quinta-feira, 30 de julho de 2009

NOTÍCIAS DAQUI (I)

Vejamos o que noticiavam os jornais "O Progressista", edição de 1° de agosto de 1909, e, na sequência, "A Tribuna", edição de 08 de agosto de 1959.

“O Progressista” – de 1° de agosto de 1909

Em editorial, o jornal dizia: “A exemplo de bons malandros, que os há em nosso meio e por todo esse mundo de N.S. Jesus Cristo, considerável número de cães vadios infestam a nossa cidade, dando-lhe o aspecto de adiantada estância. De todos os cantos das vias públicas surgem cães em profusão. Bola a eles, Sr. Fiscal”.
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“O pardo Maurício Fernandes roubara, na chácara do Cap. Leandro Máximo Ferreira, nada menos de 48 galinhas. Preso, na casa de Bartolo Antunes, foi o gatuno obrigado a desfilar pelas ruas da cidade com um ‘Colar’ de 4 penosas que haviam morrido na viagem. Nesta mesma data, quando o pardo foi retirado da cadeia para trabalhar na limpeza das ruas, aproveitando-se de um descuido do guarda, fugiu, deitando a correr em direção ao arroio. Quando passava pela casa do guarda Balbino Serpa, este saiu-lhe ao encalço e deu três tiros para cima, procurando assustá-lo. O homem, entretanto, ganhou o mato e a grande batida que se organizou para recapturá-lo resultou em vão”.
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“No pátio da residência do Sr. Custódio Ferreira jogavam-se seis rinhas de galos. Venceram os combates 3 galos do Sr. Custódio, 2 do Sr. Leonel Fagundes, registrando-se um empate”.
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“Terminava seu mandato como Juiz Distrital o cidadão Joaquim da Silva Carriconde. Para substituí-lo, o Partido Republicano indicara o Dr. Mário L. Corrêa”.
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“Noticiava-se o nascimento de Vasco Amaro, filho de Vasco Amaro da Silveira Filho, e de Macedônio, filho de Antônio Fagundes da Silva”.
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“Falecia nesta cidade o Sr. Marcelino Antônio Maciel, contando 60 anos de idade. Os médicos locais, Srs. Tancredo de Sá e José Antônio Maciel, pela manhã, tinham pedido a vinda dos Drs. Dermeval Pinto e Pedro Barros, da cidade de Jaguarão, para uma conferência médica”.

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Finalizando, “O Progressista” reclamava ‘energicamente’ contra a alta do preço da carne, que havia sido elevado para 400 réis o quilo. O mesmo valor se pagava por uma garrafa de leite em Arroio Grande, no ano de 1909.

(Na sequência, notícias do Jornal “A Tribuna” de Arroio Grande, edição de 8 de agosto de 1959).

quarta-feira, 29 de julho de 2009

CEM ANOS ANTES


As fotos aí de cima têm mais de Cem Anos. Foram tiradas aqui em Arroio Grande na virada do Século XX, por volta de 1904 pelo que se tem notícia, mas pode ter sido um pouco antes ou um pouco depois.*
Retratam a esquina da Rua Dr. Monteiro (ex Rua do Commercio) com a Rua Andrade Neves (atual Av. Visconde de Mauá), lugar depois conhecido como Casa São Paulo - dos "turcos" Armando e Mahmud, na verdade arábes - comércio existente até hoje na "esquina da sinaleira".
E alguém imagina como era o Arroio Grande há Cem Anos?
Pois eu tenho relatos dessa época, já que me cairam em mãos notícias do jornal "O Progressista" - edições de 1° de agosto, 8 de agosto e 22 de agosto, todas de 1909, há cem anos, portanto.
Vou publicar em seguida, assim como na sequência postarei também as notícias da cidade datadas de 50 anos; retiradas do Jornal "A Tribuna", de 8 de agosto de 1959.
As notícias vêm aí, é só aguardar, para breve.
* Existe um conjunto de 1/2 dúzia de fotografias de diversos pontos da cidade, todas tiradas aparentemente numa mesma data, que os estudiosos reputam como sendo no início da primeira década do Século XX.
Na medida do possível, todas as fotos estarão sendo postadas aqui na página.

domingo, 26 de julho de 2009

UM SUSTO INESQUECÍVEL! (1979 - O ano em que o Caldeirão explodiu...)

