sexta-feira, 27 de junho de 2008

JORGES

No país do extraordinário Jorge Amado, surgem a todo momento diversos tipos de Jorge, na literatura, na arte, na música: Jorge de Lima, Jorge Benjor, Seu Jorge...
Pois aqui em Arroio Grande também existem vários Jorges, conhecidos na cidade. Eu vou ficar com três deles: o Jorge Menaídes, o Jorge Américo e o Jorge Cardozo.
O Jorge Menaídes, popular Jorginho Orelhudo, é muito conhecido, filho que é do Seu Santo, de quem herdou os dotes culinários, seja na panela ou no assado. É uma figura ímpar, de sorriso largo, um cara alegre, receptivo.
Depois que nos encontramos, em especial lá no Bar do Paulinho, lugar de gente simples e boa, quando o Jorge Menaídes vai embora, eu fico pensando quando iremos nos ver novamente; eu o conheço há mais de 20 anos e nunca me decepcionei com o Jorginho, nesse Jorge eu sei que posso confiar...
O Jorge Américo eu também conheço há mais de um quarto de século, desde quando ele começou na Rádio Difusora, ao lado do Seu João Saraiva. O Américo deve ser, seguramente, o radialista mais completo da paróquia. Cobre todos os tipos de eventos possíveis: futebol, carreira, eleição, carnaval, missa e até enterro, tudo com o seu inconfundível estilo.
O JA é uma grife, uma marca da cidade. Quando escuto a Rádio e ele não está no ar parece que falta alguma coisa. E quando o Jorge Américo vai embora, eu também fico pensando; tomara que nos reencontremos logo, nesse Jorge eu sei que posso confiar...
O Jorge Cardozo eu também conheço de longa data, desde os tempos que ele tinha uma oficina mecânica. Rapaz simples, correto, trabalhador, amigo da minha mãe, marido da Sirley, funcionária exemplar do Fórum local, pais do menino Jivago...
Pois o Jorginho foi Presidente do GE Internacional, foi Vereador por diversas vezes, e em 2004, para surpresa de muitos, virou Prefeito do Arroio Grande.
Desde então, nesses quase quatro anos dele como Prefeito, nos encontramos pouquíssimas vezes: duas no programa de rádio “Personagem Principal”, que eu comandava na Difusora, uma conversa na Prefeitura, um aperto de mão nos camarotes no Carnaval, outro no lançamento do livro Treze Lugares e meio..., e só; meia dúzia de encontros nos últimos quatro anos, pouco, muito pouco...
Mas dizem, pela cidade, alguns dizem, que o Jorginho Prefeito mudou muito, que estaria diferente do moço simples de antigamente, aquele que era querido e admirado por todos.
Não sei. Meia dúzia de encontros em quatro anos é pouco para julgar; não sei, acho até que não, mas não posso avaliar pelo que falam ou com base nesses seis encontros.
O fato é que esse Jorge Cardozo, que deverá ser agora confirmado candidato à reeleição, terá, a partir de então, exatos 100 dias para mostrar à população do Arroio Grande, quem afinal tem razão: se aqueles que dizem que ele ficou “diferente”, deixando de justificar a confiança que o povo lhe conferiu, ou se àqueles que continuam a ver nele a mesma grandeza e o mesmo valor que existe nos melhores Jorges desta cidade, em quem a gente sabe que pode continuar confiando.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

DEPOIS DA CHUVA

Depois do Seu Zé vem o Seu Jorge, na crônica de amanhã, de "A Evolução".
Depois da chuva, quando o jornal for entregue sequinho por debaixo da porta, a crônica Jorges, falando de personagens conhecidos na cidade.
É nesta sexta, em "A Evolução" e também aqui na página.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

VOTEM NO DONGA!!!




