quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CASA DA CHÁCARA



A programação cultural tem sido realmente extensa em Arroio Grande (quem diria, hein!?); além do nosso "Almoço com o escritor" (postagem abaixo), paralelo à Feira do Livro teve também a inauguração da "Casa da Chácara", verdadeiro museu da memória histórica do Arroio Grande, idealizado e realizado pela Profª Flávia da Conceição Corrêa, pesquisadora e historiadora do município.

Para conhecer mais da "Casa da Chácara", entre no link abaixo - blog da Secretaria de Cultura de Arroio Grande, de onde foram retiradas as fotografias que ilustram esta postagem.


Vale a pena conhecer a "Casa da Chácara", uma parte da história de Arroio Grande encontra finalmente onde repousar.

domingo, 27 de novembro de 2011

ESPETÁCULO











A ideia do almoço foi minha, a provocação foi do Sérgio Canhada que propôs um churrasco “campeiro”, aquele de fogo de chão, para o que foi convidado o Pedrinho Mendes que aceitou o desafio de se desempenhar como assador. Então, com a concordância e a parceria da Verônica, abrimos a casa e o bar da casa da Rua Herculano de Freitas e recebemos os convidados no sábado ao meio dia.
A maioria se deliciou aperitivando linguiça com pão, e alguns até provaram uma cachaça da Bahia, e muitos beberam cerveja "à la farta", e todos, absolutamente todos comeram o melhor churrasco de cordeiro dos últimos anos, assado como nos velhos tempos, como se fosse numa casa de campanha, como se fosse para o casamento de alguma filha do intendente, como se o anfitrião estivesse por receber a visita do padre.
É verdade que, para o bem da conversa, no nosso churrasco padre não havia, mas lá compareceram escritores e amigos, como o Aldyr Schlee, o João Félix e o Vaz (estes últimos com as respectivas mulheres), o Arnóbio, o Pedrinho, o próprio Sérgio e o filho Gabriel, a Madelaine, a Tuda, a Telinha, a Marisa e o menino Bernardo, a Márcia e a Profª Flávia; depois ainda chegaram o Mauro Freda e a Simone, a Jussara e o Cláudio Pereira, o Schlee sobrinho e a Juliana e a pequena Flora, e, mais tarde ainda, quase ao final, chegou o Gastal, com o filho Leo e mais amigos.
E em meio ao almoço – antes, durante e depois do cordeiro – muita conversa, muitas histórias, muitas palavras, a satisfação de sempre e a certeza de um encontro raro e extraordinário, daqueles que só a literatura e a amizade podem proporcionar.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

