sábado, 27 de agosto de 2011

1961 - A LEGALIDADE

(Arroio Grande nos anos 60 - Praça Maneca Maciel)

Um dos episódios mais interessantes da história do Rio Grande do Sul, assim como do próprio Brasil – a Legalidade – está completando 50 anos neste final de agosto.
Como é sabido, o Movimento (ou Campanha) da Legalidade foi deflagrado no Rio Grande do Sul para garantir a posse do Vice-Presidente João Goulart quando da renúncia do Presidente Jânio Quadros, por pressão das famosas “forças terríveis” (uma explosiva mistura de Whisky, com militares, com Carlos Lacerda...), o que ocorreu no dia 25 de agosto de 1961.
Consumada a renúncia de Jânio, e como Jango estivesse fora do Brasil (em visita oficial a Cingapura), os ministros militares, contrários à posse de Goulart sob o argumento de que o gaúcho iria promover a “comunização” do País (e Jango nem comunista era), resolveram agir rápido e declararam “a absoluta inconveniência, por motivos de segurança nacional, do regresso ao País do Vice-Presidente”. Ato contínuo, ameaçaram prendê-lo caso voltasse ao Brasil.
No Rio Grande do Sul, o Governador Leonel Brizola reagiu e mobilizou militares, imprensa, artistas e a população civil para articular uma oposição ao golpe, pois havendo sido Jango eleito Vice-Presidente democraticamente nada justificava que não se cumprisse a Constituição.
Entre tantos episódios que marcaram o Movimento – trincheiras no Piratini, encampação da Rádio Guaíba, hino da Legalidade –, encontra-se a adesão do Comandante do 3° Exército do Rio Grande do Sul, Machado Lopes à Legalidade (“o 3° Exército não aceita solução fora da Constituição”), ficando ao lado de Brizola e contra o poder militar.
Em conseqüência, o Ministro da Guerra Odílio Denys resolveu substituir Machado Lopes pelo histórico Cordeiro de Farias, que, entretanto, nem chegou a Porto Alegre, pois a resistência no Rio Grande do Sul foi tão forte que impossibilitou o deslocamento do avião do velho General à Capital dos gaúchos.
Da mesma forma, os Sargentos da Aeronáutica sufocaram uma ordem de atentado ao Palácio Piratini e à própria população gaúcha, já que, por determinação do Ministro Orlando Geisel, a Força Aérea estava autorizada a realizar “inclusive o bombardeio, se necessário” sobre Porto Alegre.
De Arroio Grande, é conhecida a participação do conterrâneo Marcial Ribeiro ao lado dos legalistas, numa resistência que obteve sucesso, já que o Movimento resultou na posse de João Goulart, ainda que através de uma solução encontrada fora da Constituição – o parlamentarismo. A Legalidade teve diversas virtudes, assim como teve o mérito de “retardar” o Golpe Militar esboçado em 1961, que acabou ocorrendo quase três anos mais tarde – em 31 de março de 1964.
E a diferença entre os dois Movimentos – Legalidade x Golpe –, vai além da própria expressão, pois o resultado do primeiro, que mostrou mobilização, resistência, coragem, cidadania..., contrapõe-se radicalmente ao segundo que, embora travestido de “Revolução” durante mais de duas décadas, tem hoje as suas consequências cada vez mais transparentes, para quem quiser julgar.

Marcial Ribeiro (o segundo a partir da direita) na Base Aérea de Canoas, em almoço comemorativo à posse de João Goulart - 7 de setembro de 1961.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE (III) ARI COELHO RODRIGUES - ARIZINHO, O ARI DO POVO

Nas fotografias: Arizinho, com a cantora Cláudia Barroso, no Clube do Comércio de Arroio Grande, em show nos anos 70 (acima); e na volta olímpica, como Tri campeão estadual amador, com o E. C. Arroio Grande, em Sobradinho, 1991 (abaixo).


