sábado, 31 de maio de 2008

A COISA MAIS CERTA DE TODAS AS COISAS, NÃO VALE UM CAMINHO SOB O SOL...









Final de semana, últimos dias de maio...
Se a previsão do tempo se confirmar, depois dos calores do início do mês, das chuvas assustadoras, e do frio que agora veio para não deixar dúvidas, é hora de aproveitar o sol e sair pelas ruas, e andar e andar e andar.
O sol sobre a estrada, o sol sobre as ruas, o sol sobre as pedras...
As mãos segurando o sol, um olhar para o sol, um caminho sob o sol.
Simples assim, saboroso, assim, feliz, assim.
Seja pelas ruas de Paris, pelas ruas de Nova York, pela Herculano de Freitas, do Arroio Grande, ou pela Bento Gonçalves, de Pelotas, verdade é que "a coisa mais certa de todas as coisas, não vale um caminho sob o sol".
"E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol".
Obrigado Caetano Veloso.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

ATENÇÃO COMUNIDADE...

Quem vê o trabalho de caras como o José Junior, do grupo Afroreggae, do MV Bill, e de outros nomes que lutam do lado dos chamados “excluídos” de sociedade, acaba sentindo vergonha do comportamento burguês-egoísta que caracterizam gente como eu e tantos que me lêem agora, e da postura assistencialista de políticos, de pastores e de empresários, que vivem prestando pequenas ajudas ao “povo” sempre com a intenção de trocar tais favores pelo voto, pelo dízimo ou pelo abatimento no imposto de renda, o que não é o mesmo mas é igual.
Trabalhar junto às comunidades desassistidas, lá onde o Poder Público não consegue chegar, naqueles lugares onde a esperança passa longe, para - através da educação, da arte e do ensinamento de ofícios - tentar retirar pessoas da indignidade, deveria ser uma obrigação de todos, evitando assim à incerteza, o abandono e a marginalidade.
Pois esse trabalho, que existe por necessidade nos grandes centros, dá vergonha daquilo que a gente não faz por aqui, onde as “preocupações” políticas e sociais geralmente não passam de futricas de cumadres, isto quando não beiram a bobageira total e se confundem com as birrinhas políticas que a cidade vive alegremente, dia e noite, semana a semana...
Ah, o prefeito ta gordo, xi, a secretaria foi à festa, ah, o vereador x falou que o vereador y..., e tome bobagens enquanto o povo se f... e nós na esquina discutindo veleidades, e dando as costas para os reais problemas da vida, sem nada fazer para ajudar na solução de coisa nenhuma.
Existem exceções, é verdade, como o trabalho que o pessoal de alguns Bairros e Vilas ta fazendo aqui em Arroio Grande, além de projetos como o do Sidatta, e da doação já antiga da Ana e do Gaspar, entre outros, e que, acima do assistencialismo barato, tem por objetivo a cidadania, algo tão comum no discurso, mas dificílimo na prática.
Pois essas pessoas e essas comunidades estão sempre precisando de auxílio, de uma participação que especialmente nós - da pequena-burguesia-de-bunda-sentada-da-cidade - ainda podemos prestar, fazendo um movimento real que possa sacudir um pouco este lugar, trazendo motivação às pessoas, nos desviando, enfim, do comentário estéril e da discussão inútil que pautam o nosso dia-a-dia.
E isto depende um pouquinho de cada um: do poder público, das associações, dos empresários, dos ‘periodistas’, dos educadores, dos desportistas e dos artistas da cidade, entre tantos outros que podem iniciar uma movida arroio-grandense que venha a fazer algo realmente por todos neste lugar, mas principalmente por aqueles que mais precisam de quem faça por eles.
Com a participação também de todos, isso se torna bem menos difícil, e poderia fazer da nossa “comunidade” (já repararam como esta é a palavra mais usada por aqui?), um lugar realmente fraterno e solidário, e, por conseqüência, mais agradável pra gente viver.
Eu, por exemplo, estou me oferecendo há tempos...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

