sábado, 6 de agosto de 2011

OITENTA CENTAVOS DE WHISKY

Oitenta centavos de whisky. A frase é do Dija Vaz, músico pelotense. O Dija costuma cantar “na noite” e está por lançar um disco, em parceria com o Solon Silva. O nome do disco é esse, o mesmo que dá título à crônica: 80 centavos de whisky.
Desde que ouvi a frase, há mais de um ano, fiquei encantado e pensando no que ela poderia significar. A partir de então, tive inúmeras oportunidades de perguntar para o Dija o porquê da expressão e em que circunstâncias ela teria surgido; mas resisti, preferi ficar somente com a imaginação.
Oitenta centavos de whisky... Quanta coisa dá para pensar em cima de uma expressão dessas. Como um pedido, um clamor, uma necessidade. O cara desesperado, certamente solitário, quem sabe apaixonado, precisando beber alguma bebida. Mas não uma bebida qualquer – não vodca, cachaça, tequila; não rum, nem gim, nem vinho bagaceiro, nada disso: Whisky. O camarada precisa é de whisky. E ele quer 80 centavos de whisky, apenas 80 centavos, mais nada. E por que razão? Não interessa, ele quer assim e, pronto, está feito o pedido: – Garçom, me vê aí oitenta centavos de whisky! E é um pedido sério, contundente, impositivo. Como quem diz: quero isso, apenas isso, nada mais do que isso! O garçom então deve ficar na maior dúvida: O que eu faço? Sirvo ou não sirvo esse maluco? Como é que pode alguém pedir whisky assim, a conta gotas? E logo whisky, como se fosse chiclete, bala azedinha, mortadela!
Oitenta centavos de whisky. Dá para imaginar alguém fazendo um pedido dessa forma? Será possível pedir, por exemplo, dez centavos de gasolina? Ou, então, vinte centavos de sabonete, cinquenta centavos de absorvente íntimo, noventa centavos de corte de cabelo... Ou, quem sabe, vinte e cinco centavos de mocotó, quarenta centavos de xis, nove reais e noventa e nove centavos de espeto corrido... Ou, ainda, sessenta e sete reais de férias em Maceió, noventa reais de carnaval no Rio de Janeiro, cento e dez reais de enterro... Nossa, quanta coisa dá para pedir na forma como o Dija pediu o seu whisky.
Conheço casos parecidos, mas nenhum que se assemelhe a esse. Lembro de uma vez que o Sérgio Canhada pediu um bauru “sem pão”, para espanto da atendente. E ele ainda justificou: – Coloca tudo o que tem no bauru, menos o pão. E não precisa prensar! – arrematou, diante da renegação da moça. Também a Verônica tem o estranho hábito de pedir cachorro quente sem salsicha, assim como já vi o Krek servir uma vez uma caipirinha sem limão, lá em Santa Vitória.
Mas oitenta centavos de whisky, isso eu nunca tinha visto. Só mesmo o Dija para pensar numa coisa dessas. Aliás, na próxima vez que encontrar com ele, não vou pedir que me conte de onde surgiu a idéia, mas vou fazer uma proposta: como não tomo whisky e seremos dois a beber, quem sabe a gente pede um real e noventa e nove centavos de cerveja – e bem gelada, ao menos para começar a conversa...

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