O livro de cabeceira de meu pai sempre foi “As amargas, não...”, lembranças do escritor Álvaro Moreyra, um gaúcho de Porto Alegre, mas que viveu quase toda a sua vida no Rio de Janeiro, até morrer em 1964.
O livro teve a sua 1ª edição em 1954 e meu pai adquiriu o seu exemplar pouco tempo depois, carregando-o em suas andanças por cerca de cinqüenta anos.
Li “As amargas, não...” duas ou três vezes, mas nunca consegui entender por que o livro sensibilizava tanto meu pai; que motivos, afinal, faziam com que o inquieto Pedro Bittencourt dedicasse tamanho apego a uma única obra.
Tenho indícios: Álvaro Moreyra foi um grande escritor e possuía impressionante conhecimento de literatura. Numa época em que se liam os clássicos – Cervantes, Dumas, Balzac... – ele cultuava principalmente os escritores franceses, Anatole France e Paul Verlaine, entre outros.
Álvaro foi também fortemente influenciado por Jules Laforgue, um francês nascido acidentalmente em Montevidéu e que morreu aos 27 anos, deixando uma obra intrigante. Não por acaso, meu pai também celebrava Laforgue quase que obsessivamente.
A cultura francesa, aliás, ainda era a de maior influência na primeira metade do Século XX, e Álvaro, como Pedro faria mais tarde, viajou pelo mundo através da literatura e da poesia, e ambos leram em francês, em espanhol e em latim, e amaram com o mesmo ardor Lisboa e Paris, o Rio de Janeiro e Porto Alegre, as bibliotecas e as casas onde nasceram...
Álvaro foi um poeta que estudou Direito e virou escritor, Pedro um poeta que estudou Direito e virou advogado; os dois não se comparam, mas se parecem aos olhos daqueles que vivem do improviso das palavras.
Ambos foram, na verdade, extraordinários frasistas, conseguindo manifestar complicados pensamentos através do jogo de palavras: “O que estraga a vida é o estado normal”. “Nada é, tudo parece”. “Troco tudo o que consegui pelo pouco que desejei”, sendo difícil definir agora quem disse o quê, pois na história da humanidade “tudo o que há, houve, nunca deixou de haver...”.
Hoje, sei que compreender melhor “As amargas, não...” significa entender um pouco mais meu pai, e a inaptidão que os poetas têm de conviver com a miserável realidade.
A melhor definição desses “fabricantes de sonhos” talvez esteja numa passagem do livro do próprio Álvaro, onde o escritor, sem atribuir qualquer referência, diz apenas: - “Artista puro. Homem bom... Tinha um humorismo otimista, uma ironia comovida, um sorriso de menino ainda molhado de lágrimas...”.
Que linda definição para um poeta, desses que passam à vida inteira repetindo: “A vida é hoje!”, “É agora!”. E assim foi, e assim é...
O livro teve a sua 1ª edição em 1954 e meu pai adquiriu o seu exemplar pouco tempo depois, carregando-o em suas andanças por cerca de cinqüenta anos.
Li “As amargas, não...” duas ou três vezes, mas nunca consegui entender por que o livro sensibilizava tanto meu pai; que motivos, afinal, faziam com que o inquieto Pedro Bittencourt dedicasse tamanho apego a uma única obra.
Tenho indícios: Álvaro Moreyra foi um grande escritor e possuía impressionante conhecimento de literatura. Numa época em que se liam os clássicos – Cervantes, Dumas, Balzac... – ele cultuava principalmente os escritores franceses, Anatole France e Paul Verlaine, entre outros.
Álvaro foi também fortemente influenciado por Jules Laforgue, um francês nascido acidentalmente em Montevidéu e que morreu aos 27 anos, deixando uma obra intrigante. Não por acaso, meu pai também celebrava Laforgue quase que obsessivamente.
A cultura francesa, aliás, ainda era a de maior influência na primeira metade do Século XX, e Álvaro, como Pedro faria mais tarde, viajou pelo mundo através da literatura e da poesia, e ambos leram em francês, em espanhol e em latim, e amaram com o mesmo ardor Lisboa e Paris, o Rio de Janeiro e Porto Alegre, as bibliotecas e as casas onde nasceram...
Álvaro foi um poeta que estudou Direito e virou escritor, Pedro um poeta que estudou Direito e virou advogado; os dois não se comparam, mas se parecem aos olhos daqueles que vivem do improviso das palavras.
Ambos foram, na verdade, extraordinários frasistas, conseguindo manifestar complicados pensamentos através do jogo de palavras: “O que estraga a vida é o estado normal”. “Nada é, tudo parece”. “Troco tudo o que consegui pelo pouco que desejei”, sendo difícil definir agora quem disse o quê, pois na história da humanidade “tudo o que há, houve, nunca deixou de haver...”.
Hoje, sei que compreender melhor “As amargas, não...” significa entender um pouco mais meu pai, e a inaptidão que os poetas têm de conviver com a miserável realidade.
A melhor definição desses “fabricantes de sonhos” talvez esteja numa passagem do livro do próprio Álvaro, onde o escritor, sem atribuir qualquer referência, diz apenas: - “Artista puro. Homem bom... Tinha um humorismo otimista, uma ironia comovida, um sorriso de menino ainda molhado de lágrimas...”.
Que linda definição para um poeta, desses que passam à vida inteira repetindo: “A vida é hoje!”, “É agora!”. E assim foi, e assim é...
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