Quem anda pelo Arroio Grande, entre os caminhos da Souza Gusmão e da Severo Feijó, irá se deparar com uma rua de nome comprido, um pouco estranho, meio pomposo, um nome antigo: Gumercindo Saraiva.
Mais do que a expressão de um lugar, essa rua, que hoje faz esquina com tantas quadras pela cidade, traz o nome de um personagem, talvez o maior desta terra sem grandes personagens, um combatente, um caudilho, um “quase herói”...
Gumercindo Saraiva, filho de Francisco e Pulpícia da Rosa, criador de gado, estancieiro, delegado de polícia, guerrilheiro e General revolucionário, nasceu em 13 de janeiro de 1852 e foi batizado na paróquia de Arroio Grande, o que correspondia ao Registro Civil da época, ficando oficialmente declarado como filho desta terra.
Pois em 10 de agosto de 1994* foram-se cem anos, um século, uma imensidão, o tempo que o General Gumercindo deixou de lutar pela liberdade no Rio Grande.
Uma bala no peito na batalha de Carovi (lugar próximo à Itaqui, quase fronteira com a Argentina) terminou com a vida do comandante maragato, pondo fim ao seu sonho revolucionário.
Porque Gumercindo Saraiva, criado entre os “blancos” e as quesilhas uruguaias, lutador e estrategista, perseguido e preso com a proclamação da República no Brasil, chegou a ser por um instante a própria Revolução de 93. Um obstinado combatente, numa verdadeira guerra civil, a pior e mais sangrenta que o país já conheceu.
A chamada Revolução Federalista de 1893 – movimento rio-grandense de contestação ao governo de Floriano Peixoto – foi, certamente, o mais agudo momento da história do povo gaúcho. Com o Rio Grande dividido ao meio, na luta entre “maragatos” (federalistas, revolucionários) e “pica-paus” (republicanos, partidários de Júlio de Castilhos), morreram 1,5% da população do Estado, número que hoje corresponderia a quase 300 mil gaúchos, que é como se todos os habitantes da cidade de Pelotas de repente deixassem de existir.
Pois Gumercindo Saraiva que, vindo do Uruguai, foi, junto com Joça Tavares, o primeiro a invadir o Rio Grande (por Aceguá, Bagé), percorreu em luta quase 2.500 Kms. numa das maiores marchas militares de toda a América Latina, revelando-se a grande ameaça ao poder de Júlio de Castilhos e à incipiente República, tornando-se um símbolo daquela revolução, dos seus erros e dos seus acertos, das dúvidas e incertezas da época, do heroísmo, da bravura...
A falta de repercussão em Arroio Grande – terra oficial de Gumercindo – de toda essa rica história, dá a exata noção do desinteresse e da pequenez cultural em que vivemos.
Arroio Grande merece que refaçam parte da história da cidade, assim como Gumercindo não merecia que esquecessem da sua. Uma história que fez dele o grande personagem desta terra e que, por isso mesmo, não poderia acabar simplesmente esquecido numa placa de rua qualquer...
(*) publicado originalmente em 12 de agosto de 1994
5 comentários:
conheço a história de Gumercindo atraves do livro Voluntários do Martírio,de Dr.Dourado,verdadeira biblia da Federalista,e tambem é interessante Fronteira Rebelde,de autor norte-americano
É verdade, Carminha, ambos são excelentes leituras e trazem interessantes relatos sobre a saga do grande Comandante da Revolução de 93.
Para mim, entretanto, o livro "Gumercindo Saraiva - O Guerrilheiro Pampeano", do Sejanes Dorneles, é ainda mais completo, pois além do período da revolução federalista, traz ainda outros detalhes da vida de Gumercindo, em especial da época em que o caudilho viveu em Santa Vitória do Palmar, terra adotiva do escritor.
Um abraço e obrigado pela participação.
BOM DIA PEDRO CONCORDO COM VC NAO DEVIA DEIXAR ESQUECIDO NA O SEM BASTANTE DA HISRORIA POIS SOU UM BISNETO E NETOS DELE AINDA SAO VIVOS EM AG TAMBEM TEM HISTORIAS QUE NAO VAO PARA OS LIVROS QUE MEU PAI COM 70 ANOS CONTA E MINHA TIA COM 90 TAMBEM CONTA SEMPRE ESTOU ATRAS DE PARENTES QUE SAIBAM MAIS DA HISTORIA DESTE GAUCHO
TAMBEM LI O LIVRO DO GUERRILEIRO PAMPEANO MAS TEM MUITOS EXAGEROS NELE COM AS TROPAS E O NUEMRO DE ECTARES NO URUGUAI
BOM MORO NA SILVINA SE QUISER TROCAR UMA IDEIA E SO LIGAR 81148467
Vamos trocar ideia sim, conterrâneo; o Gumercindo é um símbolo da nossa cidade.
Ainda vai chegar o dia em que ele será reconhecido por todos na sua grandeza e nos seus feitos.
Aparece e te identifica, tchê!
Gumercindo,morreu no capão da batalha,carovi,então distrito de Santiago,Rs,e não próximo a Itaqui
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