quinta-feira, 1 de maio de 2008

VAI VENDER PASTEL


O Dr. Vilson Farias, ex-Delegado de Polícia, Promotor de Justiça aposentado e advogado, costuma contar, com justificado orgulho, que na infância vendia pastel pelas ruas do Arroio Grande para ajudar no sustento da família. Estudou, formou-se em Direito, e hoje possui uma banca de advocacia reconhecida em Pelotas e na região.
O Dé, nos tempos de rapaz – quando era ainda conhecido como Toninho – costumava andar com caixas de doces pelas ruas, vendendo quindins e queijadinhas. Estudou, formou-se na Faculdade e se tornou o Professor Antônio Carlos da Conceição.
O Jorge Américo começou na Rádio Difusora como um “faz tudo” do Seu João Saraiva. Onde um ia o outro ia também. Quando o Jorge iniciou, era motivo de desconfiança de muitos, face à sua inexperiência com os microfones e a imaturidade para atuar junto a um veículo de comunicação. Autodidata, o Jorge Américo também acabaria estudando e se tornando professor, sendo hoje, seguramente, o nome mais emblemático da mídia local; quando parar, queiram ou não alguns, deixará um marco na radiofonia do Arroio Grande: antes e depois do JA.
Cito esses exemplos, do Vilson, do Dé e do Jorge Américo, porque eles têm muito em comum: a infância pobre no Arroio Grande, o trabalho desde muito cedo, a raça negra - para quem as dificuldades impostas pela sociedade são sempre maiores - o sacrifício para estudar, e, mesmo que o resultado da vida não tenha sido igual para todos eles, não há a menor dúvida de que os três são grandes vencedores; saíram do nada e se tornaram pessoas bem sucedidas, acima de tudo pessoas de bem.
A eles posso agregar outros, como o Kiko da Candinha, igualmente de infância pobre, igualmente vendedor de pastel, de bolinho de batata, e que começou a trabalhar muito cedo com o Pedro Bittencourt; primeiro num escritório, depois numa padaria, até chegar no Banrisul, em Pelotas, onde se encontra até hoje. O Kiko, diferentemente do Vilson, do Dé e do Jorge, não cursou nenhuma faculdade formal, mas é de longe entre as pessoas que conheço o mais graduado na faculdade da vida, praticamente um Reitor.
Pois esses personagens são o maior exemplo do quanto a parte privilegiada da sociedade peca até quando tenta ser “engraçadinha”, rotulando as pessoas pelo que elas fazem, honestamente, para sobreviver.
A expressão “vai vender pastel” sempre foi pejorativa e utilizada para designar ‘coisa menor'. Quando se dizia ao outro “vai vender pastel” a gente pretendia diminuí-lo, rebaixá-lo, ridicularizá-lo. Quanta besteira, meu deus, quanta idiotice...
A vida não cansa de mostrar que os “vendedores de pastel”, isto é as pessoas simples que praticam tarefas humildes, são, na realidade, os maiores exemplos de uma sociedade onde quem tem mais (?) costuma desprezar a quem aparentemente tem menos.
Portanto, nesse 1º de maio ou em qualquer outro dia, a cada vez que a gente cruzar com um trabalhador, quando pensar em diminuí-lo pelo fato de se tratar de um vendedor de pastel, ou de bolinho de batata, ou de qualquer outra coisa, cuidado: ali, do outro lado do balaio, pode estar alguém maior, mas muito maior do que a gente...

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