terça-feira, 29 de setembro de 2009

TEMPOS

Ontem (segunda-feira) pela manhã, cruzei rapidamente com a Marília Floor, em Pelotas; depois, já à tardinha, tomei um cafezinho com o Caboclo, no Centro, e, na volta para casa, encontrei com o Paulo César Dutra, meu vizinho ocasional na Barão de Santa Tecla.
Com a Marília não cheguei a conversar, mas, se o fizesse, falaríamos certamente sobre arte, sobre poesia; já o Caboclo me mostrou toda a sua inquietude, tantos projetos, tanta criatividade, tamanha é a doce loucura daquela criatura. Por fim, o Paulo César me perguntou quando é que teríamos uma reedição da “Rua da Bahia”, repetindo o encontro que fizemos o ano passado (postagem aqui no blog: marcadores - dezembro 2008 – Rua da Bahia), para avisar pra o seu irmão Gilnei, a nossa Almôndega famosa, que vive atualmente lá por Santa Catarina.
Fiquei pensando neles: a poeta, o multi-artista, o instrumentista; três expressões ligadas à arte, três pessoas de sensibilidade.
Fiquei pensando neles e fiquei triste, afinal eu os encontrei em Pelotas, eles estão em Pelotas, vivem por lá, e só voltarão para o Arroio Grande ocasionalmente, de tempos em tempos.
Como ocorria com outros artistas, em outras épocas, como nos tempos da Top Set (anos 1980), que lotava as dependências da esquina da Dr. Monteiro com a Dionísio de Magalhães, trazendo a presença de gente como Regina Bainy, Élson, do Cavaquinho, Kininho Dornelles (na foto, os três ‘passando o som’, ao lado do proprietário Eraldo) e do onipresente Basílio que estava em todos os encontros sem precisar aparecer neles.
Fiquei um pouco triste, e com saudade desses tempos, e com saudade da Top Set, e com saudade da Rua da Bahia, e com saudade dos artistas que não estão aqui e com saudade de tudo...

domingo, 27 de setembro de 2009

O HOMEM, A BOLA, A PRAÇA...

- Praça Alcides Marques - Pça. das Bandeiras - Centro de Jaguarão.
Na crônica publicada na sexta-feira – “Eu viajei de trem” - fiz referência às viagens de Pelotas que terminavam em Jaguarão, e as “embaixadas” que assistia o Mário Franco fazer, na Pça. Alcides Marques, no Centro daquela cidade.
O Mário Franco, para quem não conheceu, era um sujeito folclórico que, nos anos 1970, pegava uma bola de futebol, e, praticamente todos os dias, se dirigia à Praça Central de Jaguarão, onde ficava fazendo intermináveis embaixadas (que no meu tempo de guri se chamavam ‘peneiradas’) e conversando com os passantes, procurando não deixar a bola cair.
O que mais chamava a atenção no Mário, além desse hábito bizarro, era a forma esquisita como ele se vestia: com um fardamento desbotado, utilizando uma meia de uma cor (acho que tricolor, do Grêmio) e a outra num tom cinza, o homem calvo, que já havia ultrapassado de há muito a ‘meia idade’, ia para o Centro de Jaguarão acompanhado também de uma pequena maleta, onde guardava alguns pertences (acho que roupas, inclusive), que costumava utilizar ali mesmo, na Praça.
Eu, por viver em Arroio Grande (e estudar em Pelotas) e por ser pouco mais que um adolescente à época, pouco sabia sobre ele, mas toda Jaguarão o conhecia e, ao que lembro, respeitava as suas esquisitices como personagem folclórico da “cidade heróica”.
Que fim terá levado o velho Mário Franco? Estará ainda entre nós, ou já terá partido rumo a um outro universo, rumo à outras praças e calçadas, acompanhado da sua inseparável companheira – a bola – e do seu bizarro fardamento de aprendiz do futebol?
Aonde estiver, palmas para ele, afinal existem hoje cada vez menos personagens que trazem graça e fantasia a este mundo sem qualquer romantismo, onde a pureza dos Mários Francos faz cada vez mais falta, nas calçadas, nas ruas, nas praças...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

