domingo, 29 de novembro de 2009

OS SONHADORES

É comum ocorrer uma enorme confusão entre o que é arte, o que é cultura e o que são eventos artísticos ou culturais, isso que a gente encontra com maior freqüência por aqui.
Existe um filme, cujo começo é baseado numa proposta de um diretor francês que, ao final dos anos 1960, costumava passar filmes na Cinemateca de Paris todos os dias, em todos os horários, independente do gênero, sob o argumento de que: “não tem filme bom ou filme ruim, o que tem é filme!”. Não por acaso, o local vivia cheio de gente, fazendo enorme sucesso.
O filme trata, na verdade, da iniciação sexual de três jovens, mas acaba reproduzindo, por via oblíqua, a combinação dos três elementos: a arte (cinema), a cultura (o “movimento” em torno dos valores expressados pelo cinema) e o evento (o acontecimento: a transmissão dos filmes).
Guardadas evidentemente todas as proporções, aqui em Arroio Grande também estão presentes esses três componentes e é necessário fazer alguma coisa para aproximá-los.
O Caboclo, por exemplo, faz arte. Arte que está no violão do Sidney, do Julinho do Tuíca, na gaita do Jélson; na voz da Marcela, do Sandro Campello; na poesia da Marília, no texto do Arnóbio. Arte que está também nas mãos de quem tece, no desenho de quem desenha, na dança de quem dança...
A dança, aliás, esteve muito presente na cidade neste final de semana, com a Mostra organizada pela Verônica e pela Letícia, da Academia Camerini, que trouxa até o Arroio Grande um pessoal show do street dance – o Gugu e a Tahuana, do Grupo Art Urbana, o Cahuã, do Trem do Sul, ambos de Pelotas -; além do jazz, da Larissa, da Escola Alfredo Simon, entre diversos gêneros de dança, apresentados por inúmeros bailarinos da cidade e da região.
A arte anda por todos os lados e não é preciso muito para se deparar com ela.
Já a Cultura - que é a incorporação pela cidade desses movimentos todos, que é o convívio com essas manifestações -, passou a ter, desde a posse do Donga como Secretário, a oportunidade de aproveitar melhor o complexo dessas potencialidades, sejam elas locais ou regionais.
Por fim, os eventos (muitas vezes confundidos com a própria arte ou com a cultura) que são outra coisa – shows, jogos, mateadas, espetáculos... – e que tanto podem irradiar cultura, como não, tanto podem primar pela qualidade, como nem tanto, e por aí vai...
Pois o Arroio Grande precisa aproveitar bem esse momento da sua história – nunca tivemos tantos artistas, nunca tivemos a oportunidade de fazer um calendário cultural, nunca antes tivemos uma Secretaria para aglutinar os movimentos... – para acertar as distâncias e as diferenças entre todos os atores desse processo, firmando uma atitude cultural de maior conteúdo, algo menos vazio do que foi até agora.
Não é fácil, ao contrário, tudo aqui é bastante difícil. Mas, que diabos, o nome do filme de que falo lá no começo é “Os Sonhadores”, e, por alguma razão, a gente ainda precisa continuar sonhando. E permanecer ao lado de quem acredita na arte e na cultura, sempre!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DANÇA

Embora o adiamento da Feira do Livro, devido ao mau tempo e a possibilidade de novas temporais, permanece a atração da 2ª Mostra Regional de Dança da Academia Camerini, dia 28/11, sábado, a partir das 20h., no Centro de Cultura Basílio Conceição.
Estão confirmadas as presenças do pessoal show que veio no ano passado - Art Urbana e Estímulo -, além dos novos Trem do Sul e Alfredo Simon, o que já é garantia de um ótimo espetáculo de street dance, hip hop e jazz, além das coreografias apresentadas pelos grupos da Academia e de outros bailarinos do Arroio Grande e da Região.
Mas vai ter mais, inclusive Dança de Salão, com uma pareja que vem pela primeira vez ao Arroio Grande.
Dizem as marqueteiras da Academia que já tem vendidos mais de 300 ingressos dos 450 lugares que o Centro de Cultura possui; portanto, quem pretende assistir ao espetáculo já pode começar a procurar ingresso. Vai ter casa cheia.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

