sexta-feira, 14 de março de 2008

VIRADA DE ANO (2007)



É certo que todo mundo tem o seu final de ano inesquecível, mas bom, bom mesmo, é quando a gente é ‘novo’, e pode “terminar” uma mudança de ano com uma grande molecagem, sem compromisso de voltar pra casa, sem nem mesmo dormir, sem remorso, sem nada...
Início dos anos 80, mais uma virada de ano, já dia primeiro de janeiro, 6 da manhã. A fauna, completamente trôpega das festas, se arrasta pelas ruas da cidade, decidida a “emendar” as datas, sob o argumento, simplista mas lógico, de que “isso só vai acontecer de novo daqui a um ano”. Em seguida, ali pela Visconde da Mauá alguém propõe algo meio estranho àquela hora: uma partida de futebol.
Eu, o Donga, o Fábio Bonneau, o Geco “do Charuto”, o Eduardo “Fininho”, dois dos terríveis “irmãos Gita”, o Gilnei Bretanha e o Carlos Fernando, pelo que consigo lembrar, estavam nesse “pacote”, ao qual se incorporaram outros e também o Dé, a que, nós encontramos já quase na saída da cidade. Conversa vai, cerveja vem, ficou resolvido que a partida seria na “Prainha”, pra onde acabamos indo em vários carros.
Do jogo mesmo, quase ninguém recorda, sendo que, ao contrário, tem “jogador” que até hoje sequer lembra de ter estado no “famoso” Derby da Lagoa, onde as “goleiras” foram marcadas com caixas de isopor devidamente abastecidas.
Uma jogada, porém, todos recordam, porque anormal, bizarra, realmente inesquecível. Alguém - mais pra se livrar da bola do que por qualquer outra coisa - chutou de longe contra o gol adversário, o “nosso” gol, defendido pelo Dé. O chute foi um escândalo, sem força, arrastado, rasteirinho, uma coisa ridícula, incomum até nas “peladas”.
Quem chutou ainda gritou “pega!” antes de se livrar da bola que saiu lenta, grudada ao solo, carregando areia, como que querendo furar o chão, numa viagem sem vontade, sem pretensão alguma, pra não chegar mesmo.
Mas chegou. Branda, passiva, ela chegou sem força bem no meio do gol onde deveria estar o Dé. Mas o nosso goleiro, sabe-se lá por que prejuízo dos reflexos, resolveu dar um salto teatral, extraordinário, soltou um grito – “Oppa!” – e foi lá pra cima, pro alto do canto esquerdo, enquanto a bola entrava rasteirinha bem no meio do gol, sem nenhum empecilho, por baixo de onde recém estivera o corpo do Dé, antes do seu vôo coreograficamente impressionante.
Gol! Gol deles, gol contra nós, num frango sem igual, de uma plasticidade incrível, o mais majestoso frango que o futebol de areia já assistiu.
Pois depois de ver aquela bola ultrapassar a nossa meta, parando, por falta de força, poucos centímetros após a linha imaginária do gol, o Carlos Fernando não resistiu, olhou pro Dé estatelado no chão, totalmente fora do rumo da bola e reclamou, num misto de cobrança e gozação: - “Pomba, neguinho, assim não dá, nem essa tu consegue pegar!” – disse - enquanto o pessoal se dobrava de rir daquela cena antológica.
O Dé levantou desajeitado, se ‘estapeando’ pra retirar a areia que grudara no seu corpo, todo dolorido depois da queda exagerada, olhou brabo pro Carlos Fernando e, crispado, respondeu: - “Ah, ah, querias o que, queridinho, uma bomba dessas ‘no ângulo’, éééééé indefensável, indefensável...” – repetia, gaguejando, com a cara mais ofendida possível, naquele momento incomparável.
Dedéco, Dedéco, Professor da escola e da vida, pessoa maravilhosa, amigo de longa data. Feliz 2008, meu velho, pra ti e pra todos os nossos companheiros daquela e de tantas outras histórias de uma mocidade que não deveria nunca acabar...

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