RELANÇAMENTO

FEIRA DO LIVRO – QUEM JÁ RECEBEU E COMO RECEBER "O CLÁSSICO – UMA HISTÓRIA DE PAIXÃO”
Pouco mais de oito meses depois do seu lançamento, ocorrido no aniversário da Cidade (24 de março), o livro O “Clássico” – Uma história de paixão tem uma espécie de “relançamento” programada para a Feira do Livro de Arroio Grande, que deverá acontecer nos dias 25, 26 e 27 de novembro, na Praça Central.
Para quem ainda não possui o livro é uma boa oportunidade de conhecer a obra que conta a história dos dois grandes clubes de futebol da cidade – o Esporte Clube Arroio Grande e o Grêmio Esportivo Internacional – da fundação dos mesmos (ECAG em 1939 e GEI em 1943) até o encerramento das suas atividades oficiais, por volta de 1995.
Pelo que se sabe, deve existir ainda cerca de uma centena de exemplares do livro, que deverão estar à disposição do público leitor na Feira do Livro, e, depois, na Secretaria de Cultura do Município, aguardando os eventuais leitores que deverão juntar-se aqueles que já possuem o livro, como é o caso, entre outros, de...
(seguem-se mais de 100 nomes dos quais o autor tem conhecimento da aquisição do livro).
1) Jorge Cardozo (Prefeito)
2) Mariela Ferreira (vice-prefeita)
3) Donga (secretário de cultura)
4) Madelaine Mendes (sec. de cultura)
5) Afrânio Ávila (sec. de desporto)
6) Flávia Conceição (sec. de administração)
7) Sérgio Corrêa (vereador)
8) Silvana Costa Vianna (vereadora)
9) Fernando Marroni (dep. federal)
10) Miriam Marroni (dep. estadual)
11) Miltinho (vereador-Pelotas)
12) João Vítor Domingues (gabinete do governador-POA)
13) Cláudio Martins (prefeito-Jaguarão)
14) Alencar Porto (sec. de cultura-Jaguarão)
15) Marco Aurélio-Camarão (ex-prefeito-Herval)
16) Aldyr Schlee (escritor)
17) João Félix Soares (escritor)
18) Marília Kosby (poeta)
19) Edu (Caboclo) Damatta (músico)
20) Valder Valeirão (designer-Pelotas)
21) Rui Carlos Ostermann e
22) Luiz Carlos Vaz (jornalistas – foto)
23) Jorge Américo Borges (jornalista)
24) Casca Silva (imprensa)
25) Sílvio Ferreira (imprensa)
26) Flávio Teixeira (imprensa)
27) Pedrinho Bittencourt Neto (imprensa)
28) Álvaro Barcellos (imprensa-Pelotas)
29) Maristela Garcia Pires (professora)
30) Carla Duffau (professora)
31) Verônica Camerini (professora)
32) Nazine Bittencourt (professora)
33) Ilá Rodrigues de Freitas (professora)
34) Arnóbio Zanottas Pereira (advogado)
35) Edson Sant’anna de Lemos (advogado)
36) Paulo Carriconde (advogado)
37) Sérgio Canhada (advogado)
38) Carlos Ricardo Souza (advogado)
39) Álvaro Nílton Mendes da Silva (advogado)
40) Roberto Viríssimo Cunha (advogado)
41) Jaifel Rodrigues de Freitas-Didi (advogado)
42) Samuel Chapper (advogado-Pelotas)
43) Eisler Cavada (advogado-Pelotas)
44) Cláudio Dutra (advogado-Pelotas)
45) Henry Goy Petry Junior (desembargador-SC)
46) Afif Jorge Simões Neto (juiz recursal-RS)
47) Nílton Tavares da Silva (juiz de direito-Porto Alegre)
48) Sílvio da Silva Tavares (juiz de direito-Porto Alegre)
49) Luiz Carlos Gastal (juiz do trabalho-Pelotas)
50) Fernando Luiz Cassal (juiz do trabalho-Porto Alegre)
51) Magali Bittencourt (servidora judiciário-Porto Alegre)
52) Aldyr Schlee Filho (pretor-Pelotas)
53) Antônio Siedler (médico)
54) Marcial Ribeiro (fundador do G. E. Internacional)
55) Ermette Rocco Ardizone (ex-Presidente do ECAG)
56) Adão Silveira Machado (ex-Presidente do ECAG)
57) Élvio Feijó (ex-Presidente do ECAG)
58) Cláudio Ávila (Presidente do ECAG)
59) Ronaldo Costa (Presidente do GEI)
60) Prof. Hamílton-Charuto (técnico)
61) Prof. Paulista (preparador físico)
62) Daniel Pereira (árbitro de futebol-Pelotas)
63) José Nunes (árbitro de futebol-Porto Alegre)
64) Agapito (ex-jogador)
65) Chirú (ex-jogador)
66) Arlém (ex-jogador)
67) Varzinho (ex-jogador)
68) Cacaio (ex-jogador)
69) Betinho (ex-jogador)
70) Cabrito (ex-jogador)
71) Aires Roberto Brito (ex-jogador)
72) Wilson do Ari (ex-jogador)
73) Álvaro (ex-jogador)
74) Paulinho da Barraca (ex-jogador)
75) Paulinho da Granja (ex-jogador)
76) Ciro (ex-jogador)
77) Di (ex-jogador)
78) Murilo Costa (ex-jogador)
79) Jesus David (ex-jogador)
80) Fábio Lima (ex-jogador)
81) Dagoberto Lima (ex-jogador)
82) Celso Guimarães (ex-jogador)
83) Pelezinho Gelci (ex-jogador)
84) Bibico (ex-jogador)
85) Caminhão (ex-jogador)
86) Melão (ex-jogador)
87) Charles-Chalita (ex-jogador)
88) Otacílio Cortez-Lila (orizicultor)
89) Paulo Ênio Caetano (militar)
90) Hector Rodrigues (professor-Uruguay)
91) Aguinaldo Médici Severino (físico-Santa Maria)
92) José Maciel (historiador-Sapucaia do Sul)
93)José Vali (bancário-Santa Vitória do Palmar)
94) Prof. Beto (professor-Pelotas)
e mais os arroio-grandenses que residem fora do município:
95) Darci Ribeiro (aposentado-Jaguarão)
96) Flávio Camões “Avirelis” (bancário-Pelotas)
97) Claudionir Coelho-Kiko (bancário-Pelotas)
98) Birinha-Gita (professor-Pelotas)
99) Rovani Mello (corretor-Pelotas)
100) Fábio Bonneau (corretor-Pelotas)
101) Eduardo Muñoz (comércio-Pelotas)
102) Denise Moraes (Mato Grosso)
103) Solismar Venzke (Campinas)
... e muitos outros.