EU VIAJEI DE TREM

- Estação de Trem de Pedro Osório - Anos 1970 -
Já faz tempo, muito tempo... Entre as viagens que a gente costumava fazer – o trivial, de ônibus, de automóvel... -, e às excepcionais – de barco, de avião... -, existia também uma viagem inesquecível: de trem. E eu viajei de trem.
Na primeira vez, o meu pai inventou vir de automóvel do Hermenegildo para o Arroio Grande, “por dentro” do Uruguay, saindo pelo Chuy, até que perto de uma cidadezinha chamada Jose Pedro Varella, próximo a Treinta y Tres, o carro - uma Chevrolet cabine dupla -, estragou feio, tendo que ficar para conserto numa oficina castelhana. Isso acabou proporcionando à família viajar de trem por quase 200 quilômetros pelo interior do Uruguai, até o destino final no Rio Branco, fronteira com Jaguarão.
O que mais lembro dessa primeira vez, na molecagem dos meus dez anos, era do vaso sanitário do banheiro do trem, completamente “sem fundos”, o que permitia fazer xixi em meio aos trilhos, num interminável esgoto a céu aberto. Eu nunca vi isso em lugar nenhum, mas juro que naquele trem que nos trouxe de “Barella” até o Rio Branco era assim, o que muito divertia a gurizada e chocava os adultos, pois que contrário aos hábitos de higiene e de saúde, ainda mais em um país como o Uruguai - “a Suíça da América” à época.
Cerca de duas décadas depois, eu haveria de viajar de trem por diversos países da Europa – Portugal, Espanha, França, Itália... -, mas isso já em veículos e ferrovias com uma estrutura que nunca chegou à América do Sul.
A minha viagem inesquecível de trem, porém, deu-se em meio a esses dois períodos – o do Uruguai e o da Europa – e ocorreu no início da minha juventude.
Eu estudava em Pelotas, no chamado 2° Grau, e, no fervor dos meus dezessete anos, não perdia nenhuma festa, razão pela qual terminava todas as madrugadas de sexta-feira na famosa “Boate do Direito”.
A minha parceria, toda ela de sujeitos mais velhos – o Neneco Silveira, o Emerson Flôor, o Zéca do Valentim, o Darci do Lino, o Nadir da Top Set -, morava na casa do meu pai, na Rua Anchieta, bem em frente ao Colégio Santa Margarida. A gente costumava vir de Pelotas até o Arroio Grande quase todos os finais de semana, pegando carona em razão da “peladura”. Às vezes, porém, a viagem era de trem, e essa era a mais divertida de todas as viagens que se podia fazer.
Eu saía direto da boate do Direito, sem dormir, é óbvio, e rumava com a turma para a Estação do Simões Lopes.
O trem costumava partir às 6 da manhã e demorava cerca de hora e meia até chegar em Pedro Osório, passando antes pelas Estações do Passo das Pedras e do Cerrito; depois, seguia para Bagé. Era a famosa “Maria Fumaça” da canção do Kleiton e do Kledir, que nos levava até o Hotel do Tio Willy, em Pedro Osório, onde trocávamos a música cantada pelo Zéca por pastel e cerveja, até partirmos para a BR em busca de uma carona para o Arroio Grande. Depois, eu ainda seguiria até Jaguarão, a fim de namorar as gurias na Boate do Harmonia, e assistir, já no domingo, às intermináveis “embaixadas” do Mário Franco, na Praça Alcides Marques.
As histórias desse tempo são tantas que não cabem numa única crônica, que o diga o Darci do Lino, o mais divertido parceiro de viagem que conheci, e que, junto com alguns outros companheiros dessa mesma época, pode contar sobre o que já não existe mais: nós viajamos de trem e nunca houve melhor viagem para se fazer por aqui.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"ARREPARE, NÃO, MAS ENQUANTO ENGOMA A CALÇA EU VOU LHE CONTAR..."

De como uma viagem de Pelotas para Jaguarão – com saída da casa existente em frente ao Colégio Santa Margarida, passagem pela Boate do Direito e chegada na Festa do Clube Harmonia – demorava três dias, no ano de 1977, e ainda sobrava tempo para assistir as embaixadas do Mário Franco, na Praça Alcides Marques, no domingo à tardinha.
É amanhã, aqui na página.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A SITUAÇÃO EM HONDURAS E A ESTRANHA VOCAÇÃO DOS "DEMOCRATAS" E "LIBERAIS' BRASILEIROS