Daqui a menos de uma hora, o Brasil de Pelotas vai estar entrando em campo, no Estádio Bento Freitas, para enfrentar o Marília, de São Paulo, pela Série C do Campeonato Brasileiro.
Se vencer, o Xavante estará a apenas uma vitória da Série B de 2010. Pela importância do jogo, o Estádio deverá receber cerca de 10 mil torcedores, sem lotar completamente, já que a capacidade do lugar é, hoje, de aproximadamente 15 mil, talvez 17 mil pessoas.
Isso, hoje, porque nem sempre foi assim.
No dia 1° de abril de 1979, há 30 anos, portanto, o Brasil recebeu o Grêmio de Porto Alegre no Estádio Bento Freitas, completamente lotado, conforme mostra a foto aérea (acima).
Quase 25 mil pessoas foram ao "Caldeirão" (cujas arquibancadas, dizia-se, suportavam 22 mil espectadores). Resultado: superlotação e tumulto.
Num determinado momento, houve muita agitação na arquibancada central (causada por uma briga com armas, segundo disseram). Em consequência, correria, pisoteamento, a tela cedeu e muitos torcedores (cerca de mil, calcula-se) foram parar dentro do campo (fotos abaixo).
Eu estava lá, ao lado do Kiko da Candinha, próximos a “curva do mijo”, onde chegou a correria e o “mar de gente” se espremeu. Fomos parar também no centro do campo, de onde só saímos mais de meia hora depois, quando as coisas se acalmaram, para que o jogo pudesse recomeçar.
Um susto inesquecível que, tomara, não se repita nem hoje e nem nunca mais.





sábado, 25 de julho de 2009

A PROVA

Esta foto foi tirada na sexta-feira (24/07), por volta das 22h:30min., em Herval, junto ao termomêtro da Praça Central. A temperatura marcava exatamente Zero Grau. É a prova do mais rigoroso inverno por aqui na última década. (Posteriormente, na madrugada, o frio chegou a - 3° - três graus negativos -, segundo informações do pessoal de Herval).
O crédito da fotografia é do Pedrinho (Pedro Bittencourt Neto), mas a camêra foi cedida por ninguém menos que o extraordinário, o inigualável, o inimitável, o intrépido jornalista Jorge Américo Borges - que é único e singular, definitivamente.
Grande abraço JA.

CHARRUAS

Quem sabe de Índio por aqui é o Cláudio Pereira, prova disso é o interessante trabalho de pesquisa por ele realizado e que resultou no livro Minuano/Guenoas, recentemente publicado.
Minuanos ou Guenoas, ensina o Pereira, foram índios que habitaram, entre outros locais, também a região Leste do Uruguai e do Rio Grande do Sul (de Maldonado a Rio Grande), às margens, portanto, da Lagoa Mirim, num período impreciso de anos, mas que culminou com a extinção desses grupos lá pelos Séculos XVIII e XIX.
Eu nunca soube muito dessa questão da existência de Minuanos ou Guenoas por aqui, até porque sempre acreditei que esses índios fossem na verdade Charruas errantes que viviam espalhados pela região. E também porque ouvia falar que os habitantes primitivos próximos às Lagoas dos Patos e Mirim seriam os índios Arachanes (ou Arechanes = povo que vê o leste), desaparecidos antes dos Minuanos, lá pela metade do Século XVII. Isso só confirma a enorme confusão que a gente costuma fazer entre as diversas tribos dessa imensa nação Guarani, que se estendia toda ela, segundo se crê, do Amazonas aos confins do Peru.
Apesar disso, sempre tive uma espécie de idolatria pelos Charruas, que vem, acredito, das expressões que ouvia quando guri relativamente aos jogadores da Seleção do Uruguai e do próprio povo uruguaio, de quem se dizia terem “a alma charrua”, ou serem “guerreiros charruas”, como sempre foram identificados. E eu me perguntava por que eles podiam, e nós, também aqui do Sul, não podíamos ter a tal “alma charrua”?
Fui descobrir, então, que os Char uhas (“ribeirinhos”, “litorâneos”), além de serem os mais numerosos entre os índios que ocuparam a região do atual território do Uruguai, eram também os mais bravos e guerreiros, razão pela qual mesmo após a colonização jamais aceitaram se submeter aos espanhóis.
A história que mais me chamou a atenção, porém, foi a do extermínio dos Charruas, ocorrido em 1831, na tristemente famosa “Matanza del Quegay” (oeste do Uruguai), efetuada sob o comando do General Rivera, quando, após o massacre de aproximadamente 400 Charruas, foram tomados prisioneiros os índios Vaimaca, Senaqué, Tacuabé e uma mulher, Guyunusa, e enviados de navio, enjaulados, para a França, onde foram expostos em Paris como seres raros - “os últimos selvagens vivos da América”.
Eu já havia praticamente esquecido a imagem daqueles quatro índios (existe um retrato deles, do francês Prichard), expostos como “chusmas”, “ferozes”, “sinistros”, até reencontrar a sua história agora na obra Minuano/Guenoas, junto com outras tantas referências colhidas pelo Cláudio Pereira.
O trabalho do Pereira tem muitos méritos, e o valor inestimável de buscar resgatar uma história para a qual a gente sempre virou às costas, um pouco por desinteresse, quem sabe por ignorância e até por vergonha, afinal, em muitos casos fica difícil estabelecer quem foram os verdadeiros selvagens da América.
O recente massacre dos índios camponeses do Peru que o diga.