Está todo mundo na campanha pelo Donga, que concorre ao Prêmio Internet, no Salão de Humor da Universidade de Piracicaba, de São Paulo.
Basta clicar em www.unimep.br/salaodehumor para votar num dos trabalhos (ele está concorrendo com seis desenhos) do artista maior da nossa paróquia.
Pelo que sei, o pessoal está "carregando" no trabalho de n° 30, esse aí de cima, preferencial do próprio Donga.
Só vale um voto por endereço de e-mail. Por isso cada participação é muito importante.
O encerramento da votação é 30 de junho, faltam só 05 dias, portanto.
Vamos votar, JÁ!

domingo, 22 de junho de 2008

O BARCO, MEU CORAÇÃO NÃO AGUENTA/TANTA TORMENTA, ALEGRIA/MEU CORAÇÃO NÃO CONTENTA/O DIA, O MARCO, MEU CORAÇÃO...

Dia destes fiz referência ao Mar Português, poesia de Fernando Pessoa que celebrizou a expressão “tudo vale a pena se alma não é pequena”.
Mas o poema diz mais, fala dos desafios que movem os homens, da necessidade da conquista, do prazer inigualável da descoberta; não é por acaso que Pessoa foi quem também consagrou uma expressão já utilizada pelos antigos navegadores florentinos: “navegar é preciso, viver não é preciso”, que brilha ainda na canção Os argonautas, de Caetano Veloso, onde se encontram os versos do título aí de cima.
O necessário é criar, ampliar, transformar, ir além, querer mais.
Mas para passar além de cabos e tormentas e revoltas e tempestades, para passar além da segurança, da comodidade, do conforto, do risco calculado, para ir além, é preciso passar também além da dor.
E quando a gente pensa que não é mais capaz, quando a gente não sabe mais o que significa 'ir além', quando tudo leva a desistir, convém viajar outra vez mais com Fernando Pessoa no seu

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa - 1888/1935)

sábado, 21 de junho de 2008

SEU ZÉ

Conheci o Chaleira, a quem chamo de Zé (de José Guilherme), lá pelo início dos anos oitenta, por força do futebol. O Zé é de uma geração acima da minha, uns sete anos de diferença, pra mais, naturalmente. Ele veio da turma do Paulinho Freitas, do Netinho Albuquerque, do Vico do Issa, do Ronaldo Costa, hoje Diretor do Aimone, e eu e os meus amigos – Donga, Fábio Bonneau, os filhos do Dr. Petry - começamos a enfrentá-los lá no campo do Arroio Grande, ou na quadra da AABB.
O Zé era zagueiro, eu centroavante, e os meus calcanhares foram testemunhas de que ele não era um defensor fácil; chegava junto, direto no corpo, e dava uma batidinha por baixo de vez em quando.
Teve uma época em que os jogos contra “eles” se tornaram quase um “clássico” e o Zé tinha um costume que ajudava a aumentar essa rivalidade. Sempre depois de um gol do time deles, ele gritava pra todo o mundo ouvir: “Ih, tomaram um, agora nós vamos fazer dez”, dizia alto, de propósito, pra irritar mesmo. Ou, então, quando nós, do mesmo time, discutíamos, coisa normal no futebol, ele chegava perto e provocava: “Se vão brigar, paramos, vocês são amigos”, dizia, dando uma gravidade que a coisa não tinha, pra nos desestabilizar ainda mais.
Mais tarde, fomos companheiros no Kbção, Campeão no auge do Futebol de Sete na cidade. O Zé era zagueiro titular e eu reserva do Paulão, um dos maiores orgulhos da minha modesta passagem pelo futebol.
Depois, o Zé deixou a oficina mecânica do pai e resolveu entrar pra política; foi vice-prefeito do Chorê em 92 e vereador em 96, 2000 e 2004, sempre pelo PDS, mais tarde PP.
Tornou-se um político hábil, esperto. Em 92, por exemplo, nós do PT também disputávamos a eleição pra Prefeito, e o Zé, prevendo que nós tiraríamos mais votos do Ermínio, do PDT, do que do Chorê, companheiro dele no PDS, fazia rasgados elogios ao PT no palanque, o que muito me irritava, mas comprovava a habilidade política dele.
Pois esse Zé, agora, vai pro maior desafio da sua vida, já que deve ser confirmado candidato a Prefeito pelo PP.
Mesmo estando em lados opostos eu quero te desejar boa sorte Zé, e boa sorte, em política, não é apenas vencer, senão que é sair vivo - embora com cicatrizes enormes - dos desafios que perpassam a simples disputa eleitoral. Sorte, em política, significa terminar uma batalha de cem dias e voltar pra casa com a sensação do dever cumprido, ao lado dos companheiros, ao lado dos amigos da gente, ao lado da família.
É certo que a Isabel e a Eduarda vão sofrer com a campanha, mas já devem estar acostumadas com o destino do marido e do pai, que escolheu não ser pouco nesse mundo. Então vai, Zé, vai buscar o teu destino na vida. Destino que - independente da sorte e do resultado que tiveres - já fez de ti um nome respeitado, já fez de ti um Seu Chaleira, um Seu José Guilherme, já fez de ti, com certeza, um vitorioso Seu Zé.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