OS LIMITES DO IMPOSSÍVEL
















Este é o livro que o Aldyr Schlee vai lançar na Feira do Livro do Arroio Grande - Dia 29, domingo, com sessão de autógrafos a partir das 16h., no Acampamento Farroupilha.
Antes, às 11h., o Schlee vai conversar com estudantes, autores, jornalistas e com o público em geral, falando sobre a sua obra e tudo o mais que envolve a nossa literatura.
O livro é novidade por aqui, foi lançado apenas nos grandes centros, nem na Feira do Livro de Pelotas apareceu.
Pelo que pude descobrir, a obra parte do discutido nascimento de Carlos Gardel, em Tacuarembó, Uruguay, traçando histórias em torno da vida do ídolo de tango que morreu tragicamente num acidente de avião em 1935, em Medellin, Colômbia.
Como se sabe, Gardel teve (e tem) a sua nacionalidade reivindicada por diversos países, sendo que alguns atribuem o seu nascimento à cidade de Toulouse, França, e outros, ainda, a Buenos Aires, capital da Argentina.
Daí o subtítulo, "Contos Gardelianos", a nova obra do Schlee, que está sendo agurdada e comemorada como um prêmio ao trabalho e a dedicação da recém criada Secretaria de Cultura do Arroio Grande em sua primeira Feira do Livro, a 7ª do Município.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

FEIRA DO LIVRO

Tem início na sexta-feira (21/11) a 7ª Feira do Livro do Arroio Grande, pela primeira vez organizada pela Secretaria de Cultura, órgão até então inexistente na administração municipal.
Ainda que com carência de recursos, a Feira tem novidades interessantes, como as atividades multi-culturais programadas, misturando teatro, dança, música, poesia, com literatura, tudo isso em novo local, já que o evento acontece por primeira vez no "Acampamento Farroupilha", um espaço interessante da cidade que passa agora a ser melhor aproveitado.
Aos poucos a gente vai divulgando a programação da Feira aqui na página, incluindo a vinda do escritor Aldyr Schlee (Uma Terra Só, Contos de Sempre, O Dia em que o Papa foi a Mello...) até o Arroio Grande, para conversar com estudantes de letras, escritores e interessados em literatura.
Ah, e o Schlee vai lançar um livro também - "Os Limites do Impossível - Contos Gardelianos" - com tarde de autógrafos e tudo; vai valer a pena, com certeza.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O QUE MOVE A LEITURA?

A Revista "Leia", uma publicação cultural dos anos 80, que se apresentava (com justiça) como "Uma Revista de Livros, Autores e Idéias", publicou, certa ocasião, uma ampla e interessante matéria com o título de "O que move a escrita?", quando perguntava a centenas de escritores do mundo todo, por que razão, afinal, eles escreviam.
Pois essa questão pode também ser repassada aos leitores; afinal, porque a gente lê?
É para adquirir conhecimento, certo! Para preenchimento e satisfação pessoal, correto! É pelo gosto, pelo prazer de ler. Perfeito!
Mas é óbvio também que a busca, a necessidade, a compulsão pela leitura têm outras razões, talvez bem maiores do que as explicações acima, se é que aquelas são explicações.
"O que move a leitura" pode ser mais simples ou mais complexo do que aparentemente se apresenta, talvez até insondável, injustificável. Ou não?!
Pois esta é uma semana interessante para se discutir essas e outras questões voltadas à leitura, já que vem aí a Feira do Livro do Arroio Grande (dias 27/28/29-11), um evento que precisa ir sempre além da mera compra e venda de livros, da negociação entre livreiros e leitores, da simples aquisição de um exemplar para ser folheado no sofá de casa.
Por isso, a gente vai falar dela - da Feira do Livro - toda a semana, por isso e pelo mais que é necessário, porque é necessário, simplesmente.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

