Estive com o italiano Cesare Battisti.
Ele veio até Pelotas para lançar o seu último livro –
“Ao pé do muro” – nas dependências da Câmara Municipal.
Depois fomos jantar, um pequeno grupo, na casa de um
amigo.
Battisti é escritor, possui mais de vinte livros
publicados, na sua maioria romances policiais, do gênero noir,
que escreveu principalmente na França, quando lá viveu por cerca de
uma década, entre os anos 1990 e 2000.
Mas sempre, invariavelmente, quando é apresentado ao
público, diz-se dele que “é Cesare Battisti, aquele...”.
As acusações de quatro assassinatos na Itália e a
condenação à prisão perpétua pelos crimes que nunca admitiu (fugado, foi julgado a revelia) vão acompanhar
Battisti para o resto da vida. É um homem marcado, naturalmente
rotulado.
Lá pelas tantas, depois de muito churrasco e
incontáveis cervejas, quando conversávamos só os dois, fiz a
pergunta que guardara a noite toda:
“O quanto te incomoda estar rodeado por pessoas que
estão interessadas apenas no personagem, no Battisti da Itália dos
anos 70, e não no escritor, no homem que tu és agora?”
Battisti não me olhou, deixou que o olhar se perdesse
no espaço que o vão da porta permitia e respondeu, pausada e
suspiradamente.
“É tudo o que me incomoda, é tudo o que me
importa, e eu vou viver o resto da minha vida lutando para me livrar
disso”.
Em seguida levantou-se e me alcançou um livro - “Minha
fuga sem fim” - que eu pedi que dedicasse ao Sérgio Canhada.
(Battisti se surpreendeu quando eu lhe disse que o Sérgio possuía
uma biblioteca com mais de 4 mil volumes, morando numa cidadezinha
com cerca de 20 mil habitantes, como é o caso de Arroio Grande).
Depois conversamos sobre outras coisas, e eu pude
conhecer mais do escritor Cesare Battisti, abandonando um
pouco o peso do ativista político, do personagem, aquele do qual o homem Battisti tenta se
livrar, numa luta também sem fim e praticamente com a certeza de que jamais
conseguirá.
4 comentários:
Quase ninguém se refere a ele como "escritor", com duas dezenas de livros publicados...
Pois é Vaz, todos sabemos como se referem a Battisti.
Mas são eventos como esse, como o que trouxe o italiano à Pelotas, que podem auxiliar a conhecer o escritor; do contrário...
Lamento não tê-lo conhecido! Mas gostaria de ler seus livros. Romances policiais noir são muito interessantes!
Os romances escritos por Battisti são mais conhecidos na Europa, porque publicados em francês - Le cargo sentimental, ou Dernières Cartouches, entre outros.
Para Pelotas, acho que ele trouxe "Ao Pé do Muro", "Bambu" e "Minha Fuga Sem Fim", este último o que conta a sua própria história, e, portanto, para a nossa curiosidade, o mais interessante.
É inegável que, além do escritor, Battisti encerra também o personagem, e conhecer e conversar com ambos se torna realmente muito interessante.
Bem vinda a página.
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