domingo, 20 de novembro de 2011

ALMOÇO NO MERCADO



O meu filho Pedro Gabriel fez um trato comigo, um acerto entre nós dois, mas que impôs uma obrigação a ele – ao Pedro filho – não a mim – o Pedro pai –, ao menos desta vez.
Não lembro quando fizemos o trato, mas certamente foi depois da morte do meu pai, o velho Pedro Bittencourt, a partir de quando, nas conversas com o meu filho, eu passei a contar inúmeras histórias sobre o avô dele, especialmente àquelas reveladoras da forma diferente como o Pedro encarou a vida, e, sobretudo, da maneira como ele realmente viveu.
O trato foi o seguinte: do primeiro dinheiro que o Pedro Gabriel ganhasse com o trabalho dele, fosse no ofício que fosse, ele deveria guardar uma parte para me pagar um almoço no Mercado Público, em Pelotas, ou em algum boteco similar, freqüentado por gente simples e abastecido por comida caseira.
A proposta, ao que lembro, foi do meu filho mesmo, e a ideia só pode ter vindo em memória do velho Pedro, o eterno inspirador das coisas da minha família.
O Pedro Bittencourt era um sujeito interessante (para dizer o mínimo, nesta época de homens comuns) e tinha algumas manias que ultrapassavam a mera excentricidade, como, por exemplo, almoçar no Mercado de vez em quando, independente da quantia de dinheiro que tivesse no bolso.
E isso porque o Pedro, que ganhou muito dinheiro em face da reconhecida capacidade como advogado, gostava de experimentar extremos, e para ele tanto fazia comer salmão ou dobradinha, beber whisky 12 anos ou vinho de garrafão.
Não foram poucas as ocasiões em que o Pedro, depois de receber fartos honorários de algum cliente mais abastado, convidou a turma toda – a mim, ao Kiko, o Bardou... – para almoçar no Mercado, em Pelotas, com a comida servida em “prato feito” e acompanhada de uma cerveja barata.
O único que relutava em nos acompanhar era o Sílvio Santana, um amigo de assumida origem burguesa e playboy por natureza. Figura extraordinária, o Sílvio havia falido; então, teve que trocar o whisky farto e os chopes do Bavária por uma cachaçinha com limão “anotada” pelo Modesto, no Taperinha, assim como trocou o espeto corrido do Lobão pelo meio risoto do Madelaine, sem, entretanto, jamais abandonar o adágio que carregava: – Pobre, mas café bem doce! – justificava, para nos deixar em meio à caminhada para o Mercado.
Pois agora, como vinte e cinco anos depois, e com o Mercado fechado para intermináveis reformas, agora que o meu filho já recebeu o seu primeiro salário, nós estamos nos preparando para almoçar num boteco qualquer – comida caseira, conta paga por ele, no limite de R$ 4,90 por pf, conforme o combinado – tudo para comemorar o primeiro ganho de um trabalhador.
Mais que isso, para festejar uma história compartilhada entre três gerações – filho, pai e avô – nesse ciclo interminável da vida que, felizmente, propicia a gente sempre algum motivo de comemoração.
À tua saúde, meu filho, e um grande brinde, meu pai!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CONFRARIA