PEDRO CANGA

Pedro Muniz Fagundes, a quem se atribui o codinome de Pedro Canga, é considerado um mito nesta região de Fronteira, sendo que pouco se sabe da sua vida e da sua obra.
Criado entre os Municípios de Herval, Jaguarão e Arroio Grande, Pedro Muniz fez fama como soldado e deixou a lenda de Pedro Canga como poeta e trovador.
Nascido no Herval ou em Rio Grande, no ano de 1789, Pedro era filho de Vicente Moniz Leite e de Dionísia Pereira Leal, embora alguns atribuam a sua maternidade à famosa Josefa Canga (Josefa Moniz, tia de Pedro, nascida em 1752).
Em 1835, Pedro Muniz serviu com Silva Tavares, de quem era primo, participando ativamente da Revolução Farroupilha. Ao contrário do que muitos pensam, Pedro não foi Farrapo, mas legalista, combatendo sempre em nome dos imperiais contra os rebeldes de Bento Gonçalves.
Terminada a Revolução que durou dez anos (1835-1845), Pedro Muniz, que perdeu dois filhos (de um total de onze que teve) em combate, veio a perambular pela região, não raro se metendo em brigas e entreveros, sendo que a ele se atribui um gênio violento e com “rompantes de fúria”.
Consta que depois de velho, Pedro teria cometido um assassinato, sendo julgado e condenado a cumprir a pena de prisão perpétua em Fernando de Noronha, para onde foi mandado próximo a 1850.
Tendo fugido da Ilha de Noronha, Pedro Muniz embrenhou-se pelas matas de Pernambuco, de onde, diz a lenda, teria vindo a pé até o Arroio Grande, após mais de um ano de caminhada.
Aqui no Arroio Grande, passou a morar em companhia de um filho de nome Sérgio, provavelmente na Palma, onde vivia com a complacência das autoridades locais que, segundo consta, tinham conhecimento do homicídio praticado e da fuga de Pedro, mas lhe acobertavam a liberdade.
Morto provavelmente em 1859 (ou no início dos anos 1860), Pedro Muniz Fagundes - o cognominado Pedro Canga -, deixou uma obra intrigante, que, embora composta de apenas quatro glosas conhecidas, transcende ao costado gauchesco, traduzindo uma poesia rica em cultura e em delicadeza, aspectos incomuns por aqui, ainda mais àquela época.
Por tudo isso, intriga a discrepância entre o perfil de Pedro Muniz Fagundes – encrenqueiro, brigão, “furioso”, homicida... -, e o do poeta “Pedro Canga”, a quem se atribuem versos de profunda leveza, a demonstrar uma personalidade extremamente sensível, aparentemente contrária a do violento primo do Coronel Silva Tavares, cujos “serviços à pátria datam desde que teve 12 anos”, nas lutas e revoluções que marcaram a sua época.
Tal contradição evidentemente só aumenta o enigma em torno do mito, cognominado pelo historiador Guilhermino César de “Embuçado do Herval”, na obra mais conhecida sobre o poeta. “Embuçado”, aliás, quer dizer encoberto, oculto, como, de resto, tem ficado a biografia de Pedro Canga ao longo desses anos todos - dois séculos de um mistério que, provavelmente, jamais irá acabar.
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Abaixo a transcrição completa da mais conhecida poesia atribuída a Pedro Canga - “Pode o Céu produzir Flores”.

"PODE O CÉU PRODUZIR FLORES"

Pode do mundo a grandeza/Reduzir-se tudo a nada
E ver-se em tudo mudada/A ordem da natureza
Nesta vasta redondeza/Matizada de mil cores
Pode o autor dos autores/Tornar em céu de repente
E desse modo igualmente/Pode o céu produzir flores!

Pode esse sol que alumia/Parar-se lá nessa altura
Deixar de haver noite escura/E ser sempre claro dia
Pode também a água fria/Ferver sem fogo e queimar
Podem as brenhas falar/Tornar-se a planície em serra
O peixe viver em terra/A terra estrelas criar!

Podem as águas correr/As avessas do costume
Subir ao mais alto cume/E não poderem descer
Podem os montes gemer/Amar e sentir paixão
Quando trago a coleção/Tudo pode acontecer
Mas deixar de te querer/Não pode o meu coração!

Inda mais se pode ver/Secar as águas do mar
O pau no ferro cortar/A neve no fogo arder
Também pode acontecer/O vento nunca reinar
Enquanto o mundo durar/Em silêncio se acomode
Mas meu coração não pode/Ser vivente sem te amar!


(Pedro Canga)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

MEMÓRIA

Nesta mesma época - exatamente no período de 16 a 20 de novembro, mas do ano de 1983 - o Município de Santa Rosa realizava o seu 1° Musicanto Sul-Americano de Nativismo. Eu estava lá, "travestido" de repórter do Jornal "A Evolução" e da então novíssima Rádio Difusora Fronteira, ambas do Arroio Grande, o que me permitiu ter acesso a todos os pontos do Festival, inclusive participando de uma histórica entrevista com o exepcional cantante Argentino Luna.
Eu estava lá e assisti o meu irmão Basílio Conceição classificar para a final e colocar no vinil a lírica "Uma Canção Para a Minha Prenda", qualificada como valsa pela Comissão Julgadora do Festival.
Eu estava lá, e já fazem 26 anos...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PEDRO - O BOÊMIO - O POETA

