O meu avô Guadil Bittencourt era um castelhano letrado, natural de India Muerta, lugarzinho do Departamento de Rocha, leste do Uruguai.
Nascido em 1901, o “Velho Guadil”, como nós o chamávamos, terminou a vida depois de conviver por mais de década com um tumor na próstata, morrendo em 1977, aqui pertinho, em Jaguarão.
Nascido em 1901, o “Velho Guadil”, como nós o chamávamos, terminou a vida depois de conviver por mais de década com um tumor na próstata, morrendo em 1977, aqui pertinho, em Jaguarão.
Filho de camponeses, tendo cursado os seus estudos em Rocha, Guadil trabalhou em La Paloma e no Chuy, neste como Escribiente de Policia, e, mais tarde, como funcionário da Alfândega uruguaia.
Paralelamente, escreveu para vários jornais de Montevideo, como o tradiconal El País, e também do interior do Uruguai, tendo sido fundador do Jornal “El Chuy”, e do Jornal “Renovacion”, este na cidade de Rio Branco, fronteiriça a Jaguarão.
Em 1931, Guadil casou com a minha avó, a Professora Delícia Ramis, dez anos mais nova que ele. Tiveram um casal de filhos: minha tia Tereza, e meu pai, Pedro Jaime Bittencourt.
Em seguida ao casamento, Guadil aproveitou uma saída do serviço aduaneiro e se dirigiu, na companhia de alguns amigos, para um cabaré famoso da fronteira, inspiradíssimo para uma noitada de farra.
Ao entrar no cabaré, porém, Guadil vislumbrou a presença de dois irmãos solteiros da minha avó – tio Napoleão e tio João – com quem não tinha lá tanta intimidade para escancarar a cafajestada.
Visto de imediato pelos cunhados, Guadil, rápido e sagaz, empurrou os amigos que o acompanhavam para dentro do salão, e fingindo que sequer se apercebera da presença dos irmãos da sua mulher, gritou em alto e bom som, para todo o cabaré ouvir:
“Bueno, já lhes enseñe la Casa ahora me voy”.
E se foi, como se nada daquilo tivesse a ver com ele.
Foi uma saída inteligente, é verdade, mas meu avô pagou e muito por ela. Com o passar do tempo, o meu pai, sabedor da história pelos tios, jamais o “perdoou” e viveu anos gozando “o Velho”, entre um e outro veraneio, entre um e outro jogo de truco, lá na Praia do Hermenegildo, quando, por qualquer motivo, costumava provocar:
“Bueno (papá), já lhes enseñe la Casa ahora me voy”.
Ao que o Vô Guadil, rabugentíssimo, respondia:
“Más respecto, más respecto que soy tu padre, carajo!”
Paralelamente, escreveu para vários jornais de Montevideo, como o tradiconal El País, e também do interior do Uruguai, tendo sido fundador do Jornal “El Chuy”, e do Jornal “Renovacion”, este na cidade de Rio Branco, fronteiriça a Jaguarão.
Em 1931, Guadil casou com a minha avó, a Professora Delícia Ramis, dez anos mais nova que ele. Tiveram um casal de filhos: minha tia Tereza, e meu pai, Pedro Jaime Bittencourt.
Em seguida ao casamento, Guadil aproveitou uma saída do serviço aduaneiro e se dirigiu, na companhia de alguns amigos, para um cabaré famoso da fronteira, inspiradíssimo para uma noitada de farra.
Ao entrar no cabaré, porém, Guadil vislumbrou a presença de dois irmãos solteiros da minha avó – tio Napoleão e tio João – com quem não tinha lá tanta intimidade para escancarar a cafajestada.
Visto de imediato pelos cunhados, Guadil, rápido e sagaz, empurrou os amigos que o acompanhavam para dentro do salão, e fingindo que sequer se apercebera da presença dos irmãos da sua mulher, gritou em alto e bom som, para todo o cabaré ouvir:
“Bueno, já lhes enseñe la Casa ahora me voy”.
E se foi, como se nada daquilo tivesse a ver com ele.
Foi uma saída inteligente, é verdade, mas meu avô pagou e muito por ela. Com o passar do tempo, o meu pai, sabedor da história pelos tios, jamais o “perdoou” e viveu anos gozando “o Velho”, entre um e outro veraneio, entre um e outro jogo de truco, lá na Praia do Hermenegildo, quando, por qualquer motivo, costumava provocar:
“Bueno (papá), já lhes enseñe la Casa ahora me voy”.
Ao que o Vô Guadil, rabugentíssimo, respondia:
“Más respecto, más respecto que soy tu padre, carajo!”
2 comentários:
Bonita essa homenagem a teu avô. O text demonstra o carinho e o apreço que tinhas por teu ascendente. Infelismente, não damos, por mais das vezes, a importãncia que nossos avós merecem. No meu caso, me penitencio até hoje por não ter convivido mais com meu avô materno, de nome Januário Domingues, de apelido "negrito", que nasceu em 1900 e acompanhou o século, vindo a falecer em 1985. Quantas histórias teria ele para me contar? Quanto experiência e conhecimento da vida poderia me passar? Por isso, tentei passar para minha filha o respeito e admiração aos avós dela, aconselhando-a a que aproveite esse convívio que, por passar rápido, não nos apercebemos o quanto perdemos a não lhes ouvir como merecem.
É verdade, Carlos.
Do "Velho Guadil" - a quem acompanhei até os meus 16 anos de idade, especialmente lá na Praia do Hermenegildo quando convivíamos de dezembro ao começo de março -, guardei histórias notáveis, inclusive a de um duelo que ele assistiu (e que era autorizado pela Lei uruguaia à época), lá pela década de 30, e que me contou todinho quando eu tinha 14 anos, mais ou menos.
Pode ser que um dia eu me anime a contar essa história aqui no blog;
enquanto isso vou postando algumas coisas que - misturando saudosismo e nostalgia - fazem despertar na gente esse gosto bom da lembrança, do respeito pelo passado e do carinho por aqueles que, de certa forma, fizeram de nós aquilo que somos hoje.
Grande abraço.
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