O meu filho Pedro Gabriel fez um trato comigo, um acerto entre nós dois, mas que impôs uma obrigação a ele – ao Pedro filho – não a mim – o Pedro pai –, ao menos desta vez.
Não lembro quando fizemos o trato, mas certamente foi depois da morte do meu pai, o velho Pedro Bittencourt, a partir de quando, nas conversas com o meu filho, eu passei a contar inúmeras histórias sobre o avô dele, especialmente àquelas reveladoras da forma diferente como o Pedro encarou a vida, e, sobretudo, da maneira como ele realmente viveu.
O trato foi o seguinte: do primeiro dinheiro que o Pedro Gabriel ganhasse com o trabalho dele, fosse no ofício que fosse, ele deveria guardar uma parte para me pagar um almoço no Mercado Público, em Pelotas, ou em algum boteco similar, freqüentado por gente simples e abastecido por comida caseira.
A proposta, ao que lembro, foi do meu filho mesmo, e a ideia só pode ter vindo em memória do velho Pedro, o eterno inspirador das coisas da minha família.
O Pedro Bittencourt era um sujeito interessante (para dizer o mínimo, nesta época de homens comuns) e tinha algumas manias que ultrapassavam a mera excentricidade, como, por exemplo, almoçar no Mercado de vez em quando, independente da quantia de dinheiro que tivesse no bolso.
E isso porque o Pedro, que ganhou muito dinheiro em face da reconhecida capacidade como advogado, gostava de experimentar extremos, e para ele tanto fazia comer salmão ou dobradinha, beber whisky 12 anos ou vinho de garrafão.
Não foram poucas as ocasiões em que o Pedro, depois de receber fartos honorários de algum cliente mais abastado, convidou a turma toda – a mim, ao Kiko, o Bardou... – para almoçar no Mercado, em Pelotas, com a comida servida em “prato feito” e acompanhada de uma cerveja barata.
O único que relutava em nos acompanhar era o Sílvio Santana, um amigo de assumida origem burguesa e playboy por natureza. Figura extraordinária, o Sílvio havia falido; então, teve que trocar o whisky farto e os chopes do Bavária por uma cachaçinha com limão “anotada” pelo Modesto, no Taperinha, assim como trocou o espeto corrido do Lobão pelo meio risoto do Madelaine, sem, entretanto, jamais abandonar o adágio que carregava: – Pobre, mas café bem doce! – justificava, para nos deixar em meio à caminhada para o Mercado.
Pois agora, como vinte e cinco anos depois, e com o Mercado fechado para intermináveis reformas, agora que o meu filho já recebeu o seu primeiro salário, nós estamos nos preparando para almoçar num boteco qualquer – comida caseira, conta paga por ele, no limite de R$ 4,90 por pf, conforme o combinado – tudo para comemorar o primeiro ganho de um trabalhador.
Mais que isso, para festejar uma história compartilhada entre três gerações – filho, pai e avô – nesse ciclo interminável da vida que, felizmente, propicia a gente sempre algum motivo de comemoração.
À tua saúde, meu filho, e um grande brinde, meu pai!
Não lembro quando fizemos o trato, mas certamente foi depois da morte do meu pai, o velho Pedro Bittencourt, a partir de quando, nas conversas com o meu filho, eu passei a contar inúmeras histórias sobre o avô dele, especialmente àquelas reveladoras da forma diferente como o Pedro encarou a vida, e, sobretudo, da maneira como ele realmente viveu.
O trato foi o seguinte: do primeiro dinheiro que o Pedro Gabriel ganhasse com o trabalho dele, fosse no ofício que fosse, ele deveria guardar uma parte para me pagar um almoço no Mercado Público, em Pelotas, ou em algum boteco similar, freqüentado por gente simples e abastecido por comida caseira.
A proposta, ao que lembro, foi do meu filho mesmo, e a ideia só pode ter vindo em memória do velho Pedro, o eterno inspirador das coisas da minha família.
O Pedro Bittencourt era um sujeito interessante (para dizer o mínimo, nesta época de homens comuns) e tinha algumas manias que ultrapassavam a mera excentricidade, como, por exemplo, almoçar no Mercado de vez em quando, independente da quantia de dinheiro que tivesse no bolso.
E isso porque o Pedro, que ganhou muito dinheiro em face da reconhecida capacidade como advogado, gostava de experimentar extremos, e para ele tanto fazia comer salmão ou dobradinha, beber whisky 12 anos ou vinho de garrafão.
Não foram poucas as ocasiões em que o Pedro, depois de receber fartos honorários de algum cliente mais abastado, convidou a turma toda – a mim, ao Kiko, o Bardou... – para almoçar no Mercado, em Pelotas, com a comida servida em “prato feito” e acompanhada de uma cerveja barata.
O único que relutava em nos acompanhar era o Sílvio Santana, um amigo de assumida origem burguesa e playboy por natureza. Figura extraordinária, o Sílvio havia falido; então, teve que trocar o whisky farto e os chopes do Bavária por uma cachaçinha com limão “anotada” pelo Modesto, no Taperinha, assim como trocou o espeto corrido do Lobão pelo meio risoto do Madelaine, sem, entretanto, jamais abandonar o adágio que carregava: – Pobre, mas café bem doce! – justificava, para nos deixar em meio à caminhada para o Mercado.
Pois agora, como vinte e cinco anos depois, e com o Mercado fechado para intermináveis reformas, agora que o meu filho já recebeu o seu primeiro salário, nós estamos nos preparando para almoçar num boteco qualquer – comida caseira, conta paga por ele, no limite de R$ 4,90 por pf, conforme o combinado – tudo para comemorar o primeiro ganho de um trabalhador.
Mais que isso, para festejar uma história compartilhada entre três gerações – filho, pai e avô – nesse ciclo interminável da vida que, felizmente, propicia a gente sempre algum motivo de comemoração.
À tua saúde, meu filho, e um grande brinde, meu pai!
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