Abril.
Domingo
de
Páscoa.
Dia
de Clássico
na Avenida. Arroio Grande x Internacional, Sacis x Caturritas. A
maior rivalidade do futebol amador da região sul
neste início dos anos 1980. Que espetáculo! Vou combinar com os
guris para a gente olhar o jogo perto da charanga do Arroio Grande.
Do outro lado não, lá não dá, de jeito nenhum! (Se bem que
daquele lado… ‘Tão bonitas aquelas gurias do Oswaldo, hein! E as
do Papagaio, então? Como estão ficando jeitosinhas. Bah!). Mas o
negócio é se concentrar no jogo e torcer para o Saci ganhar
novamente. (Apesar que eu ando com um pressentimento… O Ayres agora
deu para bobear com aqueles chutes loucos, lá do meio da rua... Uma
hora dessas ainda periga acertar um. Tomara que não seja hoje...).
Mas, bueno… Desde que o Cine Marabá fechou que a diversão aos
domingos por aqui, para quem não gosta de ficar olhando o Chacrinha
ou o Sílvio Santos na TV, se tornou futebol, carreiras ou alguma
quermesse na cidade. Falando em carreiras e nas quermesses, eu não
curto muito, não.
Para mim, a melhor coisa que tem nessas
daí, principalmente nas penca, é o pastel. De goiabada ou de nata.
Esse último, então, quando está bem quente, chega a escorrer e
queimar os beiços. Loco de bom! Mas, voltando ao tempo do cinema...
A minha época foi dos matinés.
A gente ia lá para assistir algum filme do Tarzan, do Mazzaropi, ou
um faroeste. Passava primeiro no Café do Machado para tomar uma
pepsi e comprar diamante negro ou bala azedinha. Daí entrava para a
sessão uns quinze minutos antes, a fim de treinar beijo no braço
para não fazer feio com a guria convidada. Isso caso ela deixasse
beijar, é claro, o que quase nunca acontecia. Que dureza! (Teve uma
vez que eu consegui levar aquela loirinha de sardas que mora perto do
Ginásio. Meu Deus! Na
boca
foi só um beijo, ou quase, já que foi meio de lado, de bico… Mas
eu passei a sessão inteira beijando aquelas pintinhas do rosto dela.
E ela ficou vermelha o tempo todo. Ôh, coisa linda! Juro que eu até
pensei que iríamos casar no futuro… O filme? Nem vi direito. Mas
tinha aquela música italiana – Al di la, del bene piu prezioso, ci
sei tu – que me jogava para as sardas da loirinha cada vez que
tocava. E ela ali, ruborizada. Que momento!). Será que o nosso
cinema vai reabrir algum dia? E os festivais de música, voltarão?
Alguém recordará, daqui a alguns anos, que esses guris que tocaram
naquela novela das dez, da Globo, a Saramandaia, do tal conjunto
Almôndegas, começaram se apresentando justo aqui, no Marabá?
“Quando a meia-noite me encontrar junto a você...”. Alguém
algum dia lembrará das figuras que divertiram os festivais de música
do cinema? O Adão Delão, Simone, “a bailarina cobra”, a dupla
Sará e Sereno, e – o maior de todos – Athanásio Ghantes, “El
Gantecito”? Quem sabe o Arnóbio, depois de parar de trabalhar no
Direito não escreve alguma coisa sobre esse tempo de agora? E sobre
os nossos personagens, esses
tipos. Daí
a gente pode até fazer em forma de narração. Pega o Rui Vitória
para interpretar e divulga nos alto-falantes
da Voz dos Pampas, do Ganso. Que anuncia desde enterro até venda de
mocotó, e com o Hino Nacional ao fundo! Como lembrou, esses dias, o
Dr. Paulo Carriconde, quando o pai se encontrou com ele ali no
Restaurante Progresso, do Seu Albino Peter. Bueno, mas do que era
mesmo que eu pretendia contar hoje? Domingo... Putz, lembrei! É dia
de Clássico! Bah, mas agora o espaço ficou curto e não dá para
descrever um jogo dessa grandeza em meia dúzia de linhas, né. O
Clássico fica adiado para o domingo
que vem. Temos tempo, temos tempo… Aliás, sei não, mas continuo
com um palpite esquisito. Tenho a impressão que, n’algum dia, a
gente, sei lá por que razão, não vai poder sair para ver os jogos
de futebol, para se encontrar na praça ou na esquina da Apolphina…
Vai ter que ficar um bom tempo dentro de casa. Lendo e escutando
histórias, como na época dos nossos avós. Apesar de toda a
tecnologia que está surgindo, não sei porque, mas eu estou com a
sensação, neste início dos anos 1980, de que daqui a alguns anos a
casa da gente será o único lugar seguro em todo o planeta. Sei não,
sei não...
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O
meu abraço carinhoso a todas as pessoas citadas neste e nos demais
textos que venho publicando. Aos familiares, maridos, esposas, aos
amigos… Estamos num tempo em que precisamos externar e compartilhar
o nosso afeto de alguma forma. A maneira que eu tenho é esta:
escrevendo e esperando que vocês possam ler, aí, na casa de vocês.
E se gostarem melhor ainda.
Sobre
os Clássicos, fica para o domingo que vem. Prometo que desta vai ter
jogo, com pênalti, gol, expulsões, confusão e tudo mais. Porque ao
menos aqui na página ainda pode ter aglomeração.
#ficaemcasa
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