domingo, 12 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE (Parte III) (sobre um domingo qualquer – para bem dantes dos tempos de agora)




Abril. Domingo de Páscoa. Dia de Clássico na Avenida. Arroio Grande x Internacional, Sacis x Caturritas. A maior rivalidade do futebol amador da região sul neste início dos anos 1980. Que espetáculo! Vou combinar com os guris para a gente olhar o jogo perto da charanga do Arroio Grande. Do outro lado não, lá não dá, de jeito nenhum! (Se bem que daquele lado… ‘Tão bonitas aquelas gurias do Oswaldo, hein! E as do Papagaio, então? Como estão ficando jeitosinhas. Bah!). Mas o negócio é se concentrar no jogo e torcer para o Saci ganhar novamente. (Apesar que eu ando com um pressentimento… O Ayres agora deu para bobear com aqueles chutes loucos, lá do meio da rua... Uma hora dessas ainda periga acertar um. Tomara que não seja hoje...). Mas, bueno… Desde que o Cine Marabá fechou que a diversão aos domingos por aqui, para quem não gosta de ficar olhando o Chacrinha ou o Sílvio Santos na TV, se tornou futebol, carreiras ou alguma quermesse na cidade. Falando em carreiras e nas quermesses, eu não curto muito, não. Para mim, a melhor coisa que tem nessas daí, principalmente nas penca, é o pastel. De goiabada ou de nata. Esse último, então, quando está bem quente, chega a escorrer e queimar os beiços. Loco de bom! Mas, voltando ao tempo do cinema... A minha época foi dos matinés. A gente ia lá para assistir algum filme do Tarzan, do Mazzaropi, ou um faroeste. Passava primeiro no Café do Machado para tomar uma pepsi e comprar diamante negro ou bala azedinha. Daí entrava para a sessão uns quinze minutos antes, a fim de treinar beijo no braço para não fazer feio com a guria convidada. Isso caso ela deixasse beijar, é claro, o que quase nunca acontecia. Que dureza! (Teve uma vez que eu consegui levar aquela loirinha de sardas que mora perto do Ginásio. Meu Deus! Na boca foi só um beijo, ou quase, já que foi meio de lado, de bico… Mas eu passei a sessão inteira beijando aquelas pintinhas do rosto dela. E ela ficou vermelha o tempo todo. Ôh, coisa linda! Juro que eu até pensei que iríamos casar no futuro… O filme? Nem vi direito. Mas tinha aquela música italiana – Al di la, del bene piu prezioso, ci sei tu – que me jogava para as sardas da loirinha cada vez que tocava. E ela ali, ruborizada. Que momento!). Será que o nosso cinema vai reabrir algum dia? E os festivais de música, voltarão? Alguém recordará, daqui a alguns anos, que esses guris que tocaram naquela novela das dez, da Globo, a Saramandaia, do tal conjunto Almôndegas, começaram se apresentando justo aqui, no Marabá? “Quando a meia-noite me encontrar junto a você...”. Alguém algum dia lembrará das figuras que divertiram os festivais de música do cinema? O Adão Delão, Simone, “a bailarina cobra”, a dupla Sará e Sereno, e – o maior de todos – Athanásio Ghantes, “El Gantecito”? Quem sabe o Arnóbio, depois de parar de trabalhar no Direito não escreve alguma coisa sobre esse tempo de agora? E sobre os nossos personagens, esses tipos. Daí a gente pode até fazer em forma de narração. Pega o Rui Vitória para interpretar e divulga nos alto-falantes da Voz dos Pampas, do Ganso. Que anuncia desde enterro até venda de mocotó, e com o Hino Nacional ao fundo! Como lembrou, esses dias, o Dr. Paulo Carriconde, quando o pai se encontrou com ele ali no Restaurante Progresso, do Seu Albino Peter. Bueno, mas do que era mesmo que eu pretendia contar hoje? Domingo... Putz, lembrei! É dia de Clássico! Bah, mas agora o espaço ficou curto e não dá para descrever um jogo dessa grandeza em meia dúzia de linhas, né. O Clássico fica adiado para o domingo que vem. Temos tempo, temos tempo… Aliás, sei não, mas continuo com um palpite esquisito. Tenho a impressão que, n’algum dia, a gente, sei lá por que razão, não vai poder sair para ver os jogos de futebol, para se encontrar na praça ou na esquina da Apolphina… Vai ter que ficar um bom tempo dentro de casa. Lendo e escutando histórias, como na época dos nossos avós. Apesar de toda a tecnologia que está surgindo, não sei porque, mas eu estou com a sensação, neste início dos anos 1980, de que daqui a alguns anos a casa da gente será o único lugar seguro em todo o planeta. Sei não, sei não...

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O meu abraço carinhoso a todas as pessoas citadas neste e nos demais textos que venho publicando. Aos familiares, maridos, esposas, aos amigos… Estamos num tempo em que precisamos externar e compartilhar o nosso afeto de alguma forma. A maneira que eu tenho é esta: escrevendo e esperando que vocês possam ler, aí, na casa de vocês. E se gostarem melhor ainda.
Sobre os Clássicos, fica para o domingo que vem. Prometo que desta vai ter jogo, com pênalti, gol, expulsões, confusão e tudo mais. Porque ao menos aqui na página ainda pode ter aglomeração.
#ficaemcasa


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