quarta-feira, 9 de novembro de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE (VI) - CEL. OTÁVIO ESTEVES

Nascido por volta de 1880, Otávio Adalberto Esteves ganhou fama e patente de “Coronel” na região sul e em Arroio Grande, cidade onde viveu até o início dos anos 1970, quando veio a falecer com mais de 90 anos de idade.
Estancieiro, proprietário da “Fazenda Santana” onde começou a criar gado no começo dos anos 1920, Otávio Esteves especializou-se na criação de bovinos (2.200 reses, no início da década de 40), ovinos (3.500, na mesma época) e inúmeros equinos, com destaque para cavalos das raças criola e percheron, sendo muitos desses animais adquiridos no Uruguay e na Argentina.
Correligionário e amigo de Assis Brasil (Joaquim Francisco de Assis Brasil – 1857/1938 – advogado e político, proprietário do histórico Castelo de Pedras Altas, onde foi assinado o pacto que pôs fim à Revolução de 1923) e de Zeca Neto (José Antônio Mattos Neto, General e caudilho maragato - 1854/1948), Otávio Esteves foi membro da Junta Revolucionária de 23, em Arroio Grande, na luta empreendida entre assisistas e borgistas – maragatos e chimangos – no Rio Grande do Sul, naquela que foi a última das três grandes revoluções dos gaúchos (Revolução Farroupilha - 1835, Revolução Federalista - 1893, e Revolução de 1923).
Em razão das quizílias políticas remanescentes, Otávio Esteves, que dividia o seu tempo entre o Arroio Grande (onde possuía as suas terras), Jaguarão (onde tinha parentes) e Melo, no Uruguay (onde costumava visitar Assis Brasil que por lá se mantinha “exilado”, mesmo após o armistício de 23), possuía também diversos desafetos, entres eles o Ten. Coronel Manoel Amaro Junior, um legalista, partidário de Borges de Medeiros, que morava na mesma Jaguarão que o Cel. Otávio Esteves seguidamente visitava.
Pois conta a história* que no dia 1° de agosto de 1924 esses dois personagens se encontraram e acabaram por travar um duelo, havendo Otávio Esteves levado a melhor no confronto onde morreram os “dois Amaro” – o pai militar e o filho farmacêutico, que acudira em defesa do seu genitor –, na famoso crime de "Rua do Centenário", em pleno Centro de Jaguarão.
Preso e impronunciado sob a tese da legítima defesa (a impronúncia se dá quando o Juiz do caso entende que a prova em favor do réu é tão forte que ele sequer precisa ser levado a Júri), por decisão do magistrado Álvaro da Costa Franco (pai do historiador Sérgio da Costa Franco, autor de “Origens de Jaguarão”), que teve a sentença confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Otávio Esteves retornou a sua vida de estancieiro em Arroio Grande, sendo objeto de muitas histórias depois do episódio das mortes em Jaguarão.
O autor desta página, quando menino, conheceu pessoalmente o Cel. Otávio Esteves, de quem lembra de algumas características: porte alto e imponente, cabeleira branca, voz firme e autoritária, péssimo motorista (se ouvia de longe a batida da sua caminhonete contra as paredes da garagem, a cada vez que guardava o carro) e do respeito que o Coronel, apesar da idade avançada, ainda gozava junto à comunidade - tudo em razão da vizinhança das casas de ambas as famílias na Rua Dom Pedro II, em Arroio Grande, no final dos anos 1960, onde Otávio Esteves residiu até o seu falecimento na primeira metade da década de 70.
* A descrição do “duelo” entre o Cel. Otávio Esteves e “os Amaro”, no ano de 1925, em Jaguarão, consta detalhadamente do livro “O cigarro ensangüentado e outros contos”, de João Félix Soares Neto (Ed. Ponto de Vista, 2007), e, resumidamente, no “Diário de Cecília Assis Brasil” (L&PM, 1983). Também neste blog existe menção ao episódio no texto “A Rua da minha infância”, crônica publicada no Jornal "A Evolução", no ano de 2008.

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