Gal. Rivera - 1° Presidente de La República Oriental do Uruguay - Comdte. de la "Matanza de los Charruas" - 1831

quarta-feira, 22 de julho de 2009

MINUANOS/GUENOAS

Este é o livro Minuano/Guenoas, do agrônomo Claudio Corrêa Pereira, publicado na virada do ano em Arroio Grande. Na obra, Pereira apresenta um estudo dos cerritos e dos sítios arqueológicos na bacia da Lagoa Mirim, buscando juntar elementos justificadores do povoamento da nossa região pelos primitivos habitantes do Rio Grande do Sul.
Trata-se de minucioso estudo sobre os sinais da presença dos índios Minuanos/Guenoas no local onde é hoje o extremo sul do Rio Grande e nordeste do Uruguai.
Trechos:
"Guenoas y minuanes, según la opinion de Lothrop, no formaban parcialidades distintas sino que deben sus nombres a las interpretaciones fonéticas o gráficas de los españoles.
(...) los españoles de Santa Fe y Buenos Ayres les solían llamar, corrompido el vocablo, Minuanes.
Canals Frau... se pronuncia por el vocablo Guinuanes, el cual... parece haber sido el primitivo y verdadero nombre de esta parcialidad".
Origens do Povo Minuano (Guinuanes, Minuanes e Guenoas)
"Entre o vale do Rio Negro e as proximidades do litoral marinho, encontravam-se os Minuanos. Seriam eles os responsáveis pelos cerritos encontrados às centenas, em locais próximos à Laguna dos Patos e às demais Lagoas litorâneas? Hoje, esta parece ser a interpretação mais correta. Bem mais para o oriente encontravam-se os Charruas, junto aos vales do rio Uruguai" (Arno Alvarez Kern, 1994 - cit, por Claudio Pereira às fls. 105).
Na crônica de sexta-feira vou falar um pouco mais do livro do Pereira e também dos meus "ídolos" de infância, os fascinantes Charruas orientais.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

PELES VERMELHAS

No Cine Marabá (foto), que funcionou em Arroio Grande durante cerca de 25 anos – do início da década de 50 até 1977 -, vivemos o sonho do cinema, principalmente de aventura, com destaque para os filmes de Faroeste que fizerem famosos entre nós personagens que retratavam os índios norte-americanos como Touro Sentado, Cochise, e Cavalo Louco, este último o “selvagem” que derrotou o famoso General Custer, na célebre Batalha de Little Bighorn, ocorrida em Montana, em 1876.
Quando cresci, e resolvi conhecer um pouco a história da nossa região, sempre quis saber a respeito da presença de índios por aqui, não exatamente o modelo dos guerreiros americanos, mas sobre a existência deles, simplesmente, e praticamente não encontrei nenhuma resposta. Pouquíssimas histórias orais, raríssimas descobertas arqueológicas e nenhuma literatura a respeito.
Pois agora surgiu alguma coisa, um estudo sobre a provável presença de índios por aqui no Século XVII e início do Século XVIII, bem antes, portanto, da ocupação do atual município de Arroio Grande, ocorrida apenas a partir de 1792.*
Vou falar desse trabalho no decorrer da semana, quem se interessar...
(*) Utilizo essa data, 1792, porque ela corresponde à chegada de José Batista de Carvalho – avô materno do nosso Mauá – por aqui, sendo ele um dos primeiros povoadores do local.
Oficialmente, a cidade reconhece a data de 1803, atríbuida à chegada de Manuel Jerônimo de Souza - o outro avô de Mauá - sendo que mesmo este, porém, chegou antes ao Arroio Grande, em 1798.

