terça-feira, 21 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE (Parte IV) (em tempos de saudável aglomeração)


Sabe aquela? Da notícia ruim e da notícia boa? Pois vou começar dando logo a má notícia. Não teve Clássico! A partida foi novamente adiada. Eu sei, eu sei. Eu prometi aqui, no final de semana que passou, contar sobre os clássicos. Mas – que diabos! – o que eu posso fazer se os dirigentes inventaram de melar o jogo? Parece que fica um com medo de perder para o outro. Daí colocam mil empecilhos na Federação. E o jogo não saiu. De novo! Estamos no início dos anos 1980, quase cinco décadas de Clássico, e a rivalidade só aumenta por aqui. Entre torcedores, jogadores e cartolas. Bueno, mas uma hora vou perguntar para os meus amigos, o Papaco e o Silvinho Ferreira, porquê, afinal, o jogo de domingo não aconteceu? Aliás, falando no Tio Izo, acho que um dos primeiros tragos que eu tomei foi na festa de um ano daquele menino dele, o Sílvio Antônio, não faz nem meia dúzia de anos... Aquela tchurma de borrachos toda lá e eu, gurizão, no meio, me sentindo o cara. Comes e bebes a rolê. Quem servia era o Dé. Vinha quase sempre com duas bandejas, mostrando toda a sua habilidade, brincalhão e sorridente, como de costume. Quando a gente abusava e enchia a mão de salgadinhos, ou pegava logo dois copos de wuisque, para misturar ao guaraná, o Dé fechava a cara e soltava um esbravejo: “Mas o quê! Não vão parar de comer? Seus mortos de fome! Cadê a finééésse para vir para uma festa, hein, cadê?”… E nós nos finando de rir da finééésse espichadíssima do Dedéco. Pois é lembrando do Dé que eu trago agora a boa notícia. O Miss Mulata Zona Sul, organizado por ele, foi o maior suuuceeessso. O Dé está nas nuvens! Também não é para menos, o evento, que começou com pequenas pretensões, está agora ganhando repercussão em todo o Estado. Lembro que há pouco tempo, eu entrei no prédio da Câmara de Vereadores, e o Dé lá estava, utilizando o telefone cedido pela casa legislativa para fazer os seus contatos na promoção da festa. Quando eu fui cumprimentá-lo, o Dé, antes mesmo de me dizer bom dia, começou a gaguejar e soltou – “Cacaca…cacaca... Carazinho!” – conseguiu exclamar. Então, diante da palidez assustadora do meu amigo, eu perguntei: Que é que tem Carazinho, Dé? E ele, nervoso, sempre gaguejando: “Coo... coo… coonfirmou!”. Eu repliquei: Ué, mas tu não deverias estar feliz? Mais um município confirmando. E o Dé, exasperado – “Tu não estás entendendo, queridiiinho. É o vigésimo que me confirma! E onde que eu vou botar essa gente toda???”. Pois não é que ele, o Antônio Carlos da Conceição, vem arrumando lugar para todo mundo, e fazendo do Miss Mulata um evento que está dando o que falar nestes anos 80… Assim como os clássicos do futebol, que também vão continuar sendo muito comentados por aqui. Seja no bar do Eraldo, afinadíssimo com os Caturritas, seja no restaurante do Formigueiro, tradicional reduto dos Sacis. Por falar no Formigueiro, quem está seguido por ali, conversando, é o Gilberto Nobre, o barbeiro, criador do bloco de carnaval mais famoso da cidade, o “Papagaio da Rua Nova”, representado por bonecos enormes, semelhantes aos de Olinda, em Pernambuco. Têm o morcego, o gigante, o gorila e o próprio papagaio, entre diversos personagens que assustam e ao mesmo tempo encantam a garotada. Antes mesmo do “Papagaio”, o Gilberto já havia criado o “Bloco da Falsa Baiana”, lá pelo final dos anos 1940. Próximo a esse período, teve também o bloco “Sempre Reinando”, este parece que idealizado pelo Alvião Lúcio. Do carnaval daqui, aliás, daria para falar um monte… (Se algum dia existirem na cidade, Escolas de Samba além da Pé de Arroz, criada pelo Luizinho Fotógrafo, tenho certeza que vou torcer para a do bairro mais afastado. E, se deixarem, até de compositor do samba enredo eu vou me atirar, já vou avisando)… Mas, afinal, qual era mesmo o nosso assunto? Bah, lembrei, o Clássico! Que fica nesse “sai não sai” toda a semana… Mas, me disse o meu amigo, Gadanha, que no próximo domingo, ou no feriado de 1º de maio, vai ter jogo, de qualquer maneira. Bueno, se a partida não acontecer, vou falar dos clássicos que vi e dos que me contaram, neste quase meio século de disputa. Mas que eu estou louco para assistir a uma partida de verdade, ah, isso estou. E acredito que todos estejam querendo a mesma coisa por aqui. Ver um jogo de futebol, um concurso de misses, um show musical ao ar livre, uma festa num bar, bingo, carreira, gincana, quermesse, pernada esportiva, qualquer coisa que tenha povo! Será que a gente ainda vai ter que esperar muito tempo para fazer ajuntamento de novo? Hein?

O Formigueiro (Jandir Pereira dos Santos), com um abridor na mão, na primeira imagem, e segurando com um copo, na outra fotografia.
Gilberto Nobre, está de camisa quadriculada, ao lado do Formigueiro, na primeira imagem, e com um cigarro na mão esquerda, na outra fotografia. (Acervo do autor, por doação de Jari Kerchner Nobre-“Sabão”). A primeira imagem foi postada no blog autorretratopedro em 1º de novembro de 2012.
Pela ordem: Bloco Papagaio da Rua Nova (acervo de Antônio Augusto Añana-“Nico”); Bloco da Falsa Baiana e Bloco Sempre Reinando (acervo do autor por doações de Jari K. Nobre e Paulinho Lúcio, respectivamente).

Nenhum comentário: