Eu tenho um rádio, o Rádio do Jacques. É um Motoradio, preto, com 4 faixas e mais de trinta anos; foi comprado antes mesmo de o Jacques se mudar para o Hermenegildo, lá pelo final dos anos 70.
Com o rádio, o Jacques caminhava todas as noites, ao lado do Nico Añanã, da sinaleira até o trevo, sempre escutando alguma coisa que a gente não sabia direito o que era.
Com o rádio, o Jacques, gremista fanático, comemorou os inúmeros títulos do tricolor, em especial o maior de todos - o do Grêmio Campeão do Mundo, em Tókio, em 1983.
Quando o Jacques morreu, há três anos, os seus familiares resolveram me presentear com o rádio, sabedores que eram da nossa amizade e do imenso carinho que eu sentia pelo italiano, uma figura extraordinária, daquelas que a gente vai lembrar com saudades a vida inteira.
Pois dando seqüência a “vida” do Rádio do Jacques, eu também escuto todo o que posso, desfazendo permanentemente da modernidade que me oferecem a internet e a tevê por assinatura, para espanto de quem está do meu lado.
Com o rádio, escuto futebol e noticiário na Gaúcha e na Guaíba, acompanho mesas redondas na Pelotense e na RU, e o Jorge Américo, o Papaco e o Silvinho, na Difusora.
Com o rádio, escuto sambas antigos na Tupi do Rio, milongas e tangos nas rádios uruguaias e argentinas, e até o ritmo caribenho original nas emissoras cubanas, encontradas já na madrugada.
Pois na última segunda-feira, eu sintonizei o Rádio do Jacques na Difusora local, que transmitia ao vivo a Sessão da Câmara de Vereadores. Pra que. Foi um festival de deselegância, uma lição de comportamento impróprio, como há muito não via igual. E não falo da disputa, do embate político entre governo e oposição, fundamentais para a democracia. Me refiro ao palavreado, este assustador. Não o “seje”, o “teje”, o “V. Exa. ‘vaia’ lá pra ver”, nomenclatura com a qual, infelizmente, a cidade já se acostumou, mas nesse dia foi mais, muito mais...
Vereador chamando Secretário de “velho”, em desrespeito não só ao atingido, mas também a todos os idosos; gente chamando gente de “louca”, de “doente mental”, em desrespeito não só ao ofendido, mas também aos deficientes; uns chamando os outros de falsos, de mentirosos, em desrespeito a toda uma comunidade que escuta a Sessão da Câmara para se informar e não para desaprender com ela.
Pois em meio à tamanha vulgaridade (da qual, felizmente, ainda escapam alguns parlamentares), eu nem esperei o programa chegar ao seu final. Lembrei do Jacques sempre tão educado, gentil, cortês, lembrei das pessoas atingidas pelo palavreado chulo, lembrei das crianças que estavam por perto e acabei desligando o rádio, envergonhado.
Em respeito ao passado de uns e ao futuro de outros, porque o presente já está indo além, mas muito além do simples desrespeito.
Como os próprios vereadores andam dizendo, já está beirando a insanidade.
Com o rádio, o Jacques caminhava todas as noites, ao lado do Nico Añanã, da sinaleira até o trevo, sempre escutando alguma coisa que a gente não sabia direito o que era.
Com o rádio, o Jacques, gremista fanático, comemorou os inúmeros títulos do tricolor, em especial o maior de todos - o do Grêmio Campeão do Mundo, em Tókio, em 1983.
Quando o Jacques morreu, há três anos, os seus familiares resolveram me presentear com o rádio, sabedores que eram da nossa amizade e do imenso carinho que eu sentia pelo italiano, uma figura extraordinária, daquelas que a gente vai lembrar com saudades a vida inteira.
Pois dando seqüência a “vida” do Rádio do Jacques, eu também escuto todo o que posso, desfazendo permanentemente da modernidade que me oferecem a internet e a tevê por assinatura, para espanto de quem está do meu lado.
Com o rádio, escuto futebol e noticiário na Gaúcha e na Guaíba, acompanho mesas redondas na Pelotense e na RU, e o Jorge Américo, o Papaco e o Silvinho, na Difusora.
Com o rádio, escuto sambas antigos na Tupi do Rio, milongas e tangos nas rádios uruguaias e argentinas, e até o ritmo caribenho original nas emissoras cubanas, encontradas já na madrugada.
Pois na última segunda-feira, eu sintonizei o Rádio do Jacques na Difusora local, que transmitia ao vivo a Sessão da Câmara de Vereadores. Pra que. Foi um festival de deselegância, uma lição de comportamento impróprio, como há muito não via igual. E não falo da disputa, do embate político entre governo e oposição, fundamentais para a democracia. Me refiro ao palavreado, este assustador. Não o “seje”, o “teje”, o “V. Exa. ‘vaia’ lá pra ver”, nomenclatura com a qual, infelizmente, a cidade já se acostumou, mas nesse dia foi mais, muito mais...
Vereador chamando Secretário de “velho”, em desrespeito não só ao atingido, mas também a todos os idosos; gente chamando gente de “louca”, de “doente mental”, em desrespeito não só ao ofendido, mas também aos deficientes; uns chamando os outros de falsos, de mentirosos, em desrespeito a toda uma comunidade que escuta a Sessão da Câmara para se informar e não para desaprender com ela.
Pois em meio à tamanha vulgaridade (da qual, felizmente, ainda escapam alguns parlamentares), eu nem esperei o programa chegar ao seu final. Lembrei do Jacques sempre tão educado, gentil, cortês, lembrei das pessoas atingidas pelo palavreado chulo, lembrei das crianças que estavam por perto e acabei desligando o rádio, envergonhado.
Em respeito ao passado de uns e ao futuro de outros, porque o presente já está indo além, mas muito além do simples desrespeito.
Como os próprios vereadores andam dizendo, já está beirando a insanidade.
2 comentários:
Descobri teu blog lendo tua coluna na "A Evolução". Curioso e, porque não dizer, certo da qualidade das postagens, acessei imediatamente, deparando-me com escritos de alta qualidade, o que não me surpreendeu, pois acompanho tua carreira literária há muito tempo. Sinto não ter oportunidade de conversar mais contigo, pois comungo da mesma paixão pelo Arroio Grande, apesar de ser Arroiograndense de coração. Continua assim, colega, pois tens, agora, um novo leitor do teu blog e, se me deres licença, comentarei sempre tuas postagens. Um abração do Ricardo Souza, o filho do turco do Fórum.
Carlos Ricardo.
É uma satisfação receber a participação do amigo, que, certamente muito vai acrescentar à nossa página.
Sei que as palavras são muito mais fruto da elegância e generosidade que caracterizam o colega; de qualquer forma, servem de incentivo e estímulo a que continuemos dando publicidade aos nossos escritos, acima de tudo porque não resistimos a tentação de escrever.
Um abraço e continua comentando; serás sempre bem vindo, com certeza.
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