Para melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início no postagem de 11/11 (abaixo)
Boêmio inveterado, bebedor contumaz, Pedro Jaime tinha verdadeira paixão por Bares, tendo freqüentado inúmeros durante a sua existência, e chegando ao ponto de criar lugares particulares com características de Bar - como a “Rua da Bahia”, em Arroio Grande (década de 1970), o “Barzinho”, em Sentinela do Sul (anos 1990) e a “Confraria”, na Praia do Hermenegildo (anos 2000) -, todos idealizados por Pedro para ocupar um lugar dentro ou ao lado da sua própria residência, mas em feitio de Bar, pois “beber em casa não tem a menor graça”, como ele costumava dizer.
Em conseqüência, a sua poesia abordava naturalmente a temática dos bares, como se pode ver do poema a seguir – O Último Bar – que a página republica a pedido de diversos leitores.
Nas fotos, o Barzinho em Sentinela do Sul (acima), a porta-janela do Bar Confraria, na Praia do Hermenegildo, onde Pedro Jaime podia beber olhando para o mar (1ª foto, abaixo), no lugar que hoje homenageia o poeta - a Travessa da Lua de Pedro Bittencourt (última foto).
Esta postagem encerra o ciclo-semana em homenagem a Pedro Jaime Bittencourt, no período em que ele estaria comemorando os seus 77 anos de idade.


O ÚLTIMO BAR

(Pedro Jaime Bittencourt)


Quando fechar o último bar
Não haverá mais mesas nas calçadas
Nem moças despreocupadas
Sorrindo um sorriso lindo
Quando fechar o último bar
Não haverá mais nada para fechar.

Na calçada abandonada
Um seresteiro boêmio
Receberá como prêmio
Mais um silêncio dormindo,
E o tempo absorto e mudo
Verá que o silêncio é tudo
Que restou daquele bar.

Quando fechar o último bar
Eu não quero estar presente
No meio de tanta gente
Que não terá mais lugar
Para rir, para chorar...

Não quero ver a menina
Com os seios debruçados
Exatamente na esquina
Onde moram os meus pecados,
Nem a mulher que passa
Naquele estado de graça
Que nos faz dizer amém...

Quando fechar o último bar
Eu quero fechar também...


terça-feira, 17 de novembro de 2009

PEDRO - O ADVOGADO

Para melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início no postagem de 11/11 (abaixo)
Brilhante causídico, Pedro Jaime fez larga fama no Arroio Grande e na Região Sul, especialmente no Tribunal do Júri.
Assistir a um júri do Pedro era a certeza de um espetáculo, pois o advogado era mestre na eloqüência, imprindo excpecional teatralidade à sua oratória na permanente tentativa de convencer os jurados, atuando preferencialmente na defesa do réu.
Ficou famosa a cena em que Pedro Jaime, num Júri em Jaguarão, chegou a assustar o Juiz Presidente do Tribunal, ao subir repentinamente numa cadeira em plena Sessão, para retirar as teias de aranha que cobriam um crucifixo de Jesus Cristo que ornamentava a parede do Salão do Júri, “para que este Santo homem tenha os olhos descobertos e possa testemunhar a injustiça que será cometida aqui, se o réu vier a ser condenado”, teria dito, numa daquelas histórias que ganham o caráter da verdadeira lenda urbana.
Pedro fez inúmeros Júris de renome, atuando ao lado e mesmo contra os grande tribunos da sua época no Estado, tais como Ápio Antunes (Pelotas), Mathias Nalgestain (Bagé) Eloar Guazelli e Amadeu Weinman (Porto Alegre).
Nas fotos, Pedro Jaime num Júri no Arroio Grande (acima), e em Brasília, em frente ao antigo TFR - Tribunal Federal de Recursos, no final dos anos 1970.


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PEDRO - O POLÍTICO - O ORADOR

Para melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início na postagem de 11/11 (abaixo)
Extraordinário orador, Pedro Jaime teve participação ativa na vida política do Arroio Grande, sendo famosas as suas “tiradas”, especialmente nos comícios das memoráveis campanhas políticas de outrora (a expressão "é contigo mesmo 'calça floreada'", dita num palanque há cerca de 30 anos, ainda hoje é lembrada...).
Ainda que se proclamasse anarquista, Pedro participou de inúmeras campanhas políticas, notadamente ao lado dos partidos “de esquerda” de Arroio Grande, e em especial na campanha que levou Lauro Cavalheiro (PTB-PL-MTR) à Prefeitura Municipal em 1963, e, também, posteriormente, nas campanhas do MDB, no árduo período que se seguiu a implantação da Ditadura Militar no País (1964-1985).
Na foto abaixo, Pedro discursando em comício durante a campanha do Partido dos Trabalhadores (PT), na disputa eleitoral municipal de 1992, a sua última aparição em palanques políticos.

