sexta-feira, 2 de setembro de 2011

CAPITULAÇÃO

Teve um dia em que eu capitulei. Faz exatamente um ano, foi no dia 2 de setembro de 2010, eu baixei a guarda e... capitulei.
Dois de setembro é o dia do aniversário da minha filha Maria Eduarda, a Duda. Pois era o aniversário dela, de 12 anos, e eu até já havia dado o presente antecipadamente, quase um mês antes.
E presentes antecipados dão nisso: quando chega na hora do aniversário, ou a gente sente um imenso vazio por não ter o que presentear, ou então procura “suplementar” o presente que já deu. E foi isso que eu resolvi fazer.
Então, eu caminhei pelas ruas de Pelotas – onde mora a minha filha –, andei por duas ou três lojas, procurei a Andrade Neves no sentido Centro-Avenida e resolvi arriscar o ingresso num local de difícil acesso para mim: a loja oficial do Sport Club Internacional, o colorado de Porto Alegre.
Essa história, diga-se, possui dois antecedentes, que necessitam ser esclarecidos para uma melhor compreensão do que me aconteceu.
O primeiro foi quando a Maria Eduarda, então com pouco mais de 7 anos de idade, e tendo perdido a pouco o avô – o “Velho Pedro” –, me chamou e “pediu”, já definitivamente resolvida: - Pai, eu sei que tu és gremista, mas eu queria te pedir uma coisa. Eu queria 'ser do Inter' e agora que o Vô Pedro não ta mais com a gente, bem que eu podia ser colorado no lugar dele, né!? E eu ia dizer o quê diante de uma situação dessas? Eu podia opor o quê? Nada, não havia nada que eu pudesse fazer, senão concordar com o “pedido” da minha filha.
O problema é o segundo antecedente, conhecido dos que me acompanham desde a infância. Acontece que eu não sou apenas gremista. Sou um gremista que se criou, desde guri, vizinho do Gita e amigo do Agapito – craques do Grêmio – no Arroio Grande. Sou um gremista que foi a inauguração do Olímpico “Monumental”, em 1980, assistir o Grêmio jogar contra o Argentino Jrs., do Maradona. Sou um gremista que viu, de dentro do Estádio Olímpico, ali, pertinho do campo, o Grêmio ser Campeão da América, com o cruzamento sobrenatural do Renato, naquele inverno chuvoso de 83, em Porto Alegre.
Sou um gremista de foto com o Telê Santana, sou um gremista que guarda revistas com Eurico Lara na capa. Sou um gremista que saiu da frente da televisão, para não enfartar, quando o Juiz deu dois pênaltis para o Náutico e expulsou quatro jogadores do Grêmio, naquele que foi o maior épico da história do futebol mundial, quando, com 7 contra 11, o Grêmio ainda venceu a partida e voltou à elite do futebol brasileiro.
Pois eu, gremista de toda uma história, que acompanhou o Grêmio ao vivo no Olímpico, no Centenário, de Montevidéu, na Bombonera, em Buenos Aires, depois de quase meio século de extrema fidelidade, capitulei, e, no dia 2 de setembro de 2010, entrei no território inimigo, a loja oficial do S. C. Internacional, para comprar um presente para a minha filha,
E lá estavam todos os meus fantasmas: a camiseta vermelha, o escudo em 'S', o símbolo Saci... Lá estavam Figueroa, Falcão, Valdomiro; Chico Spina, “Uh” Fabiano, Fernandão... O Beira-rio, o Fernando Carvalho e – estarrecedor! – desde 2006, está lá também o Gabiru.
Mas o mais terrível, apavorante mesmo, foi descobrir que no fundo, bem no fundo, esses fantasmas vermelhos sempre estiveram ao meu lado nesses cinquenta anos. E que a partir de agora – por amor à minha filha – eu terei que conviver harmoniosamente com eles pelo restante da vida, e, o que é pior, com o tal de Leandro Damião junto.

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