Ari Coelho Rodrigues, o Arizinho, ou Ari do Povo, nasceu em 08/12/1933 e faleceu em 19/08/2009, em Arroio Grande. Político, Ari do Povo foi vereador em diversas oportunidades, concorrendo inclusive a Prefeito, no ano de 1982, sem, entretanto, conseguir a eleição, mas auxiliando, e muito, na sub-legenda. Como desportista, Arizinho foi jogador e técnico dos dois grandes Clubes da cidade - Esporte Clube Arroio Grande e Grêmio Esportivo Internacional -, sendo mais identificado com o Clube Saci, por quem se tornou multicampeão - da Cidade, da Zona Sul e do Estado. Bem humorado, falante e fólclorico, Arizinho protagonizou ótimas histórias, especialmente no meio do futebol, como a que aparece na crônica abaixo, publicada recentemente no jornal "A Evolução".

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O Campeonato Municipal de Futebol de Campo estava previsto para iniciar neste mês de agosto, mas foi adiado, parece que para novembro. Seriam (serão) disputadas as Taças Ari Coelho Rodrigues e Osvaldo Brito, numa justa homenagem a dois símbolos do futebol local. O Osvaldo, felizmente, está aqui perto da gente, e parece já ter superado os sustos que deu na família e nos amigos há cerca de um ano, mais ou menos.
Mas a disputa do Campeonato, se tivesse realmente iniciado em agosto, deveria coincidir com a morte do Ari, ocorrida em 19/08/2009. Puxa, dois anos já sem o Arizinho, o Ari do Povo. Futebol com menos graça, com menos vibração, com menos alegria. O Ari sempre foi um cara bem humorado, de bem com tudo, um protagonista de muitas histórias. Como esta que ele nos deixou e que está contada na íntegra no livro O “Clássico” – Uma história de Paixão, obra que o Arizinho ajudou a construir como grande personagem que foi do futebol local.
“Ano de 2001, Clássico em homenagem ao Dia do Trabalhador. Como treinador do Arroio Grande, o Ari estava preocupado. Por algumas questões, teria que deixar no banco de reservas o ponteiro direito Cabrito, um dos grandes nomes do título mais importante da história Saci – Tricampeão Estadual de Amadores –, conquistado dez anos antes, na cidade de Sobradinho.
Ao cruzar com o jogador, na manhã da partida, Ari resolveu aproveitar a oportunidade para “prepará-lo” quanto as suas intenções.
Cabritinho – disse – eu 'tava pensando e acho que vou te deixar no banco; imagina, com a força e a velocidade que tu tens, se a gente 'tiver perdendo tu entra e a gente vira o jogo em cima deles.
Ah é, o Senhor acha, Seu Ari? – disse o Cabrito, estranhando a manifestação do “Chefe”, pois acreditava que seria o titular do amistoso.
Percebendo que a conversa não caíra bem junto ao jogador, e tentando ser diplomático, Arizinho busca ajeitar a situação:
– Acho, Cabritinho, acho... Inclusive tu nem ta bem preparado e tem tudo pra ser um jogo duro, difícil; daí se a gente 'tiver empatando, eu te boto em campo e a gente ganha o jogo deles.
O Cabrito, sempre estranhando, e diante das “possibilidades” que o Ari estava lançando, faz a pergunta que ficara 'picando' diante dele:
– Tudo bem Seu Ari, mas e se a gente ‘tiver ganhando?
– Bah, aí que goleada que nós 'metemo' neles, hein Cabritinho, que goleadinha... – disse o Ari, saindo ligeiro para se encontrar com o restante do grupo no Estádio da Avenida.
Como o Cabrito permanecesse inconformado, insistindo em reverter a situação, o Ari aproveitou um momento em que Cláudio Ávila, o popular “Gadanha”, testemunhou as queixas do jogador, para dar um jeito na discussão e encerrar de vez o assunto. Disse:
– Visse Gadanha, visse... Como ta nervoso o Cabritinho, não para de me interpelar; assim eu não vou poder escalar ele como titular, né, ta que é uma pilha de nervosinho!
E deixou o Cabrito no banco de reservas...”

domingo, 21 de agosto de 2011

A RUA, A RUA...

A troupe, toda feliz, indo para a rua, e, enfim, a rua, a Rua Uma Terra Só. Obrigado ao pessoal de Jaguarão, pela recepção, e ao Jorge Passos, pelas fotos.

sábado, 20 de agosto de 2011

RUA UMA TERRA SÓ

Acabo de chegar de Jaguarão onde fui dar um abraço no Schlee.

A presença do escritor na cidade deveu-se ao fato de que o título de um livro seu - "Uma Terra Só" - virou nome de rua naquele município, como mostra o convite abaixo.

Uma rua com nome de livro, vejam só!

O meu velho amigo nunca foi muito partidário dessas homenagens, recusando, inclusive (e por diversas vezes), ser patrono de Feira do Livro, n0me de sala, de locais públicos, etc.

Mas essa, Aldyr, é de se comemorar, e muito; é tudo com que a gente sempre sonhou - a literatura na Rua, literalmente.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE - (II) MOACIR PRESTES

Nascido em 1°/06/1922, em Encruzilhada do Sul, Moacir da Rosa Prestes fez os seus estudos em Porto Alegre, vindo para Arroio Grande no final dos anos 40 onde constituiu família, casando com Nair da Silva Soares no ano de 1949.
Agricultor, Moacir experimentou os frutos e os espinhos da profissão, iniciando as suas atividades agrícolas em Camaquã, e, posteriormente, em Arroio Grande, plantando lavouras de arroz em diversos locais do Município, em especial na Costa do arroio Grande e na região da Ponta Alegre.
Apaixonado por política e trabalhista histórico, Moacir Prestes foi três vezes candidato a vereador, obtendo a eleição em duas ocasiões – em 1958, quando fez oposição ao Governo de Edgar Dutra Lisboa, e em 1963, quando esteve ao lado do Governo Lauro Cavalheiro – sempre pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Pai dos “Antônios” – Marco Antônio (Marcos), José Antônio (Zé) e Luís Antônio (Luisinho, que recebeu o apelido de Brizola pela relação do seu pai com o ídolo maior do trabalhismo no Rio Grande do Sul) –, Moacir permaneceu como um nome histórico da oposição em Arroio Grande, num período em que a chamada “direita” local comandou os destinos do município por cerca de 20 anos – de meados dos anos 70 até a segunda metade da década de 90.
Falecido em 27/02/2003, Moacir Prestes deixou um legado de integridade, de correção e de simpatia; são inesquecíveis, por exemplo, as conversas que a geração do autor desta página – cerca de 40 anos mais nova – mantinha com o velho trabalhista nas intermináveis discussões políticas que iniciavam na lendária lancheria Top Set e não tinham hora e nem local para acabar.

Moacir Prestes, com a esposa Nair e os filhos José, Luís Antônio e Marcos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ADVOGADOS/DOUTORES - A POLÊMICA LEI DO IMPÉRIO

“Lei de 11 de Agosto de 1827

Crêa dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes, um na cidade de S. Paulo e outro na de Olinda.Dom Pedro Primeiro, por Graça de Deus e unanime acclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil: Fazemos saber a todos os nossos subditos que a Assembléia Geral decretou, e nós queremos a Lei seguinte:

Art. 1.º - Crear-se-ão dous Cursos de sciencias jurídicas e sociais, um na cidade de S. Paulo, e outro na de Olinda, e nelles no espaço de cinco annos, e em nove cadeiras, se ensinarão as matérias seguintes:1.º ANNO1ª Cadeira. Direito natural, publico, Analyse de Constituição do Império, Direito das gentes, e diplomacia.2.º ANNO1ª Cadeira. Continuação das materias do anno antecedente.2ª Cadeira. Direito publico ecclesiastico.3.º ANNO1ª Cadeira. Direito patrio civil.2ª Cadeira. Direito patrio criminal com a theoria do processo criminal.4.º ANNO1ª Cadeira. Continuação do direito patrio civil.2ª Cadeira. Direito mercantil e marítimo.5.º ANNO1ª Cadeira. Economia politica.2ª Cadeira. Theoria e pratica do processo adoptado pelas leis do Imperio.

Art. 2.º - Para a regencia destas cadeiras o Governo nomeará nove Lentes proprietarios, e cinco substitutos.Art.

3.º - Os Lentes proprietarios vencerão o ordenado que tiverem os Desembargadores das Relações, e gozarão das mesmas honras. Poderão jubilar-se com o ordenado por inteiro, findos vinte annos de serviço.

Art. 4.º - Cada um dos Lentes substitutos vencerá o ordenado annual de 800$000.