Quase três meses depois do golpe que derrubou Zelaya em Honduras, um verdadeiro atentado à democracia - como as nossas Américas cansaram de assistir nas décadas de 60 e 70 do Século passado -, Lula, Barack Obama, Cristina Kirchner, Rafael Correa, a OEA, e diversos chefes de estado, entre direitistas, moderados e esquerdistas, se posicionaram contra o golpe e em favor do respeito à constituição hondurenha.
Estranhamente, porém, não se ouviu nada do pessoal do PSDB e nem do DEM, nada dos opositores de Lula, de Chávez, de Fidel... - todos eles midiáticos, barulhentos e escandalosos quando na defesa do que entendem como “democrático”; como se o ato perpetrado em Honduras não fosse autoritário, não fosse inconstitucional, não fosse golpe.
Ficaram quietos os “democratas” e os “liberais” brasileiros, assim como a grande mídia local que não critica o golpe e não se manifesta em favor da democracia.
E agora, quando a Embaixada Brasileira em Honduras recebe e Presidente deposto (e sofre ameaça de invasão, por isso), criticam o ato de abrigo do governo brasileiro e permanecem sem qualquer manifestação contra o governo golpista.
Que vocação, hein!!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AS RUAS DA MINHA CIDADE (XIII) - RUA LEONEL FAGUNDES

A Rua tem esse nome em homenagem ao poeta LEONEL MUNIZ FAGUNDES, sobre quem existe enorme divergência quanto ao local e data de nascimento.
Nascido em Arroio Grande, para alguns, ou "nas cercanias do Herval", para outros (cfe. História do Herval(*), Manuel da Costa Medeiros - 1980 - pg. 275), na metade dos anos 1870, Leonel Fagundes faleceu a 21 de setembro de 1921, antes de completar 50 anos.
O pai de Leonel, Terêncio Muniz Fagundes, veio a residir em Arroio Grande, razão pela qual o seu filho mais novo acabou criando vínculos com a cidade, para onde regressaria (princípio de 1909) a fim de atuar como notário, transferindo o domicílio de Herval onde residia desde 1899, em razão de ter sido nomeado para minsitrar "aula do sexo masculino" naquela comunidade. Bacharel em Direito, Leonel Fagundes era considerado orador "eloquente e persuassivo", além de grande poeta, havendo colaborado para diversos jornais do Arroio Grande e da região, tendo os seus poemas (em sua maioria Sonetos) constado de diversas publicações de Pelotas e da capital do Estado.
Como curiosidade, registre-se que Leonel Fagundes era bisneto de Pedro Muniz Fagundes, o Pedro Canga - "O Embuçado do Herval" (Livro de Guilhermino César) - poeta nascido naquela Vila pelos idos de 1790 e falecido por volta de 1870, antes, portanto, do nascimento de Leonel, e para quem esta página ainda pretende dedicar algumas linhas no futuro, em razão da excepcional qualidade dos poemas de Pedro Canga e do mistério que envolve a sua personalidade.
A RUA:
A rua Leonel Fagundes é uma via extensa se comparada ás demais ruas do Arroio Grande, nos seus cerca de 1.500 metros, surgindo próximo à Av. N. Sa. das Graças, perto da estrada (RS) que segue para o Herval e estendendo-se até a Vila Vidal, no outro lado da cidade.
Possui, porém, uma peculiaridade, já que é "cortada" por um conjunto de pequenas casas, situadas entre às ruas Júlio de Castilhos e Osmar Machado, o que divide a Leonel Fagundes em duas paisagens; uma, mais central, próximo à Escola Aimone Carriconde (primeira foto - abaixo), e, outra, em direção à periferia (segunda foto), onde a infra-estrutura da via acaba deixando a desejar, como, de resto, acontece com a maioria das ruas das vilas da nossa cidade.

Rua Leonel Fagundes - Centro (acima) e periferia (abaixo) do Arroio Grande
(*) Na obra História do Herval, de Manuel da Costa Medeiros, constam pelo menos 15 sonetos de autoria de Leonal Fagundes, integralmente transcritos para conhecimento dos interessados.

domingo, 20 de setembro de 2009

CISMANDO

A imagem aí de cima tem quase cem anos; o personagem faleceu num 21 de setembro, há 88 anos.
Trata-se de um poeta da região, autor dos versos abaixo (poema Cismando) e de diversos outros poemas, e que virou nome de Rua, aqui no Arroio Grande.
Quem é ele? Amanhã - dia 21 - "As ruas da minha cidade", aqui na página.
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Se tudo em pó desfaz o tempo sobre a terra,
E sobre a terra é tudo um mero desengano,
Por que nos corações floresce tanto dano?
Por que tanta vaidade existe e tanta guerra?

Por quê? se lá do cimo altíssimo da serra
Desponta a árvore altiva, e cresce ano a ano,
Resistindo altaneira ao sopro do minuano,
E à inclemência que o inverno em sua fúria encerra?

