sexta-feira, 4 de julho de 2008

PROIBIÇÕES

No período em que se comemoram os 20 anos da mais democrática peça já escrita no Brasil – a Constituição Federal de 1988 – o País dá uma guinada rumo ao retrocesso e resolve “dirigir” os caminhos dos cidadãos através agora de... proibições.
De repente, sem a menor discussão, acaba de ser editada a chamada Lei de “tolerância zero”, contra o uso de álcool por motoristas, nas estradas e inclusive na zona urbana dos municípios.
Isso equivale a dizer que não se pode mais ir ao Rio Branco, almoçar uma bela parrillada, tomar uma Pilsen bien fria e depois voltar dirigindo para o Arroio Grande; não se pode mais ir até o Xiringa, escutar a Marcela ou o Peixoto, tomar um bom vinho e depois voltar dirigindo pra casa pra namorar com a namorada.
Poder pode, mas quem fizer isso é “presumido” estar dirigindo embriagado; em conseqüência, deverá pagar uma multa de quase mil reais, além de ter a carteira de motorista cassada por um ano, e - pasme-se!!! -, poderá ser preso em flagrante, somente saindo da cadeia após pagar uma fiança arbitrada em torno de dois salários mínimos.
Quer dizer, quem for beber uma cerveja num almoço no Uruguay ou um vinho na noite do Arroio Grande poderá ter que pagar, de repente... quase dois mil reais. Isso mesmo, dois mil reais por uma cerveja ou um vinho, o Eraldo deve estar dando pulos com a concorrência.
É preciso deixar claro que todo mundo se solidariza com as vítimas dos acidentes de trânsito, os mortos pela selvageria, por motoristas imprudentes, bêbados... Todo mundo deseja mais segurança, nas ruas, nas estradas, no trânsito.
Mas a lei tem que punir o bêbado, o irresponsável, não o cidadão de bem que, por uma taça de vinho ou uma cerveja, acaba “presumido” embriagado, sendo colocado no mesmo “saco de gambás” de garganta insaciável.
As proibições são, na verdade, o último recurso (que está se tornando o primeiro) de um estado que, ao invés de buscar soluções no âmbito da cidadania, só sabe agir através do tolhimento.
Proibições de beber e dirigir, de fumar em lugares públicos, do uso de adesivos políticos, e recomendações disso, e abstenções daquilo, e mais proibições. Hoje, ao contrário da liberdade apregoada há cinqüenta anos, a “modernidade” concluiu: é permitido proibir.
O pior é que depois das proibições vem às “obrigações”, como no caso da tal “tolerância zero” que quer obrigar os motoristas, mesmo que não tenham bebido, ao uso do bafômetro, forçando-os a colocar um cano na boca, num ato que lembra a tortura, quando se obrigava o indivíduo a colocar a cabeça num tanque de água para dizer o que não estava obrigado a dizer. Só que agora é a Lei quem manda, o que consagra oficialmente a insanidade do legislador e do próprio estado brasileiro, voltado novamente para o autoritarismo.
Isso me lembra – e aqui com todo o respeito aos homossexuais e à opção de fazer o que bem entenderem com o próprio corpo - a expressão de um amigo que, sempre que se depara com esse estado de coisas, diz meio assustado: - “Só espero que quando a gente for obrigado a ‘dar a bunda’ eu já esteja morto”.
Do jeito que a coisa vai, sei não, sei não...

2 comentários:

Ângelo Flaviano Gonçalves Lisboa disse...

Seria, literalmente, a penetração de uma nova dita-dura...

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Pois é, Angelo, por isso vamos dar razão ao nosso amigo;
seja uma outra ditadura ou uma "nova dita-dura", como dizes, quando elas chegarem(oficialmente) eu também prefiro já estar morto.
Mas sem muita pressa, já que por agora estamos ainda só (só?) nas proibições.