PERIFERIAS

O que existe nas periferias do Rio de Janeiro, do Norte e do Sul do País?
Lá tem baile funk, tem mulher melancia (tem?), tem lan house, disputa por ponto, jogo de futebol e gente, muita gente.
Tem escolas (poucas), hospitais (raros), segurança (nenhuma) e mais gente, muita gente.
O que existe na periferia, nas Vilas e nos Bairros do Arroio Grande?
As periferias costumam ter muita solidariedade entre as suas comunidades e quase nenhuma compreensão de quem vive fora de lá.
O grito de "atenção comunidade" surge normalmente para mobilizar o pessoal da favela, mas deveria servir para acordar toda a sociedade que faz questão de viver alheia ao povo das periferias.
Na sexta - Atenção Comunidade - aqui no blog e na página 03 do jornal "A Evolução".

terça-feira, 27 de maio de 2008

MALADIE

Uma gripe persistente - dessas que ataca garganta, brônquios, pulmão... - tem
deixado o autor pouco a vontade para movimentar a página, prejudicando a relação com os leitores.
Entram em cena, então, os documentários na tevê - a inauguração do Coliseum, a independência do Chile, O' Higgins, San Martin... - os filmes no devedê - Inesquecível, com a Guilhermina Guinle, que vale pelo começo em Buenos Aires e por pouco mais - e, pobre de mim, também a novela das 8, o futebol, o noticiário...
A vantagem das pestes da Idade Média é que não eram anunciadas pelo "cara de corvo" do William Wack no Jornal da Globo.

domingo, 25 de maio de 2008

AMY, AMY...




Hoje é domingo, final de fim-de-semana, ou de feriadão, desta vez.
Depois da balada de sábado, ou do jantar, ou do boteco, ainda dá tempo de -antes de ficar o dia inteiro na internet, nos e-mails, orkut, msn... - dar uma passadinha no youtube pra escutar (quem ainda não tem o CD) a Amy Winehouse, essa inglesinha maluca de vinte-e-poucos-anos que canta de um jeito como há muito não se (ou)via.
Seja nos clips You Know I'm No Good (o melhor, aqui, é a primeira versão), ou Rehab, ou Back to Black, a Amy prende o ouvinte de todo o jeito, com a sua maneira meio "desesperada" de interpretar, como se aquela música fosse a última que ela poderia cantar.
O meu conhecimento limitado de música ainda não me permitiu definir que tipo de som que ela faz: soul? blue? pop rock? Sei lá. O que sei é que a guria costuma botar pra fora o que a gente nem imagina, e canta o seu canto visceralmente, como uma grande diva da música, uma espécie que a gente pensava que já tivesse se extinguido.
Pra escutar Amy Winehouse não tem idade, tio.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

