quarta-feira, 20 de maio de 2020

DOENTES


Cloroquina, diazepan, gardenal… Pode escolher. Estamos todos doentes. Há tempos… Nas pequenas cidades, como a nossa, se alguém é suspeito de estar com o coronavírus, uma doença que qualquer um pode contrair, recebe logo um linchamento moral – nas esquinas, nas repartições públicas, pelas redes sociais – inclusive, e principalmente, por parte daqueles que não colaboram em nada para evitar adquirir o vírus… No Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa”, a polícia chega atirando na residência de uma família de pretos e pobres, e assassina um menino de 14 anos, cheio de alegria, cheio de sonhos, cheio de vida… A mãe só consegue encontrar o filho, já sem vida, dezessete horas depois! E tudo isso é tratado com espantosa naturalidade. Com a morte de João Pedro, são assassinados também os seus familiares: a mãe, o pai, os irmãos, todos mutilados pela tragédia anunciada. Por uma política de segurança equivocada, mas diariamente defendida por milhares de “cidadãos do bem”, que fazem apologia da truculência policial como uma “necessidade do Estado”, e que defendem o armamentismo, a violência e a tortura – vejam só, a tortura! – como alternativas ao caos social que o próprio Estado patrocina. No Brasil, enquanto morrem 1.000 pessoas por dia de Covid-19, um governo desgovernado não tem ministro da saúde, não tem política de combate a pandemia e conta com um presidente que faz uma piada por dia diante das mil mortes por dia… Para justificar esse escarcéu, e as m… diárias proferidas pelo presidente, os seus defensores se utilizam, agora, da m… dita por um ex-presidente, que não consegue um mínimo de polidez para verbalizar o óbvio: que apenas o Estado é capaz de agir e de solucionar determinadas crises. E que, por isso, ele, o Estado, tem que ser forte… Estamos todos doentes. Há tempos. Tem toda razão a Marília Kosby, quando escreve, no poema "Bestas": “A nossa humanidade já venceu a data, já perdeu o prazo, estourou o tempo de estar contida"... Cloroquina, diazepan, gardenal… Pode escolher. E tomar!

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