sexta-feira, 17 de abril de 2009

A VARA DO TRABALHO, O 'JÁ TEVE' E OS 'ISMOS'

A discussão provocada pela audiência pública de terça-feira na Câmara de Vereadores – se a Vara do Trabalho fica ou não no Arroio Grande – acabou muito mais direcionada para a questão da autoestima da região (ou da perda desta), do que propriamente para responder os argumentos trazidos pelo Tribunal para transferir o órgão, que dizem respeito ao número de processos que ingressam a cada ano, a dinâmica dos serviços prestados, etc.
Isso, para a população de Arroio Grande e da micro-região envolvida pouco interessa, já que a eventual transferência da Vara não atinge propriamente pessoas – nem patrões e nem empregados (que vão continuar litigando, embora com evidente prejuízo), nem advogados (que irão patrocinar as demandas onde o órgão estiver), nem os funcionários da justiça (que vão permanecer trabalhando) -; mas atinge de verdade a autoestima de toda uma comunidade, e, o que é pior, de uma comunidade sofrida, pobre, que, de tanto perder, já não pode perder mais nada.
Na audiência pública veio a lembrança, através da Madelaine, daquela brincadeira que se faz de que o Arroio Grande é a cidade do “já teve”: já teve Cinema, já teve Caixa Federal, já teve Exatoria Estadual, já teve um monte de coisas, em cujo rol pode ingressar em seguida a Vara do Trabalho.
E esse já teve, ainda que inconscientemente, é uma paulada na nossa autoconfiança, pois a cada vez que perdemos algo parece que atestamos, além da própria pobreza, também a nossa incompetência, a nossa inaptidão para as conquistas e a nossa vocação (?) para o fracasso enquanto coletividade.
Porque somos também a cidade dos ismos, especialmente na sua forma negativa. Não temos associativismo, não damos valor ao cooperativismo, e nos pautamos fundamentalmente pelo individualismo e pelo egoísmo. Dos patrões de estância aos advogados, dos produtores rurais aos médicos, todos costumam atuar individualmente, nada de muito coletivo. Até na benemerência os doadores gostam de agir sozinhos, para que os seus nomes apareçam com destaque nos jornais na hora do agradecimento; aqui, não se costuma dividir nem a solidariedade.
Por tudo isso, surpreendeu o número de pessoas que esteve na Câmara para pedir que a Vara do Trabalho permaneça no Arroio Grande, em nome, fundamentalmente, da autoestima da nossa comunidade.
Se isso realmente ocorrer, isto é se o Tribunal reconsiderar a decisão de retirar a Vara daqui, a gente vai ter muito que comemorar. Não porque a Vara ficou simplesmente, mas porque - talvez por primeira vez -, nós vamos poder olhar para trás e dizer com orgulho que já teve um dia em que a cidade se uniu para não perder algo que não queria perder.
E a partir daí não parar mais. E também não perder mais.

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