sexta-feira, 14 de março de 2008

CHIPS NO ÔNIBUS (2007)


A Danuza Leão, que marcou época freqüentando as rodas da sociedade carioca nos anos 60-70, tem uma frase que não precisa ser socialite para compreender. Diz ela que o uso do palito nos dentes é algo tão íntimo, mas tão íntimo que deveria ser feito pela pessoa isolada, “no banheiro e de luz apagada”, arremata. Tem razão, ‘espalitar’ os dentes em lugar público, ao contrário de ser higiênico, parece tão escatológico que quem ‘aprecia’ a cena tem vontade de virar de costas ou de apagar a luz. Pois parecido com isso (ou nada a ver), surgiu um outro hábito infernal que atinge crianças, adolescentes e adultos quase que na mesma proporção. É o chips no ônibus. Quem usa esse tipo de transporte coletivo sabe do que estou falando. Um prazer que surgiu na forma de batatinha, pra gente comer junto com a namorada (ah??), catando os farelos, se tornou realmente uma coisa pegajosa e fedorenta. Aqueles saquinhos coloridos, uns troços dos mais diversos formatos que o Cascudo apelidou certa vez de “isopor com sal”, se esparramam hoje em quantidade nas padarias, nas Rodoviárias, para serem devorados na rua, em casa ou, o que é pior... dentro do ônibus. Pois saibam que a coisa é um horror, no cheiro principalmente, mas também no barulho e na agressão à estética. Isso mesmo, ninguém pode ser levado a sério comendo um negócio daqueles. Imaginem, por exemplo, uma reunião do Prefeito com o secretariado. Sua Excelência lá, procurando soluções pra cidade: buracos e poeira nos bairros, o dinheiro que não dá pra as obras, falta de empregos, a Votorantin que não vem, o homem lá falando, falando e os secretários... mastigando chips. Ou então, o Chalita no vestiário, jogo no intervalo, os veteranos do caturrita perdendo feio pra os “Amigos do Murilo”, palestra, táticas, etc, e o grupo de jogadores fazendo um barulhão danado comendo um “sabor pizza” ou “sabor cebola” e jogando os saquinhos fedorentos no chão. Sim, porque parece que os chips, de tanto que proliferam, nunca acham uma lixeira pra se abrigar. Não, realmente não dá pra solucionar nada se empanturrando com os salgadinhos, sejam eles sabor queijo ou bacon; com aquilo ninguém consegue virar jogo nenhum. Os chips, aliás, não combinam com nada coletivo. Nem com reuniões, nem com salas de aula, nem com vestiários, e, definitivamente, dentro do ônibus. Então fica combinado, quando alguém sentir fome em público pode escolher qualquer outro alimento pra degustar; frutas, por exemplo, ou chocolate que sobrou da Páscoa, ou ainda pastel ou até croquete de rodoviária com as suas tentações e os seus perigos. Mas chips não, meu amigo. Pelo vizinho do lado, pelo barulho e com este calor que não acaba nunca, desista de uma vez dessa coisa pestilenta. Faça um esforço, não coma mais, recuse, rejeite, entre em greve, abstenha-se completamente. Menos, é claro, da batatinha com a namorada.

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