sábado, 26 de dezembro de 2009

DEPOIS DO NATAL

Daqui a pouco mais do que trezentos e sessenta e cinco dias eu deverei, enfim, completar cinqüenta anos. Ainda falta muito, mais do que um ano, mais até do que apenas um Natal, e isso é bastante, me parece.
Entretanto, alguns começaram a me tratar como se eu já estivesse assim, como se precisasse desde agora me comportar assim, se é que me entendem.
Os meus filhos já me chamam de “velho”, a minha mulher quer que eu faça exames clínicos regularmente, e os médicos - quando me encontro com eles em meio às festas de fim de ano, logo aí, imaginem! - costumam recomendar que eu cuide melhor da minha saúde. Os amigos já não aparecem sequer para um jogo de bola e as minhas tias – todas – presenteiam-me desde o Natal passado com meias, lenços e gravatas.
O contador me visitou antes de ontem e já fala em movimentar os papéis para uma futura aposentadoria. Minha carteira de motorista vai perder novamente a validade e o meu cartão de crédito necessita outra vez ser renovado.
Enquanto isso, devo admitir, eu perdi o gosto pela política, perdi a paixão pelo futebol, perdi a necessidade da notícia; há muito tempo que somente consigo ler e escrever, e cada vez escuto menos do que me dizem.
Na verdade eu sempre fui assim, de viver sem escutar uma só palavra do que me falam. E, agora, cada vez mais entendo menos o que querem me propor. E prossigo sem planos – de metas ou de saúde -, além daqueles de beber cerveja e vinho, além de escutar música ao entardecer, além de ler novamente Borges, além de caminhar solitário pelas ruas do Arroio Grande.
Por que ainda que as minhas tias – todas – insistam em me presentear com meias, lenços e gravatas, ainda que os meus amigos – todos – estejam desaparecendo a cada Natal; ainda que a mulher, os filhos, todos em volta se preocupem com o meu dna já quase cinquentenário, eu necessito ainda de tempo para conviver mais com pessoas de verdade - os anti-heróis, os anti-sociais, os anti-cidadãos... -, e conhecer, além do Natal, um pouco mais das gentes, para poder, enfim, refazer os sonhos e ser merecedor da vida, e cultivar a esperança num outro mundo, que todos dizem ser possível e que eu acredito ser certo, pois impossível não há.
E isso tudo tem que começar uma manhã, ainda que os dias de hoje remetam a esperança para mais tarde, para depois, quem sabe depois do próximo Natal...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O QUINDIM