CASAMENTOS DO SUL

Em pleno maio, mês dos noivos, lembrei de uma frase sobre um filme, cujo título não recordo bem, onde a atriz, referindo-se a sua personagem, diz mais ou menos assim: “É uma história que se passa no Sul, lá os casamentos não são bons, os homens são maus maridos e as mulheres fingem que está tudo bem...”.
O filme é americano, mas a definição da atriz-personagem me chamou a atenção porque parece tratar de uma “queixa” comum também aqui ao nosso Sul. Quem, ao menos uma vez, já não ouviu falar a respeito?
Mas será realmente que os casamentos do Sul não são bons para o sexo feminino? Serão os casamentos do Sul “diferentes” para as mulheres do Norte ou do Centro do País? A “estética do frio” fará diferença, para pior, nas relações entre casais? Os longos e tenebrosos invernos que nos acometem terão o efeito contrário que deles se espera; ao invés de aproximar, afastam? Ou será que o frio aproxima tanto que aperta, aperta tanto que oprime?...
Não sei, mas tal dilema lembra um conto do Borges, não por acaso intitulado “O Sul”, onde o personagem principal, um “candidato” a gaucho, imagina viver num lugar, a Campanha, onde realizaria todos os seus sonhos. No final, o homem, desafiado por um jovem bêbado para um duelo - que não podia aceitar porque não tinha qualquer habilidade com as armas - acaba se vendo com um punhal na mão, sem nem saber o que fazer. Daí...
A nossa índole de sulistas é exatamente assim. Achamos realmente que devemos aceitar todos os desafios, pensamos que ser “do Sul” é garantia de força, de valentia, de coragem, e consideramos que somos mais “Homens” por causa disso.
Em conseqüência, mesmo que nunca tenhamos segurado num punhal jamais nos recusamos a duelar, nem bem pegamos as cartas e já pensamos em gritar “retruco”, nem sabemos o que as nossas mulheres querem, mas afirmamos que somos bons amantes, bons maridos, bons homens...
O sulista, mais do que valente é fanfarrão, e não aceita que duvidem da sua palavra mesmo quando mente de forma descarada. Somos na verdade canastrões, uns artistas, de primeira ou de quinta, dependendo do ângulo.
“Garganteamos” o que acreditamos ser: bons de arma, bons nas cartas, bons de cama, bons em tudo, e ai de quem se atreva a duvidar.
Por isso, talvez, nossas mulheres pensem diferente e finjam que está tudo bem, embora no fundo vivam repetindo umas pras outras: “aqui no Sul os casamentos não são bons, aqui no Sul os casamentos não são bons...”.
Já nós, homens, pelo contrário não fingimos. Acreditamos de verdade que somos bons, no papel de machos que a vida nos reservou: futebol, cartas e carreiras; noitadas, bebidas e mulheres, ah, e uma boa briga sempre que possível.
Como péssimos atores, somos também péssimos leitores de nós mesmos e pensamos que realmente temos tudo o que um “Homem” deve ter.
Só nos falta a autocrítica.

NÃO SÃO BONS?

"Lá no Sul os casamentos não são bons. Os homens se fazem de bons maridos e as mulheres fingem que está tudo bem".
Quem disse isso?
Ainda hoje, no jornal "A Evolução" e aqui, nesta página.
A crônica: "Casamentos do Sul".
Quem haverá de concordar ou discordar.
Acessem o texto e comentem.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

SETE DIAS











O colombiano Garcia Márquez, o argentino Jorge Luís Borges, ou o poeta chileno Pablo Neruda? Qual o seu escritor sul-americano (não brasileiro) preferido?
O prazo da enquete está quase terminando. Qual (ou quais) escritor(es) os blogeiros da página preferem?
Ainda há tempo de participar, votar, comentar...
Ou será que o leitor pensa como o Dr. Sérgio Canhada para quem a enquete tem sido um tormento, já que não consegue se decidir em quem votar.
Diz que todos os dias pensa em participar, mas acaba não conseguindo.
Um dia, acorda Borges, então pensa na obra de Garcia Márquez e...
Na enquete entre os brasileiros, está, dependendo do dia, com toda a certeza, Machado de Assis, então lembra de Jorge Amado e...

Vota no “do dia”, Canhada, ou em todos eles, tudo é possível.
Só não vale é ficar de fora.
Assim como para todos os leitores.
Acessem, participem, votem!

QUAL DESTES?












Jorge Amado, Erico Veríssimo ou Machado de Assis.
Qual destes é o seu escritor brasileiro preferido?
Já votou na enquete? Ainda há tempo. Participe!

domingo, 18 de maio de 2008

DOMINGO X DOMINGO

Quando digo gosto de barulho, barulho. Aos domingos, silêncio.
Cidade, campanha, praia deserta;
Casa azul, casa amarela, casa verde...
Cerveja, vinho; chimarrão, café.
Santa Isabel, Arroio Grande, Lisboa, Paris.
Carro, caminhada, bicicleta, trens.
Somos vários, somos um só, diferentes a cada experimento.
Como traduz o velho Álvaro Moreyra: "Não há personagens. Há modos de ser do autor...".

