sábado, 12 de novembro de 2011

ENQUANTO A VAGA NÃO CHEGA

A piada é conhecida: no centro de uma grande cidade, o sujeito, chegando em cima da hora próximo ao local onde iria assumir um cargo importante e sem ter onde estacionar o carro, ergue as mãos para os céus e suplica: – Senhor, por favor, me arruma uma vaga urgente, agora, neste instante! Prometo que se isso acontecer vou parar de beber, serei bom pai, vou ser fiel a minha mulher... Enquanto ele desfiava o seu rosário de promessas, um carro se retira bem à sua frente, abrindo vaga para o estacionamento. O sujeito, então, olha novamente para os céus e exclama rapidamente: – Não precisa mais, Senhor, retira tudo o que eu disse, não precisa mais!!!
É bem assim, exatamente assim, somos todos iguais, rigorosamente iguais ao personagem da anedota.
Fazemos promessas que não pretendemos cumprir, invocamos um Deus no qual não acreditamos, e, mais que isso, não fazemos questão de honrar, e somente prometemos qualquer coisa quando não temos “vaga para estacionar”.
Mais: somos o “exemplo” de uma sociedade que não colabora em nada para a construção daquilo que costuma exigir. Cobramos ética dos políticos, condenamos a corrupção, criticamos a imoralidade, mas cometemos diariamente os mesmos erros, e somos aéticos, imorais e criminosos o tempo todo.
Praticamos a pirataria, furamos filas nos bancos, passamos nos sinais vermelhos, dirigimos depois de beber, não procuramos devolver o dinheiro que eventualmente achamos, cobiçamos tudo o que não é nosso (ainda mais se estiver próximo), e somos fofoqueiros, invejosos e desleais. Quer dizer, em termos de valores morais não devemos nada à turma do mensalão, aos malufistas, ou aos colloridos, a nossa diferença com eles está apenas em termos de valores econômicos, ainda que seja grande.
Este é, infelizmente, o retrato da nossa sociedade. A imensa maioria das pessoas que conhecemos costuma agir assim, apenas uma minoria é que se comporta rigorosamente dentro das regras da moral, da ética e da legalidade.
E depois ainda reclamamos que queremos um Mundo melhor, um Brasil melhor, um Arroio Grande melhor. Melhor para quem, cara pálida? Falamos em deixar um planeta melhor para os nossos filhos, mas na verdade o que fazemos é colaborar – e como! – para deixar os piores filhos para o nosso planeta.
Disso tudo, só o que nos salva é o mesmo que nos condena: o fato de sermos humanos – safados, imorais, criminosos, mas humanos.
Porque o fim do homem, embora todos os cálculos e previsões, parece estar longe de se tornar realidade, o que significa que ainda podemos prometer muito ante a falta de estacionamento, e, quem sabe, começar pouco a pouco a pagar as nossas promessas, ao menos enquanto a vaga não chega...

2 comentários:

Aldyr Rosenthal Schlee disse...

Acabaste de postar; acabei de ler. Perfeito. Parabéns! Mataste a pau.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Valeu Aldyr.
Eu até achava a crônica meio que um "lugar comum ao contrário", mas se o BF carimba...
Por falar nisso, permaneço com o problema de comentar no BF (acho que só dá como "anônimo" mesmo), fiquei louco para me manifestar sobre aquela questão do Jaguarense, uma hora vai.
Abço.