Segunda-feira eu comi o melhor quindim da minha vida. Foi ali, na Panificadora do Sul, a Padaria que fica perto do meu escritório, onde era o Bar do Duca, em frente ao antigo Hotel do Branco, na Rua Máximo Pereira. Eu gosto de fazer referências a lugares antigos, é uma forma de preservar a memória da cidade e todo mundo acaba entendendo do que eu estou falando. Gosto também de provar quindins, costumo fazê-lo com certa freqüência até, mas o de segunda-feira estava demais, bem amarelinho, cremoso, com um certo “caldo” por cima e com aquela raspa por baixo, como as antigas queijadinhas da Dona Ana, que o Dé - o Dedé “Sempre Social” - vendia pelas ruas do Arroio Grande nos meus tempos de guri. E segunda-feira eu estava como um guri: tranqüilo, com tamanho desprendimento que pude me proporcionar comer o melhor quindim da minha vida. Então, me propus uma espécie de indagação: Quem é que eu poderia convidar pra saborear um quindim assim? Quem, hein, nos dias de hoje, é capaz de se liberar das mazelas, dos problemas do cotidiano e parar o mundo pra apreciar um quindim, às vésperas de 2010? Pensei então no Donga, meu amigo de juventude, meu parceiro de “arteirices”, mas desisti. Não, o Donga não. ‘Tá cheio de problemas lá como Secretário de Cultura: a estrutura da nova Secretaria, a elaboração dos projetos, a incerteza das verbas, o pessoal da Educação que não desocupa o prédio... Xi! O Donga não, ‘tá de cabelos brancos, o meu amigo, não vai ter condições de saborear um quindim assim, acho que por um bom tempo. Então pensei no Jorginho, o Prefeito, pensei em convidá-lo pra comer quindim. Mas se o Donga que é Secretário ta cheio de pepinos, imagina então o Jorginho que tem que gerenciar o município, tem que se preocupar com orçamentos, com a folha de pagamento, com o desenvolvimento da cidade, com a saúde, com a educação, com o tribunal de contas, com a oposição... Bah! O Jorginho mesmo é que não tem condições de saborear um quindim; o Jorginho não tem só pepinos ou abacaxis, têm é uma salada inteira pra descascar todos os dias. Pensei então num outro Jorge, o Américo, mas o JA também vive atordoado, esbaforido, atucanado, enlouquecido, em transe. O Jorge, multimídia que é - jornalista, repórter, entrevistador, narrador, comentarista, fotógrafo, tudo... – vive permanentemente numa outra dimensão e nem tem paladar pra saborear um prosaico dum quindim desta galáxia. Não, o Jorge é capaz até de misturar os sabores e pensar que está comendo, sei lá... um mousse de maracujá! Duvidam? Pois improvável não é. Então eu segui pensando nas pessoas pra quem poderia recomendar o quindim: pensei na Marcela, mas as cantoras costumam preservar as cordas vocais, e até tem receitas próprias pra isso; pensei na Marília, mas os poetas se alimentam da arte, não se apegam a essas coisas da gastronomia, e continuei pensando, pensando... Foi quando me apareceu o Caboclo, o Bruxo Edu Damatta; então eu falei pra ele sobre a proposta de compartilhar o quindim. O Caboclo me escutou bem sério, e, quando terminei, ele se manifestou: “Um quindim? Tranqüilo, sensacional mesmo! Agora vamu ali no Geco que a Skol ta bem gelada; o quindim a gente vê depois, ta?" Então ta, né! E eu vou dizer o quê pra uma parceria dessas???

domingo, 20 de dezembro de 2009

EU JOGUEI COM O CASTELHANO MINCHO!

Todo ano a cena se repete: dezembro, e quando chega próximo ao dia 20, começam as tradicionais “peladas” de fim de ano.
O convite desta vez foi da Rádio Studio FM – 104.9, para participação no jogo disputado entre o pessoal da imprensa e os profissionais de Educação Física do Arroio Grande.
E eu estava lá, jogando pelo primeiro time, ao lado do Casca Silva, maior responsável pelo evento, do Prof. Paulista, do Pedrinho, meu sobrinho, e da grande atração da tarde, o castelhano Mincho, a super estrela da Seleção de Arroio Grande, recentíssima campeã da Taça RBS de Futsal.
Eu estava lá, no campo do Esporte Clube Arroio Grande, onde joguei pelo infanto-juvenil nos meus tempos de guri, onde fui treinado pelo Krek e pelo Paulão, e onde assisti de perto a lenda que foi o goleiro Ósca, o lateral clássico que foi o Wilson do Ary e o extraordinário talento que foi o Marrequinho, o mais completo jogador que passou pelos gramados desta cidade.
Eu estava lá, desta vez ao lado do Mincho, com o nosso time ganhando por 2 X 0 de uns guris quase trinta anos mais novos que alguns de nós: como eu, como o Casca (que fez os dois gols), o Sandro Cunha, o Secretário Afrânio, o Murilo e outros "velhinhos" e indefectíveis peladeiros.
Eu estava lá, porque todo ano a cena se repete, e que bom que é sempre assim.

O castelhano Mincho Hernandez com a camisa de Seleção Uruguaia, disputando o Mundial de Futsal; bem no alto, no campo do Arroio Grande.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

REBELIÃO?