domingo, 15 de novembro de 2009

PEDRO - O JORNALISTA - O CRONISTA

Para melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início na postagem de 11/11 (abaixo)
- Pedro Jaime - Na Rádio Cultura, Jaguarão -
Durante o período em que residiu em Jaguarão (década de 1950), Pedro Jaime atuou junto aos microfones da Rádio Cultura daquela cidade, escrevendo ainda artigos para os jornais locais, notadamente o Jornal “A Folha”, do qual foi colaborador entre os anos de 1950 a 1955, aproximadamente, mesmo durante o período em que residiu na cidade de Santa Maria (1952).
Posteriormente, ao transferir residência para o Arroio Grande, em 1958, Pedro viria a fundar o Jornal "A Tribuna" onde exerceria as funções de Diretor, cronista e redator. Mais tarde, colaboraria também com o Jornal “A Evolução”, onde publicaria algumas poesias e crônicas no início dos anos 1990.
A sua última incursão pelo jornalismo viria a ocorrer na cidade de Sentinela do Sul, onde Pedro Jaime foi o Fundador, Diretor e principal Redator do jornal A Tribuna de Sentinela, “órgão independente”, fundado em 1996.

sábado, 14 de novembro de 2009

PEDRO - O ARTISTA

Para melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início com a postagem de 11/11 (abaixo)

Muitos talvez não saibam, mas o Pedro Jaime, além de poeta, era também ótimo desenhista e excelente pintor, deixando inúmeras obras que atestam a qualidade do seu trabalho como artista plástico.
Acima, algumas pinturas de autoria do Pedro; abaixo os desenhos, com ele retratando o próprio rosto, através da reprodução da foto da Carteira de Identidade, e a entrada da Praia do Hermenegildo, com a Igrejinha em primeiro plano, tudo desenhado nas paredes da própria casa do artista, à beira do mar Atlântico.



sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PEDRO - O PAI

Para melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início com a postagem de 11/11 (abaixo)
- Pedro Jaime; Pedro Jaime Jr. e Pedro Jaime Neto (o Pedrinho) -
O meu pai se chamava Pedro. Pedro Jaime. O nome Pedro foi uma homenagem ao avô paterno, Pedro Vitancurt, nascido em Índia Muerta, lugarejo de Rocha, interior do Uruguai. O Jaime veio do avô materno, Jayme Ramis, um filho de espanhóis, de Sineo, cidadezinha de Mallorca, uma das Ilhas Baleares, Espanha.
O meu pai se chamava Pedro, igual ao “Vovô Pedro”, como ele costumava se referir ao avô. Eu também me chamo Pedro, o meu sobrinho “Pedrinho” se chama Pedro e o meu filho Pedro Gabriel é, obviamente, Pedro também.
O meu pai nasceu num dia 17 de novembro e fez 72 aniversários até o ano de 2005. Uma ocasião, num dos seus aniversários, ele recebeu um cartão, acho que da Maria Goreti, que dizia mais ou menos assim: - “Ao Dr. Pedro, o homem mais interessante que conheci”. O meu pai, o Pedro, era advogado - por isso o “Doutor” - e era realmente um sujeito muito interessante.
Para definir o meu pai, alguém, que eu não consigo lembrar quem, costumava se utilizar de um conceito complicado, mas que tinha a idéia de ser engrandecedor. – “Pedro Jaime, o homem que encanta as mulheres e encanta os homens também!”.
Eu não sei se isso era bem verdade, acho até que não, por uma questão lógica, de silogismo puro. É que, normalmente, quem encanta as mulheres acaba por atrair certa inveja dos homens; logo, se o Pedro encantava as mulheres, não podia encantar os homens também. Ou podia?
Ademais, o meu pai era bastante irreverente, o que atraia muitas reações contrárias, logo não deveria ser tão encantador assim. Ou era?
Na verdade, eu sempre achei o meu pai um provocador, que gostava de afrontar. O Sérgio Canhada costuma dizer que eu afronto muito mais do que ele, porque digo o que penso, escrevo o que penso e me comporto de acordo com o que penso, se é que penso o que penso.
Eu não concordo muito com o Sérgio, não, aliás não concordo nada, embora concorde com ele em algumas outras coisas. Mas lembro, por exemplo, de uma ocasião em que o meu pai passeou uma tarde inteirinha, no táxi do Duca, com o carro cheio de Chinas, e ele tomando cervejas e atirando as latinhas pela janela do Opala, em plena luz do dia, bem no Centro da cidade. Isso é provocação, isso é afronta, e eu não recordo de ter feito algo parecido, ao menos com profissionais...
Mas esse era um pouco o estilo do meu pai, meio “sem modos”, como costumava dizer dele o Camarão.
O meu pai se chamava Pedro – Pedro Jaime – e era interessante e encantador, e irreverente e provocador, e absolutamente envolvente.
Pedros com esse perfil existem vários, assim como são muitos os Pedros na família, embora a maioria deles talvez não deva ser tão interessante assim. Eu me chamo Pedro, o meu sobrinho é Pedro, meu filho é Pedro e o Vovô Pedro era, obviamente, Pedro também.
Mas pai mesmo eu só tive um, e ele deveria estar fazendo outro aniversário neste 17 de novembro...
O meu pai se chamava Pedro. Pedro Jaime.
E eu sinto uma saudade boa, intensa, maravilhosa; uma saudade interessante, do interessante homem que foi o Pedro - meu Pai.

