Pode do mundo a grandeza/Reduzir-se tudo a nada
E ver-se em tudo mudada/A ordem da natureza
Nesta vasta redondeza/Matizada de mil cores
Pode o autor dos autores/Tornar em céu de repente
E desse modo igualmente/Pode o céu produzir flores!
Pode esse sol que alumia/Parar-se lá nessa altura
Deixar de haver noite escura/E ser sempre claro dia
Pode também a água fria/Ferver sem fogo e queimar
Podem as brenhas falar/Tornar-se a planície em serra
O peixe viver em terra/A terra estrelas criar!
Podem as águas correr/As avessas do costume
Subir ao mais alto cume/E não poderem descer
Podem os montes gemer/Amar e sentir paixão
Quando trago a coleção/Tudo pode acontecer
Mas deixar de te querer/Não pode o meu coração!
Inda mais se pode ver/Secar as águas do mar
O pau no ferro cortar/A neve no fogo arder
Também pode acontecer/O vento nunca reinar
Enquanto o mundo durar/Em silêncio se acomode
Mas meu coração não pode/Ser vivente sem te amar!
(Pedro Canga)
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