AMANHÃ

Amanhã tem crônica nova no Jornal "A Evolução" e aqui na página.
O título: Seu Zé. O personagem? O assunto? Só lendo.
É amanhã.

CINEMA NACIONAL

Olhando a data de 19 de junho, descobri que o dia “rivaliza” com o 05 de novembro sobre qual seria o Dia do Cinema Brasileiro.
Não me perguntem por que de tal divergência; não sei se é coisa de cinéfilos, ou se devido a acontecimentos ocorridos nas duas datas, realmente não sei...
Mas com as Salas de Cinema fechando ano após ano, parece não haver muito o que comemorar em nenhum desses dias, embora a filmografia nacional venha vivendo, nos últimos tempos, um acréscimo de qualidade com a produção de bons filmes.
Uma das conversas recorrentes entre grupos de amigos, em meio a cervejas e pizzas, é sobre “qual o teu filme preferido?”, e a gente fica pensando, pensando, e escolhendo, escolhendo...
E quando a escolha deve recair sobre filme brasileiro fica mais difícil ainda, talvez porque o nosso cinema possua um conjunto de “muito bons” filmes mas ainda não tenha chegado ao extraordinário - à obra prima do cinema nacional.
Será isso mesmo? O Brasil ainda ainda não produziu a sua unanimidade, os nossos diretores ainda não fizeram O filme? Não faço a menor idéia.
Mas, se tivesse que escolher algum filme hoje, agora, numa decisão rápida, acho que ficaria com Bye bye Brasil, do Cacá Diegues, da inesquecível “Caravana Rolidei”, com direito à música do Chico Buarque e tudo.
Isso hoje, pois amanhã talvez eu trocasse para Central do Brasil ou para Olga, ou para outro filme qualquer, quem sabe.
Cinema Nacional, eu gosto. E, às vésperas do começo de nosso inverno, mas com o frio já afirmado e repetitivo, gosto cada vez mais.

domingo, 15 de junho de 2008

PIRATINI

Na sexta-feira estive em Piratini, a trabalho. Mesmo assim, em uma passada rápida, deu para observar a beleza da arquitetura da primeira capital Farroupilha, a guardiã dos sonhos e utopias dos Farrapos.
Piratini encanta nos seus mais de 200 anos de existência, com o seu calçamento irregular, com o seu Centro histórico, mas, especialmente, pela imponência do seu casario, que dá conta de um passado glorioso que é preciso sempre rememorar.
Eu estive rapidamente em Piratini e (mais uma vez) pretendo voltar à cidade. Com mais calma, com certeza, para melhor celebrar o encanto dessa beleza do nosso Rio Grande.
Respirar os ares da história sempre vale a pena.

sábado, 14 de junho de 2008

DEPOIS DE 12 DE JUNHO...