Art. 5.º - Haverá um Secretario, cujo offício será encarregado a um dos Lentes substitutos com a gratificação mensal de 20$000.

Art. 6.º - Haverá um Porteiro com o ordenado de 400$000 annuais, e para o serviço haverão os mais empregados que se julgarem necessarios.

Art. 7.º - Os Lentes farão a escolha dos compendios da sua profissão, ou os arranjarão, não existindo já feitos, com tanto que as doutrinas estejam de accôrdo com o systema jurado pela nação. Estes compendios, depois de approvados pela Congregação, servirão interinamente; submettendo-se porém á approvação da Assembléa Geral, e o Governo os fará imprimir e fornecer ás escolas, competindo aos seus autores o privilegio exclusivo da obra, por dez annos.

Art. 8.º - Os estudantes, que se quiserem matricular nos Cursos Juridicos, devem apresentar as certidões de idade, porque mostrem ter a de quinze annos completos, e de approvação da Lingua Franceza, Grammatica Latina, Rhetorica, Philosophia Racional e Moral, e Geometria.

Art. 9.º - Os que freqüentarem os cinco annos de qualquer dos Cursos, com approvação, conseguirão o gráo de Bachareis formados. Haverá tambem o grào de Doutor, que será conferido áquelles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e sò os que o obtiverem, poderão ser escolhidos para Lentes.

Art. 10.º - Os Estatutos do VISCONDE DA CACHOEIRA ficarão regulando por ora naquillo em que forem applicaveis; e se não oppuzerem á presente Lei. A Congregação dos Lentes formará quanto antes uns estatutos completos, que serão submettidos á deliberação da Assembléa Geral.

Art. 11.º - O Governo crearà nas Cidades de S. Paulo, e Olinda, as cadeiras necessarias para os estudos preparatorios declarados no art. 8.º.Mandamos portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente, como nella se contém. O Secretario de Estado dos Negocios do Imperio a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palacio do Rio de Janeiro aos 11 dias do mez de agosto de 1827, 6.º da Independencia e do Imperio.IMPERADOR com rubrica e guarda.(L.S.)Visconde de S. Leopoldo.
Carta de Lei pela qual Vossa Majestade Imperial manda executar o Decreto da Assemblèa Geral Legislativa que houve por bem sanccionar, sobre a criação de dous cursos juridicos, um na Cidade de S. Paulo, e outro na de Olinda, como acima se declara.Para Vossa Majestade Imperial ver.Albino dos Santos Pereira a fez.Registrada a fl. 175 do livro 4.º do Registro de Cartas, Leis e Alvarás. - Secretaria de Estado dos Negocios do Imperio em 17 de agosto de 1827. – Epifanio José Pedrozo.Pedro Machado de Miranda Malheiro.Foi publicada esta Carta de Lei nesta Chancellaria-mór do Imperio do Brazil. – Rio de Janeiro, 21 de agosto de 1827. – Francisco Xavier Raposo de Albuquerque.Registrada na Chancellaria-mór do Imperio do Brazil a fl. 83 do livro 1.º de Cartas, Leis, e Alvarás. – Rio de Janeiro, 21 de agosto de 1827. – Demetrio José da Cruz.”
(Fonte: Brasil. Leis, etc. Collecção das leis do Imperio do Brazil de 1827. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1878. p. 5-7.).

(*) Não é difícil raciocinar que o artigo 9º da Lei não teria sido recepcionado pela Constituição Federal, especialmente a Carta democrática de 1988, pois que tal distinção feita somente aos advogados, estaria a ferir o princípio da igualdade com relação a outras categorias de profissionais.