sexta-feira, 16 de maio de 2008

PODE ENCOMENDAR O TERNO, VEREADOR

O anúncio da instalação da Votorantin Celulose e Papel na Zona Sul do Estado, seja no Município de Rio Grande, ou aqui no nosso Arroio Grande, deverá realmente alterar a fisionomia da região, pois a indústria paulista promete investir pesado (cerca de 2 bilhões, dizem), o que garante um “aquecimento” em termos de geração de empregos, de dotação de infra-estrutura próximo à área de instalação, com a construção de casas, circulação de veículos, novas estradas, etc.
Entretanto, independentemente de onde venha a se instalar a sede da indústria – se do lado oeste, ou do lado de lá do Canal São Gonçalo – um “Município” já pode comemorar as transformações que deverá experimentar com a chegada da VCP na região, a médio e longo prazo.
Trata-se do “Novo Município” de Santa Isabel do Sul (ou que outro nome venha a ter), antiga Vila independente de Santa Isabel dos Canudos, ex-Distrito de Arroio Grande, e que deverá se emancipar em pouco tempo a fim de experimentar a nova situação econômica que a indústria de celulose deverá trazer aos ribeirinhos do São Gonçalo, tanto do lado leste (Rio Grande) como do lado oeste (Arroio Grande) do histórico canal.
Sem entrar na discussão ambiental, que é matéria que desconheço, e sem querer ser futurólogo, verdade é que a antiga Vila de Pescadores deverá passar por uma total reformulação com a chegada da VCP, e aquilo que sequer se imagina hoje em Santa Isabel - agitação, desenvolvimento, expansão... – será apenas uma questão de tempo, para alívio de alguns dos seus moradores e desespero de outros, acostumados a calmaria do lugar.
Emancipada - e por força dos novos tempos que irá viver - Santa Isabel deverá ter Bancos, Correios, Posto de Gasolina, Hotel, Restaurante, Supermercado, Rede de Internet e também Bailão, Motel e Cabaré, pois afinal ninguém é de ferro.
Ah, e, como Novo Município, Santa Isabel terá que trabalhar com administração própria, o que implica em Executivo e Legislativo próprios. Deverá ter um Prefeito é claro, que será votado pelos habitantes do Novo Município nos mesmos moldes daqui, com direito a campanha política, comício, promessas aos eleitores, ranchos em troca de votos, tudo igualzinho a sua vizinha Arroio Grande, afinal quem sai aos seus não pode degenerar.
Depois, que vença o candidato que a população isabelense julgar melhor preparado para o desempenho das funções de Chefe do Executivo; um filho da terra, quem sabe, alguém com raízes, ligado aos pescadores, aos moradores, às pessoas simples que habitam a centenária Vila.
Não sei não, mas algo me diz que o Vereador Luciano Peres já deve estar tirando as medidas do terno...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

DE VOLTA PARA O FUTURO?

Santa Isabel emancipada?
Sexta-feira, no jornal "A Evolução" e nesta página, uma crônica futurista: "Pode encomendar o terno, vereador".
Uma "previsão" bem humorada sobre o futuro da Vila de Santa Isabel depois da instalação da indústria da Votorantin na região.
De brinde, aqui no blog, a luxuosa participação do traço do Donga.
É amanhã, nesta página.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

VIDA QUE VOLTA, VIDA QUE SEGUE...