Homem que a tua vida esgotas, dia a dia,
Na prática do mal, na eterna hipocrisia,
Se já não crês no amor a Deus, eleva a prece;

Repara como é suave a placidez do ninho!
Repara como a fera aos filhos dá carinho,
E a pedra, sendo pedra, a planta que ali cresce.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

FICOU, NÃO FICOU

LENÇO FARROUPILHA EXISTENTE NO CASTELO DE ASSIS BRASIL, PEDRAS ALTAS (Foto: blogdocanhada).

Muito se discute sobre a passagem da Revolução Farroupilha por aqui, até porque o Arroio Grande, embora ocupado desde a chegada das famílias de José Batista de Carvalho (vindo para cá em 1792) e de Manoel Jerônimo de Souza (aqui chegado em 1803), era, no período da Revolução (1835-1845), apenas um distrito de Jaguarão, esta sim recém elevada à categoria de Município - Vila do Espírito Santo do Serrito de Jaguarão - em 1832, ou seja, pouco antes de deflagrada a insurreição Farrapa.
Porém, e até para não descontentar os simpatizantes dos Farrapos, é claro que dá para incluir a nossa Freguesia na Revolução Farroupilha, através de uma escaramuça aqui ou ali (existe enorme confusão entre os combates envolvendo Arroio Grande, pois que alguns ocorridos também próximos a um outro “arroio grande” - situado entre os municípios de São Lourenço e Pelotas), um entrevero acolá, já que deve ter havido mesmo muita quizília nesta terra de encrenqueiros.
Existem notícias de pelo menos três combates na região onde se situa o nosso Arroio Grande: a batalha naval, ocorrida em Santa Izabel, entre o Barco Minuano, do Farroupilha Tobias dos Santos, e o Iate de Guerra Oceano, comandado pelo imperial Manuel Junqueira; o encontro entre os homens de Teixeira Nunes e as forças legalistas de Chico Moringue, presumivelmente no Chasqueiro; e o combate de 17.12.1836, quando David Canabarro surpreendeu e fez prisioneiro Silva Tavares, “em algum lugar do arroio Grande”, mas que bem pode ter sido próximo à nascente do arroio, já no território do Herval. Esta última batalha, aliás, consta registrada no famoso Lenço Farroupilha, um dos símbolos da história dos Farrapos.
Então fica combinado: a Revolução Farroupilha passou por aqui e não se discute mais; mas, se passou, não dá para dizer que aqui a revolução tenha ficado, por mais que a gente queira. Explico: passado o período da revolta com a assinatura do Tratado de Poncho Verde, em 1845, e finda a Guerra do Paraguay (1864-1870), o Arroio Grande, que ascendera a condição de cidade em 1873 (24 de março - a nossa “Independência”), começou a trocar os nomes das suas ruas, com o que se esperava que os principais personagens da luta Farrapa – Bento Gonçalves, Canabarro, Antônio Netto, Garibaldi... - viessem a preencher as vias da cidade, ou virar monumento, afinal a República Rio-Grandense havia sido motivo de orgulho e honra para os gaúchos.
Que nada! Tirando Bento Gonçalves, que dá nome a uma ruazinha no fim da Vila São José - a penúltima da cidade, quase que lá nas Bretanhas... – os demais foram solenemente ignorados pela municipalidade (simpática aos imperiais?), com o que dá para afirmar que as façanhas dos Farroupilhas não serviram de modelo para o Arroio Grande.
E digo isso não para revisar a história ou para contrariar quem quer que seja, digo isso sem qualquer renegação aos valores e ideais farrapos; digo isso apenas para que esses moços – e alguns maturrangos velhos também – que costumam desfilar garbosos durante a Semana Farroupilha, venham a conhecer um pouco mais da história e compreender melhor aquilo que hoje faceiramente abraçam. Não o cavalo ou o violão, mas a causa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AS RUAS DA MINHA CIDADE (XII) - RUA BENTO GONÇALVES

A Rua Bento Gonçalves é uma das menores vias do Arroio Grande, fica na Vila São José, talvez o nosso Bairro mais pobre. É a segunda rua mais ao Sul da cidade, portanto a penúltima no sentido de quem vai para Jaguarão, trancada pela BR por um lado e pelos matos que vão em direção ao arroio pelo outro. Trata-se de uma rua sem a menor infra-estrutura, com algumas valetas a céu aberto nas extremidades e totalmente de chão batido nos seus pouco mais de quinhentos metros. É uma rua pobre, de um bairro pobre, de uma cidade pobre, que, não obstante, poderia estar melhor cuidada, pois, afinal, nela moram e transitam pessoas, entre elas muitas crianças.
Quanto ao personagem da rua, nem é preciso falar, ainda mais nesta Semana Farroupilha, quando o nome de Bento Gonçalves da Silva é lembrado e reverenciado por (quase) todos os gaúchos.
Em Arroio Grande, porém, a placa (abaixo) retirada de um estabelecimento comercial da rua, deve ser a única placa que menciona o nome de Bento na cidade, já que por aqui a Revolução Farroupilha parece não haver passado, ou se passou não ficou, como se pode constatar.
Este (passou, não passou; ficou, não ficou), aliás, será o motivo da próxima crônica aqui no autorretrato. Até sexta.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

REVOLUÇÃO FARROUPILHA II – O MITO BENTO GONÇALVES (HERÓI LADRÃO?)

