sábado, 9 de maio de 2009

SÍMBOLOS


A Casa da minha mãe já tem cerca de cem anos. Foi construída antes mesmo da atual Rua Júlio de Castilhos se chamar Andrade Neves, e reformada em 1925, segundo consta da própria fachada.
Depois, a Casa sofreria algumas alterações, até ganhar o formato definitivo de agora, mantido desde 1969, há quarenta anos, portanto.
Na Casa da minha mãe, funcionou, em prédio conjugado à antiga casa do Dr. Nilo Conceição, bem na esquina com a Rua Herculano de Freitas, o Colégio 20 de Setembro, isso até a década de 40 do Século passado. Naquele prédio do 20, estudaram personagens inesquecíveis do Arroio Grande, como a Maria Caetano e o Issa Costa, e outros, como a Dona Alicinha, que, para a nossa felicidade, ainda estão por aqui para contar a história.
A Casa – construída em cima de um terreno que foi do Máximo Pereira - pertencia a família dos Muñoz, e coube, por herança do João Thomaz, ao João Pedro (irmão do Maximiano, o Gordo), de quem o meu pai veio adquirir o prédio, isso em 1966.
Ali, eu ocupei um quartinho nos fundos, onde jogava Futebol de Botão com o meu pai, que tinha como time o Itapoã, de Ponta Grossa, com uma escalação de nomes curiosos, mas com cada jogador possuindo a sua própria história: o Goleiro Izauro, padeiro; os dois beques Juvenal e Murilo, este caminhoneiro; a linha média com Juca, Mafaldo, o sapateiro, e Cicerone; e o ataque com Biluca, Mariotti, Jaime, Arturzinho, que era garçom, e Costa, o namorador.
Jogavam conosco um Delegado gritão, que brigava a partida toda, e o Promotor Fausto Domingues, condutor do Marília F.C., time do lendário Goleiro Mão de Onça.
Naquela Casa, para acompanhar as cervejadas do meu pai, a minha mãe preparou feijoadas memoráveis, a Dona Candinha fez bolinhos de batata inesquecíveis e o mocotó do Duca surgia fumegante todos os domingos do inverno.
Ali, surgiria, na década de 70, a famosa “Rua da Bahia”, freqüentada pelo Basílio, pelo Julinho Salaberry, pelo Avirelis, pela Izaura, pela Amália e por tantos outros, que fizeram do local mais do que boemia, um verdadeiro instrumento de manifestação cultural da paróquia.
Pois ainda hoje, a secular Casa da minha mãe se encontra firme e forte, sem nenhuma alteração estrutural, e deverá permanecer assim até o dia em que a família necessite se desfazer dela, para quem sabe alguém vir a descaracterizá-la com pastilhinhas e janelas de alumínio, como tem sido comum às casas antigas por aqui.
Já a minha mãe é bem mais nova que a própria Casa, tem apenas (?) 73 anos, mas já não está tão firme e forte como o prédio dos Muñoz; ao contrário, está velha e doente, e deverá continuar assim, mantida por outras pastilhas que já não podem lhe devolver a mocidade, embora existam pastilhas para destruir casas.
A Casa da minha mãe e a minha mãe são dois símbolos da minha vida. E eu amo a minha Mãe bem mais, muito mais do que a casa dela, a quem também amo demais

Nenhum comentário: