que nasce com a luz do dia
se esparrame pelo ar...
Pode ser que agora o mar,
sob este céu de carmim,
contemple quase absorto,
um velho silêncio morto
de tanto esperar por mim...
Pode ser que aquela rua
onde um restinho de lua
ainda dorme na calçada,
relembre a mulher que um dia
não me avisou que viria
e, no entanto, mesmo assim
passou pela minha vida
e sorrindo foi embora,
mas sem motivo até agora
vive lá dentro de mim...
Pode ser que o vento norte
sopre hoje bem mais forte
do que soprou no verão,
e que encontre em cada esquina
nos olhos de uma menina
um murmúrio de canção...
Pode ser que de repente
a lembrança dos ausentes
ilumine toda a praia...
e que o brilho de uma saia
ponha calor sobre a areia...
Pode ser que eu ainda creia
que não basta a solidão
para tornar-me sozinho
Pode ser que no caminho
eu me perca sem remédio
e que a voz negra do tédio
não me deixa mais em paz...
Pode ser que este vazio
que tomou conta de mim
tente mostrar-me em vão
com seu raciocínio frio
o rumo certo do fim...
Pode ser que eu diga “mas”
quando deveria dizer “sim!”
Tanta coisa pode ser
que no entanto não é...
Pode ser que a minha fé
se haja perdido a esmo
pois, tudo bem, pode ser
sem que nada seja mesmo...
Mas eu verei desde agora
nas coisas que mortificam
que tudo o que foi embora
é justamente o que fica...
(Pedro Jaime Bittencourt)
se esparrame pelo ar...
Pode ser que agora o mar,
sob este céu de carmim,
contemple quase absorto,
um velho silêncio morto
de tanto esperar por mim...
Pode ser que aquela rua
onde um restinho de lua
ainda dorme na calçada,
relembre a mulher que um dia
não me avisou que viria
e, no entanto, mesmo assim
passou pela minha vida
e sorrindo foi embora,
mas sem motivo até agora
vive lá dentro de mim...
Pode ser que o vento norte
sopre hoje bem mais forte
do que soprou no verão,
e que encontre em cada esquina
nos olhos de uma menina
um murmúrio de canção...
Pode ser que de repente
a lembrança dos ausentes
ilumine toda a praia...
e que o brilho de uma saia
ponha calor sobre a areia...
Pode ser que eu ainda creia
que não basta a solidão
para tornar-me sozinho
Pode ser que no caminho
eu me perca sem remédio
e que a voz negra do tédio
não me deixa mais em paz...
Pode ser que este vazio
que tomou conta de mim
tente mostrar-me em vão
com seu raciocínio frio
o rumo certo do fim...
Pode ser que eu diga “mas”
quando deveria dizer “sim!”
Tanta coisa pode ser
que no entanto não é...
Pode ser que a minha fé
se haja perdido a esmo
pois, tudo bem, pode ser
sem que nada seja mesmo...
Mas eu verei desde agora
nas coisas que mortificam
que tudo o que foi embora
é justamente o que fica...
(Pedro Jaime Bittencourt)
2 comentários:
Pode ser...não é simplesmente um poema, é uma aula de vivência construída por alguém que nitidamente sentiu, absorveu, refletiu e transmitiu as nuances da vida.
Solismar Venzke Filho.
É Solismar, o Velho Pedro não era fácil; na faculdade da vida foi catedrático: professor, doutor, mestre, praticamente um reitor (e sem usar toga, ou traje de gala, convivendo tranquilamente com os mortais dos bares, dos puteiros, das ruas, da vida...).
Dizia "pode ser", e era!
Um abraço.
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