Lá pelos idos de 1958 surgiu em nossa cidade um jornal semanal de nome A Tribuna. Era liderado pelo Pedro Jaime Bittencourt (o Eterno), mais o Fernando Martinelli, o André Notari, o Ney e o Lauro Cavalheiro. Naquele tempo os jornais da terra, que eram dois, contando com o A Evolução, lidavam com sérias e distintas dificuldades de ordem financeira. Tanto que, a bem de comprar papel para as rotativas, e cumprimento da obrigação de estar na mão do leitor às sextas-feiras, o Pedro teve de aproveitar como matéria de capa, uma briga envolvendo o Pitico com o Seu Venâncio. A contenda, publicada em três edições, em forma de crônica, tinha a lavra do Seu Venâncio. Foi assim: À época, era Delegado o Herculano Ghan e a D.P. ficava naquela esquina confronte à CEEE, hoje propriedade do Basciri e do Nasser, recentemente QG do Partido Progressista; a redação do semanário estava localizada onde hoje é a Loja da Sinaleira, na calçada defronte à SSMAG, dividindo, na semana de Carnaval, as instalações com a loja A Momolândia, do Conceição. Tudo na mesma calçada do escritório de advocacia do Doutor Aimone Carriconde, que ficava na Visconde de Mauá, na esquina da hoje Farmácia Saúde. Pois - situado o leitor geograficamente -, não tendo o Seu Venâncio encontrado o advogado em seu local de trabalho, dirigiu-se à Delegacia de Polícia; e, justo no caminho onde estava o Pedro, à porta da tipografia, desconsolado por não ter papel para rodar a edição da semana, passa o Seu Venâncio, com um curativo imenso no braço e uma vontade mais imensa ainda de contar o seu infortúnio. Não deu outra... Parou. Contou. O Pedro, ai minina!, nem esperou ele terminar o seu registro. No ligeirão, com o pião já na unha, partiu para o ataque: Que ele Seu Venâncio contasse a desdita numa crônica, como matéria paga, jogando aos quatro cantos do mundo, a agressão do Pitico... Preço acertado saiu a catilinária. Foi ao prelo em três capítulos, nas três edições de 08, 15 e 22 de dezembro de 1959. Os gozadores, aproveitando uma novela radiofônica em que era galã o Amilton Fernandes, na Rádio Farroupilha, chamada o Direito de Nascer, apelidaram a da briga de O Direito de Morder. Eis, copiado ipsis literis, um minúsculo trecho da primeira das três crônicas meio corrigido gramaticalmente, como se vê, por uma boa alma: “ ... Eu disse, tive, fui levar o dinheiro da banha. Ele me respondeu: Lá não se vende banha nenhuma, faz hora que ando te procurando para te dar muito pau. Eu disse: Mas o que é que há, E ele já tira de uma arma branca e levou direito a minha barriga, dizendo: O que há é isto e eu tentei sair fóra, a moda criança, levando a mão direita a arma que ainda-me atingiu a coxa esquerda, um ferimento bastante profundo e com o mínimo de 11c centímetros de comprimento conforme diversos cidadões viram e ainda podem ver, ferindo-me a mão do mesmo lado a respeito do ferimento eu tinha mais argumentos a fazer, mas a pedido de um amigo deixo de faze-lo nesta ocasião. Daí, como ia contando, Deus me ajudou a dar um soco que a arma desapareceu, mas aí ele tentou novamente deixar quatro filhos pequenos sem pai; dando-me uma gravata para me enforcar, mas Deus me ajudou de novo, deu-me. A lembrança de pegalo o braço com uns pedaços de dente que foi toda a minha salvação, pois talves com a dôr ele parou de tentar-me apertando o cogote com os dedos, ocasião em que eu, que não sou de briga soltei-o e nos empurramos um do outro e ele ficou dizendo-me; Tenho que te dar muito. Eu disse: vou dar parte de ti, ordinário, me cortaste e embarquei no auto e vim direito ao Dr. Aimone...”. Como dizia o Seu Ramãozinho, filosofando lá na Liga Operária, espargindo os seus ensinamentos: Assim como são os homens, são as criaturas...
(Arnóbio Zanottas Pereira)
Leiam o texto no original em:
http://arnobiopereirahistorias.blogspot.com/2011/12/seu-venancio-la-pelos-idos-de-1958.html
(Arnóbio Zanottas Pereira)
Leiam o texto no original em:
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