No dia 12 de outubro publiquei uma postagem no blog com o título de “Dia” e a seguinte expressão:
“Sou o último menino que me resta, não permitam que ele cresça...”.
Coloquei assim, entre aspas, sem nominar o autor, pois nunca soube ao certo se a frase é do meu pai, ou do Álvaro Moreyra, ou do Jules Laforgue, ou de algum dos demais poetas que o Pedro costumava celebrar.
O Fernando Grassi Filho, identificando o local onde a frase está escrita, comentou:
“Saudade das paredes do Hermena”.
Ao que eu respondi:
“... Das paredes, dos personagens, da poesia, do trago, dos meninos que eu, o meu pai e o meu avô – todos! – deixamos por lá. Eu tenho saudade de tudo!”
Pois agora, na data de mais um aniversário do Pedro (17/11/1932), publico uma fotografia* “das paredes do Hermena” contemplando a poesia, o trago e o encontro de alguns dos personagens mais extraordinários que por lá passaram, uma confraria de “meninos” verdadeiramente notável, brilhante, inesquecível!
*Fotografia tirada na Praia do Hermenegildo em 1990: De "trás para frente": Pedro Jaime (sentado, na cabeceira), Roger Viana (em pé), Fausto Domingues, Fernando Grassi, Dr. Passinhos (fumando) e Adílson Feijó (de boné).

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

FLIA/2011

Os Baobás do fim do mundo...

da autora Marília Kosby

Cenas da Feira Independente

O espetáculo de Serginho da vassoura elétrica


O entardecer no "Quadrado"

Feira do Livro Independente e Autônoma - "Quadrado" do São Gonçalo - Pelotas - 15/11/2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

BAOBÁS NA FLIA

Os baobás do fim do mundo, obra da poeta e antropóloga Marília Floor Kosby, com ilustrações do Zé Darci, ambos gauchinhos paridos e crescidos no Arroio Grande, mas universais na sua arte, terá mais um lançamento amanhã (15/11), além daquele que ilustra a imagem acima, ocorrido na Biblioteca Pública Pelotense, no dia 11/11/2011.

A próxima apresentação do livro será na FLIA - Feira do Livro Independente e Autônoma - evento que ocorre paralelo à tradicional Feira do Livro da Pça. Cel. Pedro Osório de Pelotas, previsto para acontecer no local conhecido como "Quadrado", próximo à Zona do Porto, a partir das 13h. deste feriado de 15 de novembro.

A FLIA, aliás, é uma ótima iniciativa, e tem as suas origens em Buenos Aires, onde o pessoal tido como alternativo da capital porteña resolveu ampliar os limites das tradicionais Feiras do Livro da Argentina (que, como no Brasil, se preocupam mais com a comercialização das obras e menos com a ampliação dos espaços para os artistas e com as discussões literárias propriamente ditas), criando um evento paralelo que estimula os debates, promove as produções independentes e valoriza as expressões artísticas nas suas múltiplas expressões, sejam de escritores, músicos, artistas plásticos ou artesãos.

O lançamento do livro da Marília é as 13h., pelo que sei; deixemos, pois, o almoço do feriado para mais tarde (ou mais cedo, dependendo do hábito de cada um), e todos à fila da flia, a Marília e o Zé Darci merecem e a companhia deles é sempre um imenso prazer, no meu caso, aliás, é bem mais que isso, é necessidade.

