sexta-feira, 1 de maio de 2020

FERIADO – OPÇÃO UM (DA SÉRIE FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE – PARTE VI)


Feriado de 1º de maio no Arroio Grande. Cidadezinha pequena, tranquila, cerca de dezessete mil habitantes, nada para fazer por aqui… Como assim, nada para fazer? Quando a gente tem a obrigação de ficar isolado, quando existe alguma pandemia, risco de vida, essas coisas, aí sim é que devemos ficar em casa, mesmo que não se tenha nada para fazer. Mas estamos em 1980, entre os anos 70 e 90 (em que década vivemos, afinal?) e tem muita coisa, sim, para se fazer por aqui. O amigo não sabe? Então, venha, vou te convidar para um passeio. Primeiro é preciso uma definição: para onde ir. Vamos ficar na cidade ou sair para os arredores? Bueno, se a escolha recair em permanecer na zona urbana, o chimarrão da manhã poderá ser na praça central, denominada Praça Maneca Maciel, mas que muita gente confunde chamando de Praça Zéca Maciel, que é aquela que fica lá perto do campo do G. E. Internacional. Para esclarecer: O Maneca, era Manoel Antônio Maciel (n. 1848; f. 1930), um ex-intendente. Já o Zéca, era José Antônio Maciel (n. 1847; f. 1914), um boticário, proprietário da Pharmácia Maciel. Portanto, amigo, é para não errar mais. O político, mas político mesmo, o tradicional, costuma andar sempre próximo ao “centrão”, e ficar com a fatia, digamos mais polpuda de tudo, inclusive das honrarias. Já quem cuida da saúde dos outros, como o farmacêutico, quem arrisca a vida tratando de “gripezinhas”, inclusive dos políticos, fica mesmo é com o que sobra. “E daí?”. Talkey? Mas, andiamo... Outro lugar bom para matear, é o popular “Prado”, como é chamado o Parque Guilhermino Dutra, que possui esse nome em homenagem ao abastado produtor rural, vice-intendente do município na gestão do delegado Severo Feijó, de 1908 a 1912. Vai daí que, no retorno do chimarrão, seja ele sorvido na praça ou no prado, o nosso programa pode ser o tradicional almoço do Dia do Trabalhador, realizado quase sempre na Liga Operária. Ali, comparecem, todos os anos, alguns servidores públicos e outros trabalhadores, que são, com toda a justiça, homenageados. Também participam do repasto certos “homens públicos”, sempre mui interessados em fazer média com a “bóia dada” para os obreiros. Junte-se a isso muitos puxa-sacos dos que patrocinam o almoço, alguns convidados e curiosos, e estará pronto o cardápio do dia. (Aliás, a data do Trabalho deveria servir sempre para uma reflexão: se um dia, por qualquer motivo, os trabalhadores pararem de produzir o que consumimos, o dinheiro servirá para adquirir o quê mesmo?). Mas, continuemos… Bueno, se acaso o amigo não quiser permanecer na cidade podemos partir para uma outra programação, que é visitar pontos da zona rural do nosso município, lugares que todos escutam falar, mas que poucos realmente conhecem. Posso sugerir? Vamos fazer assim: primeiro visitamos o lado leste e depois o lado oeste, pode ser? Então vamos logo rumo ao Farol da Ponta Alegre, que, embora desativado há décadas, parece ainda guardar os seus encantos de fiscal das águas da Lagoa Mirim, desde o ano da sua inauguração, em 1908. Ou, quem sabe, damos uma guinada na rota para conhecer a “Ponte do Arroio Grande”, mais conhecida como “Ponte Mauá”, do antigo caminho ferroviário? Aliás, indo para aqueles lados, podemos aproveitar e visitar também o Obelisco Mauá, erguido no local onde nasceu Irineu Evangelista de Souza, o mais importante empresário da história do Brasil, o filho mais ilustre do Arroio Grande, afinal, o monumento está ali desde 1926 e pouca gente vai até lá. Não? Então que tal fazer diferente e se aventurar pelas Furnas da Bocanha, onde o meu amigo, Marcos Prestes, o nosso “cientista maluco”, costuma fazer seguidas incursões, com direito a lanterna, capacete, macacão e algum traguinho, todos certamente protetores, já que não se sabe bem que vírus é possível encontrar naquelas cavernas, de tantos morcegos que lá habitam… Não serve? Não sentiu firmeza? É muita aventura? Pois então vamos continuar no rumo oeste e, se o amigo não for bairrista, podemos sair dos limites do Arroio Grande e conhecer a beleza dos nossos vizinhos, por que não? Que tal seguir rumo ao velho Herval de guerra, para comer o famoso bife do Édio, o maior e mais macio do Estado, e depois apreciar a beleza da piscina natural, lá debaixo dos cerros, mor orgulho dos hervalenses? (Eu sei que têm amigos que prefeririam ir até o Herval para “sestiar” no cabaré da Chinesa, mas aí já é outra história, né, ataia, ataia…). Bueno, falando em história, mas em acontecimento histórico, alternativa interessante seria seguir até Pedras Altas para visitar o Castelo do Assis Brasil, onde, em dezembro de 1923, foi assinado o Pacto que pôs fim a Revolução Federalista de 23, aquela peleia entre chimangos e maragatos, conhece? Baita visita, não é? Não gostou? É longe demais? Sem problemas, vamos trocar de página, quero dizer de roteiro, e em seguida criamos uma outra opção para aproveitar este feriado com sol por aqui. Pode ser? Só mais um tempinho, amigo, já vamos incrementar a segunda parte do nosso passeio. Vamos lá?

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Imagens:

I – Churrasco, provavelmente no pátio da Liga Operária, anos 1960/70. Na fotografia aparecem Carlos Ferreira Filho, o Nicolau, e Adílson Feijó, entre outros (Acervo do autor).
II – Churrasco na Liga Operária. Aparentemente, trata-se de um encontro de diretoria, com alguns sócios, não estando vinculado ao 1º de maio. O autor identifica dez dos doze personagens da fotografia, mas deixará para os leitores o exercício de reconhecimento (Acervo da Liga Operária, com cópia para o autor).
III e IV – Farol da Ponta Alegre e porta do farol (Fotografias do autor).
Fica o registro de que as fotografias são posteriores ao período referido na crônica.
V – “Ponte do Arroio Grande” ou “Ponte Mauá” (Fotografia de Márcia Horner).
VI – Obelisco a Mauá (Do livro “14 personagens e 5 vultos históricos do Arroio Grande” – Org. do Autor – 2018 – pág. 225).
VII – Furnas da Bocanha (Antigo postal do Arroio Grande. Acervo da Profª Flávia da Conceição Corrêa).
VIII – Bife do Édio/Herval. Na imagem aparece Claudionir Coelho, o “Kiko”, amigo/irmão do autor (Fotografia do autor).
IX – X – XI – Castelo de Pedras Altas. Na última imagem, o autor e o Dr. Sergio Canhada, no salão do castelo onde, em 1923, foi assinado o “Pacto de Pedras Altas” (Fotografias do autor).

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