Depois do Dia dos Namorados, para quem não tem namorado, para quem conheceu a frustração de uma paixão tardia, para quem viveu a experiência dos amores impossíveis, um poema de português Miguel Torga, extraordinário poeta luso contemporâneo, escrito na cidade de Chaves, Portugal, em 04 de setembro de 1989.

FRUSTRAÇÃO

Foi bonito
O meu sonho de amor
Floriram em redor
Todos os campos em pousio
Um sol da manhã brilhou
Em pleno estio
Lavado e promissor


Só que não houve frutos
Dessa primavera
A vida disse que era
Tarde demais
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais


(Miguel Torga – 1989)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

"TUDO NO MUNDO É FRÁGIL, TUDO PASSA/QUANDO ME DIZEM ISTO, TODA A GRAÇA/DUMA BOCA DIVINA FALA EM MIM..."

Seria, com certeza, exagero dizer que a internet ajudou a “descobrir” Florbela Espanca, que hoje tem a sua poesia cultuada pelas novas e velhas gerações.
Florbela - autora de Fanatismo, dos versos aí do título - nascida em Vila Viçosa, lugar do Alentejo, Portugal, viveu apenas 35 anos, mas viveu exacerbadamente a poesia da paixão, aliando o sofrimento, a solidão e o desencanto à vontade de ser feliz.
O amor de Florbela estava nela própria e no desejo de “amar perdidamente e não amar ninguém”.
Que sigamos, pois, descobrindo Florbela Espanca, para alguns a “alma gêmea” de Fernando Pessoa, para outros a “Dom Juan do Feminismo”, mas, inegavelmente, uma poetisa do amor.

Os versos que te fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não te os digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
(Florbela Espanca - Os versos que te fiz).

quarta-feira, 11 de junho de 2008

ME GUSTAS QUANDO CALLAS...

Do poeta chileno - o homem que declarou o seu amor a todas as mulheres - que era capaz de vislumbrar "encantos que vão além do encanto da beleza", que reparou no sorriso da mulher que queria gritar, no canto da mulher que queria chorar, no riso das nervosas, nas mulheres felizes mesmo sem sapatos novos, nos seus prazeres de frequentar um aniversário, um casamento, uma festa; do poeta que soube fazer poesia de uma mulher calada, do poeta que conseguiu descobrir uma mulher calada (?). Do poeta permanentemente enamorado.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.
Este é o famoso Poema 15, dos Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, cujo aúdio também se encontra disponível e vale a pena ouvir. Mesmo havendo quem discorde, Neruda foi um grande intérprete de si mesmo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

NAMORADOS

Semana dos Namorados, Dia dos Namorados...
Namoro, paixão, expectativa, encontro, amor, poesia.
Dia dos Namorados rima naturalmente com poesia.
De hoje até quinta-feira, três poemas que dizem melhor sobre as sensações dos apaixonados.
Começando pelo clássico "Soneto de Fidelidade" de Vinícius de Moraes; para quem nunca leu (haverá?) e para quem até já sabe de cor. A simplicidade poético-musical de Vinícius merece ser revisitada, sempre.

Soneto de Fidelidade (Vinícius de Moraes)

- De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

- Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar, ou seu contentamento

- E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

- Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.)