sábado, 12 de novembro de 2011

ENQUANTO A VAGA NÃO CHEGA

A piada é conhecida: no centro de uma grande cidade, o sujeito, chegando em cima da hora próximo ao local onde iria assumir um cargo importante e sem ter onde estacionar o carro, ergue as mãos para os céus e suplica: – Senhor, por favor, me arruma uma vaga urgente, agora, neste instante! Prometo que se isso acontecer vou parar de beber, serei bom pai, vou ser fiel a minha mulher... Enquanto ele desfiava o seu rosário de promessas, um carro se retira bem à sua frente, abrindo vaga para o estacionamento. O sujeito, então, olha novamente para os céus e exclama rapidamente: – Não precisa mais, Senhor, retira tudo o que eu disse, não precisa mais!!!
É bem assim, exatamente assim, somos todos iguais, rigorosamente iguais ao personagem da anedota.
Fazemos promessas que não pretendemos cumprir, invocamos um Deus no qual não acreditamos, e, mais que isso, não fazemos questão de honrar, e somente prometemos qualquer coisa quando não temos “vaga para estacionar”.
Mais: somos o “exemplo” de uma sociedade que não colabora em nada para a construção daquilo que costuma exigir. Cobramos ética dos políticos, condenamos a corrupção, criticamos a imoralidade, mas cometemos diariamente os mesmos erros, e somos aéticos, imorais e criminosos o tempo todo.
Praticamos a pirataria, furamos filas nos bancos, passamos nos sinais vermelhos, dirigimos depois de beber, não procuramos devolver o dinheiro que eventualmente achamos, cobiçamos tudo o que não é nosso (ainda mais se estiver próximo), e somos fofoqueiros, invejosos e desleais. Quer dizer, em termos de valores morais não devemos nada à turma do mensalão, aos malufistas, ou aos colloridos, a nossa diferença com eles está apenas em termos de valores econômicos, ainda que seja grande.
Este é, infelizmente, o retrato da nossa sociedade. A imensa maioria das pessoas que conhecemos costuma agir assim, apenas uma minoria é que se comporta rigorosamente dentro das regras da moral, da ética e da legalidade.
E depois ainda reclamamos que queremos um Mundo melhor, um Brasil melhor, um Arroio Grande melhor. Melhor para quem, cara pálida? Falamos em deixar um planeta melhor para os nossos filhos, mas na verdade o que fazemos é colaborar – e como! – para deixar os piores filhos para o nosso planeta.
Disso tudo, só o que nos salva é o mesmo que nos condena: o fato de sermos humanos – safados, imorais, criminosos, mas humanos.
Porque o fim do homem, embora todos os cálculos e previsões, parece estar longe de se tornar realidade, o que significa que ainda podemos prometer muito ante a falta de estacionamento, e, quem sabe, começar pouco a pouco a pagar as nossas promessas, ao menos enquanto a vaga não chega...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE (VI) - CEL. OTÁVIO ESTEVES