- Pedro Gabriel E. Bittencourt -

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PEDRO - A FAMÍLIA - O CASAMENTO

Pata melhor compreensão leia na ordem - A Série tem início na postagem de 11/11 (abaixo)
Pedro Jaime Bittencourt era filho de Don Guadil (Eugenio Guadiel Vitancurt – 1901/1978), um castelhano de Índia Muerta, Rocha, e de Dona Delícia Ramis (1912/2007), Professora, natural de Santa Vitória do Palmar.
Exercendo Guadil a função de guarda aduaneiro na fronteira (Chuy), conheceu a jovem Delícia nos bailes familiares da “Figueirinha” (local situado atualmente exatamente entre os Municípios de Santa Vitória e Chui), tendo os dois casado em 1930.
Guadil e Delícia tiveram dois filhos: Pedro (17/11/1932) e Teresa Bittencourt (02/04/1935), sendo que esta reside atualmente na cidade de Pelotas.
Após ter passado a infância e parte da mocidade com os pais no Chuy, Pedro Jaime viveu ainda em Bagé, Santa Maria (por força do Serviço Militar), Porto Alegre e Jaguarão, até casar com Josina de Moura, no Natal de 1958, passando a morar no Arroio Grande, onde viria a residir a maior parte da sua vida.
Pedro e Josina tiveram três filhos: Nazine, a primogênita, Pedro Junior e Magali, a caçula.
Nas fotos - Pedro, na mocidade com o pai Guadil, em Montevideo (acima), num baile em Jaguarão com os pais (foto abaixo, com Guadil e Delícia ao fundo), e com os pais da noiva e a avó desta (Vidal, Honorina e Vovó Josina), e no casamento com Josina Leni de Moura, em Jaguarão, em 1958.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PEDRO - O POETA

Para melhor compreensão leia na ordem - A série tem início na postagem logo abaixo
Embora as múltiplas atividades exercidas ao longo da sua existência – Pedro foi Radialista, Professor, Jornalista, Escrivão, Advogado... – a lembrança maior do Pedro Jaime ficou mesmo na sua poesia, nos versos que produziu no período em que esteve residindo em Jaguarão, Arroio Grande, Pelotas, Sentinela do Sul, mas, especialmente, nas largas temporadas que passava na Praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, o éden particular do poeta.
A seguir, uma poesia da fase “mais recente” (1990/2005) de Pedro Jaime, escrita certamente na Praia do Hermenegildo, lugar onde o poeta passou a maior parte dos últimos anos da sua vida, até morrer durante uma siesta, após um almoço de meio de tarde, regado a vinho Cabernet, por volta das 18 horas do dia 26 de maio de 2005.

A VELHA MESA DO CANTO

Até no menor dos bares,
Nos mais diversos lugares
Em qualquer parte do mundo,
Que irresistível encanto,
Que magia, que atração,
Que fascínio tão profundo
Exerce a simples presença
Da velha mesa do canto
Bem ao lado do balcão!...


Suas pernas bambas, cansadas,
Outrora fortes e tensas,
Agora já estão pesadas,
E mesmo assim sustentando
Em equilíbrio precário
Num milagre extraordinário
A superfície já gasta,
Mas ninguém sabe até quando...


Ela é a mesa preferida
De quem vai em pós da vida
Num barzinho suburbano...
Na toalha, pedaço velho de pano,
Que o uso já desbotou,
Há milhões de cicatrizes
Que a própria vida deixou...

Há assinaturas tristonhas,
Queimaduras de cigarros,
Caricaturas e imagens,
Os desenhos mais bizarros,
Tentativas de paisagens,
Caretas inteligíveis,
Algumas frases bisonhas,
Outras quase felizes;
Há referências ao sexo,
Palavras sem qualquer nexo
E a maioria ilegíveis...

Em cada noite que passa
Tilintam copos e taças,
Há gargalhadas e há pranto
Há fealdade e beleza,
Há mentiras e verdade,
Há sentimentos urgentes,
Esquecimentos, saudades,
Na velha mesa do canto...