O Sérgio Canhada propõe uma questão interessante, e complicada é claro (para variar), sobre o que teria ocorrido paralelamente à defesa dos jaguarenses quando da tentativa da invasão “blanca” do território brasileiro, ocorrida no 27 de janeiro de 1865. (postagem anterior, ao final).
Diz o Sérgio (v. nos comentários) que esse 27 de janeiro seria uma “Data Negra”, pois que acredita que escravos de Santa Isabel, Arroio Grande e Piratini tentaram coincidir uma revolta com a tal invasão castelhana.
Não é para mim. Não tenho a menor idéia a respeito dessa possível revolta, que teria antecedido as primeiras “convocações” de escravos para lutarem na Guerra do Paraguay, em substituição aos filhos dos senhores, tendo sido a Guerra deflagrada em dezembro de 1864, com os recrutamentos vindo a ocorrer já a partir de 1865. Ou uma coisa nada tem a ver com a outra?
Não sei, não faço a menor idéia, assim como da possível revolta de escravos aqui na região e no período também nada sei.
Quem sabe a gurizada que está pesquisando esses e outros fatos ligados aos negros escravos do Arroio Grande e da região não nos diz alguma coisa: o Vítor Faria, ou a Marília Kosby, ambos daqui, mas estudando lá por Pelotas, o primeiro sobre Geografia e História, a segunda sobre Antropologia, pelo que sei, se é que não me engano sobre isso também.
Mas que o assunto é interessante é, e complicado de pesquisar, claro, como sói acontecer nas propostas do Canhada...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

JAGUARÃO

Estando em Jaguarão no último fim de semana, pude apreciar (e com certa calma, desta vez) toda a beleza da arquitetura da “Cidade Heróica”, que foi, em certo período, a “pátria mãe” do Arroio Grande, em razão deste ter pertencido como distrito àquela, elevada a freguesia primeiro, isto é em 1812, e, posteriormente, à categoria de cidade, com a denominação de Vila do Espírito Santo de Jaguarão.
Aliás, a diferença de mais de 40 anos entre a elevação à Vila de uma e de outra localidade – Jaguarão em 1832 e Arroio Grande apenas em 1873 – deve-se em muito a decisão do Bispo do Rio de Janeiro, Dom José Caetano da Silva Coutinho, cuja jurisdição eclesiástica se estendia até o sul do Brasil, que propôs ao Príncipe Regente a criação da futura freguesia de Jaguarão, mesmo quando tinham sido os moradores de Arroio Grande que haviam dirigido petição a Dom João pleiteando tal distinção.
Em documento datado de 17 de junho de 1811, conhece-se da decisão do titular da diocese da capital do império, conforme referência do historiador Sérgio da Costa Franco, na sua conceituada obra Origens de Jaguarão (UCS – 1980).

“Proponho, em terceiro lugar para nova Freguesia todo o destricto do Sul do Arroio Grande, e compreendido entre a Lagoa Merim, o Rio Jaguarão, a Fronteira Hespanhola...
E havendo de dar o Assento da Igreja Paroquial no logar mais acomodado às circunstâncias, parece-me que deva ser a Capella denominada a Guarda da Lagoa, e não o oratório da Fazenda de Manoel Jerônimo, como dizem...”.

(op. cit. P. 45, mantida a grafia original)

A proposta da autoridade eclesiástica surtiria efeitos rapidamente, pois já em 1812, através da Resolução Régia de 31 de janeiro, Dom João criaria a Freguesia que viria a se chamar de Jaguarão, sendo que, posteriormente seria criada também a nossa Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Arroio Grande, permanecendo como 2° Distrito de Jaguarão.
De lá para cá, a cidade fronteiriça, que iniciou o seu povoamento exatamente como um acampamento militar às margens do Rio Jaguarão, em 1802, se destacaria como ponto estratégico do sul do país, com participações importantes na defesa dos limites das terras luso-brasileiras, como, por exemplo, no histórico episódio de 27 de janeiro de 1865 (que deu nome à Avenida mais central de Jaguarão), quando uma pequena força da Guarda Nacional resistiu, durante 48 horas, a uma tentativa de invasão do território brasileiro por mais de 1,5 mil “blancos” do exército castelhano, o que se transformou em verdadeiro marco de heroísmo e de resistência dos cidadãos jaguarenses na defesa da sua cidade e da própria fronteira pátria.
Por tudo, a quem vai simplesmente fazer compras nos free-shops do Rio Branco, vale a pena dar uma (boa) parada em Jaguarão - a “cidade heróica” -, e experimentar um pouco a beleza dos seus incontáveis prédios antigos, com as suas inigualáveis portas e a sua extraordinária história.