Domingo, 11 de maio. Dia das Mães. Rua Júlio de Castilhos, n° 34. A mesma Casa de 40 anos atrás, agora na cor verde.
A garagem, o pátio, o churrasco, a família toda reunida - a mãe, os filhos, noras, genros... - quase todos, menos o pai, que partiu sem outros domingos para nos oferecer.
Vida que segue, vida que volta...
A mesma Casa, velhos amigos, ruídos atravessando as peças de teto alto, antigos sons: o ranger da porta da geladeira, o estampido das tampas das garrafas, outra cerveja mais, uma história nova, uma conversa alegre...
Velhos sons: o Basílio dedilhando alguma coisa ao violão, vozes, batuque, orixás que se levantam não se sabe de onde, Elis Regina cantando "Como nossos pais".
A mesma Casa de 40 anos atrás, a família toda reunida, a presença dos que estão e dos que não estão mais, vida que volta, vida que segue; a única vida possível.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

UMA LUZ NO MEIO DA NOITE

No último sábado (10/05), no "resistente" Bar do Xiringa, a Marcela e o Rodrigo (que não aparece na foto), com a participação luxuosa do João Vicente, iluminaram a fria noite de maio, com uma apresentação musical livre e solta, contemplando todos os (bons) estilos para quem gosta de (boa) música.
Apresentando MBP, rock inteligente e pop-rock; baladas e canções "para ouvir" e para cantar junto, o grupo de amigos salva a noite musical de Arroio Grande, sempre tão carregada de alguns "barulhos" de gosto extremamente duvidoso.
Pois a Marcela e o João (que são os que conheço melhor) são realmente diferentes, em tudo. Tocam e cantam com gosto, com extremado prazer, sem o compromisso comercial que pauta alguns, e, por isso, acabam transgredindo a rotina local para transformar a noite em algo saudável, alegre, extremamente positivo, como nunca deveria deixar de ser.
São diferentes na música, são diferentes na conversa, são diferentes na postura; têm a coragem que a cidade precisa, de não fazer igual a tantos outros.
São realmente uma luz no meio da noite e dentro da vida do Arroio Grande.

domingo, 11 de maio de 2008

ENCONTRO COM BORGES

Na semana passada, um casal amigo - seria indiscrição dizer que foram o Paulo e a Elaine? - nos presenteou - a mim e a Verônica - com um Borges.
Um Borges novinho (o Velho Borges é sempre novo...), pleno, iluminado pelo Fervor de Buenos Aires, por El hacedor, pelo Elogio da Sombra... os clássicos de Borges.
Desde então tenho andado por El Sur e por El Oriente, por La Recoleta e por La Plaza San Martín, e voltado mais para perto com El Vino e El Truco e com a Milonga para Los Orientales.
(...Milonga para que el tiempo
vaya borrando fronteras;
por algo tienen los mismos
colores las dos banderas.)
Desde então tenho andado mais.
Tenho andado mais desde então.
Desde então tenho vivido melhor, talvez.
Desde então tenho vivido, é certo.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

