quinta-feira, 24 de abril de 2008

PALAVRAS (II)

Normalmente, depois da pausa vem à continuação que pode ser de uma chatice sem fim, pois continua, continua e não acaba nunca, deixando a gente sem saber até onde vai... Mas não costuma envelhecer tanto quanto a esperança, a continuação, assim como nenhuma das duas não chega nem perto da experiência. Esta é, com certeza, uma das palavras mais velhas que sem tem notícia, como, aliás, quase todas as expressões com a letra “xis”. Quer um exemplo? Exemplo. Existe coisa mais antiga que exemplo, nas suas múltiplas combinações, como bom exemplo ou dar exemplo? Totalmente fora de uso, onde já se viu nos dias de hoje alguém dar alguma coisa, ainda mais boa... e de graça. Não, definitivamente as palavras com “xis” estão perdendo a forma, como aconteceu com xarope. Quer algo mais em desuso do que xarope? Ou mais intragável do que alguém xaropando à nossa volta? Realmente não dá, tais expressões ficaram mesmo fora de moda e, talvez por isso, Garcia Márquez, no livro 'O Amor nos tempos do cólera', tenha consagrado também a invalidez do sentido de certas palavras: “O diabo da experiência é que ela nos chega quando já não serve pra mais nada!”, declara um dos personagens, e com razão, comentam os mais experientes.
Mas a experiência existe, embora seja um pouco arredia e difícil de ser conquistada. Vive guardada entre colchetes e parênteses, e pouco aparece, principalmente para os mais novos. Quase sempre reclamando, é muito crítica e não adianta tentar corrigi-la, afinal ela sabe mais do que os outros. É rabugenta, ranzinza mesmo, a tal de experiência.
Bem ao contrário da vida, esta sempre tão disposta, simpática, sempre querendo dar o melhor para todos. Vida é uma vizinha querida de quem todo mundo gosta, mas que ninguém consegue definir. Passa tão rapidamente que às vezes a gente mal começa a gostar e nem percebe, mas a vida já está indo embora. Quando isso acontece, ela raramente dá uma segunda chance. Aliás, feliz daquele que tem uma segunda oportunidade com a vida. É realmente muito difícil. A vida é alva, clara, e às vezes tão descuidada que uma simples tarde de sol pode causar um mal terrível, assim como também certas noitadas, excesso de álcool e exagero de comida... Já botox e silicone podem até ajudar, mas possuem prazo de validade com a vida. A vida não é fácil, é muito delicada e cheia de alternativas. A vida é bela, mas é também ambígua, e pode ser alegre ou triste... É, com toda a certeza, exibicionista e pouco fiel, já que se presta a manter relação com todos, inclusive com o fim.
E este caso, da vida com o fim, ninguém aprecia muito, embora seja aceito e até esperado, pois se trata ao menos de um caso heterossexual. É que o fim não é feminino, não tem brilho e nem sedução, não tem encanto e nem qualquer sutileza; ao contrário, o fim é um boçal. Curto e grosso, não avisa quando vai aparecer e nem o gosto da surpresa costuma oferecer. O desmancha-prazeres do fim normalmente chega quando menos a gente espera. O fim é sem graça, como um ponto final. É um chato, definitivamente. O fim é mesmo o Fim!

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