- Cavalo Louco e General Custer - Protagonistas da Batalha de Little Bighorn - Montana, EUA - 1876.

domingo, 19 de julho de 2009

PARA QUEBRAR TABU


- Programa do 1° Gre-Nal, disputado em 18 de julho de 1909, há cem anos. -
Uma gripe daquelas, de comprometer quase tudo - olhos, ouvidos, nariz, garganta... -, mas que não é a do Influenza 'A', parece, me privou de jantar fora na sexta-feira, de ir ao show da Marcela, no sábado (quem foi que mande notícias...), de beber um bom vinho, de conversar, de caminhar, de andar "lá fora", que é, afinal, onde está a vida.
Resultado, casa: jornais, livros, os filmes no DVD e o Gre-Nal pela tevê.
Este, para nós, azuis, foi para quebrar tabu, já que não ganhávamos dos colorados há dois anos.
E logo num Gre-Nal histórico, Centenário, embora a história continue já no minuto seguinte, o que, principalmente no futebol, acaba transformando tudo rapidamente.


sábado, 18 de julho de 2009

ESCONDERAM A DEZ

O Luís Carlos Brum, o Luís da CEEE, sempre foi um cara posicionado, sempre. No trabalho, na profissão que abraça desde longa data; no Promorar, onde participa da Comunidade e do Carnaval, auxiliando a Escola; na política, debatendo diversos temas, em qualquer lugar. Lá no Plenarinho do Chichano, por exemplo, onde se discute desde a reforma agrária até a reserva legal, do Barack Obama ao Hugo Chavéz, com todo mundo dando o seu pitaco, pois o Luís vai lá e debate, de igual para igual, sempre se posicionando.
Já no futebol, o Luís, se não é nenhum conservador, gosta das coisas nos seus devidos lugares. Por exemplo: zagueiro é zagueiro, atacante é atacante, e a camisa dez só pode ser vestida pelo craque do time, ou, no mínimo, por um grande jogador. E isso tem lá a sua lógica, afinal foi à camisa imortalizada pelos gênios de Pelé, de Maradona, de Zico...
Pois bem, numa ocasião, lá pelos anos 80, o Luís estava ajudando como roupeiro o seu time de coração, o Internacional local, que andava numa fasezinha braba, feia mesmo, de dar dó.
Domingo de jogo, o Luís foi cedo para o Estádio Sílvio Ferreira, preparou o fardamento e aguardou o grupo Caturrita se juntar no vestiário. Plantel reunido, definida a escalação, o técnico começou a pedir as camisetas para distribuir entre os jogadores.
- Camisa 2, fulano; 3, sicrano; 4, beltrano – dizia o técnico Osvaldo Britto -, e o Luís entregando as camisetas aos atletas nomeados, até chegar no número dez. – Camisa 10, Luís! – disse o Osvaldo, aguardando que o roupeiro repassasse o manto sagrado do time ao jogador eleito para envergar a dez Caturrita.
- “Não, não sei! Su-su-sumiu!!!” – disse o Luís, gaguejando, enquanto atirava a 17 para o jogador escolhido pelo técnico para vestir a 10, para espanto de todos que estavam no vestiário.
É que o Luís - e isso ele só confessaria mais de uma década depois -, enquanto ouvia a preleção, lembrou do Naiter, de quem ouvira falar, lembrou do Gita, do Adel, do Cacaio, com que ele convivia na CEEE, mas que não estava naquele jogo; lembrou de todos os craques que glorificaram a Dez do Inter, olhou um por um aquele monte de cabeças de bagre, e, sem que ninguém percebesse, puxou a Camisa 10 do bolo do fardamento e sentou sobre ela, ficando sem se mexer até o time todo ir para o campo.
Jogo disputado, muita transpiração, mas nenhuma inspiração, raríssimos ataques, o Caturrita não consegue sair do zero a zero. Partida encerrada, os jogadores saem direto para o vestiário, debaixo de sonora vaia.
Enquanto deixava o campo, o Luís, acariciando a camisa que ainda trazia escondida sob a roupa, sussurrava baixinho, sem que ninguém ouvisse: - Pelo menos a 10 eu consegui livrar desse fiasco; ah, enquanto der eu vou livrar ela, vou mesmo! – resmungava, rumando também para o vestiário.
É realmente um cara posicionado esse Luís, não dá para negar; é bem posicionado, ponderado mesmo, é sim.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SUMIU!