sábado, 7 de junho de 2008

FUTEBOL E LITERATURA











Fui convidado a comentar alguns jogos de fut-sal para a Rádio Difusora, no Torneio Municipal que acontece aqui, no Gitão, às quintas, sábados e domingos.
O futebol sempre foi muito presente na minha vida, desde pequeno, desde antes mesmo que eu existisse, acho.
Um dos times aí das fotos, o em preto-e-branco, deve ter uns 50 anos, é de um tempo que eu nem era nascido, mas traz lembranças e significados importantes pra mim.
O meu pai - o Pedro Bittencourt - é o primeiro da foto, à esquerda, e o time é o do Jornal "A Tribuna", um semanário que existiu aqui em Arroio Grande, no final dos anos 50, início dos anos 60. A foto é de 1958, parece. Nela estão ainda o Balbino (goleiro), o Oficial de Justiça Rafael Serpa, na ponta esquerda, e outros...
Eu cresci próximo ao futebol (mas não no meio dele), e conheci as histórias do Gita, que veio a dar nome ao Ginásio de hoje, e do Agapito, com encantamento suficiente pra enxergar as jogadas, os dribles e os gols deles, numa época onde tudo ainda era em preto-e-branco.
Eu era criança, ainda, e isso foi antes, muito antes de eu viver as histórias do Ósca, do Marrequinho, do Tino, do Vilson do Ary...
Depois, na adolescência e na juventude, passei a repetir, junto com os meus amigos da época -década de 70, período 'brabo' da ditadura - um conceito inarredável da esquerda:
"O futebol é o ópio do povo, o furebol é o ópio do povo"... dizíamos, enquanto nos dividíamos entre torcer pela Seleção ou ficar contra, pela óbvia compreensão de que o sucesso do futebol, no "País do Futebol", auxiliava a sustentar o sistema, dando sobrevida ao regime da indiginidade. Torci contra e torci e favor, tive ídolos e tive vilões, elegi heróis e bandidos, mas não consegui nunca me livrar da paixão pelo futebol, que só perde em mim para a literatura - sempre - para a música, às vezes, e para poesia, quase nunca.
O time da foto colorida é o do Kbção, do começo dos anos 80, que marcou época no Futebol de Sete de Arroio Grande. Nele estão o Chaleira, o Osvaldo Britto, o Paulão, o Murilo e eu, entre tantos outros.
É, um dia eu cheguei a jogar futebol e agora fui convidado a comentar, como deverei fazê-lo.
Pois o futebol está presente em mim, como as lembranças dessas fotos, desde a minha mocidade ou antes mesmo que eu tivesse nascido.
Porque o futebol, ou ao menos uma parte dele - Garrincha, Heleno de Freitas, João Saldanha, Di Stéfano, Jorge Valdano, Eduardo Galeano... - pode ser também literatura*, e das boas.
(*) Livros recomendados para quem gosta de futebol:
- A estrela solitária, um brasileiro chamado Garrincha, de Ruy Castro;
- Nunca houve um homem como Heleno, de Marcos Eduardo Neves;
- João Saldanha, uma vida em jogo, de André Iki Siqueira;
- Gracias, Vieja, de Alfredo Di Stéfano;
- Contos de Futebol ou Sonhos de Futebol, de Jorge Valdano;
- Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ENQUETE



Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez
Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado.