São pessoas diferentes,
Que lá chegam diariamente
E sentam na mesma mesa
Na solidão desse canto
Bem ao lado do balcão.
Gente boa, gente ruim
Já sentou naquela mesa
Já gargalhou de alegria
Já chorou ouvindo um: não!


Ali tombaram palavras
De irremediável tristeza
Que ninguém ergueu do chão
Sonhos e fantasias
Ali viraram histórias
Com finais cheios de pranto...
O que a todos parecia
Felicidade, alegria,
Era mágoa e solidão...


Diferente das demais,
Ancorada no seu canto
Como um navio no cais,
Como um gesto de ternura,
Como um sonho que perdura
Lá no fundo da memória,
A velha mesa do canto
Ninguém esquece jamais!...

HOMENAGEM

O Pedro Jaime Bittencourt deveria estar completando 77 anos no próximo dia 17 de novembro.
Em homenagem, a página vai dedicar uma semana inteirinha ao Pedro, destacando as múltiplas faces de um personagem fascinante, que ainda está muito presente na memória de todos que com ele tiveram a oportunidade de conviver.
Na seqüência, o blog vai publicar:

Pedro Jaime:

O poeta – (11/11) – (poesia);
A família, o casamento – (12/11) – (dados e fotografias);
O pai – (13/11) - (crônica);
O artista – (14/11) - (desenhos, pinturas);
O jornalista, o cronista – (15/11) – (textos);
O político, o orador – (16/11) – (texto e fotografias);
O advogado – (17/11) – (texto e fotografias);
O boêmio, o poeta – (18/11) – (poesias).

terça-feira, 10 de novembro de 2009

RÁDIO E MÚSICA

A Rádio Difusora estará promovendo, nesta quarta-feira (11/11), a partir das 9 da manhã, dentro do Programa Integração Regional, uma conversa aberta sobre o 1° Expocanto – Festival de Música Gaúcha, realizado dentro da 71° Exposição-Feira do Arroio Grande.
Deverão participar os organizadores – o Donga, pela Secretaria da Cultura, o Jelson Domingues, realizador do evento, e outros... – além do pessoal ligado à música e a própria Rádio Difusora, como o Silvinho Ferreira, o Flávio Teixeira, o Duquinha e este blogueiro, entre outros.
Será o momento de fazer uma avaliação não só do evento – estrutura, organização, funcionamento... – como também do nível do Festival, levando-se em conta a qualidade e a apresentação das canções envolvidas.
Vale a pena conferir, a partir das 9 da manhã, pelo Difusora AM 1580 Khz, ou pelo www.difusora1580.com.br

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O DIA MAIS LOUCO DA MINHA VIDA

O dia mais louco da minha vida começou por volta das nove horas da noite e durou apenas (?) quarenta e cinco minutos. Foi no inverno, numa quarta-feira, dia de futebol na tevê. Eu havia temperado a carne para levar ao forno e me preparava para abrir o vinho - um Cabernet Sauvignon, da Terrasul, de Pinheiro Machado, premiado na França, quem diria... -, quando bateram à porta da casa da Herculano de Freitas. Eu não costumo abrir a porta à noite, nem às quartas-feiras nem em dia nenhum, mas a repetição das batidas acabou me levando até a enorme porta da casa antiga, de onde, afinal, batiam. Abri. Por sobre a calçada, meio curvado, mochila nas costas, cabelo preso por uma bandana colorida, roupa em desalinho, o bruxo Edu Damatta, o Caboclo, disse apenas: Vem! Eu, que embora trafegue eventualmente pelos universos arnobianos e basilísticos, e pelas poesias bittanquianas e de mares e ilhas e flores, e que ainda me esforço pra tentar ser um sujeito normal, perguntei - por perguntar, é óbvio! -, para onde iria e para o quê, já que as proposições caboclianas costumam ser realmente insondáveis. Fiquei, evidentemente, sem resposta, pois o Caboclo apenas repetiu o “vem!”, e eu fui, pois que tinha mesmo que participar dos quarenta e cinco minutos mais loucos da minha vida. Foi tudo numa velocidade estonteante: a ida da Herculano de Freitas até a Gumercindo Saraiva, um estúdio no quarto do produtor Zaqueu Vitrola, um microfone da era do rádio, e o pedido para que eu fizesse, de improviso, uma declamação nerudiana no CD Fruteira Brian Jones, que o Edu Damatta está preparando. Brian Jones, para quem não sabe, é um dos fundadores dos Rolling Stones, guitarrista que morreu logo no início da banda, em 1969, com apenas 27 anos. O nome do CD do Caboclo é uma homenagem a um dos delírios do Basílio, que, uma ocasião, ao ser demitido da Extremo Sul, pegou o dinheiro da rescisão disposto a montar a dita Fruteira Brian Jones – “Uma fruteirinha onde eu vou vender o limão pra caipirinha de vocês, diabos!” – ele dizia, tentando nos convencer do seu futuro como empresário do setor. A fruteira, obviamente, não frutificou, e, assim, a homenagem ao Brian ficou para depois, muito embora o Basílio tenha nos deixado a Janis Joplin, que existe de verdade e tem a alma encantadora como a do pai. Mas, voltando ao meu louco dia, à declamação saiu com uma só passada como exigiu o Caboclo, ainda que fosse sobre versos do Pedro Canga, que eu só tinha lido uma vez na vida, há mais de duas décadas. Sobre o Pedro Canga, aliás, devo falar numa próxima crônica, já que o mito do Herval é muito para poucas linhas e possui uma história merecedora de um livro em todas as suas dimensões. Mas, declamados os versos escritos há mais de 150 anos: -Podem as águas correr/Às avessas do costume/Subir ao mais alto cume/E não poderem descer/Podem os montes gemer/Amar e sentir paixão/Quando trago à coleção/Tudo pode acontecer/Mas deixar de te querer/Não pode o meu coração!... -, o Caboclo ainda me levou para “pagar o cachê”, por ele mesmo estipulado em duas cervejas - da marca Glacial - na venda da Clarinda. Bebemos, e o disco foi para a mixagem, e deverá sair algum dia, não se sabe quando. Bebemos, e eu fui para casa e troquei o vinho por outras cervejas, e tive a certeza de que os dias mais loucos da vida de gente podem ser também os dias mais bonitos da vida da gente, bastando que a gente se deixe levar pelo bem que, afinal, pode estar bem perto da gente...