sábado, 12 de dezembro de 2009

KREK

Careca Chuy 80, uma década na frente, humanista, pacifista e iconoclasta; gerovita e alfa-centauro... transitando pelos caminhos austrais com destino ao epílogo Léo”...
Quem nunca ouviu essa apresentação deixou de conhecer uma das personalidades mais exóticas que se tem notícia, e que morou aqui no Arroio Grande, em meio aos anos 70.
Extravagante, irriquieto, criativo, Iraci Alves Nunes, o Careca – ou Krek, como se assinava – era natural de Santa Vitória do Palmar, e se criou com o meu pai lá pelo Chuy, de onde sairia para ser jogador de futebol, e dos bons, na década de 50. Vestindo as camisetas do Guarany de Bagé e do Nacional de Montevidéu, o Careca enfrentou nada mais nada menos do que o Vasco da Gama, base da Seleção Brasileira de 1950, e o Santos, do surgimento do menino Pelé, em partidas memoráveis.
Depois do futebol, quando estava tranquilamente administrando um Hotel da família em Santa Vitória, o Careca foi, por sugestão do meu pai, convidado para ser técnico do E. C. Arroio Grande, lá por 1975.
Foi a experiência mais louca que se tem notícia. As jogadas que ele treinava tinham nome - gerovital, alfa-centauro, epicentro... – e os jogadores eram chamados por apelidos estranhos, com nomes de satélites, planetas, galáxias, instaurando-se a maior confusão na verdadeira “Via Láctea” em que se transformou o Estádio da Avenida.
Os jogadores tinham que correr de costas, às vezes com os braços amarrados (para aprender equilíbrio, justificava o Careca); o goleiro treinava com os olhos vendados, para tentar imaginar onde a bola ia ser chutada, e ninguém entendia nada. O Ósca, o Wilson do Ary, o Marrequinho, o Paulão, todos, se olhavam e perguntavam: - Mas de onde saiu esse louco?!?
Não podia mesmo dar certo, o Careca não fazia parte deste planeta, como ele mesmo se identificava e como as suas atitudes reiteradamente comprovavam.
Uma ocasião, em plena ditadura militar (início dos anos 70), quando a repressão rotulava todos os que se opunham ao sistema de “terroristas”, o Careca resolveu criar um time de Futebol de Salão em Santa Vitória, e colocou logo o nome de... Terror Show FC. No primeiro jogo, levou para a Praça de Esportes uma faixa com os seguintes dizeres: “Paz, Amor e muita fé no Terror!”. Resultado: a estréia do time adiada e todo mundo preso, para dar explicações no Dops, a polícia política da época.
Histórias, histórias... O Careca tinha tantas que não cabem numa só crônica: como a do amigo tupamaro, segurança do Pacheco Areco, Presidente do Uruguay, e que vivia bêbado, se perdendo seguidamente do Presidente; ou da Tia Dorinha, que ele garantia que nos resolveria qualquer problema e, quando a gente ia pedir ajuda, ele arrematava: - Tudo bem, vou lá falar com ela, mas é quase certo que ela não vai querer. E ela nunca queria, realmente.
Quem conheceu o Careca pode afirmar que ele foi seguramente o louco mais louco que já passou por aqui, o que não é pouco nesta terra de malucos. E olha que nesse quesito eu tive experiência, e das boas, dentro da própria casa, mas o Krek foi mesmo imbatível, sem comparação, ao menos neste planeta.