BARULHO

Sou um homem urbano. Gosto de barulho. O silêncio da campanha ou das praias desertas me incomoda. Qualquer silêncio me incomoda. Preciso de barulho, mesmo na solidão, e mais ainda nela. Preciso de barulho pra pensar, pra trabalhar, pra dormir... Preciso de barulho pra tudo. Nunca tive dor de cabeça, muito menos a tal enxaqueca, e nem ressaca, apesar da cerveja e do vinho praticamente diários. Quando deito - de ouvidos ligados nos possíveis ruídos da madrugada - já começo a pensar no barulho da manhã seguinte.
É verdade que não gosto de falar com ninguém em seguida que acordo, nem de atender telefone, nem de dar “bom-dia”, nem de nada. Necessito de uma meia hora pra remoer a minha rabugice, a minha falta de humor. E não gosto de fazer barulho, mas não me importo com o barulho dos outros. Gosto que falem comigo sem que eu precise responder, sem que eu nem precise ouvir, gosto de ligar o som, a tevê, a internet, tudo que faz barulho ao mesmo tempo; começar o dia com a sinfonia inequívoca dos inúmeros sons da cidade.
Sou um apaixonado pelas rádios AM, por programas ao vivo – tipo aqueles do Jorge Américo ou do Papaco - onde o ouvinte participa por telefone e fica conversando com o apresentador sobre música, sobre novela, sobre a rua onde mora, sobre cachorro, gato, sobre tudo... Gosto de ouvir essas conversas. Os programas de rádio têm vida, retratam seres humanos, gente do dia-a-dia; não esse comportamento engomadinho da televisão, onde âncora e entrevistado parecem ter saído de uma máquina-de-passar-gente direto pro estúdio, e sem direito a desalinho. Na tevê só acho graça nas mesas-redondas, e com discussão, quando fica a expectativa sobre qual será o resultado de uma conversa onde ninguém se entende.
O barulho pra mim funciona como uma receita; é um ótimo remédio contra o desânimo, um antídoto contra a depressão. E as pessoas barulhentas podem até ser mais chatas, mas, paciência, chato é chato de qualquer jeito.
É claro que não se pode confundir barulho com impertinência, agitação com balbúrdia, alvoroço com tumulto. O barulho - assim como o frege e a bagunça - tem que ter um mínimo de disciplina, um pouco de “modos”, um mínimo de organização. É isso: eu gosto de barulho organizado, de barulhentos com modos, de ruidosos elegantes...
Sou um homem urbano, gosto e preciso do barulho – mas de um barulho fraterno, gentil, educado -; portanto, em respeito a essa necessidade de ruídos civilizados, peço, reclamo, imploro, que, por favor, nunca, mas nunca mesmo, gritem perto dos meus ouvidos ou dos ouvidos de quem quer que seja.
Porque aí já não é barulho, é falta de educação!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

SILÊNCIO X BARULHO

Sete de Maio, Dia do Silêncio.
Entre ele e o seu oposto - o barulho - eu prefiro este último. As razões?
Sexta-feira, no jornal "A Evolução" e nesta página.

SETE DE MAIO...


Hoje, dia 7 de maio, o meu filho Pedro Gabriel está completando quatorze anos da idade.
O que eu desejo, pra o baita guri que ele é, é o que já está ao lado dele, a todo o momento.
As brincadeiras de infância – subir nas árvores, correr na chuva, se encharcar no campinho, tomar banho nas “corredeiras” da Cascatinha...
As inquietudes da adolescência – as transformações do corpo, os arrepios da carne, os olhares da colega de escola, as angústias, a incerteza...
O que eu desejo pra ele já está, felizmente, naquilo que ele é: no cara que ele é, no irmão que ele é, no amigo que ele é.
As leituras da Rolling Stone, as visitas aos sebos, à musicalidade tranqüila do Buena Vista, o frenesi delirante da Amy Winehouse; as notas do Caetano no violão, as frases por dizer, por ouvir, o mundo inteiro pra descobrir...
O que eu desejo pra esse guri não cabe realmente numa mensagenzinha banal de aniversário;
Porque o que eu desejo pra ti é a vida, meu filho, é a vida, é a vida...

terça-feira, 6 de maio de 2008

OLHARES...

Hoje já é terça-feira - 06/05 - e a previsão do tempo diz que o tal ciclone extra-tropical foi embora da costa gaúcha, onde, infelizmente, deixou o seu rastro de estragos e a marca da tragédia.
Mais uma vez, e aqui para a nossa felicidade, a Casa do poeta Pedro Jaime sobreviveu à uma invasão anunciada, e o Mar do Hermenegildo recuou placidamente para o seu leito normal - a cerca de 80 metros da casa - de onde aguarda os nossos olhares desde o velho alpendre, na paixão que lhe dedicamos a cada novo encontro, embalado a cerveja, caipirinha e vinho, e pela saudade do Pedro Bittencourt que, como a imensidão do Oceano Atlântico, parece nunca ter fim...

domingo, 4 de maio de 2008

CONSOLO



O Inter, de Guiñazu, é campeão gaúcho, com todos os méritos,
em compensação...
Os gremistas têm um grande motivo para lotar o Olímpico daqui pra frente.
Em determinados quesitos não dá nem para comparar, não é? Ou alguém discorda???