O principal nome da Revolução Farroupilha, do ponto de vista dos revoltosos, foi, sem dúvida, o do líder Bento Gonçalves da Silva, General Revolucionário tornado Presidente da República Rio-Grandense com a instalação da Capital Farroupilha, em Piratini, em 1836.
Pois, com o passar dos anos, Bento acabaria se transformando também num personagem controvertido, despertando sentimentos variados entre os historiadores do movimento separatista gaúcho e gerando posições conflitantes entre os seus estudiosos.
Fez fama, nos anos 80, a polêmica obra de Tau Golin – Bento Gonçalves, o Herói Ladrão* (1983), onde o escritor faz de um pequeno ensaio de pouco mais de 50 páginas uma verdadeira denúncia sobre a vida do líder maior da insurreição farroupilha.
Tau Golin teve inúmeras respostas, muitas (a maioria até) com a finalidade apenas de atacá-lo e de impedir a revisão histórica, desprezando o debate que a sua instigante obra propunha; outras, porém, que aproveitaram a polêmica para aprofundar a discussão sobre o “decênio heróico” e o seu mito maior, já que não dá para negar, sem qualquer ufanismo, que a Revolução Farroupilha foi mesmo o grande momento do Rio Grande, razão pela qual sobrevive até hoje como símbolo maior da história dos gaúchos.
Alimentando o debate, a página traz algumas das observações de Tau Golin e o contraponto feito a elas por Fernando G. Sampaio, na obra Bento Gonçalves – Mito e História, publicada logo em seguida (1984) ao livro do primeiro, para análise e avaliação dos interessados.
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"Tão objetiva como a Carta ao rei é a "Relação" de Rebello (Sargento Albano de Sousa Hneriques Rebello), cujo original também se encontra na Biblioteca Nacional. Com a síntese própria de um diário, ele dá as seguintes informações:
1 - Bento Gonçalves, a 22 de dezembro de 1817, introduziu roubadas - 5.500 - reses.
(...)
Seguem-se mais 6 relatos (do dito Rebello) sobre 'introdução' de gado irregular (mais de 15 mil cabeça) por Bento no Estado, prosseguindo o autor Tau Golin:
Somente pela estimativa desses dois documentos há a indicação precisa que Bento Gonçalves da Silva roubou e contrabandeou explicitamente 21.600 cabeças de gado, além de mais quatro tropas sem citação do número de animais".
(BENTO GONÇALVES O HERÓI LADRÃO - Tau Golin - LGR Artes Gráficas - 1983 - págs. 33-35).
* o Livro de Tau Golin é, hoje, raro, encontrando-se esgotado e sem reedições.
"Nesta curiosa relação, segundo Golin, fica comprovado que Bento Gonçalves fez sua fortuna com 21.600 cabeças. Se ele já tinha em sua fazenda uruguaia, anos antes, 15 mil cabeças, bem pode-se concluir que a soma de gado que Golin aponta não é algo tão fantástico. E digo a soma que Golin aponta, pois um exame atento não revela mais do que 8100 reses introduzidas.
(...)
Observa-se, ainda, que a área de onde proveio este gado é o Uruguai, onde ele tinha a sua fazenda e era teatro de operações bélicas. Portanto, área onde Bento Gonçalves podia agir legalmente, contra os aliados de Artigas. Os nomes indígenas citados na relação, a zona do arroio Gutterres, etc, tudo apontam para presas de guerra e não roubo".
(BENTO GONÇALVES: MITO E HISTÓRIA - Fernando G. Sampaio - Martins Livreiro Editor - 1984 - págs. 90/91)