Na primeira foto, no alto do texto, o Careca em Arroio Grande, fazendo o símbolo de "Paz e Amor", no dia 16 de fevereiro de 1975. Na foto de baixo, Careca erguendo a bandeira da Paz, onde se lê: "Os Alfa Centauros saudam aos terráqueos do Hermenas"; na Praia do Hermenegildo, ano de 1977.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

EL MOROCHO DEL ABASTO

Estando em Buenos Aires, onde fui levar o meu filho Pedro Gabriel para assistir ao show da banda australiana de rock AC/DC (quem acreditaria se eu contasse que ia fazer isso, um dia...), lembrei da discussão provocada pelo livro do Schlee - Os Limites do Impossível, Contos Gardelianos - centrado na polêmica do local de nascimento de Carlos Gardel, e trazendo a lume os personagens que fizeram parte dessa história, na versão do escritor jaguarense de que o cantante teria nasscido em Tacuarembó, Uruguay, pelo que procurei também alguma coisa sobre o Gardel, e, entre tantas obras, escolhi uma baratinha, produzida pelo grupo do conhecido periódico La Nacion, de uma série intitulada Protagonistas de la cultura argentina, editada em 2006.
Logo no início do livro - Carlos Gardel, El Morocho del Abasto(*) - vem à tona a questão do nascimento e a posição da editora argentina é a de que Gardel nasceu em... Toulouse, França, a outra hipótese aventada e discutida desde a morte do ídolo do tango ocorrida em 1935.
Para a questão do passaporte de Gardel (onde consta: nascimento em Tacuarembó, Uruguay), o livro traz a hipótese de que o documento teria sido "facilitado" (eufemismo para falsificado) por um funcionário uruguaio, com vinculações com Buenos Aires, para facultar as viagens de Gardel ao exterior, já que o cantor não teria como obter passaporte no seu país de origem (no caso, a França), em razão de ser militarmente "insubmisso" (acho que é esse o termo), pelo fato de Gardel não haver lutado "bajo bandera" durante a Primeira Guerra Mundial.
Já para afirmar que Gardel era francês, os editores se utilizam do Testamento do cantor, onde este diz, já no início das suas 'disposições de última vontade': "primero soy francés nacido en Toulouse - el dia 11 de Diciembre de 1890 y soy hijo de Bertha Gardes..." (cfe. reprodução abaixo).
Como se vê é longa (e talvez interminável) a discussão sobre o local de nascimento de Carlos Gardel, o extraordinário mito do tango argentino e mundial.

(*) Morocho vem do castelhano "moreno", embora alguns utilizem a expressão (indevidamente) também para "rapaz", ou "jovem" (tal deve ocorrer porque a definição de morocha vem quase sempre acompanhada do "rapariga" antes de "morena", daí a confusão, imagino).
Abasto é um bairro de Buenos Aires, onde Gardel foi criado. No bairro existe hoje o Museu Carlos Gardel, e a estação de Subte (metrô) Carlos Gardel (linha "B"), onde se desce bem em frente ao moderno Shopping Abasto, com sua praça de alimentação pasteurizada e suas franquias internacionais.

domingo, 6 de dezembro de 2009

FATALIDADE

O envolvimento com as "arteirices" da semana passada - a Feira do Livro, que acabou adiada, a Mostra de Dança da Academia, a vinda do Aldyr Schlee... - tudo acabou contribuindo para que o autor do blog esquecesse de transcrever uns versos mandados publicar na imprensa local – Jornal “A Evolução” de 28/11/1949, há exatos 60 anos – por Wilson Garcia Feijó, em homenagem à morte, ocorrida no dia anterior, de Salvador Soares, figura extremamente conhecida e, ao que se sabe, muito querida da comunidade.
Wilson Feijó, ao tempo em que reivindicava, também profetizava, já que o amigo acabaria mesmo virando nome de rua no Arroio Grande, estando a Rua Salvador Soares situada na Zona Norte da cidade, entre a Leonel Fagundes e a Joaquim Manoel Soares.
Fica a dívida do blogueiro de um dia escrever também sobre a rua; por enquanto, seguem os versos (em cima, o original, de 1949; abaixo, a transcrição literal dos mesmos) do Wilson para o amigo Salvador, cuja morte acaba de completar 60 anos.
FATALIDADE

