domingo, 4 de dezembro de 2011

ESCOLHA

Escrevi aqui, há pouco tempo, sobre a minha “capitulação” como gremista, pelo fato de um dia ter adentrado na loja oficial do S. C. Internacional para comprar um presente para a minha filha colorada. Na ocasião, falei do meu vínculo com o Grêmio – pelo Gita, pelo Agapito, pelo Telê Santana, por tudo! –, mas não cheguei a contar o que afinal me fez gremista, como foi que tudo começou.
Eu tinha perto de sete anos de idade e a minha família morava ainda na Rua D. Pedro II, esquina da Praça Central, diagonal com a Igreja Matriz. Aos domingos, quando não havia jogo do Arroio Grande na cidade, o meu pai tinha por hábito sentar em frente à casa, acompanhado de um chimarrão, para escutar as partidas do seu Internacional, de Porto Alegre, num enorme rádio que ele ligava na Rádio Guaíba.
Eu ficava por ali, na volta, em meio à rua ainda sem calçamento, pouco interessado no jogo de futebol que o meu pai escutava. Gostava mesmo era de brincar descalço, de pular nos montes de areia e de subir nos canteiros da Praça, como faziam todos os guris da minha idade.
Uma ocasião, porém, os gritos do narrador esportivo chamaram demais a minha atenção e acabaram por definir o meu futuro como torcedor de futebol.
Foi no ano de 1968. O meu pai escutava um Grenal, e eu, entre um salto e outro para o meio da rua, ouvi o narrador (o Pedro Carneiro Pereira? O Milton Ferreti Jung? Já seria o Ranzolin?) gritar gol, goooooooooool do Grêmio, por diversas vezes, repetidas vezes, praticamente a tarde inteira.
O meu pai, impassível sobre a velha cadeira de madeira, não dizia nada, mas a cada goooooooooool do Grêmio propagado pelas ondas do rádio, parecia engolir a contragosto os goles de chimarrão.
Eu não sabia direito o que estava acontecendo, pois não me interessava pelo jogo. Entretanto, a cada vez que me aproximava de onde estava o rádio do meu pai escutava invariavelmente o mesmo grito: gol, goooooooooool do Grêmio.
O jogo, eu saberia depois, foi o Grenal de n° 187, realizado em 2 de junho de 1968. O Grêmio ganhou do Inter por 4 X 0 – gols de Alcindo, duas vezes, Joãozinho e Volmir. Entre as repetições do intervalo e do final da partida, eu devo ter escutado a expressão “goooooooooool do Grêmio”, umas dez, doze vezes, no mínimo, naquela tarde.
E foi esse Grenal, ou melhor, foram os gritos de gol desse Grenal, que me fizeram gremista, a despeito do enorme amor que eu sempre tive pelo meu pai – colorado fanático – e não obstante o meu pouco gosto pelo futebol naqueles tempos.
Todavia, para o menino que eu era à época, a reverberação, a tonitruância, a repetição incontida do grito máximo do futebol tiveram tamanho efeito que acabaram por determinar uma das grandes paixões da minha vida.
E eu me fiz gremista para gritar “goooooooooool do Grêmio” incontáveis vezes mais tarde, e eu me fiz gremista para gritar “goooooooooool do Grêmio” por décadas e décadas depois. Ali, no dia 2 de junho de 1968, eu me fiz gremista para sempre!

2 comentários:

Ricardo Petrucci Souto disse...

Eu também me tornei torcedor do Grêmio graças a esse time, mas em 1967, quando do hexa.

Os jogadores eram os mesmos.O Jadir e o Hélio Pires, que aparecem na foto, eram reservas do Cléo e do Babá, respectivamente.

Fiquei tão fanático pelo Grêmio (estado psíquico superado há uns 10anos)que até meu pai, que só torcia pelo Farroupilha e pelo Peñarol, passou a ser gremista.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Pois é, Petrucci...
A minha "fanatização" pelo Grêmio veio na pior época, os terríveis anos 70.
Fiz, inclusive, a minha estreia em Grenais "ao vivo" em pleno Beira-Rio, em 1975 (1º de maio), quando perdemos com dois gols do Escurinho (que estava no banco e entrou lá pelos 38 do 2º tempo), marcados aos 40' e 44', é mole?
Alegria mesmo só naqueles 3 X 1 "do Zequinha" (23.07.75), uma quarta-feira fria no Arroio Grande, eu escutando o jogo na Praça Central e quebrando o radinho ao jogar para cima, tamanha a alegria de ganhar "deles", ainda mais no Beira-Rio.
Depois veio 1977, com o gol mágico do André Catimba e o fim do sofrimento que durou praticamente uma década.
Mas aí já havia uma nova paixão, o Xavante, de volta ao futebol em 1975, e com Tino, que saiu do Arroio Grande para a voz do Celestino Valenzeula (que laaance!) ao marcar (e parar) Falcão, Carpeggiani, Valdomiro, Flávio e Lula. (O Figueroa, não, que esse nem se animava a chegar perto da nossa área para enfrentar o "Passarela dos Pampas"...).
Que tempos, que tempos!