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ENCONTRO











Qual a relação que pode haver entre Brian Jones, um dos fundadores da banda inglesa Rolling Stones, morto em 1969, aos 27 anos, e o poeta hervalense Pedro Canga, que viveu nesta região há mais ou menos 150 anos?
Pois o Edu Damatta, o Caboclo, encontrou algo em comum a esses dois. O quê?
A resposta amanhã, na crônica O Dia mais louco da minha vida, aqui no blog e na página 3 do Jornal "A Evolução".

domingo, 1 de novembro de 2009

LITERATURA

Atendendo generoso convite de amigos de muitos anos, estive participando, durante a abertura da 37ª Feira do Livro de Pelotas (30/10), da inauguração do Espaço Mário Benedetti, uma idealização da Biblioteca Pública Pelotense dentro do Ciclo de Eventos Mário Benedetti, iniciado em setembro (cartaz acima), em justa homenagem ao escritor uruguaio, falecido em 17 de maio deste 2009, aos 88 anos de idade.
O evento, capitaneado pelo velho companheiro Pinduca, proporcionou o reencontro com antigos colegas da Faculdade do Direito - Luís Carlos Gastal, Pedro Moacir Perez da Silveira (orador oficial da Feira do Livro) Ricardo Petrucci, Fernando Grassi, entre outros -, o encontro com parlamentares como a Vereadora Miriam e o Deputado Fernando Marroni, a Ex-vereadora Jacira Porto; o reencontro, depois de muitos anos, com o companheiro dos anos 80, atual assessor do Ministro da Cultura, Paulo Brum Ferreira, e, acima de tudo, o encontro com a comunidade uruguaya, o grande Eduardo (primeiro dono da tradicional parrillada El Paisano, na década de 80), o casal uruguayo Juan Pablo Berasain e a esposa Alma, que tiveram a delicadeza de me receber na casa deles em Valência, Espanha, no início dos anos 90, além do cônsul do Uruguay em Pelotas e outros orientales presentes.
Por lá também o extraordinário escritor Aldyr Schlee, que me confirmou a presença na Feira do Livro aqui do Arroio Grande, com palestra e conversa com os amigos agendada para o dia 29 de novembro - um domingo que promete ser inesquecível para o movimento cultural da nossa cidade.
O espaço Mário Benedetti ficará aberto durante toda a Feira do Livro, e deverá encerrar com a vinda do grande Daniel Viglieti - compositor, cantor, amigo pessoal e parceiro do escritor Don Mário - à Pelotas, prevista para o dia 14 de novembro, com apresentação em plena Praça Coronel Pedro Osório.
Iniciativas como essa, de promover um ciclo de eventos e inaugurar um espaço dentro da Feira do Livro em homenagem a um escritor como Benedetti, são, acima de tudo, uma atitude com relação à cultura.
E não se pode deixar de tê-las e é preciso prestigiá-las. Sempre.