Em homenagem a memória
do meu saudoso amigo
Dr. Salvador Nunes Soares

Vinte e sete de novembro
Foi um dia bem fatal,
Vi minha terra sofrendo
Um golpe rude... mortal,
Por perder entre seus filhos
Um de valor sem igual!

Um moço cheio de vida,
De extraordinária cultura;
Uma alma esclarecida,
Feita de amor e candura
Era toda a esperança,
De nossa vida futura!

Foi sempre um grande amigo
Do homem trabalhador
Onde houvesse uma oficina
Sempre estava o Salvador,
Embora nunca deixasse
De ser um juiz a rigor!...

Nesses versos que hoje escrevo
Rogo ao nosso Criador
Que dê a paz que merece
A quem foi um benfeitor;
Que tenha um reino na Glória
Junto dos pés do Senhor!

E minha terra que, sempre,
Aos seus filhos deu valor,
Deve hoje homenagear
Quem teve tanto esplendor,
E dar a uma das ruas
O nome do Salvador!...

A. Grande 28/11/49
Wilson Garcia Feijó

Salvador Soares é o primeiro à esquerda, de óculos; na outra ponta da foto Aimone Soares Carriconde - fotografia de 1930.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SUBSTITUIÇÃO

Essa história de um time jogar com os titulares ou com os reservas traz a tona uma questão nem sempre bem resolvida no futebol, que é a substituição dos jogadores no decorrer das partidas. A troca, ainda que normal no futebol, sempre traz certa controvérsia, gerando dúvidas e alguma insatisfação.
Aqui no Arroio Grande correm inúmeras histórias de substituições de jogadores; eu vou relatar duas, conhecidas dos boleiros pelo folclórico da situação.
Uma ocasião, nos anos 70, o Arroio Grande jogava em Santa Vitória do Palmar contra o Rio Branco daquela cidade. O Gita era o treinador e, pela ausência do titular, acabou escalando o Paulo Fernando, o popular “Caminhão”, como lateral-direito do time. O Caminhão era um glorioso centro-médio, à moda antiga, de enorme vitalidade; à época, porém, estava recém começando e era reserva do time.
A cada vez que o Arroio Grande saía para o ataque, o Gita, aos gritos, pedia para o Caminhão avançar: - Caminhão, vai, vai que tem um corredor à tua frente... Ao que o Caminhão respondia: - Calma hômi, calma que eu não to na minha (afinal, era meio-campista improvisado na lateral...). Meia hora de jogo, a situação se repetindo e o Gita gritando: “Vai, vai...”, e o Caminhão respondendo: - Calma hômi, que eu não to na minha... Pois o Gita não esperou muito, casmurríssimo, mandou outro jogador aquecer e substituiu o Caminhão no finzinho do primeiro tempo.
Quando se cruzaram, o Caminhão saindo e o Gita na lateral do campo, o jogador protestou: - Pô, hômi, tu não tem paciência, tu sabe que eu não to na minha. Ao que o técnico rebateu: - Ah, é? Pois agora tu vais voltar ‘pra tua’; senta ali no banco de reservas, senta que ali é o teu lugar. E liquidou a questão, voltando a se concentrar no jogo.
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Uma outra substituição “famosa” aconteceu com o Internacional, quando jogava em Camaquã contra o Guarani local. Com o time perdendo, o técnico Osvaldo resolveu mexer no ataque e mandou o “Mosquinha” aquecer.
Conta o Mosca que enquanto corria pela lateral ouvia da torcida caturrita palavras de estímulo para entrar em campo. - Vai, Mosca, pra cima deles! Vai lá, mete gol! ‘Vamu’ empatar esse jogo! - incentivavam. E o Mosquinha ali, se preparando feito um leão, com fome de bola, pronto para arrasar em campo. Então, o técnico aguardou mais alguns minutos e, cansado das oportunidades que o time desperdiçava, virou para o banco e decidiu: - Não dá mais para esperar, vai ser agora, vou tirar um atacante! Ato contínuo, olhou para os reservas e, pondo fim às expectativas do Mosca que já não aguentava mais aquecer, chamou o ponteiro Veiga - o Veiguinha - para entrar, “rápido e bem aberto na ponta esquerda...”.
O Mosquinha sentou novamente no banco e até hoje escuta certos torcedores jurarem que ele virava aquele jogo...
Gita, quando era ainda jogador, no Maracanã, em partida contra o Flamengo, no ano de 1950. No meio, entre Gita e Geada, o ex-gremista Hermes, se despedindo do Clube gaúcho e vestindo pela primeira vez a camiseta do rubro negro carioca.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