domingo, 13 de setembro de 2009

REVOLUÇÃO FARROUPILHA (I) - LOS GAUCHOS

Ignorando as questões sociais, políticas e econômicas (principalmente estas) que deram causa à chamada "Guerra dos Farrapos", os sul riograndenses sempre procuraram ver na Revolução Farroupilha um movimento separatista de origem "étnica", cuja motivação maior seria a de desvincular o Rio Grande do Sul do Brasil - ou seja apartar a "raça" gaúcha da "raça" brasileira, pois, segundo o 'imaginário' local, tais tipos teriam origem e comportamento completamente distintos, o que justificaria a necessidade de 'afastamento' desses povos, mesmo quando (e, talvez, principalmente enquanto) nações.
Sem levar em conta a brincadeira do argentino Astor Piazzola, quando diz que "o gaucho foi uma invenção que fizeram para distrair os cavalos", verdade é que o "mito" do gaúcho transcende os costados do Rio Grande, e do oriente uruguayo e da pampa argentina, para se transformar num protagonista da vida latino-americana, ainda que (muitas vezes) fantasioso, como a nossa literatura não cansa de apresentar.
Desse mito, o maior de todos é, sem qualquer dúvida, Martin Fierro, de José Hernandez, um épico de mais de um século (aparecido em 1872, com "El Gaucho Martin Fierro") que a página reproduz aqui através de quatro estrofes (as duas primeiras e as duas últimas) do primeiro canto, da primeira parte.
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"Aquí me pongo a cantar
al compás de la viguela,
que el hombre que lo desvela
una pena extrordinaria,
como la ave solitaria
con el cantar se consuela.
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Pido a los santos del cielo
que ayuden mi pensamiento:
les pido en este momento
que voy a cantar mi historia
me refresquen la memoria
y aclaren mi entendimiento.
(...)
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Y sepan cuantos escuchan
de mis penas el relato
que nunca peleo ni mato
sino por necesidá,
y que a tanta alversidá
solo me arrojó el mal trato.
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Y atiendan la relación
que hace un gaucho perseguido,
que padre e marido a sido
empeñoso y diligente,
y, sin embargo, la gente
lo tiene por un bandido...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

TEMPO

Praia do Hermenegildo - Final dos anos 1960.
A frase, parece, é do Tom Jobim e diz mais ou menos o seguinte: “O problema do passar do tempo é que as mulheres estão cada dia mais bonitas e eu cada vez mais velho...”.
É uma frase de boêmio, e de boêmio carioca, daqueles que vivem em permanente relação com o sol, com o mar, com o bar, e próximos à beleza bronzeada da mulher que passa.
É evidente que o tempo pode ser medido de várias formas, mas para a geração de Tom Jobim, para aquele grupo extraordinário de artistas, de intelectuais... – Vinícius de Moraes, Ziraldo, A Turma de “O Pasquim”... – não existe melhor “termômetro” para medir o efeito do tempo nos homens do que a visão de uma mulher bonita, de preferência com uma calça bem justa a realçar-lhe as formas.
Já a maioria das pessoas, pelo contrário, consegue ver no tempo apenas “o tempo que passou”, e ficam comparando aquilo que podiam fazer com o que já não podem fazer mais, pelas dores no corpo, pelo diabetes, pela miopia... É essa, infelizmente, a nossa triste avaliação do tempo; a das limitações, simplesmente.
Eu, por exemplo, lembro sempre dos meus verões de criança na Praia do Hermenegildo, quando ficava lá com toda a família, de dezembro a março. Eram três meses em que tínhamos todo o tempo do mundo.
Quando eu voltava para a escola, atrasadíssimo, era a hora de correr contra o tempo, comprando uniformes, material escolar, pedindo cadernos emprestados para recuperar as matérias e... o tempo.
Depois que a minha rotina de criança era restabelecida - correr, jogar futebol, andar de bicicleta... – os dias ficavam enormes, e, das 8 da manhã – horário do colégio – até a noite, eu tinha tempo de sobra pra ser feliz.
Tempo bom, tempo que não volta, mas que pode ser vivido de diversas outras formas. É claro! Se o fôlego já não é o mesmo para correr ou para pedalar, uma boa caminhada pela Vila Silvina pode bastar; se as pernas já não suportam mais uma partida de futebol, como nos tempos do River FC - o “famoso” time do Paulão, que conseguiu fazer até o Caboclo jogar -, a gente pode bater uma bolinha com o filho, ou com os amigos, nem que seja para exercitar o lúdico.
Tempo, tempo, tempo. O tempo é para ser aproveitado, em qualquer idade, e não para ser desperdiçado.
Como disse Millor Fernandes: “quem mata o tempo não é um assassino, é um suicida!”, pois, obviamente, está matando a própria vida.
Porque enquanto a gente estiver vivo sempre haverá como aproveitar o tempo. Contemplar a natureza, caminhar, brincar e apertar bem os olhos para celebrar a beleza das formas da mulher que passa. E até, dependendo da ocasião, utilizar a própria idade como desculpa para justificar o gesto. No meu caso, aliás, com a atenuante da miopia.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

