sábado, 13 de março de 2010

DESPEDIDA


13 de março de 2010. O blog acaba de completar dois anos.
Pois depois de 2 anos, 350 postagens e quase 20 mil acessos, é hora de dar um tempo, é chegado o momento de parar.
Por isso, enquanto a imagem aí de cima continuar, a página permanecerá como ela; a partir de agora o blog autorretrato se cala, até quando tiver novamente sobre o que falar...

sexta-feira, 12 de março de 2010

TESTAMENTO

Eu tinha feito as contas certa vez e havia decidido que queria morrer quando os meus filhos estivessem próximos dos trinta, trinta e cinco anos de idade, mais ou menos. Levando em consideração a idade que eles têm hoje, isso significa que - soma isto, tira aquilo, vai tanto... -, matematicamente me sobra muito ainda, pois tal só deverá(ia) ocorrer depois que eu tiver ultrapassado os setenta anos, já velho, naturalmente, como é inevitável que fiquem as pessoas que alcançam essa idade.
Setenta e poucos anos... não é muito, e todos que estão nessa faixa podem e devem querer ir mais longe. Não é realmente uma boa idade para se morrer, embora seja uma idade complicada para se viver, com toda a certeza: as dificuldades aumentam, as dores são mais freqüentes e aqueles que são “geneticamente” rabugentos como eu, tendem naturalmente a ficar insuportáveis no convívio com as pessoas.
Setenta anos... Tenho amigos que estão próximos dessa idade, e muitos, mas muitos das minhas relações já ultrapassaram e bem tal marca.
A minha família, aliás, é de longevos: os meus avôs chegaram próximos aos 80, o meu pai, apesar de fazer tudo em contrário – cigarro, bebida, desregramento, indisciplina... – (ou talvez até por isto) passou dos 70, arranhando, mas passou, e a minha mãe, aos 75 anos, embora doente, ainda espera todos os dias pelos filhos e netos ali na Júlio de Castilhos, onde mora já há quase meio século.
Mas fenômeno, fenômeno mesmo foi a minha avó Delícia, que, mesmo não sei com quantos infartos, derrames e isquemias, permaneceu deste “lado de cá” até os 96 anos de idade.
Noventa e seis anos. Que força, quanta grandeza... Quando eu olhava para os olhos daquela mulher, quando segurava às mãos dela, eu via toda a nossa história ali: via o meu avô, castelhano, ranzinza, teimoso; via o meu pai, poeta, sonhador, teimoso; via a mim mesmo, acima de tudo teimoso; via os meus filhos, o futuro deles, os netos que ainda não tenho; eu enxergava tudo, tudo, nos olhos quase centenários da minha avó.
Não conseguia entender do que ela ainda gostava, não imaginava do que a sua alma se alimentava, que prazeres ainda poderia sentir aos noventa e seis anos de idade. Sei apenas do amor que tinha por ela e da emoção que sentia a cada vez que a olhava nos olhos, a cada vez que segurava as mãos carregadas de marcas que o tempo de quase cem anos deixou.
A matriarca de uma família de teimosos, de gente que se orgulha da sua história, uma história que remonta certamente há meio milênio (onde estarão os demais galhos dessa árvore?) e da qual a minha avó simbolizou e representou quase um século.
Cem anos... parece ser muito tempo, tempo demais, exigência demais pra um único corpo, e, com certeza, pra almas pecaminosas como a minha.
Por isto, já fiz os cálculos, todas as contas, definitivamente.
Diferente de muitos que querem ir mais longe, pra mim servem dezessete anos mais, dezoito, vinte, no máximo, a partir de hoje, a contar de agora, deste instante, já!
Mas, pensando bem, com direito a recontagem se chegar lá...

domingo, 7 de março de 2010

PODE SER

Pode ser que a melodia
que nasce com a luz do dia
se esparrame pelo ar...
Pode ser que agora o mar,
sob este céu de carmim,
contemple quase absorto,
um velho silêncio morto
de tanto esperar por mim...


Pode ser que aquela rua
onde um restinho de lua
ainda dorme na calçada,
relembre a mulher que um dia
não me avisou que viria
e, no entanto, mesmo assim
passou pela minha vida
e sorrindo foi embora,
mas sem motivo até agora
vive lá dentro de mim...


Pode ser que o vento norte
sopre hoje bem mais forte
do que soprou no verão,
e que encontre em cada esquina
nos olhos de uma menina
um murmúrio de canção...
Pode ser que de repente
a lembrança dos ausentes
ilumine toda a praia...
e que o brilho de uma saia
ponha calor sobre a areia...


Pode ser que eu ainda creia
que não basta a solidão
para tornar-me sozinho
Pode ser que no caminho
eu me perca sem remédio
e que a voz negra do tédio
não me deixa mais em paz...


Pode ser que este vazio
que tomou conta de mim
tente mostrar-me em vão
com seu raciocínio frio
o rumo certo do fim...
Pode ser que eu diga “mas”
quando deveria dizer “sim!”


Tanta coisa pode ser
que no entanto não é...
Pode ser que a minha fé
se haja perdido a esmo
pois, tudo bem, pode ser
sem que nada seja mesmo...
Mas eu verei desde agora
nas coisas que mortificam
que tudo o que foi embora
é justamente o que fica...


(Pedro Jaime Bittencourt)

terça-feira, 2 de março de 2010

MAU HUMOR




O Hermena carrancudo.
De repente, o Mar Tenebroso se agitou acima do normal para os lados destes trópicos.
Ondas gigantes bateram na praia, chegaram à orla e derrubaram casas e a proteção das casas, levando muita gente a ter que reconstruir tudo novamente...
Mas o dia terrível passou e um outro dia chegou, e depois a noite, e logo, logo, os meninos já estavam jogando futebol na praia, que, entre outras coisas, é também para que servem as praias, com as suas orlas (lá se diz "costa") puras, limpas e sorridentes, sem carranca, o que, aliás, é mais próprio das pessoas que da natureza, embora esta, quando de mau humor, nos deixe com medo, muito medo...