quinta-feira, 1 de maio de 2008

VAI VENDER PASTEL


O Dr. Vilson Farias, ex-Delegado de Polícia, Promotor de Justiça aposentado e advogado, costuma contar, com justificado orgulho, que na infância vendia pastel pelas ruas do Arroio Grande para ajudar no sustento da família. Estudou, formou-se em Direito, e hoje possui uma banca de advocacia reconhecida em Pelotas e na região.
O Dé, nos tempos de rapaz – quando era ainda conhecido como Toninho – costumava andar com caixas de doces pelas ruas, vendendo quindins e queijadinhas. Estudou, formou-se na Faculdade e se tornou o Professor Antônio Carlos da Conceição.
O Jorge Américo começou na Rádio Difusora como um “faz tudo” do Seu João Saraiva. Onde um ia o outro ia também. Quando o Jorge iniciou, era motivo de desconfiança de muitos, face à sua inexperiência com os microfones e a imaturidade para atuar junto a um veículo de comunicação. Autodidata, o Jorge Américo também acabaria estudando e se tornando professor, sendo hoje, seguramente, o nome mais emblemático da mídia local; quando parar, queiram ou não alguns, deixará um marco na radiofonia do Arroio Grande: antes e depois do JA.
Cito esses exemplos, do Vilson, do Dé e do Jorge Américo, porque eles têm muito em comum: a infância pobre no Arroio Grande, o trabalho desde muito cedo, a raça negra - para quem as dificuldades impostas pela sociedade são sempre maiores - o sacrifício para estudar, e, mesmo que o resultado da vida não tenha sido igual para todos eles, não há a menor dúvida de que os três são grandes vencedores; saíram do nada e se tornaram pessoas bem sucedidas, acima de tudo pessoas de bem.
A eles posso agregar outros, como o Kiko da Candinha, igualmente de infância pobre, igualmente vendedor de pastel, de bolinho de batata, e que começou a trabalhar muito cedo com o Pedro Bittencourt; primeiro num escritório, depois numa padaria, até chegar no Banrisul, em Pelotas, onde se encontra até hoje. O Kiko, diferentemente do Vilson, do Dé e do Jorge, não cursou nenhuma faculdade formal, mas é de longe entre as pessoas que conheço o mais graduado na faculdade da vida, praticamente um Reitor.
Pois esses personagens são o maior exemplo do quanto a parte privilegiada da sociedade peca até quando tenta ser “engraçadinha”, rotulando as pessoas pelo que elas fazem, honestamente, para sobreviver.
A expressão “vai vender pastel” sempre foi pejorativa e utilizada para designar ‘coisa menor'. Quando se dizia ao outro “vai vender pastel” a gente pretendia diminuí-lo, rebaixá-lo, ridicularizá-lo. Quanta besteira, meu deus, quanta idiotice...
A vida não cansa de mostrar que os “vendedores de pastel”, isto é as pessoas simples que praticam tarefas humildes, são, na realidade, os maiores exemplos de uma sociedade onde quem tem mais (?) costuma desprezar a quem aparentemente tem menos.
Portanto, nesse 1º de maio ou em qualquer outro dia, a cada vez que a gente cruzar com um trabalhador, quando pensar em diminuí-lo pelo fato de se tratar de um vendedor de pastel, ou de bolinho de batata, ou de qualquer outra coisa, cuidado: ali, do outro lado do balaio, pode estar alguém maior, mas muito maior do que a gente...

NESTE 1º DE MAIO...


O Dr. Vilson Farias, o Jornalista Jorge Américo (foto), o Professor Antônio Carlos da Conceição (Dé) e o Kiko do Banrisul (foto): o que esses personagens têm em comum??? Neste 1º de maio, na coluna autoretrato, no Jornal "A Evolução", e também nesta página.
O título da crônica é Vai vender pastel.
Acessem e comentem!!!