1819
"O clã de Arroio Grande, apesar de tudo, ainda confiava no futuro. Mas antes que tudo se arrumasse, a desordem colheu seus frutos. Para manter o crescimento do negócio, João Evangelista precisava sempre conseguir mais gado. Em 1819, resolveu se arriscar numa excursão ao território uruguaio ocupado para comprar uma manada. (...) Ele tomou os devidos cuidados na viagem, conseguindo a companhia de alguns amigos. Na volta, porém, enquanto dormia num rancho na beira do caminho, foi morto com um tiro.
(...)
Com 24 anos de idade, Mariana Batista de Carvalho estava viúva. Tinha uma filha de oito anos (Guilhermina), um menino de cinco (Irineu) e uma estância em formação para cuidar – num lugar onde as armas que calaram seu marido falavam cada vez mais alto.
1823
Quanto ao menino, bem que poderia ter ido morar com o avô, se não aparecesse na cidade um irmão de Mariana que tinha o mesmo nome de seu pai, José Batista de Carvalho (...) comandante do navio de um dos grandes comerciantes do Rio de Janeiro que comprava charque no Sul. Veio com a idéia de levar o menino para trabalhar no comércio, seguir uma vida como a sua.
(...)
Antes mesmo do (novo) casamento da mãe, o menino Irineu Evangelista de Souza deixou a pequena casa na beira do riacho. Subiu num cavalo e cavalgou coxilha acima. Passou na beira do curral de pedra onde havia festas nos dias de rodeio, dobrou à direita, acompanhando o divisor de águas, e continuou subindo até encontrar a estrada para a vila. Por um curto trecho, conseguiu ver ainda a pequena casa que se perdia na distância. Mas logo o cenário de sua infância desapareceu, no ponto em que a estrada desviava para a outra encosta do espigão, na direção do vilarejo. Mãe, pai, irmã e a fazenda passaram a ser apenas lembranças. Duas horas depois, a pequena tropa atravessava Arroio Grande e tomava a direção de Jaguarão".
Logo em seguida, à viagem da chata de Jaguarão até Rio Grande (onde Irineu viu o mar pela primeira vez), e deste, de navio, até o seu destino final.
"Desde a estância de Arroio Grande até o Rio de Janeiro gastava-se pouco mais que um mês na viagem. Nesse breve período, Irineu tinha de deixar de ser uma criança para se transformar num adulto capaz de sobreviver numa cidade que nunca tinha visto. (...) Como ajuda para a mudança levava no coração a verdade da terra da sua infância: homem de verdade é o que traça seus próprios limites na luta.
O dia da chegada de Irineu ao Rio de Janeiro foi todo novidades".
(Do Livro MAUÁ – Empresário do Império – de Jorge Caldeira – Ed. Companhia das Letras, 1995 – págs. 52-55).
"O clã de Arroio Grande, apesar de tudo, ainda confiava no futuro. Mas antes que tudo se arrumasse, a desordem colheu seus frutos. Para manter o crescimento do negócio, João Evangelista precisava sempre conseguir mais gado. Em 1819, resolveu se arriscar numa excursão ao território uruguaio ocupado para comprar uma manada. (...) Ele tomou os devidos cuidados na viagem, conseguindo a companhia de alguns amigos. Na volta, porém, enquanto dormia num rancho na beira do caminho, foi morto com um tiro.
(...)
Com 24 anos de idade, Mariana Batista de Carvalho estava viúva. Tinha uma filha de oito anos (Guilhermina), um menino de cinco (Irineu) e uma estância em formação para cuidar – num lugar onde as armas que calaram seu marido falavam cada vez mais alto.
1823
Quanto ao menino, bem que poderia ter ido morar com o avô, se não aparecesse na cidade um irmão de Mariana que tinha o mesmo nome de seu pai, José Batista de Carvalho (...) comandante do navio de um dos grandes comerciantes do Rio de Janeiro que comprava charque no Sul. Veio com a idéia de levar o menino para trabalhar no comércio, seguir uma vida como a sua.
(...)
Antes mesmo do (novo) casamento da mãe, o menino Irineu Evangelista de Souza deixou a pequena casa na beira do riacho. Subiu num cavalo e cavalgou coxilha acima. Passou na beira do curral de pedra onde havia festas nos dias de rodeio, dobrou à direita, acompanhando o divisor de águas, e continuou subindo até encontrar a estrada para a vila. Por um curto trecho, conseguiu ver ainda a pequena casa que se perdia na distância. Mas logo o cenário de sua infância desapareceu, no ponto em que a estrada desviava para a outra encosta do espigão, na direção do vilarejo. Mãe, pai, irmã e a fazenda passaram a ser apenas lembranças. Duas horas depois, a pequena tropa atravessava Arroio Grande e tomava a direção de Jaguarão".
Logo em seguida, à viagem da chata de Jaguarão até Rio Grande (onde Irineu viu o mar pela primeira vez), e deste, de navio, até o seu destino final.
"Desde a estância de Arroio Grande até o Rio de Janeiro gastava-se pouco mais que um mês na viagem. Nesse breve período, Irineu tinha de deixar de ser uma criança para se transformar num adulto capaz de sobreviver numa cidade que nunca tinha visto. (...) Como ajuda para a mudança levava no coração a verdade da terra da sua infância: homem de verdade é o que traça seus próprios limites na luta.
O dia da chegada de Irineu ao Rio de Janeiro foi todo novidades".
(Do Livro MAUÁ – Empresário do Império – de Jorge Caldeira – Ed. Companhia das Letras, 1995 – págs. 52-55).
Episódio que narra a saída, após a morte do pai, do menino Irineu Evangelista de Souza, aos nove anos de idade, de Arroio Grande para o Rio de Janeiro. O futuro Visconde de Mauá jamais retornaria à terra natal.
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