Nascido por volta de 1880, Otávio Adalberto Esteves ganhou fama e patente de “Coronel” na região sul e em Arroio Grande, cidade onde viveu até o início dos anos 1970, quando veio a falecer com mais de 90 anos de idade.
Estancieiro, proprietário da “Fazenda Santana” onde começou a criar gado no começo dos anos 1920, Otávio Esteves especializou-se na criação de bovinos (2.200 reses, no início da década de 40), ovinos (3.500, na mesma época) e inúmeros equinos, com destaque para cavalos das raças criola e percheron, sendo muitos desses animais adquiridos no Uruguay e na Argentina.
Correligionário e amigo de Assis Brasil (Joaquim Francisco de Assis Brasil – 1857/1938 – advogado e político, proprietário do histórico Castelo de Pedras Altas, onde foi assinado o pacto que pôs fim à Revolução de 1923) e de Zeca Neto (José Antônio Mattos Neto, General e caudilho maragato - 1854/1948), Otávio Esteves foi membro da Junta Revolucionária de 23, em Arroio Grande, na luta empreendida entre assisistas e borgistas – maragatos e chimangos – no Rio Grande do Sul, naquela que foi a última das três grandes revoluções dos gaúchos (Revolução Farroupilha - 1835, Revolução Federalista - 1893, e Revolução de 1923).
Em razão das quizílias políticas remanescentes, Otávio Esteves, que dividia o seu tempo entre o Arroio Grande (onde possuía as suas terras), Jaguarão (onde tinha parentes) e Melo, no Uruguay (onde costumava visitar Assis Brasil que por lá se mantinha “exilado”, mesmo após o armistício de 23), possuía também diversos desafetos, entres eles o Ten. Coronel Manoel Amaro Junior, um legalista, partidário de Borges de Medeiros, que morava na mesma Jaguarão que o Cel. Otávio Esteves seguidamente visitava.
Pois conta a história* que no dia 1° de agosto de 1924 esses dois personagens se encontraram e acabaram por travar um duelo, havendo Otávio Esteves levado a melhor no confronto onde morreram os “dois Amaro” – o pai militar e o filho farmacêutico, que acudira em defesa do seu genitor –, na famoso crime de "Rua do Centenário", em pleno Centro de Jaguarão.
Preso e impronunciado sob a tese da legítima defesa (a impronúncia se dá quando o Juiz do caso entende que a prova em favor do réu é tão forte que ele sequer precisa ser levado a Júri), por decisão do magistrado Álvaro da Costa Franco (pai do historiador Sérgio da Costa Franco, autor de “Origens de Jaguarão”), que teve a sentença confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Otávio Esteves retornou a sua vida de estancieiro em Arroio Grande, sendo objeto de muitas histórias depois do episódio das mortes em Jaguarão.
O autor desta página, quando menino, conheceu pessoalmente o Cel. Otávio Esteves, de quem lembra de algumas características: porte alto e imponente, cabeleira branca, voz firme e autoritária, péssimo motorista (se ouvia de longe a batida da sua caminhonete contra as paredes da garagem, a cada vez que guardava o carro) e do respeito que o Coronel, apesar da idade avançada, ainda gozava junto à comunidade - tudo em razão da vizinhança das casas de ambas as famílias na Rua Dom Pedro II, em Arroio Grande, no final dos anos 1960, onde Otávio Esteves residiu até o seu falecimento na primeira metade da década de 70.
* A descrição do “duelo” entre o Cel. Otávio Esteves e “os Amaro”, no ano de 1925, em Jaguarão, consta detalhadamente do livro “O cigarro ensangüentado e outros contos”, de João Félix Soares Neto (Ed. Ponto de Vista, 2007), e, resumidamente, no “Diário de Cecília Assis Brasil” (L&PM, 1983). Também neste blog existe menção ao episódio no texto “A Rua da minha infância”, crônica publicada no Jornal "A Evolução", no ano de 2008.

