Enfim, o Clássico! Musiquinha do Canal 100: “Que bonito é, as bandeiras tremulando, a torcida delirando, vendo a rede balançar...”. Gente do céu! Vocês nem imaginam o que é um Clássico – Arroio Grande x Internacional – por aqui. Maior do que Barcelona x Real Madrid, maior do que River Plate x Boca Juniors, maior do que Grenal, do que Brapel, a disputa entre Sacis e Caturritas não têm correspondência neste mundo de meu deus. E assistir um Clássico na live, quero dizer, ao vivo (desculpem, mas não resisti!), é tudibom. Espetáculo, adrenalina, êxtase! De a gente ficar “fora de si” durante dias e dias, antes e depois da partida. Uma história que vai perpassar cinco décadas nestes anos 1980. Que começou com a fundação do Esporte Clube Arroio Grande, em 1939, e do Grêmio Esportivo Internacional, em 1943. Uma trajetória que contou com a participação de dirigentes históricos. Dos dois clubes. O Jonjoca, lá da Granja São Paulo, o Mário Silveira, o Rocco Ardizzone, o Marquinhos Christ e o Arizinho, todos pelo Arroio Grande. O Sílvio Ferreira, o Dr. Nilo Conceição, o Maximiano Muñoz, o Issa Costa e o Alegria, estes pelo Internacional. Isso só para ficar em cinco grandes presidentes de cada um até meados da década de 80. Uma história para a qual os meus amigos, esses que agora jogam bola comigo, certamente darão continuidade. O Cacaio, o Betinho, o David, o Ayres Roberto, o Julinho do Tritri, o Cezinha, e esse guri, o Murilo, que surgiu a pouco, mas que tem uma habilidade… Uma história em que eu tenho por obrigação falar nos meus ídolos, especialmente do ECAG, os que mais eu vi jogar. O Guia, o Orlandinho, o Paulinho da Barraca, o Tino, que até para o Brasil de Pelotas foi, e, o maior de todos, o Ósca, verdadeira lenda do futebol Saci, ao lado do Agapito e do Ari Lúcio. Mas tenho que falar ainda dos craques do passado, como o clássico Duarte, o “trator” Chirú e o “matador” Martim, entre tantos outros do clube encarnado... E contar também do respeito, do carinho e da consideração que sempre tive pelos adversários. Amigos que fiz, dentro e fora do futebol, e que me deram igualmente o prazer de assisti-los, muitas vezes torcendo por eles. Ídolos também entre o rival, porque não? Como não reverenciar um goleiro como o Oswaldo Brito, um zagueiro como o Di, um meio-campista com a técnica de um Adel e um centroavante goleador como o Cacaio? Isso sem falar nos mitos Caturritas, como o Gita e o Naiter. E nos craques do passado, como o Herculano, o Arlei, o Casquinha, o Prego, o Sergio Papagaio e o exímio cabeceador, Dante, o "guri pequeno", só para ficar em alguns. E o Ademir e o Caminhão e o Marrequinho? E o Wilson do Ari e o Bibico e o Mosquinha, como esquecer? E o Paulão? Que capriche nas palavras quem quiser contar do futebol do Arroio Grande – de campo, de salão, de sete – quando se referir ao Paulão. Um monstro! Portanto, me desculpem, mas como eu poderei contar de apenas um único jogo, um só, se até a metade destes anos 1980 (em que década estamos, afinal?) já foram disputados mais de cem clássicos? E todos eles com alma, com dedicação, com a intensidade e o vigor que os grandes encontros exigem… Uma história que começou com folgadas vitórias do Arroio Grande, nos anos 40 e 50, inclusive com a maior de todas as goleadas – 12X0 – na inauguração do Estádio Caturrita, no dia 9 de março de 1947. Uma história que seria equilibrada, mais tarde, pelo timaço do Internacional da década de 60, quando também impôs vigorosa goleada ao Saci, por 6X1, numa partida que, os espectadores garantem, poderia ter sido vencida pelos Caturritas por uma diferença ainda maior. Como posso falar de apenas um jogo, se no primeiro Clássico que lembro de assistir, ao lado do meu pai, acabei vendo o Guia fazer um gol maravilhoso no goleiro Neneco, com um chute divino, desses de abertura de programa de televisão, isso em dezembro de 68, faltando poucos dias para o meu aniversário de guri? E como eu poderia omitir a falta cobrada pelo meu amigo Ayres Roberto, lá do meio da rua, contra o nosso maior ídolo, Ósca, se, antes mesmo de ver a bola beijando a rede, eu já estava escutando o narrador da Rádio Pelotense, que veio aqui especialmente para transmitir a partida, reverberando: “Deu tiruliruli, deu tirulirulá, e… que gol!!!”