domingo, 22 de junho de 2008

O BARCO, MEU CORAÇÃO NÃO AGUENTA/TANTA TORMENTA, ALEGRIA/MEU CORAÇÃO NÃO CONTENTA/O DIA, O MARCO, MEU CORAÇÃO...

Dia destes fiz referência ao Mar Português, poesia de Fernando Pessoa que celebrizou a expressão “tudo vale a pena se alma não é pequena”.
Mas o poema diz mais, fala dos desafios que movem os homens, da necessidade da conquista, do prazer inigualável da descoberta; não é por acaso que Pessoa foi quem também consagrou uma expressão já utilizada pelos antigos navegadores florentinos: “navegar é preciso, viver não é preciso”, que brilha ainda na canção Os argonautas, de Caetano Veloso, onde se encontram os versos do título aí de cima.
O necessário é criar, ampliar, transformar, ir além, querer mais.
Mas para passar além de cabos e tormentas e revoltas e tempestades, para passar além da segurança, da comodidade, do conforto, do risco calculado, para ir além, é preciso passar também além da dor.
E quando a gente pensa que não é mais capaz, quando a gente não sabe mais o que significa 'ir além', quando tudo leva a desistir, convém viajar outra vez mais com Fernando Pessoa no seu

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa - 1888/1935)

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