INDAGAÇÃO

Uma frase atribuída ao grande maestro Tom Jobim dá motivo à próxima crônica aqui na página.
É sobre o tempo, ou será sobre a leitura que a gente faz do tempo?
Ou será ainda sobre o efeito do tempo nas pessoas??
Ou será talvez sobre a beleza da mulher que passa???
É amanhã, aqui no blog e na página 3 do Jornal “A Evolução”.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

HISTÓRIAS (XII) - OS TRINTA DIAS QUE MUDARAM A VIDA DE IRINEU

1819
"O clã de Arroio Grande, apesar de tudo, ainda confiava no futuro. Mas antes que tudo se arrumasse, a desordem colheu seus frutos. Para manter o crescimento do negócio, João Evangelista precisava sempre conseguir mais gado. Em 1819, resolveu se arriscar numa excursão ao território uruguaio ocupado para comprar uma manada. (...) Ele tomou os devidos cuidados na viagem, conseguindo a companhia de alguns amigos. Na volta, porém, enquanto dormia num rancho na beira do caminho, foi morto com um tiro.
(...)
Com 24 anos de idade, Mariana Batista de Carvalho estava viúva. Tinha uma filha de oito anos (Guilhermina), um menino de cinco (Irineu) e uma estância em formação para cuidar – num lugar onde as armas que calaram seu marido falavam cada vez mais alto.

1823
Quanto ao menino, bem que poderia ter ido morar com o avô, se não aparecesse na cidade um irmão de Mariana que tinha o mesmo nome de seu pai, José Batista de Carvalho (...) comandante do navio de um dos grandes comerciantes do Rio de Janeiro que comprava charque no Sul. Veio com a idéia de levar o menino para trabalhar no comércio, seguir uma vida como a sua.
(...)
Antes mesmo do (novo) casamento da mãe, o menino Irineu Evangelista de Souza deixou a pequena casa na beira do riacho. Subiu num cavalo e cavalgou coxilha acima. Passou na beira do curral de pedra onde havia festas nos dias de rodeio, dobrou à direita, acompanhando o divisor de águas, e continuou subindo até encontrar a estrada para a vila. Por um curto trecho, conseguiu ver ainda a pequena casa que se perdia na distância. Mas logo o cenário de sua infância desapareceu, no ponto em que a estrada desviava para a outra encosta do espigão, na direção do vilarejo. Mãe, pai, irmã e a fazenda passaram a ser apenas lembranças. Duas horas depois, a pequena tropa atravessava Arroio Grande e tomava a direção de Jaguarão".

Logo em seguida, à viagem da chata de Jaguarão até Rio Grande (onde Irineu viu o mar pela primeira vez), e deste, de navio, até o seu destino final.

"Desde a estância de Arroio Grande até o Rio de Janeiro gastava-se pouco mais que um mês na viagem. Nesse breve período, Irineu tinha de deixar de ser uma criança para se transformar num adulto capaz de sobreviver numa cidade que nunca tinha visto. (...) Como ajuda para a mudança levava no coração a verdade da terra da sua infância: homem de verdade é o que traça seus próprios limites na luta.
O dia da chegada de Irineu ao Rio de Janeiro foi todo novidades".

(Do Livro MAUÁ – Empresário do Império – de Jorge Caldeira – Ed. Companhia das Letras, 1995 – págs. 52-55).
Episódio que narra a saída, após a morte do pai, do menino Irineu Evangelista de Souza, aos nove anos de idade, de Arroio Grande para o Rio de Janeiro. O futuro Visconde de Mauá jamais retornaria à terra natal.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

DESOLAÇÃO

Fotos da Escola Municipal João Goulart, no Bairro Coca, que teve a sua quadra esportiva totalmente destruída pelos ventos de mais de 100 Km/h., ocorridos no começo da tarde de 7 de setembro. Fortes estragos também nos demais bairros e interior do município, principalmente nos assentamentos. Arroio Grande conta os seus prejuízos.




segunda-feira, 7 de setembro de 2009

INDEPENDÊNCIA OU... VIDA!