. Como esquecer dos grandes treinadores, feito o Carrapicho, o Chico Fulero, o Arizinho e o Charuto, além do próprio Gita, entre tantos outros. E dos massagistas, como o Irineu, o Totonho e o Gralha, pelo ECAG, ou como o Alicate, o Cunha e o Alcindo, pelo GEI, só para ficar em alguns. Ou dos torcedores símbolo de cada equipe, aqueles “povão”, de arquibancada mesmo, feito a Eva Marlene e o Pedro Truvisco, pelo Saci, e o Chichano e o Drácula, pelos Caturritas. Como não homenagear a todos? E como não falar também no extracampo, nas vezes em que os resultados foram decididos nos tribunais, no “Tapetão”, como se diz na gíria do futebol. Aliás, reza a lenda que, uma ocasião, o representante do Internacional não resistiu aos tragos do Bar Madelaine, em Pelotas, e acabou ficando por aqui mesmo, sem sair da Zona Sul, perdendo o julgamento na Capital. Em outra feita, um dirigente Saci, que havia viajado na véspera para Porto Alegre, teria dormido mais do que devia, certamente ainda enlevado pela estonteante fragrância de um conhecido perfume da “Gruta Azul”, e também deixou de ir à Sessão do Tribunal. Histórias, histórias… Por isso eu sei, eu admito, eu compreendo que, ambos os lados, Sacis e Caturritas, querem sempre mais, “precisam” de mais, e, cada qual, gostaria de ver descritas, aqui, mais e mais vitórias do seu time. Bueno, mas para contar tudo isso, essa história rica, poderosa, inesgotável, eu precisaria de um livro com, no mínimo, umas quatrocentas páginas, não lhes parece? É muita história, meus amigos. E imagina o que ainda poderá acontecer desta segunda metade dos anos 80 para a frente? Porque – e olha que eu sou bom de previsão – se tem uma coisa que nunca vai morrer é o futebol daqui. Nada vai conseguir terminar com a força do nosso futebol… A gente vai seguir conversando, sobre os clássicos daqui, por décadas e décadas… Isso porque se a gente não der bola para os estúpidos e irresponsáveis, se a gente escutar as recomendações dos profissionais da saúde e se cuidar direitinho, a gente vai chegar tranquilamente aos anos 2020. Quando vê até passa!
I – Flâmulas do E. C. Arroio Grande e do G. E. Internacional.
II – Fotografia histórica: A cúpula do E. C. Arroio Grande junto a autoridades locais, e com o Presidente do coirmão, G. E. Internacional, convidado, na inauguração do Estádio Astrogildo Silveira, em janeiro de 1954.
III – Sílvio Ferreira, Issa Costa e Maximiano Muñoz - Grandes dirigentes do GEI.
IV – A defesa do GEI dos anos 60 e o ataque do AG dos anos 50 – Força e poder.
V – Gita e Agapito, nos cantos da fotografia - Dois craques para além do futebol local.
VI – Ari Lúcio e Naiter, dois mitos do futebol local.
VII – Ósca e Osvaldo, duas lendas do futebol.
VIII – Arizinho e Charuto – Os professores que sabiam demais.
IX – Alicate e Irineu – símbolos de dedicação aos nossos dois grandes clubes.
X – Duas formações dos anos 1980.
XI e XII - Jogadores símbolo dos anos 80.
XIII – As apaixonadas torcidas.
(Todas as fotografias constam do livro “O Clássico – Uma história de paixão" – obra do autor – 2011 – ou do blog autorretratopedroblogspot, ou, ainda, são parte integrante de algum texto do autor publicado nos jornais da cidade ou em redes sociais).