sábado, 25 de julho de 2009

CHARRUAS

Quem sabe de Índio por aqui é o Cláudio Pereira, prova disso é o interessante trabalho de pesquisa por ele realizado e que resultou no livro Minuano/Guenoas, recentemente publicado.
Minuanos ou Guenoas, ensina o Pereira, foram índios que habitaram, entre outros locais, também a região Leste do Uruguai e do Rio Grande do Sul (de Maldonado a Rio Grande), às margens, portanto, da Lagoa Mirim, num período impreciso de anos, mas que culminou com a extinção desses grupos lá pelos Séculos XVIII e XIX.
Eu nunca soube muito dessa questão da existência de Minuanos ou Guenoas por aqui, até porque sempre acreditei que esses índios fossem na verdade Charruas errantes que viviam espalhados pela região. E também porque ouvia falar que os habitantes primitivos próximos às Lagoas dos Patos e Mirim seriam os índios Arachanes (ou Arechanes = povo que vê o leste), desaparecidos antes dos Minuanos, lá pela metade do Século XVII. Isso só confirma a enorme confusão que a gente costuma fazer entre as diversas tribos dessa imensa nação Guarani, que se estendia toda ela, segundo se crê, do Amazonas aos confins do Peru.
Apesar disso, sempre tive uma espécie de idolatria pelos Charruas, que vem, acredito, das expressões que ouvia quando guri relativamente aos jogadores da Seleção do Uruguai e do próprio povo uruguaio, de quem se dizia terem “a alma charrua”, ou serem “guerreiros charruas”, como sempre foram identificados. E eu me perguntava por que eles podiam, e nós, também aqui do Sul, não podíamos ter a tal “alma charrua”?
Fui descobrir, então, que os Char uhas (“ribeirinhos”, “litorâneos”), além de serem os mais numerosos entre os índios que ocuparam a região do atual território do Uruguai, eram também os mais bravos e guerreiros, razão pela qual mesmo após a colonização jamais aceitaram se submeter aos espanhóis.
A história que mais me chamou a atenção, porém, foi a do extermínio dos Charruas, ocorrido em 1831, na tristemente famosa “Matanza del Quegay” (oeste do Uruguai), efetuada sob o comando do General Rivera, quando, após o massacre de aproximadamente 400 Charruas, foram tomados prisioneiros os índios Vaimaca, Senaqué, Tacuabé e uma mulher, Guyunusa, e enviados de navio, enjaulados, para a França, onde foram expostos em Paris como seres raros - “os últimos selvagens vivos da América”.
Eu já havia praticamente esquecido a imagem daqueles quatro índios (existe um retrato deles, do francês Prichard), expostos como “chusmas”, “ferozes”, “sinistros”, até reencontrar a sua história agora na obra Minuano/Guenoas, junto com outras tantas referências colhidas pelo Cláudio Pereira.
O trabalho do Pereira tem muitos méritos, e o valor inestimável de buscar resgatar uma história para a qual a gente sempre virou às costas, um pouco por desinteresse, quem sabe por ignorância e até por vergonha, afinal, em muitos casos fica difícil estabelecer quem foram os verdadeiros selvagens da América.
O recente massacre dos índios camponeses do Peru que o diga.

Gal. Rivera - 1° Presidente de La República Oriental do Uruguay - Comdte. de la "Matanza de los Charruas" - 1831

3 comentários:

Solismar Venzke Filho disse...

Agora tenho mais motivos para entrar no seu blog. Notícias de Arroio Grande a todo instante. Os vinhos dos paisanos estão baratos. Aqui em Campinas não custa mesmo que 25 reais a garrafa(Chileno e Argentino, Brasileiro - Vale do Vinhetos) e acima de 35 reais os portugueses, italianos e franceses de baixo a médio nível. Encontra-se também os californianos. Agora não tenho encontado os da africa do sul e das demais regiões. Penso que os alemães não estão mais ganhando dinheiro com os vinhos africanos. Era isso. Um abraço.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Valeu Solismar.
Na medida do possível a gente vai postando algumas notícias da cidade e da zona sul.
Verdade é que as coisas estão meio paradas por aqui, afinal é o pior inverno da região nos últimos anos e com o vírus da gripe H1N1 soltinho e aqui pertinho...
Mas o objetivo do mural é esse mesmo; repassar a vocês, conterrâneos distantes, as notícias da nossa terra.
Abraço.

Yoyugo disse...

Muito interesante o post. Só gostaria dizer que em Uruguay a gente fala: ter a "garra charrua" e não a "alma charrua". De fato, o sentido de "ter a garra charrua" é parte das tradições populares uruguaias.