sábado, 13 de agosto de 2011

UMA DISCUSSÃO TÃO ANTIGA QUANTO INÚTIL

Dia desses, um conhecido quis saber a minha opinião sobre a eterna polêmica da titulação dos advogados no Brasil – afinal, os advogados são ou não são “doutores”?
A resposta pode ser tanto sim, como não, ou, ainda, que tudo não passa de uma grande bobagem, uma discussão inútil que não faz diferença para a vida dos advogados ou de qualquer pessoa.
Para quem quiser argumentar que “não”, que advogado não é doutor, basta dizer ó óbvio, ou seja, que o título de “Doutor” se obtém com a graduação em doutorado, distinção que não possuem mais de 90% dos advogados do País, sendo a maioria titulada como Bacharel em Direito.
Já quem quiser defender que “sim”, que advogado é Doutor, basta simplificar dizendo que a tradição levou os advogados a serem chamados de “doutores”, até pelo fato de estarem permanentemente – isto é, no dia-a-dia da profissão – formulando teses, sempre na defesa dos direitos dos seus clientes.
Existe ainda uma história controvertida que diz respeito a uma Lei do Império – de 11/08/1827 –, que, ao criar os primeiros cursos jurídicos no País (por isso o 11 de agosto ficou como o “Dia do Advogado”), teria disposto que os acadêmicos que terminassem o Curso de Direito seriam bacharéis, enquanto o título de “Doutor” seria destinado aqueles “habilitados nos Estatutos futuros” – o equivalente, hoje, a receber a carteira da OAB para o exercício da profissão.
Logo, por tal raciocínio, quem se forma em Direito é “Bacharel”, enquanto que aquele que está de acordo com os Estatutos da Ordem dos Advogados do Brasil e apto a advogar torna-se “Doutor”, independente de possuir ou não o grau de doutorado.
A ocorrência e/ou vigência da tal Lei Imperial é negada até hoje (segundo alguns, seria originária de um Alvará autorizativo expedido bem antes pela Rainha Maria I, a Maria Louca, de Portugal), mas a tradição prevaleceu, e os advogados permanecem a ser chamados de “doutores”, nos corredores do fórum, nas ruas, em qualquer lugar.
A discussão, na verdade, não possui qualquer efeito prático, pois é certo que o tratamento de “Doutor” dado aos advogados não equivale ao “título” de Doutor (o grau máximo da hierarquia acadêmica), servindo apenas e tão somente como forma de identificação do profissional, que tem como princípios zelar pelos direitos, pela liberdade e pela própria vida dos seus clientes.
E é essa disposição – de zelar pela liberdade, pela integridade e pela vida dos seus constituintes – que pode fazer a diferença entre os profissionais do Direito, sejam eles simples bacharéis, ou graduados mestres, afinal a história é a maior testemunha de que títulos, por si só, não dignificam ninguém, nem mesmo os doutores.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE - (I) LAURO CAVALHEIRO

Filho de Hermógenes Teixeira Cavalheiro, natural de Arroio Grande, Lauro Cavalheiro concorreu a Prefeito Municipal em 1963, pelo PTB, sendo considerado o primeiro Prefeito de um partido "de esquerda" (coligação PTB-PL-MTR) eleito na história do Município.

Assumindo a Prefeitura no ano de 1964, e fazendo um governo popular até 1968, Lauro governou com dificuldades em meio às pressões da ditadura instaurada no País com o Golpe Militar de 64.
Casado com a Sra. Geni Cavalheiro e pai de cinco filhos, entre eles Maria da Graça e Clarice que voltaram a residir em Arroio Grande recentemente, Lauro Cavalheiro faleceu na cidade de Pelotas, onde viveu por muitos anos depois de ter abandonado a vida pública.
Seu irmão, Ney Cavalheiro, que havia sido vereador durante o mandato de Lauro, também tornou-se Prefeito de Arroio Grande (1973-1976), pelo MDB, sendo que por mais de duas décadas apenas os dois irmãos conseguiram eleger-se por partidos de "esquerda" no conservador município de Arroio Grande.
Na foto, Lauro Cavalheiro em solenidade próxima à época em que assumiu o cargo de Prefeito Municipal em Arroio Grande.