Depois de um mês da enquete realizada aí do lado, o resultado da votação foi o seguinte: Escritor sul-americano (não brasileiro) preferido pelos leitores - Gabriel Garcia Márquez, com um percentual de 60% (44 votos), seguido por Jorge Luís Borges (25%) e pelo poeta Pablo Neruda com 8%. Os demais citados na enquete foram pouco lembrados.
A nível nacional, o mais votado foi Jorge Amado (50%, ou 43 votos), seguido de Érico Veríssimo, com 18%. Por um desses mistérios que alguém-ainda-explica-pra-gente-algum-dia, Paulo Coelho teve quase um terço do total de seus votos nos últimos 40 minutos da enquete, ultrapassando Machado de Assis, com 14 contra 12 votos.
Devido ao número de votantes, nem sei se dá para tirar qualquer conclusão “científica” do resultado, embora os nomes escolhidos venham a ser possivelmente os mais recomendados da escrita sul-americana e brasileira.
De fato, Gabriel Garcia Márquez é um ícone da literatura latina, desde a criação do épico “Cem Anos de Solidão”, há quase meio século, até o recente “Memória de Minhas Putas Tristes” (de 2004), passando por “Crônica de uma morte anunciada” e “O Amor nos tempos do cólera”, só para ficar nas unanimidades.
Garcia Márquez é realmente uma lenda, felizmente ainda viva nos seus 80 anos, e possui o inegável reconhecimento e consagração da crítica e dos leitores, mesmo entre os adeptos de Jorge Luís Borges - escritor, pensador e homem “difícil” –, como eu.
Já entre os brasileiros também não surpreende a escolha de Jorge Amado, seja pela magnitude da sua obra, seja pela divulgação dos seus principais trabalhos no cinema e na televisão – Dona Flor e seus dois maridos, Gabriela, Tieta e muitos outros – o que, obviamente, facilita a aceitação de Jorge entre o público brasileiro, não muito afeito a leitura de romances longos ou de maior complexidade.
A divulgação da obra de Jorge Amado por outros meios, porém, só reafirma a qualidade do escritor, que viu os “tipos” por ele criados incorporados à cultura nacional, muito além da Bahia e do Nordeste.
Depois de Jorge, veio o gaúcho Érico Veríssimo (um pouco de televisão – O Tempo e o Vento, Um Certo Capitão Rodrigo... bairrismo?), Paulo Coelho (mistérios do “mago”?) e Machado de Assis, este também um escritor “difícil” para quase todos.
Da nossa parte, tivemos apenas a intenção de, com a enquete, possibilitar a valorização pelo leitor do que é inegavelmente interessante, pois a verdade é que - seja na literatura, na música, ou no comportamento - um pouco do que é bom não faz mal a ninguém, e bobagem demais ou o tempo todo cansa, mesmo num lugar onde alguns praticamente já se acostumaram a viver só disso.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO...

Semana lenta, arrastada...
Nada de novo além do novo contador de visitas. Tudo exatamente igual.
A crônica de sexta-feira pronta, repetida e anunciada, sem o brilho de outras crônicas anunciadas.
Os dias úmidos, a garganta seca, a tosse resistente; nada de novo, tudo igual, sem paixão, sem brilho, sem emoção.
Oh, semana lenta, arrastada, inútil.
Vou buscar Fernando Pessoa, e o Mar Português, de novo!

terça-feira, 3 de junho de 2008

COMPARAÇÕES


A qualidade do escritor está vinculada à preferência do leitor?
Os escritores mais lidos são os melhores escritores?
Ser "campeão de vendas" é sinônimo de qualidade?
É possível ser um grande escritor para um pequeno público?
Existe o "grande escritor" sem reconhecimento?
É possível comparar Garcia Márquez com Vargas llosa? Machado de Assis com Paulo Coelho?
A literatura é comparável? A arte é comparável?
Sexta, aqui na página e no Jornal “A Evolução”, um comentário sobre a enquete do blog que fez a seguinte pergunta: Qual o seu escritor sul-americano (não brasileiro) preferido? Qual o seu escritor brasileiro preferido?
Foram mais de 150 votos respondendo as duas perguntas.
É possível tirar alguma conclusão em cima disso?
Sexta, em “A Enquete”, aqui! Leiam e comentem!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

FANTASIA

Fui ao cinema assistir "As crônicas de Nárnia", o episódio do Príncipe.
Domingo à tarde, como deve ser. Pipoca, balas de goma e crianças, como deve ser.
É incrível como as crianças que estavam ali, sentadas, compenetradas, interessadas em viver as aventuras do Reino de Aslam, eram crianças diferentes dos frequentadores comuns das lan-houses, do orkut, do msn... E eram as mesmas crianças.
Assim como os homens que ali estavam - na sua maioria pais - eram os mesmos pachorrentos espectadores do futebol dos domingos, os insensíveis bebedores de cerveja, frequentadores das rodas de botequim, prágmaticos técnicos do fim-de-semana.
Mas ali, não. Pareciam mesmo outros homens.
O cinema tem esse poder e esse fascínio: transforma o que está atrás da tela e muito, mas muito além dela.