Estes são os portões do Estádio Sílvio Ferreira, o campo do glorioso Grêmio Esportivo Internacional, o Caturrita, que fez história no Futebol Amador da Zona Sul e do próprio Estado.
Numa ocasião, nos anos 80, o Inter se fardou todinho e foi para o campo enfrentar o adversário.
Os jogadores vestiram quase todas as camisetas - do número 1 ao número 11 -, como era de se esperar.
Quer dizer, quase todas, porque a de número 10, o manto sagrado do time, não entrou em campo; sumiu, dentro do vestiário.
As razões do sumiço? Pois o leitor vai saber lendo a crônica de fim de semana - Esconderam a Dez - aqui no blog e na página três do Jornal "A Evolução".


quarta-feira, 15 de julho de 2009

DOM

Não sei se faz parte do show da Marcela, não sei se chegou a virar música, mas entre as centenas de poemas da mais alta qualidade da Marília, me encanto sempre com o “Dom da Dor”, que quero dividir com os leitores do auto-retrato (me recuso, ainda, a utilizar a nova grafia: autorretrato), sem precisar pedir licença à autora (caiu na rede, é bom, é de todos, né Marília?).
Quem quiser conhecer mais da poesia da autora Mar-ilha-Flor basta visitar o blog salamancas supersônicas - http://insonycas.blogspot.com/ - tem link aqui na página.
Dom da dor
Não tenho nada
Marido,
bem ou plata
E também não tenho fome
Só tenho um vício
codinome arte
Que não me oferta
lá grande sorte
Mas
pelo menos
dele não me poupam
É só meu
Foi a dor quem me deu

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MAR CELA + MAR ILHA = MARAVILHA

No sábado - 18/07 - tem show da Marcela, como diz o cartaz aí de cima.
As letras das músicas, pelo que sei, são da Marília, no aprofundamento da parceria de Mandala ("Te conheço, Mescalina"), do aplaudido Vitrola Acústico, que foi aos palcos e às rádios e aos bares e às ruas no ano passado.
Marcela + Marília,
sei dessa busca,
passeando solene por praias profundas;
só têm um vício, codinome arte,
é só delas (a gente aplaude), e...
que bagunça!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

EM EXTINÇÃO

Foram inúmeras as manifestações que recebi dos leitores por ocasião da crônica “Mocotó de Carroça”, publicada neste espaço. Na sua maioria, adotando o espírito do texto e declarando: “podes incluir o meu nome no roteiro da tele entrega; mocotó de carroça é ótimo!”. Todos, é bem verdade, gente da minha geração, ou com mais de quarenta anos, no mínimo.
É claro que isso tem uma razão, pois a geração do hot-dog, do xis; a turma do fast-food, do buffet a kilo; o pessoal da granola, do grão de bico, jamais vai entender o valor de um bom mocotó, ou o que esse prato representa para nós, herdeiros de uma culinária que veio ainda do século retrasado.
Somos do tempo em que comer bem não era cortar gordura, condimentos ou colesterol; somos de uma época de pratos simples, mas fortes, temperados, carregados de “sustância” e que hoje são raros e beiram ao exótico.
Além do mocotó, somos do tempo também da murcilha, do sarrabulho, do queijo de porco e do pão com torresmo, iguarias quase impossíveis de encontrar hoje em dia, mas que possuíam os seus criadores, os seus especialistas aqui mesmo no Arroio Grande.
O sarrabulho, por exemplo, um típico prato português preparado à base de miúdos, fazia sucesso nas mãos da Maria do Mário, e resta imortalizado na minha lembrança recheando o peru de Natal, ou ao lado de uma galinha ao molho pardo, numa estranha combinação que o meu pai encomendava e que só a Maria do Mário sabia fazer.
Já a murcilha, ao lado da melhor linguiça do Arroio Grande, era feita pelo Negro Gregório, o Seu Gregório, que trazia o produto de carroça lá do Passo do Simão, e tinha entre as suas criações o inigualável queijo de porco que desmanchava na boca de tão macio. Pois o Seu Gregório - de quem eram clientes até desembargadores, que vinham da capital comprar a linguiça que haviam conhecido por aqui -, levou com ele a receita quando morreu, e nunca mais se viu nada igual na cidade, não obstante a qualidade dos demais “linguiçeiros” da região.
O pão com torresmo é, talvez, o único sobrevivente dessa época, e ainda pode ser encontrado em algumas padarias da cidade, embora elaborado de um modo menos artesanal que antigamente – como no tempo da Padaria Santos, do Fioravante, ou da Padaria São Luiz, aquela da “sacadinha”, lá na curva da Cooperativa -, quando o torresmo saltava do pão tamanha era a sua quantidade. E tudo acompanhado por manteiga feita em casa, ou pelas butifarras compradas no Uruguai, numa época em que as fronteiras não representavam qualquer perigo à saúde dos cidadãos.
Queijo de porco, murcilha e sarrabulho; pão com torresmo, manteiga caseira e patê gordo, não recordo de ninguém que tenha morrido, entrado em coma ou adoecido gravemente por consumir tais iguarias, todas hoje abandonadas, raras, inacessíveis. Todas em extinção, como um tempo que, certamente, não nos será jamais devolvido.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