sábado, 6 de agosto de 2011

OITENTA CENTAVOS DE WHISKY

Oitenta centavos de whisky. A frase é do Dija Vaz, músico pelotense. O Dija costuma cantar “na noite” e está por lançar um disco, em parceria com o Solon Silva. O nome do disco é esse, o mesmo que dá título à crônica: 80 centavos de whisky.
Desde que ouvi a frase, há mais de um ano, fiquei encantado e pensando no que ela poderia significar. A partir de então, tive inúmeras oportunidades de perguntar para o Dija o porquê da expressão e em que circunstâncias ela teria surgido; mas resisti, preferi ficar somente com a imaginação.
Oitenta centavos de whisky... Quanta coisa dá para pensar em cima de uma expressão dessas. Como um pedido, um clamor, uma necessidade. O cara desesperado, certamente solitário, quem sabe apaixonado, precisando beber alguma bebida. Mas não uma bebida qualquer – não vodca, cachaça, tequila; não rum, nem gim, nem vinho bagaceiro, nada disso: Whisky. O camarada precisa é de whisky. E ele quer 80 centavos de whisky, apenas 80 centavos, mais nada. E por que razão? Não interessa, ele quer assim e, pronto, está feito o pedido: – Garçom, me vê aí oitenta centavos de whisky! E é um pedido sério, contundente, impositivo. Como quem diz: quero isso, apenas isso, nada mais do que isso! O garçom então deve ficar na maior dúvida: O que eu faço? Sirvo ou não sirvo esse maluco? Como é que pode alguém pedir whisky assim, a conta gotas? E logo whisky, como se fosse chiclete, bala azedinha, mortadela!
Oitenta centavos de whisky. Dá para imaginar alguém fazendo um pedido dessa forma? Será possível pedir, por exemplo, dez centavos de gasolina? Ou, então, vinte centavos de sabonete, cinquenta centavos de absorvente íntimo, noventa centavos de corte de cabelo... Ou, quem sabe, vinte e cinco centavos de mocotó, quarenta centavos de xis, nove reais e noventa e nove centavos de espeto corrido... Ou, ainda, sessenta e sete reais de férias em Maceió, noventa reais de carnaval no Rio de Janeiro, cento e dez reais de enterro... Nossa, quanta coisa dá para pedir na forma como o Dija pediu o seu whisky.
Conheço casos parecidos, mas nenhum que se assemelhe a esse. Lembro de uma vez que o Sérgio Canhada pediu um bauru “sem pão”, para espanto da atendente. E ele ainda justificou: – Coloca tudo o que tem no bauru, menos o pão. E não precisa prensar! – arrematou, diante da renegação da moça. Também a Verônica tem o estranho hábito de pedir cachorro quente sem salsicha, assim como já vi o Krek servir uma vez uma caipirinha sem limão, lá em Santa Vitória.
Mas oitenta centavos de whisky, isso eu nunca tinha visto. Só mesmo o Dija para pensar numa coisa dessas. Aliás, na próxima vez que encontrar com ele, não vou pedir que me conte de onde surgiu a idéia, mas vou fazer uma proposta: como não tomo whisky e seremos dois a beber, quem sabe a gente pede um real e noventa e nove centavos de cerveja – e bem gelada, ao menos para começar a conversa...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE

A partir da próxima semana, e até o final do ano, a página vai inaugurar um espaço especialmente voltado para homenagear determinados personagens da vida do Arroio Grande.
Trata-se, na sua grande maioria, de pessoas que viveram em nossa cidade ainda no século passado, personagens que nasceram, ou que fizeram a vida entre nós; aqui constituíram família, e, certamente, trabalharam pelo desenvolvimento do município, onde deixaram plantados os seus sonhos de uma cidade mais justa e mais fraterna no futuro.
Nem todos são nomes “consagrados” – como ex-políticos ou antigos empresários do arroz – atividades que, historicamente, sempre receberam maior reconhecimento na peculiar hierarquia de valores da conservadora paróquia; entretanto, todos eles estão presentes na memória da maioria dos arroio-grandenses, em especial daqueles que têm hoje mais de 40 ou de 50 anos de idade, e que viveram a época romântica dos banhos no arroio Grande, da disputa dos Clássicos de futebol entre Sacis e Caturritas, das intermináveis discussões na histórica lancheria Top Set e das sessões de cinema no lendário Cine Marabá (foto).
Sem o compromisso de buscar extensas ou profundas biografias, a página quer apenas trazer também para a geração atual dos arroio-grandenses a memória, a lembrança desses homens e mulheres que deixaram a marca das suas vidas na “Terra de Mauá”, tornando-se também eles – ainda que sem a dimensão do Visconde – inesquecíveis personagens da vida do Arroio Grande.
É a partir da próxima semana, todas as quartas-feiras, aqui no autorretrato.