Ele era assim, meio abobado,
tonto, um pateta. Nunca sabia em que ano estava, tampouco que idade
tinha. Se atrapalhava, fazia confusão com tudo. Agora, estava numa
sala de aula e pediram que elaborasse uma redação. Tema: Dia das
Mães. Ele escreveu: “O Dia das Mães é o dia mais longo do
mundo!”. Assim mesmo, com ponto de exclamação. Redigiu desse
jeito e entregou o trabalho. A professora leu e pediu que ele
explicasse o que quis dizer ao escrever daquela maneira, com ponto de
exclamação e tudo. Ele justificou: – Ué, eu acho que esse é o
mais longo dos dias porque ele não tem início nem fim. Afinal, como
pode existir somente um dia para a gente comemorar ao lado da pessoa
mais importante do mundo, se haverá o dia em que a pessoa mais
importante do mundo não estará mais do nosso lado para comemorarmos
o dia junto com ela? Daí, nesse caso, o dia vai deixar de existir?
(Ele era assim, meio tonto, já se disse…). A professora contestou falando que não, que o dia continuaria existindo. E que, ademais, a
gente deveria se conformar, pois quando as pessoas partem é porque
já cumpriram a sua missão por aqui. Então ele perguntou para a
professora se ela não achava que era pouco o tempo que davam para as
mães cumprirem a tal missão por aqui. Ela respondeu dizendo que a
gente não podia julgar, que para “essas coisas” não existe
prazo. Ele insistiu: – Mas mãe não é bondade, não é concessão,
não é generosidade, não é doação? Mãe não é santidade? Não
é tudo de bom que a gente pode ter? A professora concordou que sim.
Então – ele resolveu comparar – se a escravidão, que é uma
coisa monstruosa, durou trezentos anos no Brasil, se o bloqueio dos
Estados Unidos à Cuba, que é uma coisa nojenta, já dura mais de
cinquenta anos, se a ditadura militar, que foi uma coisa horrorosa,
durou trinta e cinco anos, se os professores do Rio Grande do Sul
estão recebendo o salário atrasado há quase cinco anos, o que é
uma indignidade, se o Corona vírus não tem prazo para ir embora, se
até o Bolsonaro… – Que é que fez o Bolsonaro? – a professora
aparteou. – Nada – ele disse – que eu saiba não está fazendo
nada… – falou, com a cabeça cheia de números… Cento e
cinquenta mil infectados, dez mil mortos, churrasco fake
para trinta… Foi
quando a professora, querendo terminar aquela conversa, interrompeu:
– Então, já que pensas assim, quanto tempo tu entendes que as
mães deveriam permanecer conosco? Ele resolveu responder com outra
pergunta (era atrapalhado, meio pateta, já foi dito): – Quanto
tempo a senhora acha que vai durar o que há de pior no mundo, que é
a estupidez humana? A professora fez uma pausa, pensou e respondeu: –
Eu considero que ela é infinita, penso que vai existir para sempre –
disse. – Pois então eu acho que as mães, que são o que há de
melhor no mundo, deveriam durar um pouco mais do que isso – ele
encerrou. Depois, ainda falou um “Feliz Dia das Mães” para a
professora e saiu da sala de aula sem nem esperar pela nota da
redação…
domingo, 10 de maio de 2020
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