Pedro Muniz Fagundes, a quem se atribui o codinome de Pedro Canga, é considerado um mito nesta região de Fronteira, sendo que pouco se sabe da sua vida e da sua obra.
Criado entre os Municípios de Herval, Jaguarão e Arroio Grande, Pedro Muniz fez fama como soldado e deixou a lenda de Pedro Canga como poeta e trovador.
Nascido no Herval ou em Rio Grande, no ano de 1789, Pedro era filho de Vicente Moniz Leite e de Dionísia Pereira Leal, embora alguns atribuam a sua maternidade à famosa Josefa Canga (Josefa Moniz, tia de Pedro, nascida em 1752).
Em 1835, Pedro Muniz serviu com Silva Tavares, de quem era primo, participando ativamente da Revolução Farroupilha. Ao contrário do que muitos pensam, Pedro não foi Farrapo, mas legalista, combatendo sempre em nome dos imperiais contra os rebeldes de Bento Gonçalves.
Terminada a Revolução que durou dez anos (1835-1845), Pedro Muniz, que perdeu dois filhos (de um total de onze que teve) em combate, veio a perambular pela região, não raro se metendo em brigas e entreveros, sendo que a ele se atribui um gênio violento e com “rompantes de fúria”.
Consta que depois de velho, Pedro teria cometido um assassinato, sendo julgado e condenado a cumprir a pena de prisão perpétua em Fernando de Noronha, para onde foi mandado próximo a 1850.
Tendo fugido da Ilha de Noronha, Pedro Muniz embrenhou-se pelas matas de Pernambuco, de onde, diz a lenda, teria vindo a pé até o Arroio Grande, após mais de um ano de caminhada.
Aqui no Arroio Grande, passou a morar em companhia de um filho de nome Sérgio, provavelmente na Palma, onde vivia com a complacência das autoridades locais que, segundo consta, tinham conhecimento do homicídio praticado e da fuga de Pedro, mas lhe acobertavam a liberdade.
Morto provavelmente em 1859 (ou no início dos anos 1860), Pedro Muniz Fagundes - o cognominado Pedro Canga -, deixou uma obra intrigante, que, embora composta de apenas quatro glosas conhecidas, transcende ao costado gauchesco, traduzindo uma poesia rica em cultura e em delicadeza, aspectos incomuns por aqui, ainda mais àquela época.
Por tudo isso, intriga a discrepância entre o perfil de Pedro Muniz Fagundes – encrenqueiro, brigão, “furioso”, homicida... -, e o do poeta “Pedro Canga”, a quem se atribuem versos de profunda leveza, a demonstrar uma personalidade extremamente sensível, aparentemente contrária a do violento primo do Coronel Silva Tavares, cujos “serviços à pátria datam desde que teve 12 anos”, nas lutas e revoluções que marcaram a sua época.
Tal contradição evidentemente só aumenta o enigma em torno do mito, cognominado pelo historiador Guilhermino César de “Embuçado do Herval”, na obra mais conhecida sobre o poeta. “Embuçado”, aliás, quer dizer encoberto, oculto, como, de resto, tem ficado a biografia de Pedro Canga ao longo desses anos todos - dois séculos de um mistério que, provavelmente, jamais irá acabar.
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Abaixo a transcrição completa da mais conhecida poesia atribuída a Pedro Canga - “Pode o Céu produzir Flores”.
Criado entre os Municípios de Herval, Jaguarão e Arroio Grande, Pedro Muniz fez fama como soldado e deixou a lenda de Pedro Canga como poeta e trovador.
Nascido no Herval ou em Rio Grande, no ano de 1789, Pedro era filho de Vicente Moniz Leite e de Dionísia Pereira Leal, embora alguns atribuam a sua maternidade à famosa Josefa Canga (Josefa Moniz, tia de Pedro, nascida em 1752).
Em 1835, Pedro Muniz serviu com Silva Tavares, de quem era primo, participando ativamente da Revolução Farroupilha. Ao contrário do que muitos pensam, Pedro não foi Farrapo, mas legalista, combatendo sempre em nome dos imperiais contra os rebeldes de Bento Gonçalves.
Terminada a Revolução que durou dez anos (1835-1845), Pedro Muniz, que perdeu dois filhos (de um total de onze que teve) em combate, veio a perambular pela região, não raro se metendo em brigas e entreveros, sendo que a ele se atribui um gênio violento e com “rompantes de fúria”.
Consta que depois de velho, Pedro teria cometido um assassinato, sendo julgado e condenado a cumprir a pena de prisão perpétua em Fernando de Noronha, para onde foi mandado próximo a 1850.
Tendo fugido da Ilha de Noronha, Pedro Muniz embrenhou-se pelas matas de Pernambuco, de onde, diz a lenda, teria vindo a pé até o Arroio Grande, após mais de um ano de caminhada.
Aqui no Arroio Grande, passou a morar em companhia de um filho de nome Sérgio, provavelmente na Palma, onde vivia com a complacência das autoridades locais que, segundo consta, tinham conhecimento do homicídio praticado e da fuga de Pedro, mas lhe acobertavam a liberdade.
Morto provavelmente em 1859 (ou no início dos anos 1860), Pedro Muniz Fagundes - o cognominado Pedro Canga -, deixou uma obra intrigante, que, embora composta de apenas quatro glosas conhecidas, transcende ao costado gauchesco, traduzindo uma poesia rica em cultura e em delicadeza, aspectos incomuns por aqui, ainda mais àquela época.
Por tudo isso, intriga a discrepância entre o perfil de Pedro Muniz Fagundes – encrenqueiro, brigão, “furioso”, homicida... -, e o do poeta “Pedro Canga”, a quem se atribuem versos de profunda leveza, a demonstrar uma personalidade extremamente sensível, aparentemente contrária a do violento primo do Coronel Silva Tavares, cujos “serviços à pátria datam desde que teve 12 anos”, nas lutas e revoluções que marcaram a sua época.
Tal contradição evidentemente só aumenta o enigma em torno do mito, cognominado pelo historiador Guilhermino César de “Embuçado do Herval”, na obra mais conhecida sobre o poeta. “Embuçado”, aliás, quer dizer encoberto, oculto, como, de resto, tem ficado a biografia de Pedro Canga ao longo desses anos todos - dois séculos de um mistério que, provavelmente, jamais irá acabar.
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3 comentários:
Gostei muito dessas histórias do Pedro Canga!E da poesia também. Esses mitos falam umas verdades sutis (e sofisticadas) sobre o que a gente é, sobre os nossos lugares.
Um abraço!
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O que intriga (e encanta) nesse Pedro Canga é a sutileza, a delicadeza, a leveza do poeta em total contraponto ao personagem Pedro Muniz, ambos forjados em uma época onde as armas e os punhos diziam (ou pretendiam dizer) mais do que as palavras ou os versos.
Felizmente (deles) ficou o poeta, eternamente.
Abraço, Marília.
PS. Quanto ao anônimo aí de baixo, vou lá eu saber de programas de download...
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