um homem marcado, naturalmente rotulado.
Lá pelas tantas, depois de muito churrasco e incontáveis cervejas, quando conversávamos só os dois, fiz a pergunta que guardara a noite toda:
O quanto te incomoda estar rodeado por pessoas que estão interessadas apenas no personagem, no Battisti da Itália dos anos 70, e não no escritor, no homem que tu és agora?”
Battisti não me olhou, deixou que o olhar se perdesse no espaço que o vão da porta permitia e respondeu, pausada e suspiradamente.
É tudo o que me incomoda, é tudo o que me importa, e eu vou viver o resto da minha vida lutando para me livrar disso”.
Em seguida levantou-se e me alcançou um livro - “Minha fuga sem fim” - que eu pedi que dedicasse ao Sérgio Canhada. (Battisti se surpreendeu quando eu lhe disse que o Sérgio possuía uma biblioteca com mais de 4 mil volumes, morando numa cidadezinha com cerca de 20 mil habitantes, como é o caso de Arroio Grande).
Depois conversamos sobre outras coisas, e eu pude conhecer mais do escritor Cesare Battisti, abandonando um pouco o peso do ativista político, do personagem, aquele do qual o homem Battisti tenta se livrar, numa luta também sem fim e praticamente com a certeza de que jamais conseguirá.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

DISTRITOS DE ARROIO GRANDE-SANTA ISABEL



Santa Isabel do Sul, Distrito de Arroio Grande, é, ou deveria ser, patrimônio cultural e histórico do Estado, afinal a atual pequena Vila de Pescadores já foi um dos pilares do povoamento às margens do Canal São Gonçalo – via fluvial de cerca de 60 quilômetros que faz a ligação entre a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim – possuindo gloriosa história, pelo que viveu, inclusive, o seu decênio de independência política (de 1882 e 1893), quando veio a se chamar Santa Isabel dos Canudos, naquele que é considerado o momento de maior orgulho da comunidade isabelense em toda a sua existência.
Segundo artigo de Cledenir Mendonça*, a vida da comunidade de Santa Isabel, quanto à sua formação histórica, pode ser sintetizada da seguinte forma:
1815 – Povoamento
07/12/1866 – Freguesia
02/01/1867 – 5º Distrito de Jaguarão
09/05/1882 – Villa de Santa Isabel dos Canudos
01/07/1882 – 1ª Eleição de Vereadores
27/01/1883 – Auto de Instalação da 1ª Câmara de Vereadores
07/11/1885 – Código de Posturas Municipal
11/04/1890 – Dissolvida a Câmara e formada a Junta Municipal
04/09/1890 – Arroio Grande anexa parte de Santa Isabel
31/12/1892 – Divisão Judiciária para Arroio Grande
16/01/1893 – Suprime Santa Isabel e anexa a Arroio Grande
29/12/1944 – Passa a se chamar Vila Açoriana
14/11/1952 – Passa a se chamar Santa Isabel do Sul, ficando em definitivo como Distrito de Arroio Grande.
Atualmente, a Vila de Santa Isabel resume-se a presença de poucos habitantes no local, na sua maioria pescadores que trabalham com as suas pequenas embarcações, possuindo pequenas casas de comércio, posto de saúde e escola pública, sendo que a barca ("balsa" -última foto) que fazia a travessia do Canal São Gonçalo –ligação entre os municípios de Arroio Grande e Rio Grande –encontra-se de há muito desativada, sendo frequentes as promessas de ligação asfáltica ou mesmo da criação de um pontilhão sobre o Canal, vivendo os moradores da Vila, também neste sentido, numa espera que parece não ter fim. Faz anos.
* Cledenir Vergara Mendonça, morador do Povo Novo, “lado” de Rio Grande, é Pós-Graduado em História pela FURG e profundo conhecedor da história da Vila de Santa Isabel.