Dia 7 de Setembro, dia da dita Independência do Brasil e do surgimento de Grêmio Esportivo Brasil - o glorioso Xavante, de Pelotas - 98 anos; dia ainda do nascimento de arroiograndenses conhecidos, como o ex-atleta e jornalista Murilo Costa, o também ex-jogador, produtor rural e vereador Sérgio Corrêa, o "Papagaio", do ex-Prefeito Flávio Lisoba (fotos), da conhecedíssima Siá Maria (cadê a foto Siá Maria?) e de outros personagens importantes da nossa cidade. A todos, os parabéns da página.




sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O FUCA

O meu pai tinha por hábito juntar aquilo que o Camarão resolveu chamar de “a fina flor da bagaceira”, entre borrachos, boêmios, artistas, ou simplesmente arteiros, de todos os tipos.
Desses, uns simplesmente acompanharam o Pedro pela vida a fora, e outros se tornaram Secretários do Escritório, com direito a participar de audiências e tudo o mais, o que valia alguma coisa naquela época.
Pois desse grupo seleto de personagens, das mais diversas categorias, fizeram parte o próprio Camarão, os hoje também advogados Arnóbio e Sérgio Canhada, o Avirelis, o Biriri, o Basílio, o Fedoca, o Gordinho do Clarito, o Zé Paulo “Barbudinho”, entre tantos outros da mais pura cepa, dependendo do ângulo de avaliação, evidentemente.
A turma dos Secretários - excluindo o Zé Marfisa (o único que levava a coisa realmente a sério, no dizer do Pedro) -, sempre foi, na expressão da Dona Candinha, “do que não hay”, e dessa turma veio fazer parte o Lisca; isso mesmo, o Capitão Lisca foi, em determinada época, Secretário do Pedro Bittencourt.
Pois sendo o Lisca Secretário, uma ocasião, no início da década de setenta, coube-lhe acompanhar o Pedro num Júri, na cidade de Herval.
Enquanto o Júri se desenrolava, não se sabe bem porque, o Lisca, depois de ter tomado diversas, resolveu, em pleno meio da tarde, vir no Fusca da minha mãe até o Arroio Grande, o que, dado a sinuosidade da estrada, evidentemente não conseguiu, capotando no caminho.
A título do que o Lisca resolveu vir se questiona até hoje, mas o fato se deu não só com o conhecimento, mas por ordem do próprio Pedro Bittencourt; as razões da “viagem”, porém, ficaram envoltas em mistério.
Contam uns que o Lisca veio buscar cigarros, o Carlton que o Pedro fumava sem parar, e que estaria faltando lá no Herval. Dizem outros que o Lisca teria vindo buscar caixas de cervejas no Anastácio, já que o estoque da pequena Herval também estaria a perigo, mercê do tempo que a “turma do doutor” lá se encontrava - três dias e três noites, sem qualquer trégua aos bares da cidade.
Eu era guri, e sem querer ser maledicente com os que se deslocaram até o Herval, sempre ouvi falar que o Lisca viajou, a mando do Pedro, a fim de buscar umas Chinas no Cabaré da Rosa, para fazer uma espécie de claque (o Júri tratava de um crime passional), ou simplesmente por frege, vá lá a gente saber.
Pois o Lisca, sempre que questionado a respeito, inclusive por mim, não abre nunca o segredo que conserva já há quase quatro décadas, posicionando-se categoricamente: “Oh, Pedrinho, eu realmente capotei o Fuca da Senhora tua mãe numa vinda lá do Herval, mas atrás de Chinas não, que isso é uma falta de consideração com as esposas da época; nego-me solenemente a falar de Chinas!”. E mais não diz, encerrando o assunto assim, sem maiores prolongamentos.
Como se vê, a discrição e a fidelidade de um bom Secretário não têm preço, e, pelo visto, duram a vida inteira. Ou alguém acredita que o Lisca realmente não lembre o que veio fazer no Arroio Grande naquela ocasião? Hein???

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

UMA VIAGEM E UM SEGREDO

Este é o Casarão dos Chagas, uma das casas antigas do Arroio Grande que ainda conserva certas características originais.
Nela reside o Lisca, o Capitão, um dos personagens da cidade, protagonista de muitas histórias.
Pois amanhã, aqui na página, a história de uma viagem do Lisca; um acontecimento que - cerca de quatro décadas depois - permanece ainda envolto em mistério e completamente nebuloso em certos aspectos.
O segredo da viagem será, enfim, desvendado?
Não percam! É amanhã, aqui no blog e na pág. 03 do Jornal "A Evolução".

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

MARIA DE SETEMBRO

Neste 02 de setembro, a Maria Eduarda - a Duda, na foto com a pequena Tutty - está de aniversário. Onze anos, um pouco de infância ainda e toda uma vida pela frente.
Parabéns, filha! Daqui a pouco o pai vai estar aí para comemorar contigo esta data muito especial, pela filha amada e pessoa querida que és.
Um beijo enorme do pai Pedro.