PARA GOSTAR DE VER!


A 2ª Mostra Regional de Dança da Academia Camerini lotou completamente o Centro de Cultura, trazendo inúmeras coreografias da cidade e da região, que encantaram o público presente. Nas fotos, as apresentações de "A Coisa" e "Dança de Salão", ambas da Academia Estímulo, de Pelotas (acima), e as coreografias "Replantio", da própria Academia Camerini, e o "Hip Hop", do Grupo Art Urbana, de Pelotas (abaixo).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

IMPOSSÍVEL NÃO HÁ!

Foi um acontecimento!
A presença do escritor Aldyr Schlee em Arroio Grande, com a finalidade de conversar com estudantes de literatura, acadêmicos de letras e interessados, levou muitas pessoas ao Centro de Cultura, num domingo de manhã, para conversar sobre... literatura.
Num clima de informalidade e afabilidade, Schlee conversou por mais de duas horas com o público presente, e respondeu a inúmeras perguntas dos estudantes que haviam apreciado alguns dos seus textos - especialmente Braulina, do livro Contos de Sempre, e Yasmina, da obra Contos de Verdades, lidos em sala de aula num trabalho coordenado pela Profª Maristela Pires -, com o escritor fazendo uma verdadeira dissecação dos seus personagens, revelando inclusive a proximidade destes com pessoas reais da nossa região.
Buscando satisfazer especialmente a curiosidade do público jovem, Aldyr Schlee não se furtou a responder nenhuma indagação, voltando a enfrentar inclusive uma questão recorrente na sua vida, qual seja a de responder sobre o processo de criação do uniforme da Seleção Brasileira, por ele idealizado, através de um concurso nacional, em 1953, assunto que confessadamente incomoda o escritor, quando abordado sobre o tema durante as jornadas de literatura das quais participa.
Após o encontro com o público, Schlee (que se disse positivamente impressionado com a participação dos estudantes na conversa) foi almoçar com os organizadores do evento, ocasião em que, entre diversos outros assuntos regados a cerveja até quase o fim da tarde, teceu considerações sobre o seu último livro - "Os Limites do Impossível", Contos Gardelianos, lançado apenas em Porto Alegre e Arroio Grande -, bem como fez algumas revelações sobre o seu futuro romance "Don Frutos", baseado na vida do General (Frutuoso) Rivera, 1° Presidente da 2ª República do Uruguay, outro personagem recorrente nas histórias do escritor jaguarense, que hoje experimenta a pacatez de viver no tranquilo município do Capão do Leão.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

HABEMUS PEPE

Impressionante imagem das ruas de Montevideo quando populares comemoravam a eleição de 'Pepe' Mujica para a Presidência do Uruguay, com uma vitória de mais de 10 pontos percentuais (220 mil votos) sobre Lacalle, levando a esquerda de Frente Amplio à reeleição no pais vizinho.
A fotografia e o título forma extraídos do jornal "La República".