sábado, 4 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE – PARTE II (feito um sábado qualquer, para bem antes da quarentena...)



Bueno, a sexta-feira já foi, o negócio agora é levantar e beber alguma coisa para resolver de vez essa ressaca. Eu não devia era ter misturado... Também, que ideia foi aquela de passar no Travança para tomar a saideira ao clarear do dia? Paciência, o negócio agora é limpar essa secura com laranja ou limão. Será que o pai trouxe Crush, do Rio Branco? Senão, tá tranquilo, deve ter Minuano na geladeira. Mas o que me atrapalha mesmo é a mãe ter ido com ele para o Hermenegildo. E agora, bóia aonde? No Cilinho, no Élvio Brasil ou no Mulita? Os três locos de bom, baita comida caseira, mas daí vou ter que gastar, né, e hoje é sábado, dia de festerê por aqui… Já sei, vou filar o rango lá na Dona Alicinha. Ali é a minha segunda casa, ela e o Fuzuca são gente maravilhosa e, afinal, quem alimenta dez, uma boca a mais... O brabo é aguentar os guris, cada um achando que joga mais que o outro... Mas está resolvido, vou lá na Máximo Pereira, na “esquina dos bons”, como eles dizem. Putz, o problema é por onde eu saio daqui… Se for em linha reta, pela Júlio de Castilhos, vou acabar me encontrando com o Brenda, na frente do Quitandinha, e daí já começa o trago de novo. E dale a gente falar no Martha Rocha. Que falta nos faz aquela cabeça! Se o Seu Moacir Prestes aparecer, então o assunto vai ser um só: Brizola. Não o filho dele, o Luizinho, mas o ex-governador, o Leonel, que acabou de voltar para o Brasil. Quinze anos exilado, como é que pode? Bueno… Se eu for pelo Centro, a passada pela Top Set é mortal, ainda mais nesse horário com a turma do aperitivo toda por ali. O Jacques, o velho Cabrito, o Camarão… Não!!! (Falando no Marco Aurélio, periga até já ter se mandado para o Herval, apaixonado que está. Quando vê esse loco ainda se casa e acaba virando prefeito por lá. Quem é que duvida?). Bah, pelo Centro não dá, é melhor nem passar por perto… Se bem que se eu for pelo lado direito, têm o Formigueiro e, lá adiante, a casa do Campeão... Jesus! Como é difícil escapar da birita aqui no Arroio Grande. Imagina se um dia tiver uma epidemia qualquer, uma doença dessas que vem de longe, e a gente precisar ficar em casa, em quarentena? Kkk. Que ideia mais ridícula, isso nunca vai acontecer, estamos no início dos anos 1980 e em seguida já devem descobrir todas as curas... Bom, o certo é que vou almoçar lá no Seu Issa, daí já peço pr0o Cizico algum palpite para o jogo do bicho. Ele jura que é pé quente! Depois da bóia, o negócio é uma sestiada e esperar pela noite… Hoje é sábado. Dia de achar uma desculpa para deixar as namoradas em casa mais cedo e se mandar para o Guarani ou para o Canecão. Eu sei, eu sei... Podem censurar que eu aceito. As coisas estão mudando, e, dentro de pouco tempo, estúpidos como nós, que fazem isso daí, vão ouvir muitas e boas. Pela cafajestice, pelo machismo, pela indignidade, pela vileza, e sei lá mais o quê. Mas – que diabos! – o primeiro passo para a gente corrigir as nossas infâmias é assumindo-as, não é mesmo? Não? Tá bem, tá bem… E não é querer defender, mas se os bailes de campanha – o Baile do Diomar, o do Beca, o do Doca, o Baile do Salvador e outros – já não são a mesma coisa e alguns até nem existem mais, querem que a gente faça o quê? Que fique em casa assistindo a Sessão Coruja? (Se bem que uma sessão coruja do lado da namorada…). Está justificado? Também não? Vamos pular essa parte então – ataia, ataia… Bueno, amanhã, se o Pedro tiver retornado, deve assar a linguiça comprada no Artur, lá de perto da Morocha. Isso se não encomendou galinha ao molho pardo da Maria do Mário. Tudo porque é início de outono e o Duca e o João Mendes não começaram ainda a vender mocotó, a verdadeira comida dos domingos. Domingo…Dia também do futebol. PQP! Tinha esquecido. Vai ter Clássico na Avenida! Mais um baita programa no fim de semana... Bueno, se o Saci vencer mais essa eu vou para a carreata. Ao som da Farroupilha! (A cara que o maestro Joãozinho faz quando o Feijão chega para tocar com os zoinho apertados é algo...). Mas caso dê zebra e a gente perder, o negócio é ir para casa e sumir por um mês. Não dá para aguentar a flauta do Dante e do Prego no Café do Tritri. Ainda mais agora que surgiu a Difusora para transmitir os jogos… Grande João Saraiva! Sonhou décadas, lutou anos e conseguiu colocar uma Rádio no ar. Será que vai durar? Será que daqui a 30 ou 40 anos a gente vai ter algum motivo para não sair às ruas e permanecer quieto assistindo televisão ou escutando a rádio da nossa cidade a nos dizer: “Fique em casa!”? Será?


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Imagens: Clube Guarani – Blog da Sec. Mun. de Cultura. Post de Ricardo Freitas (Donga) em 14.09.2010.
Banda Farroupilha – Acervo do autor por doação de Paulo Ricardo Carduz Lúcio (Mingau).
Sobre os “clássicos” de futebol eu vou contar no outro domingo. Na terceira e última parte do “Fim de semana no Arroio Grande”, para bem antes da quarentena...
Enquanto isso, escuta as autoridades da saúde e só sai em caso de necessidade. Te cuida! #ficaemcasa

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