Daqui a pouco mais do que trezentos e sessenta e cinco dias eu deverei, enfim, completar cinqüenta anos. Ainda falta muito, mais do que um ano, mais até do que apenas um Natal, e isso é bastante, me parece.
Entretanto, alguns começaram a me tratar como se eu já estivesse assim, como se precisasse desde agora me comportar assim, se é que me entendem.
Os meus filhos já me chamam de “velho”, a minha mulher quer que eu faça exames clínicos regularmente, e os médicos - quando me encontro com eles em meio às festas de fim de ano, logo aí, imaginem! - costumam recomendar que eu cuide melhor da minha saúde. Os amigos já não aparecem sequer para um jogo de bola e as minhas tias – todas – presenteiam-me desde o Natal passado com meias, lenços e gravatas.
O contador me visitou antes de ontem e já fala em movimentar os papéis para uma futura aposentadoria. Minha carteira de motorista vai perder novamente a validade e o meu cartão de crédito necessita outra vez ser renovado.
Enquanto isso, devo admitir, eu perdi o gosto pela política, perdi a paixão pelo futebol, perdi a necessidade da notícia; há muito tempo que somente consigo ler e escrever, e cada vez escuto menos do que me dizem.
Na verdade eu sempre fui assim, de viver sem escutar uma só palavra do que me falam. E, agora, cada vez mais entendo menos o que querem me propor. E prossigo sem planos – de metas ou de saúde -, além daqueles de beber cerveja e vinho, além de escutar música ao entardecer, além de ler novamente Borges, além de caminhar solitário pelas ruas do Arroio Grande.
Por que ainda que as minhas tias – todas – insistam em me presentear com meias, lenços e gravatas, ainda que os meus amigos – todos – estejam desaparecendo a cada Natal; ainda que a mulher, os filhos, todos em volta se preocupem com o meu dna já quase cinquentenário, eu necessito ainda de tempo para conviver mais com pessoas de verdade - os anti-heróis, os anti-sociais, os anti-cidadãos... -, e conhecer, além do Natal, um pouco mais das gentes, para poder, enfim, refazer os sonhos e ser merecedor da vida, e cultivar a esperança num outro mundo, que todos dizem ser possível e que eu acredito ser certo, pois impossível não há.
E isso tudo tem que começar uma manhã, ainda que os dias de hoje remetam a esperança para mais tarde, para depois, quem sabe depois do próximo Natal...
Entretanto, alguns começaram a me tratar como se eu já estivesse assim, como se precisasse desde agora me comportar assim, se é que me entendem.
Os meus filhos já me chamam de “velho”, a minha mulher quer que eu faça exames clínicos regularmente, e os médicos - quando me encontro com eles em meio às festas de fim de ano, logo aí, imaginem! - costumam recomendar que eu cuide melhor da minha saúde. Os amigos já não aparecem sequer para um jogo de bola e as minhas tias – todas – presenteiam-me desde o Natal passado com meias, lenços e gravatas.
O contador me visitou antes de ontem e já fala em movimentar os papéis para uma futura aposentadoria. Minha carteira de motorista vai perder novamente a validade e o meu cartão de crédito necessita outra vez ser renovado.
Enquanto isso, devo admitir, eu perdi o gosto pela política, perdi a paixão pelo futebol, perdi a necessidade da notícia; há muito tempo que somente consigo ler e escrever, e cada vez escuto menos do que me dizem.
Na verdade eu sempre fui assim, de viver sem escutar uma só palavra do que me falam. E, agora, cada vez mais entendo menos o que querem me propor. E prossigo sem planos – de metas ou de saúde -, além daqueles de beber cerveja e vinho, além de escutar música ao entardecer, além de ler novamente Borges, além de caminhar solitário pelas ruas do Arroio Grande.
Por que ainda que as minhas tias – todas – insistam em me presentear com meias, lenços e gravatas, ainda que os meus amigos – todos – estejam desaparecendo a cada Natal; ainda que a mulher, os filhos, todos em volta se preocupem com o meu dna já quase cinquentenário, eu necessito ainda de tempo para conviver mais com pessoas de verdade - os anti-heróis, os anti-sociais, os anti-cidadãos... -, e conhecer, além do Natal, um pouco mais das gentes, para poder, enfim, refazer os sonhos e ser merecedor da vida, e cultivar a esperança num outro mundo, que todos dizem ser possível e que eu acredito ser certo, pois impossível não há.
E isso tudo tem que começar uma manhã, ainda que os dias de hoje remetam a esperança para mais tarde, para depois, quem sabe depois do próximo Natal...
2 comentários:
É um verdadeiro Autorretrato. Mas não adianta Pedro, não se fazem mais velhos como antigamente. Podes fazer cinquenta, sessenta, e não serás nunca um velho de cinquenta ou sessenta como os de antes... coisas desse tempo louco de agora onde todo mundo parou de fazer idade aos trinta anos.
Se compreendi direito, Vaz, queres dizer que "os tempos modernos" nivelam ou equiparam as pessoas (ou a aparência destas...); entretanto, no meu caso posso te afirmar que os meus (recentes) 49 anos são exatos 49 anos, de corpo e de mente, sem tirar nem por, e assim devem se apresentar por um bom tempo, ao menos enquanto os cinquenta não chegam...
Abraço.
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