segunda-feira, 29 de junho de 2009

HISTÓRIAS (IX) - DON PEPE

O senhor aí da foto se chama José Mujica, conhecido por Pepe Mujica, Don Pepe.
É Senador da República Oriental do Uruguai, e acaba de ser indicado pelo seu partido, o Frente Amplio - uma coalizão de esquerda que atualmente ocupa o Governo do país com Tabaré Vasquéz -, para disputar a Presidência da República, nas eleições de outubro próximo.
Conheci pessoalmente Don Pepe em 1998, na Sala que ele mantinha na Assembléia do Uruguai, quando era ainda Deputado, sempre eleito pelo Frente Amplio.
É o único político com quem conversei pessoalmente – incluindo na comparação nomes como os de Olívio Dutra e do próprio Lula – que mantém a mesma postura, a mesma autenticidade dos seus tempos de líder sindical, não perdendo nunca a simplicidade que se revela nos hábitos que mantém há mais de 50 anos (Mujica tem 74), como, por exemplo, fumar cigarro palheiro, usar jeans desbotado, camisa “desengomada” e aberta à altura do peito, e dirigir o próprio veículo, primeiro uma lambreta, que mantinha como deputado, e, depois, um fusca, adquirido quando chegou a senador.
Pois Pepe Mujica, quando eleito pela primeira vez Deputado Federal no Uruguai, chegou ao congresso para a posse pilotando uma “vespa”, e foi estacionar no local destinado aos veículos dos parlamentares.
Não tendo sido reconhecido pelo guarda do estacionamento em razão do capacete que usava, foi por este abordado e inquirido, de maneira incisiva:
“Acá no puede, Señor” – disse o guarda, perguntando logo em seguida: - “Piensa en quedar-se por mucho tiempo?”.
Mujica, que havia sido torturado e preso, vivendo por cerca de 14 anos na prisão durante a ditadura militar uruguaia, respondeu, enquanto tirava o capacete:
- “Bueno, se los milicos no me sacán, pienso em quedar-me por lo menos cinco años”.
(Cinco anos é o prazo de um mandato parlamentar no Uruguai)
Que Don Pepe tenha a acolhida e o reconhecimento do povo uruguaio nas eleições de outubro, e fique pelo menos os próximos cinco anos na Presidência do vizinho país; a história de lutas da nossa América, secularmente governada por elites, bem que o merece.

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