sábado, 5 de novembro de 2011

OBRIGATÓRIOS




Neste fim de semana acontece o Expocanto, uma oportunidade de apreciar boa música junto ao evento que é parte integrante da tradicional Exposição Feira de Arroio Grande. Eu não irei. “Por causa de umas questões paralelas” (como diria Chico Buarque), deverei ficar em casa, daí já aproveito para ouvir os meus discos preferidos dos artistas locais: o Milonga Mauá, do Sidney Bretanha e o Fruteira Brian Jones, do Caboclo Damatta.
São duas grandes obras musicais que, por razões distintas, preenchem as minhas madrugadas de solidão e de abandono intelectual neste triste fim dos pampas.
São dois trabalhos raros, surpreendentes, sem o menor conteúdo comercial, mas que contêm canções antológicas, como Milonga pro meu povoado e a própria Milonga Mauá, no primeiro, e a versão de Y Hard days night e o texto “Os latifúndios marcianos”, no segundo, que poderiam estar tranquilamente rodando em qualquer Rádio da cidade ou da região. Possuem, ainda, as extraordinárias participações de músicos como o Pardal Moura e o Miguel Vidal (no Milonga Mauá), e da Marcela Rodrigues e do próprio Sidney, no Fruteira Brian Jones.
O Fruteira é uma homenagem do Caboclo ao Basílio, o “louco” que virou ícone, e que tinha as suas canções desprezadas pela sociedade local, as mesmas que hoje aparecem em releituras a todo instante.
Já o Milonga Mauá é, na verdade, um imenso mosaico que desnuda todo o Arroio Grande – de Mauá à Morocha, de Gumercindo Saraiva a Adolfina –; um disco agressivo, mordaz, cáustico, como, aliás, é característico do seu criador.
São discos libertários, mas que deveriam ser obrigatórios – como diz o título desta crônica – por uma simples razão. Mostram um outro Arroio Grande que não o do “Poder”, nem o das colunas sociais, a cidade que não aparece nos discursos fáceis e nem nos clicks noturnos dos nossos jornais. É o Arroio Grande dos párias, dos desvalidos, dos bêbados e das putas pobres; o Arroio Grande do gentio, a cidade sem qualquer glamour, o Arroio Grande sem trilhos, a cidade dos becos e das vielas escuras, e da Dr. Monteiro vazia nas frias noites do sul.
O Caboclo e o Sidney, diga-se de passagem, são músicos da melhor estirpe e, certamente, estão ao lado de “monstros sagrados” da vida musical da cidade, como o Nenê Balhego e o Biriri, por exemplo. Paradoxalmente (ou não), são dois personagens bastante controvertidos na paróquia que, de alguma forma, os rejeita, assim como renegou tantos artistas e intelectuais ao longo da sua história.
Do Marta Rocha ao Pedro Bittencourt, de Leonel Fagundes ao próprio Basílio, nunca as cabeças pensantes da cidade foram bem digeridas pelo medíocre padrão de comportamento da conservadora sociedade local.
Nisso, só o Arroio Grande é que permanece perdendo, nesse eterno conflito que deve ter começado bem antes de Mauá, antes da primeira milonga e da primeira fruteira, e que, pelo jeito, não vai terminar nem no Caboclo e nem no Sidney. Pelo jeito, aliás, não vai terminar nunca.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

JA

Quando soube da vinda da Maria Tereza Goulart até Arroio Grande, e não podendo estar presente ao evento, enviei um email ao Jorge Américo Borges – o nosso repórter multimídia, que costuma cobrir de jogos de futebol a bailes da terceira idade, de corridas de cavalos até enterros... –, com o seguinte texto:
"Incomparável Américo!
'Melhor que Colombo ter descoberto a América, foi Arroio Grande ter descoberto o Américo', inigualável e intrépido repórter para todas as causas e matérias, inclusive as imateriais.
Por falar nisso, peço ao amigo que se for fazer a cobertura do evento na Escola João Goulart, me consiga boas fotos da viúva Maria Tereza - verdadeiro patrimônio do País - a fim de que eu possa criar algo para postar no blog - o autorretrato - que aproveitaremos para publicar depois no Jornal 'A Evolução', na próxima edição.
Se der, tira algumas fotos somente dela, de frente, de perfil, etc... porque quero trabalhar com a imagem da “eterna primeira dama” na matéria, ok!
Grande abraço.
Pedro"
Posteriormente, fiquei sabendo que o Jorge, fiel ao seu estilo, leu a mensagem “no ar” no seu programa na Rádio Difusora, tornando público o email que reservadamente lhe enviara.
O Arnóbio, que estava escutando a Rádio, não perdeu tempo, e aproveitando a mania que temos de “adjetivar” o Jorge – inigualável, extraordinário, inimitável, e por aí vai... – escreveu a seguinte Carta que publicou no seu blog, o arnobiopereirahistórias, cujo link segue abaixo:


Leiam e percebam a quantidade de adjetivos que o Arnóbio utiliza para tentar definir o indefinível Jorge Américo, o mais notável repórter desta região do "sul do sul", fabulosa "cria" do Seu João Saraiva desde a fundação da Rádio Difusora, já vai pra mais de 30 anos.

Festejando a oportunidade de apresentar a página do grande escritor que é o Arnóbio, aproveito também para divulgar o blog do Donga - link

http://www.dongadesenhos.blogspot.com/ de onde retirei a caricatura do JA que ilustra este texto.

A todos eles, Arnóbio, Donga e Jorge Américo, inigualáveis parceiros na arte e nas arteirices, o meu fraterno e inestimável abraço.