Segunda-feira eu comi o melhor quindim da minha vida. Foi ali, na Panificadora do Sul, a Padaria que fica perto do meu escritório, onde era o Bar do Duca, em frente ao antigo Hotel do Branco, na Rua Máximo Pereira. Eu gosto de fazer referências a lugares antigos, é uma forma de preservar a memória da cidade e todo mundo acaba entendendo do que eu estou falando. Gosto também de provar quindins, costumo fazê-lo com certa freqüência até, mas o de segunda-feira estava demais, bem amarelinho, cremoso, com um certo “caldo” por cima e com aquela raspa por baixo, como as antigas queijadinhas da Dona Ana, que o Dé - o Dedé “Sempre Social” - vendia pelas ruas do Arroio Grande nos meus tempos de guri. E segunda-feira eu estava como um guri: tranqüilo, com tamanho desprendimento que pude me proporcionar comer o melhor quindim da minha vida. Então, me propus uma espécie de indagação: Quem é que eu poderia convidar pra saborear um quindim assim? Quem, hein, nos dias de hoje, é capaz de se liberar das mazelas, dos problemas do cotidiano e parar o mundo pra apreciar um quindim, às vésperas de 2010? Pensei então no Donga, meu amigo de juventude, meu parceiro de “arteirices”, mas desisti. Não, o Donga não. ‘Tá cheio de problemas lá como Secretário de Cultura: a estrutura da nova Secretaria, a elaboração dos projetos, a incerteza das verbas, o pessoal da Educação que não desocupa o prédio... Xi! O Donga não, ‘tá de cabelos brancos, o meu amigo, não vai ter condições de saborear um quindim assim, acho que por um bom tempo. Então pensei no Jorginho, o Prefeito, pensei em convidá-lo pra comer quindim. Mas se o Donga que é Secretário ta cheio de pepinos, imagina então o Jorginho que tem que gerenciar o município, tem que se preocupar com orçamentos, com a folha de pagamento, com o desenvolvimento da cidade, com a saúde, com a educação, com o tribunal de contas, com a oposição... Bah! O Jorginho mesmo é que não tem condições de saborear um quindim; o Jorginho não tem só pepinos ou abacaxis, têm é uma salada inteira pra descascar todos os dias. Pensei então num outro Jorge, o Américo, mas o JA também vive atordoado, esbaforido, atucanado, enlouquecido, em transe. O Jorge, multimídia que é - jornalista, repórter, entrevistador, narrador, comentarista, fotógrafo, tudo... – vive permanentemente numa outra dimensão e nem tem paladar pra saborear um prosaico dum quindim desta galáxia. Não, o Jorge é capaz até de misturar os sabores e pensar que está comendo, sei lá... um mousse de maracujá! Duvidam? Pois improvável não é. Então eu segui pensando nas pessoas pra quem poderia recomendar o quindim: pensei na Marcela, mas as cantoras costumam preservar as cordas vocais, e até tem receitas próprias pra isso; pensei na Marília, mas os poetas se alimentam da arte, não se apegam a essas coisas da gastronomia, e continuei pensando, pensando... Foi quando me apareceu o Caboclo, o Bruxo Edu Damatta; então eu falei pra ele sobre a proposta de compartilhar o quindim. O Caboclo me escutou bem sério, e, quando terminei, ele se manifestou: “Um quindim? Tranqüilo, sensacional mesmo! Agora vamu ali no Geco que a Skol ta bem gelada; o quindim a gente vê depois, ta?" Então ta, né! E eu vou dizer o quê pra uma parceria dessas???
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
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