"GASTRONOMIA"

Alguém lembra do sarrabulho e da galinha ao molho pardo feitos pela Maria do Mário, a Mãe do Jamanta? E do queijo de porco, da murcilha trazidas pelo Negro Gregório, que fazia a melhor linguiça da região? E do pão com torresmo, dos tempos da antiga Padaria Extra (acima), ou da Padaria do Fioravante - que marcou época como o maior especialista em pãos da cidade -, ou da Padaria São Luiz (abaixo), que ficava lá perto da Cooperativa?
Pois essa antiga "gastronomia", que não se vê mais por aqui (e em lugar nenhum!), estará na próxima crônica do blog -"Em Extinção" -, no próximo fim de semana aqui na página.
É de dar saudade, e água na boca também.




terça-feira, 7 de julho de 2009

AS RUAS DA MINHA CIDADE (IX)

Avenida Nossa Senhora das Graças - sentido Ponte Carlos Barbora (clique na imagem para ampliar)
A Avenida Nossa Senhora das Graças revela um dos locais mais bonitos do Arroio Grande, e, não obstante, é uma via estranha, com ares de zona rural, mas situada muito próximo ao centro da cidade, ficando a apenas três quadras da Rua principal, a Dr. Monteiro.
O nome já surgiu causando certa confusão, pois Nossa Senhora das Graças é uma invocação diferente de Nossa Senhora da Graça, padroeira do Arroio Grande*, e para quem a cidade pretendeu render sempre todas as homenagens.
Só que a antiga Avenida Brasil, que chegou a ser chamada de Avenida Presidente Vargas por escassos 2 meses (de 31 de agosto até 5 de novembro de 1956), acabou, por força do Decreto Legislativo n° 30 (de 05/11/1956), recebendo mesmo o nome de Nossa Senhora das Graças, denominação que perdura até hoje.
E é uma Avenida belíssima, toda ela arborizada, com ótima largura para abrigar os seus canteiros cantrais, apesar de pequena em extensão. Neste sentido, separa o lado Norte da periferia da cidade – em direção à Vila Silvina, ao “Prado”, à “estrada velha” que fazia o antigo acesso para quem se dirigia à Vila Matarazzo, a Pedro Osório e Pelotas – do lado Sul – através da Ponte Carlos Barbosa, que corta o arroio Grande, em direção à antiga estrada que ligava à Jaguarão, atual caminho para o Bairro Promorar, para o Passo do Simão e o Capão das Pombas.
O deslocamento do trânsito de veículos para o lado leste do município depois da inauguração da BR 116, no início dos anos 1970, possibilitou a conservação da Av. N. S. das Graças nas suas melhores condições, mantendo-se aquele trecho ainda hoje como um lugar extremamente saudável, propício ao ciclismo, a passeios e a caminhadas, praticamente um Parque aberto, em pleno coração do Arroio Grande.
* Para tentar esclarecer minimamente a confusão, com os parcos conhecimentos de Religião do autor, Nossa Senhora das Graças (nome dado à Avenida do Arroio Grande) é uma invocação pela qual é conhecida a Virgem Maria - a Nossa Senhora, mãe de Jesus de Nazaré, segundo as escrituras -, surgida somente a partir das graças atribuídas à Virgem por visões de Santa Catarina Labouré, em Paris, França, em 1839; já Nossa Senhora da Graça (nome da padroeira da cidade) seria uma denominação mais antiga, bem anterior a essa invocação da Virgem Maria, o que remonta aos primórdios da criação da Vila do Arroio Grande.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

