quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PEDRO - O POETA

Para melhor compreensão leia na ordem - A série tem início na postagem logo abaixo
Embora as múltiplas atividades exercidas ao longo da sua existência – Pedro foi Radialista, Professor, Jornalista, Escrivão, Advogado... – a lembrança maior do Pedro Jaime ficou mesmo na sua poesia, nos versos que produziu no período em que esteve residindo em Jaguarão, Arroio Grande, Pelotas, Sentinela do Sul, mas, especialmente, nas largas temporadas que passava na Praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, o éden particular do poeta.
A seguir, uma poesia da fase “mais recente” (1990/2005) de Pedro Jaime, escrita certamente na Praia do Hermenegildo, lugar onde o poeta passou a maior parte dos últimos anos da sua vida, até morrer durante uma siesta, após um almoço de meio de tarde, regado a vinho Cabernet, por volta das 18 horas do dia 26 de maio de 2005.

A VELHA MESA DO CANTO

Até no menor dos bares,
Nos mais diversos lugares
Em qualquer parte do mundo,
Que irresistível encanto,
Que magia, que atração,
Que fascínio tão profundo
Exerce a simples presença
Da velha mesa do canto
Bem ao lado do balcão!...


Suas pernas bambas, cansadas,
Outrora fortes e tensas,
Agora já estão pesadas,
E mesmo assim sustentando
Em equilíbrio precário
Num milagre extraordinário
A superfície já gasta,
Mas ninguém sabe até quando...


Ela é a mesa preferida
De quem vai em pós da vida
Num barzinho suburbano...
Na toalha, pedaço velho de pano,
Que o uso já desbotou,
Há milhões de cicatrizes
Que a própria vida deixou...

Há assinaturas tristonhas,
Queimaduras de cigarros,
Caricaturas e imagens,
Os desenhos mais bizarros,
Tentativas de paisagens,
Caretas inteligíveis,
Algumas frases bisonhas,
Outras quase felizes;
Há referências ao sexo,
Palavras sem qualquer nexo
E a maioria ilegíveis...

Em cada noite que passa
Tilintam copos e taças,
Há gargalhadas e há pranto
Há fealdade e beleza,
Há mentiras e verdade,
Há sentimentos urgentes,
Esquecimentos, saudades,
Na velha mesa do canto...


São pessoas diferentes,
Que lá chegam diariamente
E sentam na mesma mesa
Na solidão desse canto
Bem ao lado do balcão.
Gente boa, gente ruim
Já sentou naquela mesa
Já gargalhou de alegria
Já chorou ouvindo um: não!


Ali tombaram palavras
De irremediável tristeza
Que ninguém ergueu do chão
Sonhos e fantasias
Ali viraram histórias
Com finais cheios de pranto...
O que a todos parecia
Felicidade, alegria,
Era mágoa e solidão...


Diferente das demais,
Ancorada no seu canto
Como um navio no cais,
Como um gesto de ternura,
Como um sonho que perdura
Lá no fundo da memória,
A velha mesa do canto
Ninguém esquece jamais!...

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