sexta-feira, 14 de março de 2008

AGORA QUE O BAURU CHEGOU... (2007)


O problema da alimentação ta resolvido, mas a fome e a sede continuam. Fome de quê? Sede de quê? Primeiro, de sair da internet, essa “coisa” que joga o mundo inteiro superficialmente dentro da nossa casa, o tempo todo. Diz a verdade, existe algo de realmente profundo sendo transmitido por via digital neste momento? Se alguém souber que declare o site, a página, o blog, porque eu ainda não encontrei. Informação rápida, sim, comunicação também, mas conteúdo que é bom...
Alternativas existem e a primeira seria conversar. É, prosear, charlar, parlar, sabe como é?!? Ou, então, ler: um conto do Borges, uma crônica do David Coimbra, o Diogo Mainardi... Como, quem é o Diogo Mainardi?
O problema desta cidade é que se convencionou que estamos fora do mundo e que somos insuficientes pra transformar qualquer coisa. Por isso, ninguém se interessa em conversar sobre o que não seja “daqui”, com exceção, é óbvio, do futebol e das “rapidinhas” da internet. Qualquer outro assunto “mais universal” é logo rebatido com argumentos do tipo: “isso não depende de nós”, “a gente não vai mudar nada mesmo”, etc., etc...
O que “importa” mesmo é a questão local. As discussões da Câmara, a Sucessão do Prefeito, as bebedeiras do bar, o quem disse o quê, o quem come quem, além do orkut, do msn e dos engraçadinhos e-mails de rede...
A cidade não é essa ilha triste e isolada que tentam fazer. Não é vergonha conversar sobre arte, sobre literatura, sobre filosofia, sobre as coisas que, sim, passam ao redor do Arroio Grande.
Eu, por exemplo, sou fã dos articulistas dos jornais daqui e respeito à importância dos políticos da cidade. Mas, por favor, preciso com urgência conversar também sobre o novo romance do Peruano Roncagliolo - o Abril Vermelho - e quero comentar nem que seja só por comentar a eleição da Presidenta Cristina Kirchner na Argentina.
Pelo amor de Deus, eu sei da graça das moças que passam diariamente pela Sinaleira, mas preciso beber uma cerveja celebrando também a beleza da boca e daqueles olhos da Penélope Cruz. Porque ninguém comenta comigo sobre a maravilha que tá a Penélope? E a fornida da Flávia Alessandra na nova novela das oito? Porque, meu Deus, por quê?
Eu quero encontrar quem ame e quem deteste o Diogo Mainardi, esse crítico feroz que vive de bater no Lula e no PT, esses barbudinhos que precisam aprender com a crítica, ainda que ela seja quase doentia e mesmo que partindo de um romancista fracassado como o Diogo, que, aliás, também precisa aprender a escrever...
Por isso, agora que o Bauru chegou e que o problema da alimentação ta resolvido, eu quero matar também a fome e a sede de conversar sobre qualquer coisa que não seja o mesmo de sempre.
Porque eu adoro esta cidade, mas às eternas conversas iguais das suas esquinas já estão me cansando. Definitivamente!

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