quarta-feira, 11 de março de 2009

HISTÓRIAS (I) - Flores da Cunha e o ingresso para o Cinema

Com o Golpe que instituiu o Estado Novo em 1937 certos papéis se inverteram, e Flores da Cunha - que havia garantido a permanência de Getúlio Vargas no poder em 1932, quando irrompeu a Revolução Constitucionalista de São Paulo contra Vargas – vira exilado no Uruguay, enquanto que Batista Luzardo - fugitivo do mesmo Getúlio em 1932 – é nomeado embaixador pelo ditador, em Montevidéu, em 22.11.1937, apenas doze dias depois do golpe, sendo que entre as suas tarefas estava a de policiar o seu velho desafeto político* Flores da Cunha. Coisas da política, enfim.
Conta-se então que, estando Flores da Cunha proibido de se afastar até do Departamento de Montevidéu, e vigiadíssimo, certa vez ocorreu o seguinte:
“A perseguição ao exilado brasileiro passou a ser feita por uma dupla de agentes. Às vezes, uruguaios, certamente dos quadros da polícia local. Por largo tempo, porém, a tarefa foi cumprida por dois policiais gaúchos, requisitados pelo embaixador. Seguiam-no de perto e, uma noite, na Avenida 18 de Julio, Flores percorreu o hall da entrada de um cinema, até a bilheteria, onde solicitou:
‘Tres, por favor. Una para mi, las otras dós para aquellos caballeros que están llegando’”.

(FLORES DA CUNHA: De Corpo Inteiro – Lauro Schirmer – RBS Publicações – 2007 – p. 38)
Flores, que perdeu quase tudo que adquiriu, "em cavalos lerdos e mulheres ligeiras", como costumava dizer, ficou famoso por isso; não perdia a oportunidade da "tirada" nem diante do infortúnio, valendo a pena ainda hoje viajar pela sua biografia.

(*) Flores da Cunha e Batista Lusardo quase duelaram, quando Flores era Prefeito de Uruguaiana, em 1922, e Lusardo dirigia o Jornal maragato A Nação, que se caracterizava pelas fortes críticas ao chefe republicano. Depois de violenta troca de insultos pelos jornais que ambos dirigiam (Flores detinha o poder sobre o A Fronteira), o duelo chegou mesmo a ser marcado (teria como local a ilha rasa Pacu, no Rio Uruguai), com padrinhos escolhidos e tudo (Oswaldo Aranha era um dos dois padrinhos de Flores da Cunha), mas na terceira reunião entre os patronos (a última, conforme previsão da Lei do Lance de Honra, vigente no Uruguai, e “adaptada” a situação local) o duelo foi cancelado, sendo que os termos do entendimento nunca foram revelados.
As divergências entre Flores e Lusardo, porém, perduraram ao longo da vida dos dois "caudilhos", sendo que ambos tiveram uma trajetória marcada pela intransigência, em especial naquilo que entendiam como "ideal" para os destinos do Rio Grande.

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