DIVÃ

Não sei se compreendi bem o recado do filme Divã, baseado no romance homônimo da Martha Medeiros. É uma história simples, cheia de lugares comuns, quase uma decepção como filme. O seu maior mérito está, talvez, em “surpreender” com o óbvio, já que as metáforas (se é que elas existem) não funcionam bem na história.
E o óbvio se revela avassalador quando a personagem Mercedes – uma quarentona simplória, vivida por Lília Cabral, que tal qual adolescente acha que a felicidade pode aparecer em qualquer esquina... - se despede do divã, quer dizer do analista, descobrindo que “vida é falta de definição; não tem a porta certa, não tem o mapa da mina, o mapa muda toda hora...”.
Simples, né! Pois o mundo é isso mesmo e nós somos postos à prova uma, duas, mil vezes. Várias portas se abrem e a gente escolhe: entrar em uma, ou em várias delas. Um trabalho só ou diversos? Bater cartão ponto na mesma repartição por 30 anos, ou correr mundo, correr perigo? Um amor, ou múltiplos amores? Um casamento ou dois, ou quatro ou cinco? Dizer “sim”, ou dizer “não”; viver exposto, ou fechar-se; dar ou não dar?
Todas essas portas se abrem diariamente para nós, aos 20, aos 40 anos, pela vida toda. E onde está a porta da felicidade, afinal? Estará na primeira que a gente abre, na segunda, ou naquelas que a gente desviou e não tentou abrir? A resposta parece óbvia, já que a felicidade só pode estar mesmo é na decisão que a gente tomou, seja ela qual for, embora isso não elimine o direito de querer mais, ainda que a gente não saiba direito o que é esse “mais”, que todo mundo busca, mas que ninguém conhece.
Ninguém pode ser feliz se não compreender bem a própria vida, se perder o interesse pelas escolhas que fez e viver remoendo as escolhas que deixou de fazer. Pouco importa, na verdade, se tivemos um ou mais trabalhos, um ou mais amores, um ou mais casamentos; pouco importa se vivemos sempre no mesmo lugar ou se corremos o mundo. Existem ricos frustrados e pobres realizados, existem cultos depressivos e iletrados bem resolvidos; existe gente feliz e gente infeliz tanto em Arroio Grande como em Paris.
Quanto ao romance da Martha, não sei por que não li, mas Divã, o filme, se não convence quando tenta mostrar que “o importante não é ser feliz; o importante é ter uma vida interessante” (Mercedes é caricata demais para passar essa mensagem), tem ao menos um mérito: faz com que a gente perceba, com certa facilidade até, que se a gente nunca vai saber de antemão qual é a porta que vai nos levar à felicidade, às portas contrárias – da angústia, da tristeza, da depressão; as portas da infelicidade -, estão permanentemente ao nosso alcance.
Dependendo de como a gente entender isso, aliás – isto é, de que nós não somos o resultado das nossas escolhas, mas o resultado do interesse por essas escolhas -, vai depender também o nosso comportamento diante do filme. Ou a gente acaba abatido, pensando que perdeu as portas certas, ou termina com uma leve sensação de felicidade, pela descoberta das escolhas que fez.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

"NAVEGAR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO"

Não sei se compreendi direito o filme "Divã", baseado no livro da Martha Medeiros.
Fiquei na dúvida se o filme apresenta um dilema entre "ser feliz" (mesmo na monotonia), ou viver uma vida mais interessante, mais "perigosa" (mesmo correndo o risco de ser infeliz, o que, afinal, todos correm), na aventura; ou, ainda, se a mensagem do filme é a de que a felicidade está na compreensão das escolhas da gente, sejam elas quais forem.
Não sei, fiquei na dúvida mesmo quanto ao recado do filme.
Por isso, vou dar um pitaco sobre o tema na próxima sexta-feira; aqui na página, e, quem sabe, também às fls. 3 do jornal "A Evolução".
(*) A frase do título vem, parece, dos antigos navegadores de Florença; já Fernando Pessoa dizia (parece também) que "viver não é necessário, o necessário é criar"´, assim como alguém (?) já disse que "o que importa não é ser feliz, mas viver uma vida interessante". Será???